Este artigo é o segundo de uma uma série de três, produzida por Dimitri Camiloto e publicada pela primeira vez em Constelar em 2007:
1 – Che Guevara, os primeiros anos
2 – Che Guevara, o mapa e o mito (este)
3 – Os últimos anos de Che Guevara
A aproximação com os Irmãos Castro
Ao concluir o curso de Medicina, Júpiter estava em destaque no mapa de Che. Paralelamente, o ciclo Saturno-Netuno (referência para movimentos socialistas) opunha-se a Júpiter Natal, indicando que o alergista seria cooptado pelo engajamento revolucionário.
Vemos, neste dia, a conjunção exata de Júpiter ao Sol natal, além das conjunções do Sol e de Vênus a Júpiter natal. Aspectos marcantes, em se tratando de uma graduação acadêmica. Por outro lado, gradualmente, a política será cada vez mais o principal objetivo de Che: o jovem que iniciara o curso de medicina já não existia mais. Saturno e Netuno, em Libra, aplicavam oposições a Júpiter.
Paralelamente, naquele mesmo ano, tinha início o movimento revolucionário cubano no qual ele viria a se engajar. Se a conjunção entre Saturno e Netuno em Leão, 36 anos antes, dera ao mundo a Revolução Russa, o novo ciclo, em Libra, conduziria um pequeno grupo à outra revolução vitoriosa, anos depois. Urano seguia sobre Plutão natal.
Em dezembro do mesmo ano Che Guevara parte para a Guatemala e, como podemos perceber pela rapidez com que novamente deixa a Argentina (para voltar quase oito anos depois, numa viagem-relâmpago de três horas), sua “pátria” já era realmente “outra”. Naquele país centro-americano, Che presencia a luta do presidente recém-eleito, que liderava um governo de cunho popular e tentava realizar reformas de base tais como eliminar o latifúndio, diminuir as desigualdades sociais e – um dos principais objetivos – garantir o lugar da mulher no mercado de trabalho.
O governo norte-americano opunha-se ao presidente guatemalteco e, através da CIA, coordenou várias ações, incluindo o apoio a grupos paramilitares. As experiências na Guatemala são importantes na formação de sua consciência política. Lá, Che Guevara passa a definir a si mesmo como um “revolucionário” e posiciona-se contra o imperialismo americano. Nesse meio tempo, Che conhece Hilda Gadea, com quem viria a se casar e de cuja união nasceria sua primeira filha, Hildita.
1954: um encontro no México
Em 1954, já no México e através de um amigo das lutas na Guatemala, Che Guevara conhece Raúl Castro, que no ano seguinte o apresentaria a seu irmão mais velho, Fidel Castro, que liderava o movimento guerrilheiro 26 de Julho [M-26], cujo propósito era depor o ditador Fulgêncio Batista. Fidel havia sido anistiado pelo governo cubano e retornava ao México, onde conheceu Che na noite de 08.07.1955.
Numa conversa que varou a madrugada, Che convenceu-se de que Fidel era o líder revolucionário que vinha procurando, e imediatamente filiou-se ao M-26, ingressando no corpo médico do grupo guerrilheiro. Na mesma época, apesar de seu relacionamento com Hilda haver terminado, ela conta a ele que estava grávida de um filho seu e Che propõe então o casamento. A cerimônia realiza-se em 18.08.1955 e Hildita, filha do casal, nasce em 15.02.1956.
O encontro com Fidel Castro aponta para importantes considerações astrológicas. A noite que levou à parceria entre os dois líderes revolucionários apresentava uma estreita conjunção entre Marte e Urano (um aspecto marcante na carta de Che).
O Sol passava sobre Plutão natal, estimulando sua natureza combativa. Finalmente, Plutão em trânsito chegava à conjunção com Netuno, colocando sua combatividade a serviço de suas utopias revolucionárias. Ali, Che convencera-se de que Fidel era, como dito acima, “o líder que vinha procurando” para dar vazão ao ímpeto na luta contra as injustiças sociais que tanto o indignavam [Sol quadratura com Netuno no mapa natal]. É o próprio Che quem relata:
Conheci Fidel em uma daquelas noites mexicanas e recordo que nossa primeira discussão versou sobre a política internacional. Conversamos toda a noite e, ao amanhecer, já era médico de sua futura expedição.
