A Petrobras é uma das maiores e mais importantes empresas tupiniquins, e qualquer movimentação em sua estrutura mexe com todo o país. Criada durante o governo Vargas, em 3 de outubro de 1953, seu horário de nascimento, às 19:05h, deriva do comunicado nacional que Getúlio fez durante o programa “A Voz do Brasil” (fonte: jornal A Notícia de 4.10.53). Aquele foi o momento em que a nação tornou-se ciente da existência da Petrobras. Isso equivale a um nascimento. Ora, mas se a “Voz do Brasil” tinha início às 19:00h, por que o horário de 19:05h? Porque antes de anunciar a Petrobras, Getúlio fez uma introdução de 5 minutos, falando sobre outras fontes de energia com a habitual lentidão de seu estilo de oratória, e só então deu a notícia da criação da empresa de exploração (guardem bem este conceito) de petróleo. Este horário, portanto, seria aquele no qual a empresa e o mundo fizeram seu primeiro vínculo. Para a entidade coletiva, seria o equivalente ao primeiro alento de um ser humano.
A Petrobras já possui em sua essência (seu mapa radical) uma forte competitividade e a necessidade intensa de mostrar-se líder e criativa. Isso é mostrado pelo Ascendente em Áries (pioneirismo) e seu dispositor, Marte, na casa 5, da criatividade. A posição do regente do Ascendente em Virgem também acrescenta a inclinação à pesquisa e ao desenvolvimento de metodologias específicas para cada tipo de abordagem. A autoimagem da empresa, além de mostrar-se competitiva, também apresenta o desejo de ser extremamente útil e produtiva. Porém, como mostra a posição radical de Marte na casa 5, também é dotada de uma espécie de sentimento de ser “o centro do universo”. Isso é reiterado pela posição da Lua em Leão conjunta a Plutão.
Plutão é particularmente importante na constituição do mapa radical da Petrobras, onde está conjunto à Lua, o que remete à característica plutoniana desde o nascimento da empresa. É Plutão o símbolo associado à ideia de profundidade, enquanto Netuno é significador do oceano. Perfurações de poços são explicitamente análogos aos símbolos de Marte e Plutão. Ambos são extremamente enfáticos no mapa. Vênus, dispositor do Sol, está em conjunção com Marte, Plutão com a Lua e Marte é o dispositor do Ascendente. Netuno tem sua enorme parcela de atuação no mapa da Petrobras por correspondência com dois fatores: o Meio do Céu em Capricórnio, cujo regente, Saturno, faz conjunção com Netuno, e a predominância (o signo vibrante ou assinatura do mapa) de Libra. Netuno está neste signo. A combinação de tais fatores resulta imediatamente no que é a Petrobras: uma empresa líder mundial, caracterizada pela perfuração de poços de petróleo em águas profundas. Mais do que isso, é uma empresa cuja missão é prover o país de energia. Mais uma vez, o símbolo de Marte-Plutão combinados, ainda que indiretamente.
Confirmando o mapa da Petrobras com progressões secundárias e arcos solares
Para confirmar o mapa da Petrobras, analisam-se as progressões secundárias e arcos solares de dois momentos na história da empresa:
a) o período em que a Petrobras foi dirigida por Henri Philippe Reichstul, de março de 1999 a dezembro de 2001 (governo de Fernando Henrique Cardoso), uma fase de grande crescimento mas também de muitos acidentes; e
b) a tragédia da explosão e afundamento da plataforma oceânica P-36, em 15 de março de 2001. A P-36 era a maior do gênero no mundo. Sua destruição ocasionou 11 mortes, um enorme prejuízo financeiro (pelo menos 350 milhões de dólares) e um rombo sem precedentes na autoestima da Petrobras.
Em comparação com a tragédia do Titanic, poderão dizer alguns que as onze vidas perdidas no afundamento da plataforma P-36 foi um número modesto. Entretanto, o choque das mortes, os problemas econômicos decorrentes do desastre e o golpe no moral dos brasileiros não podem ser considerados pouca coisa.
