Doce vampiro
(Rita Lee)Venha me beijar, meu doce vampiro
Oh, oh, na luz do luar
Ah, ah, venha sugar o calor de dentro do meu sangue vermelhoTão vivo, tão eterno veneno
Que mata a sua sede e me bebe quente como um licor
Brindando a morte e fazendo amorMeu doce vampiro, oh, oh, na luz do luar
Ah, ah, me acostumei com você sempre reclamando da vida
Me ferindo, me curando a ferida
Mas nada disso importa, vou abrir a porta prá você entrar
Beijar minha boca até me matarBeija minha boca até me matar de amor
O vampiro, o sangue vermelho, o veneno… temas do Oitavo Signo: o único que aceita a ideia da morte com naturalidade, pois entende claramente a transitoriedade de todas as coisas. Sabe que tudo é cíclico, e, portanto, precisa acabar para depois recomeçar.
“Brindando a morte e fazendo amor”… A morte e o sexo são os temas principais desse signo. O erótico e o agressivo — impulsos ligados ao prazer e à morte — com força capaz de defender ou destruir a vida. Em situações extremas, o escorpião é um animal capaz de eliminar sua própria vida, como forma de defesa! Isso aplica-se ao signo de maneira figurada, e algumas vezes até literal. Mais uma vez, nota-se a consciência de que a morte é mero ritual de passagem.
Escorpião lida com a intensidade, o extremismo, a entrega total, a necessidade do mergulho profundo em todas as coisas com que se envolve. Isso Rita Lee traduz muito bem ao final da música: “Beija minha boca até me matar de amor”. Escorpião não tem receio de deixar-se ferir para viver experiências profundas. Tudo é aceitável para ele, exceto a superficialidade e a banalidade. Um beijo só é verdadeiro e válido se matar de amor. Ir ao âmago da questão, às últimas consequências, ao fundo do poço, é uma necessidade visceral. Ao voltar do fundo do poço, ele sente que está muito maior, mais forte, mais pronto para as próximas batalhas. E é nisso que vê o verdadeiro sentido da existência: fortalecer-se e transformar-se, acima de tudo.
E é disso que a música nos lembra quando diz: “Me ferindo, me curando a ferida”… Escorpião é o detetive do zodíaco e sente-se fascinado pelos mistérios e enigmas da vida e da morte. Tudo que está oculto ou em segredo desafia e desperta seu interesse — e isso inclui os mistérios da mente e da psique. Em seu anseio de autoconhecimento, Escorpião mergulha profundamente para dentro de si mesmo. É capaz de olhar para si com toda a honestidade e abrir a ferida, se preciso for, para curar-se. Aí reside o seu grande potencial de transformação. E, sendo um psicanalista nato, tem a habilidade necessária para ajudar o outro em sua cura, ainda que para isso lhe abra também a ferida!
Rita Lee, nascida em São Paulo, a 31 de dezembro de 1947, tem Ascendente em Aquário. Urano, regente do Ascendente, em Gêmeos justifica a leveza e a irreverência que caracterizam a maior parte de sua obra. No entanto, Saturno, corregente de Aquário e dispositor do Sol [*], faz uma conjunção — ainda que ampla — com Plutão. Vênus, planeta dos relacionamentos, opõe-se a Plutão, regente de Escorpião. Além disso, no mapa de Rita Lee, o Nodo Sul, sempre tão expressivo em qualquer mapa, encontra-se em Escorpião. E é toda essa energia de Plutão/Escorpião que, tão claramente, emerge (uma palavra de Plutão) nesta música. Com certeza Rita Lee sabia muito bem do que estava falando quando escreveu Doce vampiro.
[*] Saturno rege Capricórnio, signo onde se encontra o Sol de Rita Lee.