A conjunção de Plutão a Netuno natal representou, de fato, um divisor de águas na vida de Che Guevara. Tendo recebido a notícia de que a ex-namorada engravidara, Che decide se casar poucas semanas depois de seu “casamento revolucionário” com Castro.
Plutão estava em conjunção exata com Netuno na casa V, seguido de muito perto pelo Sol, por Vênus e por Marte no dia de seu casamento. Não há como negar que a iminência da paternidade deve ter mexido muito com o revolucionário argentino e, somando isto a excitação em unir-se a Fidel num projeto que sempre fora seu maior sonho [Netuno], ele provavelmente vivia dias muito intensos.
A las siete de la tarde del 15 de febrero del 1956 nace Hilda Beatriz, hija del matrimonio Guevara [Ciudad de Mexico].
Quando sua primeira filha vem ao mundo, uma conjunção Lua-Vênus estava sobre Urano e Ascendente natais. Outra conjunção exata entre Júpiter e Plutão estava precisamente sobre Netuno natal, na casa V. Para o nascimento de Hildita, tem-se o Ascendente no início de Virgem o qual, numa eventual retificação, poderia cair no final de Leão, sobre a conjunção entre Júpiter e Plutão.
Certamente este nascimento encheu-o de alegrias, mas ele também deveria saber que o papel de pai entrava em contradição com os rumos que sua vida tomava a partir dali, com a participação no movimento conspiratório dos Castro [Júpiter e Plutão em quadratura com o Sol natal de Che e em oposição para o Sol em Aquário de sua filha].
Anos depois, ao partir para a fatídica missão na Bolívia, Che chegou a visitar suas filhas usando um disfarce, e elas não o reconheceram. Ele apresentou-se a elas como o “tio Ramón”. Nesta, que seria a sua última viagem, Che deixou uma carta de despedida a seus filhos, em que diz: “Seu pai é um homem que age como pensa e, é claro, foi leal com suas convicções…”
Tinha então 5 filhos, um do seu casamento com Hilda Gadea e quatro com Aleida March, professora e sua companheira na Sierra de Escambray, com quem se casou pela segunda vez. Aos pais, escreveu: “Muitos me julgarão aventureiro, e o sou; só que de um tipo diferente, dos que arriscam a pele para defender suas verdades”.
Voltando a seu primeiro casamento, é importante ressaltar ainda que o Ascendente progredido fazia trígono exato com Netuno natal, na casa V e, a Lua, retornava à sua posição de origem.
A Luta Armada
Em novembro de 1956, o iate Granma zarpou do porto mexicano de Tuxpán rumo a uma insurreição contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Che Guevara era um dos únicos quatro não-cubanos a bordo, junto com mais com 78 jovens. “Valia à pena morrer numa praia estrangeira por um ideal puro”, decidiu Che.
Para Fidel, Guevara foi uma das figuras mais surpreendentes da façanha cubana, como também seu primeiro e grande cronista [Mercúrio em conjunção ao Nodo Norte em Gêmeos]. “Um dos mais admirados, dos mais amados e, sem dúvida alguma, o mais extraordinário de nossos companheiros de Revolução”. E, ironicamente, Che havia sido declarado inapto para o serviço militar pelo Exército argentino.
Apesar de suas crises asmáticas, que nunca o abandonaram, Che foi esportista. Ainda na Argentina, ficou conhecido como um grande jogador de rúgbi, de estilo bastante agressivo, além de haver praticado natação, futebol, tênis, golfe, pingue-pongue, basquete, beisebol, patinação, pesca, hipismo, tiro, alpinismo e remo, chegando ainda a conquistar uma marca de 2,80m no salto com vara, em uma edição dos Jogos Universitários argentinos. No rúgbi, era chamado de “o furioso”.
Ora, se pelo mapa de Che Guevara podemos identificar elementos que indicam problemas asmáticos e respiratórios, por outro lado existem aspectos que asseguram a possibilidade de bom desempenho físico e atlético, como se viu ao longo da guerrilha cubana (e das demais em que se engajou). Não há como negar que ele possuía “fibra” e “raça”. Ao participar do treinamento militar para a missão em Cuba, foi considerado o aluno mais empenhado e com o melhor aproveitamento pelo instrutor, o Coronel Alberto Bayo.