Numa primeira observação, nota-se uma coerência entre a progressão secundária e o arco solar: Marte, na progressão secundária, e Plutão no arco solar, vinham fazendo conjunção com o Sol da Petrobras há anos. A conjunção de Marte progredido (secundária) com o Sol iniciou-se em dezembro de 1995 e terminou em junho de 2002. A de Plutão (arco solar) iniciou-se em dezembro de 1997 e seu término aconteceu em novembro de 2001. Foi uma fase de turbulência e de alterações drásticas envolvendo a direção e presidência da empresa.
A progressão Marte-Sol
Voltemos à conjunção Marte-Sol. Há potencial, durante esta fase, para colocar-se em situações de risco, devido ao excesso de impulsividade característico da configuração. Os excessos marciais não raro estão associados a acidentes, com injúrias físicas. Quando há uma conscientização das características desse arquétipo, é possível reduzir consideravelmente as chances de injúrias e administrar os riscos racionalmente, mas é difícil evitar o desejo por corrê-los. É um crescimento do nível de atuação do ego pessoal e do sentimento de autoimportância.
No nível empresarial isso se daria mediante o crescimento da liderança dos diretores e presidentes, posto que o Sol é análogo aos poderes centrais das organizações. No caso da Petrobras, se isso já é parte comum de sua natureza, a partir de 95 a tendência a liderar e a competir aumentou muito, especialmente com a chegada de um novo presidente, Reichstul, que tem seu Sol ariano conjunto ao Ascendente da empresa e sua Lua libriana conjunta ao Sol da Petrobras. Reichstul, diga-se de passagem, fez a Petrobras tornar-se uma das empresas mais lucrativas do mundo desde que a assumiu, em março de 1999. Falando em liderança, a conjunção Marte-Sol indicou problemas com a imagem dos dois presidentes da Petrobras naquele período: Reichstul teve de lutar para não ser responsabilizado pelo acidente da plataforma P-36 (e outros anteriores), enquanto o nome do presidente anterior, Joel Rennó, rondou em boatos sobre possível envolvimento num esquema de corrupção. Este último fator é análogo às características simbólicas de Plutão, que veremos mais adiante.
Com a chegada de Reichstul (maio de 99) e com a data exata da conjunção Marte-Sol (19 de março de 1999), o Sol libriano, potente em fazer concessões e acordos, passou a agir de forma um pouco mais individualista e a cortar comprometimentos (e o número de empregados também). Note-se a proximidade entre a data exata do aspecto de Marte e a entrada de Reichstul na presidência. Além disso o aspecto ocorre na casa 6 do mapa radical, que trata da produtividade, do cotidiano, das técnicas, dos métodos, dos empregados, do saneamento e do ambiente de trabalho. O número de conflitos internos e externos aumentou desde o início da conjunção. Os problemas com o saneamento nos locais de trabalho também, e, no caso da Petrobras, o local de trabalho na maior parte das vezes é o mar. Isso incide sobre a saúde (casa 6) do meio ambiente. A produtividade aumentou vertiginosamente, em especial entre 99 e 2001. Marte na casa 6 também é bastante encontrado no mapa de quem tende a fazer cirurgias corretivas. Analogamente, a empresa precisou de reparos urgentes – sendo a urgência uma característica simbólica de Marte.
O arco solar Plutão-Sol
Eis algumas afirmações típicas deste contato quando no mapa de uma pessoa: “Estou fazendo isso pelo seu próprio bem”, “Deixe que eu decido e depois eu digo pra vocês o que vocês devem fazer”, “Quem tem de controlar os ganhos e gastos da comunidade sou eu. Só eu sou suficientemente responsável”. Isso é comum quando as facetas mais paranoicas do deus dos reinos inferiores (o Hades no mito grego) manifestam-se no temor de ser controlado e no desejo de poder sem oposições. A direção de arco solar de Plutão sobre o Sol do mapa radical também coincide com sentimentos de perda, luto, em alguns casos, e constantes jogos de poder. A necessidade de transformações e reciclagens torna-se urgente, e com isso sobrevém a necessidade de descartar o que não tem mais finalidade e utilizar novas possibilidades. Esse descartar e reciclar refere-se, no caso da indústria, à manutenção de peças e equipamentos, à preocupação com a natureza, que é inerentemente reciclável, e à adaptação a uma condição sobre a qual ainda não há meios de exercer domínio. Curiosamente há uma reflexão de Domenico De Masi, em O Ócio Criativo, onde ele mostra que, pelo fato de ser frágil em relação às outras formas de vida na Terra, o ser humano precisou compensar isso com a criação de utensílios que permitissem a realização de tarefas para as quais somente certos animais eram aptos. Apenas um exemplo: não temos garras como as do tatu para escavar a terra, mas criamos a pá. Hoje somos capazes de fazer o que os deuses mitológicos faziam nos contos de Homero, com as máquinas mais poderosas, com a bomba atômica e com a clonagem, mas sempre existirão situações onde precisaremos realizar essa compensação.
