A maioria dos pais não tem muita vocação para a paternidade, mas são as crianças Vênus-Saturno as mais sensíveis aos abandonos e maus-tratos. Como foi colocado no artigo Vênus-Saturno, o afeto sabotado, não é apenas uma questão que se origina com os pais. A coisa toda tem muito mais a ver com a sensibilidade da pessoa.
O mito de Orfeu e Eurídice
Além disso, há de se observar também a lição que fica evidente quando analisamos o mito grego de Orfeu e Eurídice: “não olhe para trás!” No mito, Orfeu e Eurídice amam-se muito e resolvem casar-se, mas uma tragédia ocorre e Eurídice morre no dia do casamento, picada por uma serpente. É muito comum observarmos na vida do indivíduo Vênus-Saturno alguma história de “fatalidade”, envolvendo questões afetivas: ou é alguém muito amado que vai embora do país, ou morre, ou que me ama mas não pode me amar, ou seja, não importa o caso, fica sempre patente um peso de “inevitabilidade”, como se forças externas estivessem impedindo o amor de fluir.
Esta “inevitabilidade” não é um destino específico de forma alguma, é em verdade uma atração que o indivíduo vênus-saturnino tem pelo difícil. O simples, o fácil, o fluido, não o atrai. “Amor”, em sua alma, está atrelado com a palavra “sacrifício”, e desta forma ele cria, na realidade, os tipos de relação que terá. É algo que nasce na mente, e não é fruto de um “desígnio divino”, por assim dizer. Ainda sobre o mito, Orfeu não se conforma com a perda de Eurídice, a despeito de ser um homem muito belo e dotado de grande talento musical, e resolve partir atrás dela no Reino dos Mortos. Isso também nos diz muito a respeito da psique vênus-saturnina: o indivíduo é focado naquilo que ele perde, e não naquilo que ele tem ou ganha. As perdas são muito mais marcantes que os triunfos e as disponibilidades, de modo que, não importa o quanto ele possa ser amado, seu foco de interesse recairá sobre aquilo que ele perdeu.
Por trás de tudo isso há algo muito bonito, não podemos deixar de esquecer, que é a compulsão vênus-saturnina para mover céus e terras por conta de um amor. De certa forma, este indivíduo só sente que ama quando está passando por terríveis problemas devido à razão do seu afeto. Aquilo que não causa problemas não é interpretado como “interessante” nesta alma disposta ao desafio.
Não podemos deixar de inferir que há algo de masoquista neste comportamento – e de fato há, sobretudo se observarmos que, quando eventualmente ocorre de a pessoa conseguir ultrapassar céus e terras em nome de um amor, quando tudo se resolve, eis que a coisa se torna subitamente “desinteressante”.
Mas, enfim, Orfeu consegue abrir os portais do mundo de Hades (o reino da morte) com sua harpa mágica e, assim sendo, consegue comover Plutão, que lhe permite levar Eurídice de volta – e isso também diz muito acerca do aspecto Vênus-Saturno. É impressionante a incidência de pessoas com grande talento musical que apresentam este aspecto, é uma incidência alta demais para ser ignorada. Mas, ao mesmo tempo, é muito comum também que tais talentos estejam sendo negados, ou preteridos, não explorados etc. Entretanto, a música é parte essencial do processo de desenvolvimento do poder do amor na alma vênus-saturnina. Quando aprende a tocar algum instrumento ou a cantar, a pessoa torna-se não apenas mais harmoniosa no que concerne à fluência de seus sentimentos, como também se torna poderosamente sedutora.
O mito, contudo, tem em sua triste parte final a maior lição que um indivíduo Vênus-Saturno pode querer aprender: a condição imposta por Plutão é que Eurídice deveria seguir Orfeu, andando atrás dele, até chegarem juntos ao reino dos vivos, mas Orfeu não poderia, sob hipótese alguma, olhar para trás. Ao quase alcançar os portais do mundo dos vivos, Orfeu desconfiou que Eurídice não o seguia, e deu “uma espiadela” para confirmar, e tudo foi por água abaixo: ela estava exatamente atrás dele, mas foi forçada a retornar para o mundo dos mortos.
A compulsão de remoer o passado
Este ato de Orfeu configura o grande real problema da alma Vênus-Saturnina: a compulsão de remoer o passado. Sofrimentos antigos são projetados para as novas relações, ou então a pessoa custa a esquecer um pequeno ato falho que o outro cometeu, ou seja, o indivíduo está sempre “olhando para trás” de alguma forma, descumprindo o trato que eventualmente Plutão faz conosco: sempre teremos uma segunda chance, contanto que saibamos viver como novo aquilo que é novo, olhando para adiante e, sobretudo, confiando. A questão toda, aliás, envolve o aprendizado da confiança, além da capacidade de aceitar e entender que os outros erram, e se nos traem é porque estão primeiramente se traindo. Assim sendo, o maior mal cometido não é sobre nós, e sim sobre o próprio ser.
Leia também os outros artigos da série de Alexey Dodsworth:
Thamy diz
Tenho venus-saturno casa 8 ainda, e realmente meu problema é que fujo de amores, mas ao mesmo tempo não queria faze-lo, meu esposo para ter algo comigo, eu fuji dele 3 anos, no final deu tudo certo, mas sinto que isso é algo para se tratar, tenho realmente facilidade em aprender piano.
thayanne diz
Mt bom
Cláudio Nélio diz
Texto muito bom!