Na partida para Cuba, deixaram Tuxpan (Veracruz, México) em 25.11.1956, às duas da madrugada. Uma conjunção entre Sol, Mercúrio e Saturno, em sua casa IX, e trígonos de Júpiter e o Ascendente para o Sol natal, indicavam aquela que seria a viagem mais importante de sua vida. Marte aplicava uma conjunção aproximativa para sua posição de origem e Che preparava-se para a luta. É nesta época, em seu convívio com os rebeldes cubanos, que passou a ser apelidado de “Che” pelo hábito, tipicamente platino, de recorrer a essa expressão. Urano, recém-ingressado na casa V, revelava que, a partir dali, nasceria um mito.
Na ida para Cuba, a Lua progredida chega a Marte natal numa conjunção exata em graus e minutos; Mercúrio indica a mudança de residência (que, em princípio, não seria fixa) e Vênus e Saturno progredidos ameaçavam o casamento com Hilda.
Quando observamos o mapa progredido de Che Guevara ao zarpar para Cuba, nota-se a conjunção da Lua para Marte natal, indicando que a hora da luta chegara. Mercúrio, progredido na casa IV, está em trígono com a Lua de origem, simbolizando uma nova pátria e residência. Finalmente, Vênus e Saturno progredidos estavam em oposição, revelando que aquela viagem representava, de fato, o fim da linha para seu casamento.
1956: o desembarque em Cuba
No dia 02.12.1956, Che, Fidel e os demais rebeldes desembarcam no sudeste de Cuba, sendo logo atacados na praia pelas forças de Batista. É durante este confronto que Che, após ser duramente atacado pelos rebeldes, larga a maleta médica por uma caixa de munição de um companheiro abatido, num episódio que tempos depois ele iria definir como o marco divisor na sua transição de doutor a revolucionário.
Marte estava em conjunção exata com sua posição natal: ali começava de fato a saga do revolucionário Che, já em combate, e colocando o guerrilheiro em primeiro plano sobre a condição de médico. A Lua acompanha Sol, Mercúrio e Saturno na casa IX. Netuno, na cúspide da casa VIII, revela que chegara o momento de suas utopias revolucionárias serem colocadas em prática por meio de uma investida conspiratória. No confronto, apenas 12 homens escaparam, rechaçados por forças leais ao governo e obrigados a refugiarem-se nas montanhas de Sierra Maestra. Durante mais de dois anos, eles enfrentariam as tropas de Batista.
É durante a guerrilha de Sierra Maestra que Che Guevara vive seu primeiro – e único – retorno de Saturno. Nas difíceis condições que uma empreitada deste tipo impõe, ele vai aos poucos assumindo a condição de líder, passando a ser seguido pelos demais rebeldes. Em plena luta, criou o jornal El Cubano Libre, para transmitir informações da guerrilha e as ideias que a animavam.
Grande escritor, Che Guevara era um repórter do seu tempo; em seus escritos, mostra a saga dos guerrilheiros cubanos e discute teorias políticas, econômicas e sociais com a maior objetividade possível, para que pudesse ser entendido por qualquer de seus companheiros de guerrilha ou simples trabalhador. Criou ainda a Radio Rebelde, para divulgar informações ao povo cubano e se comunicar com o crescente número de colunas rebeldes em toda Cuba.
Inspirado pela atuação da CIA na Guatemala, as primeiras transmissões reportavam como havia sido a tomada de Santa Clara por sua coluna no ano novo de 1958, desmentindo as versões oficiais de que teria morrido durante os combates. A rádio é, ainda hoje, uma importante instituição cubana. Assim, sua fama não apenas espalha-se pela ilha cubana, mas começa também a ganhar mundo [Saturno, regente do Meio do Céu, na casa IX].