A conjunção Plutão-Sol indica um período de crise. Esta refere-se ao meio ambiente e ao jogo de poder humano em torno das regras a serem seguidas. Refere-se também a uma mudança radical de postura, que inclui um comportamento obsessivo-compulsivo na conquista dos desejos. Seria como multiplicar Marte por cem e dar-lhe maior profundidade. Plutão fez esta conjunção na casa 6 do mapa da Petrobras. Vimos nos parágrafos acima que a casa 6 refere-se, entre outras coisas, aos empregados, digamos mais precisamente, àqueles que prestam serviços.
A Lua progredida antecipa seus efeitos
Finalmente, temos a Lua progredida (em progressão secundária) em quadratura com Plutão, cujo início seria em maio de 2001, estendendo-se até setembro daquele ano. Há, no entanto, uma curiosidade espantosa na técnica de progressão, especialmente quando se trata da Lua progredida. De acordo com as pesquisas e exaustivas análises sistêmicas, percebe-se uma espécie de antecipação dos eventos análogos ao simbolismo que um determinado aspecto em progressão carrega. É o caso da Petrobras e de muitos outros já estudados. Os eventos correspondem exatamente ao que a progressão mostra, mas o aspecto propriamente dito só ocorre um pouco depois. Isso é explicado pela teoria de que existe um processo psíquico de preparação prévia para o advento de um determinado símbolo. Seria, como afirma o astrônomo Percy Seymour, do mesmo modo com as aves migratórias, que assumem antecipadamente um comportamento idêntico ao da migração, com seus órgãos agindo como se já estivessem migrando (acumulando gordura, aumentando a penagem etc). As observações atingem vários reinos na natureza, e de fato existe esta antecipação. Quanto tratamos da Lua progredida, também falamos de nosso vínculo com a história biológica do planeta. É certo que, naquele período individual, o aspecto ainda por vir estaria sendo antecipado cerca de 2 a 4 meses em eventos análogos.
Num nível pessoal, a Lua progredida em quadratura com Plutão identifica uma possibilidade forte de crise emocional. Provável complexo de culpa por atos passados que, de uma forma ou de outra, modificaram irreversivelmente a própria vida e a de outras pessoas. Análise profunda da qualidade de vida e rompimentos com realidades obsoletas, talvez de maneira traumática. É possível que certas pessoas tentem dominar o indivíduo ou criar alterações que soam como agressões ao ambiente de quem passa pela progressão. Ocorre uma espécie de morte para um estilo de vida, a perda de um membro da família ou alguém bastante íntimo (ou o prenúncio dessa perda) ou processos tais como separações de casais. Tudo o que envolve uma coletividade (país, corporação, etc.) tende a refletir-se em crises na vida pessoal.
Crescente ou minguante, essa quadratura pode pôr-nos em contato, direto ou indireto, com algum tipo de submundo, ou elemento fora da lei.
No nível empresarial, a Lua progredida em quadratura com Plutão funciona de modo análogo. No mapa da Petrobras, esteve em correlação com a morte de funcionários, a situação traumática do acidente e a necessidade de medidas corretivas.
Notemos que depoimentos de especialistas divulgados após a tragédia mostraram que as explosões poderiam ter sido evitadas se, nos três dias anteriores, a empresa tivesse tomado as providências que os relatórios técnicos sugeriam. A pressa, a negligência e as relações profissionais de “quem manda mais que quem” podem ser chaves para o entendimento do acidente.