Os rebeldes lentamente se fortalecem, aumentando seu armamento e angariando apoio e o recrutamento de muitos camponeses, intelectuais e trabalhadores urbanos. Che passa a ser chamado de “comandante” da 2ª Coluna da guerrilha e, em sua nova função, revela-se um disciplinador extremo, cujos métodos severos se tornaram notórios. Desertores eram punidos drasticamente e o novo comandante mandava esquadrões à mata para caçá-los por haverem traído a Revolução ao tentarem escapar. Depois de uma execução, Che escreveu que “não estava muito convencido da honestidade da medida, apesar dela ter servido como exemplo”.
Because Guevara was a doctor, one of his friends once asked how he could work in such a position. Guevara’s answer was like from Western movies: “Look, in this thing you have to kill before they kill you.”
Noutra ocasião, mandou executar um desertor que se aproveitara da situação para aterrorizar vilarejos ao redor de Sierra Maestra. Depois de o traidor ter recebido três tiros, ele escreveu que “aqueles que tiram vantagens da atmosfera reinante para cometer crimes, infelizmente, não constituem uma pequena exceção”.
Após a tomada do poder, execuções de membros da ditadura de Fulgêncio Batista, sem julgamento e com a anuência de Che, tornaram-se frequentes e servem de munição para os que questionam seus métodos. Os rebeldes lentamente se fortalecem, aumentando seu armamento e angariando apoio e o recrutamento de muitos camponeses, intelectuais e trabalhadores urbanos.
Com o passar dos meses, os 12 rebeldes iniciais ultrapassam a casa das duas centenas. Mas a diferença para o número das forças de Fulgêncio Batista era imensa, já que este dispunha de algo entre 30.000 e 40.000 soldados e policiais. Paralelamente, a selvagem repressão desencadeada por Batista aumentou sua impopularidade a tal ponto que, em 14.03.1958, os Estados Unidos acabaram suspendendo a venda de armas para o ditador.
A força aérea cubana sentiu o baque, já que não podia fazer a manutenção de seus aviões sem o apoio norte-americano. É sabido ainda, que a própria guerrilha cubana recebeu ajuda militar norte-americana, que tentava manipular a disputa pelo poder em Cuba. Da Flórida, da Louisiana e do Alabama vieram veículos, munições e apoio logístico que tinham a justificativa de aumentar a influência da CIA na América Latina.
Segue-se uma série de batalhas favoráveis à guerrilha cubana. Nos dias finais de dezembro de 1958, Che Guevara e uma nova coluna dirigiram um “esquadrão suicida” (que efetuou as mais perigosas missões das forças rebeldes) que novamente atacou Santa Clara, numa das batalhas mais decisivas da Revolução. Finalmente Batista, enquanto seus generais negociavam um acordo de paz, voa para a República Dominicana em 01.01.1959.
Com a partida do ditador, fica consumada a vitória dos revolucionários. Che estava consagrado em virtude de seu papel fundamental ao longo de toda a guerrilha. Ao tomar o poder junto de Fidel e Raúl, o Sol aplicava conjunção exata a sua Vênus natal e Vênus, por sua vez, fazia o mesmo a seu Sol natal. Esta vitória havia alavancado Che, definitivamente, no cenário geopolítico mundial.
Che e o Poder
La revolución ha triunfado. En el 3 de enero de 1959, a las cinco y cuarto de la tarde, Guevara, casi desapercibido por la población, ingresa a la ciudad sin necesidad de combatir.
Note que no instante em que chega à capital cubana, o Ascendente cravava a cúspide da casa IV de Che Guevara, com a Lua [dispositor da mesma] na casa VIII (mudança de residência) e em conjunção com Netuno (onde iria criar, finalmente, sua utopia de nação: Sol quadratura Netuno e Júpiter trígono Netuno no radix).
Pouco mais de um mês depois, em 09.02.1959, o governo revolucionário proclama Che como “cidadão cubano de nascença”, em reconhecimento ao seu papel no triunfo da guerrilha. Saturno chegava ao Meio do Céu, simbolizando a tomada ao poder (era o segundo homem mais poderoso de Cuba) e a grande popularidade, além da “nova cidadania” [Saturno na casa IX do mapa natal]. Lua e Vênus em trânsito estavam sobre a Lua natal, indicando o gesto carinhoso dos cubanos em reconhecê-lo como um dos seus.
No dia 22.05.1959, o processo de divórcio põe formalmente um ponto final em seu casamento com Hilda Gadea. Ambos estavam separados desde a ida de Guevara para Cuba (quando Urano já aplicava quadratura a Vênus natal) e, no dia do divórcio, Vênus formava conjunção com Plutão natal, na casa IV. Após a vitória da Revolução, Hilda e sua filha mudam-se para Havana.
Ainda naquele ano ele viria a se casar com Aleida March, uma cubana que fazia parte do M-26 e com quem vinha morando desde novembro de 1958. Não se sabe ao certo quando Aleida nasceu (1936 ou 1937). Ela evita sistematicamente entrar em sua vida pessoal ou falar sobre Che (mas lançou em Havana, em março de 2008, um livro de memórias).
Aleida militou clandestinamente no M-26 desde os primeiros tempos da guerrilha, tendo fama de audaz e valente. Lolita Russel, uma amiga íntima e também militante do M-26, afirma: “Ela não tinha medo de nada. Muito abnegada, séria, solteira e não era chegada a festas ou coisas desse tipo”. Che e Aleida conviveram por oito anos, tendo gerado quatro filhos. É ela quem afirma:
El Che volvía tarde a casa, a las tres o cuatro de la madrugada, a veces a las seis. Dormía sólo cinco o seis horas diarias. ¡Imagínese! ¡Estaba construyendo una nueva sociedad! ¡No podía dedicarse al hogar y a la casa!
Casaram-se em 02.06.1959, poucos dias depois do divórcio de Che. Nesta data, uma conjunção exata entre Sol e Mercúrio em Gêmeos selava a união entre os dois amantes que, antes de qualquer coisa, tinham uma profunda identificação ideológica, um temperamento muito semelhante e um estilo de vida em comum. Enfim, eram “companheiros”. Os trígonos exatos que ambos os planetas aplicavam ao Nodo Norte em Libra, na casa VII de Che, indicam esta sintonia. A Lua, em Touro, aplicava conjunção a Vênus natal e Vênus, por sua vez, formava uma sextilha com o Sol natal.
Assim que chegou a Havana, no início de 1959, Che Guevara foi nomeado comandante da Fortaleza de La Cabaña, uma prisão, e permaneceu no cargo até junho do mesmo ano. Lá, comandou julgamentos e execuções de várias pessoas ligadas a Fulgêncio Batista, tais como oficiais e membros do órgão para a repressão de atividades comunistas, da polícia secreta.
Pessoas que trabalharam em La Cabaña, junto a Che, alegam a existência de procedimentos sem base legal onde “os fatos eram julgados sem qualquer consideração aos princípios jurídicos gerais”, com os fatos sendo predeterminados por Che. É estimado que gire em torno de 160 o número de pessoas executadas por ordens extrajudiciais de Che no período em que permaneceu no posto.
Em seguida, Che torna-se oficial do Instituto Nacional de Reforma Agrária e, em 26.11.1959, é nomeado pelo Conselho de Ministros para a presidência do Banco Nacional de Cuba, assinando as notas postas em circulação com o próprio apelido. Durante a acumulação de cargos, Guevara recusou-se a receber os dois salários a que tinha direito, insistindo que era apenas um comandante do exército e tinha a obrigação de dar o “exemplo revolucionário”.
Ainda em 1959, organizou expedições fracassadas ao Panamá e à República Dominicana, interrompendo uma curtíssima lua de mel do seu casamento com Aleida March.
Em 1960, o médico Che entrou novamente em ação prestando primeiros socorros às vítimas da fragata La Coubre, uma embarcação francesa que trazia munição do porto de Antuérpia para Havana. Uma operação de resgate teve então início imediato, mas uma segunda explosão resultou em mais de uma centena de mortos. Foi durante os funerais para as vítimas desta explosão que Alberto Korda tirou a mais famosa fotografia de Che, em 05.03.1960. A foto só ficaria famosa sete anos depois, tornando-se a mais reproduzida de todos os tempos. No mesmo filme, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir aparecem ao lado do Comandante.
O Maryland Institute College of Art considera a foto de Korda como sendo “a mais famosa do mundo e um símbolo do século XX”. Curiosamente, ela não foi publicada nos jornais cubanos por que os registros envolvendo o casal Sartre-Beauvoir eram mais valiosos para a Revolução. Depois de 1967, várias versões estilizadas das mesma foto foram criadas e correram o mundo. Korda, comunista convicto, nunca havia recebido um royalty sequer por ela. Mas, após vê-la numa propaganda de vodca, declarou:
Usar a imagem de Che para vender vodca era um acinte com seu nome e sua memória. Ele nunca bebera e as bebidas não poderiam ficar associadas a seu nome. Como apoio às ideias pelos quais Che morreu, não tenho aversão à reprodução da foto por aqueles que querem propagar sua memória e a causa contra as injustiças sociais no mundo.
Korda recebeu, enfim, US$ 50.000,00 ao final do processo que moveu contra a empresa que fizera a campanha para a companhia de bebidas.
No dia 23.02.1961 Che Guevara é nomeado Ministro da Indústria pelo governo revolucionário. O mexicano Jorge Castañeda afirma que “a competência real de Guevara para comandar o Ministério da Indústria era muito pouca ou nenhuma. Se levarmos em conta o critério de ‘estímulos materiais’, e não o de ‘estímulos morais’ (estes, pregados por Che), Cuba nunca teve um pior resultado em termos de inflação e da colheita da cana-de-açúcar no ano em que Che esteve no posto. Enfim, ele talvez fosse melhor guerrilheiro que político, mas isso cabe à História julgar”.
No posto, Che colaborou decisivamente para formular o socialismo cubano, sendo que é justamente em 1961 que Fidel oficializa o regime comunista na ilha. É certo que o convívio com Che, desde os tempos da guerrilha, foi fundamental para a guinada à esquerda de Castro.
Ainda que a performance de Che no Ministério da Indústria seja criticada, ele estabeleceu salários e condições dignas de trabalho, conseguindo aumentar a satisfação dos operários. É importante ressaltar que, quando recebeu a incumbência de coordenar e incrementar as indústrias recém-nacionalizadas, havia um quadro absolutamente adverso, já que a pequena nação era fustigada e boicotada pelo imperialismo norte-americano. Com isto, a aproximação com os russos tornou-se fundamental, dentro da lógica bipolar da Guerra Fria, posto que o prosseguimento da Revolução estava ameaçado pela fragilidade da economia cubana.
Quando observamos os trânsitos da posse como ministro, percebemos que uma conjunção entre Júpiter e Saturno, na casa X, aplicava trígonos para o Sol de Che, bem como Plutão, então em Virgem, formava trígono com o Meio do Céu, consolidando a sua posição de segundo homem da hierarquia cubana. Todavia, Urano aplicava quadratura exata ao Sol natal, corroborando as teses de que os métodos pouco ortodoxos que privilegiavam “estímulos morais” poderiam manter a unidade do povo cubano no apoio à Revolução, mas eram, efetivamente, de pouca objetividade.
A oposição de Sol e Mercúrio em Peixes a Plutão em Virgem aponta que Che talvez estivesse agindo com teimosia demasiada. Finalmente, uma oposição exata de Netuno na casa VIII a Vênus natal na casa II revela que Che não estava realmente em um bom período para assumir diretrizes de ordem econômica.
Durante a fracassada invasão norte-americana à Baía dos Porcos, em 17.04.1961, Che Guevara não se encontrava na verdadeira frente de combates, posto que se deslocara para um posto de comando na província de Pinar del Río, no extremo oeste de Cuba, acreditando que seria ali que os confrontos ocorreriam. Fidel já esperava um ataque à ilha, tendo sido alertado previamente por Che, que presenciara um ataque semelhante na Guatemala.
Em Pinar del Río, Che disse que sofreu um tiro de raspão no rosto, causado por um disparo acidental de sua própria arma. Depois da tentativa de invasão de Cuba, as relações entre a ilha e os EUA azedariam de vez e a aproximação com a URSS era inevitável.
Este artigo é o segundo de uma uma série de três:
1 – Che Guevara, os primeiros anos
2 – Che Guevara, o mapa e o mito (este)
3 – Os últimos anos de Che Guevara