O comportamento coletivo de uma geração é fortemente determinado pelo signo transitado por Netuno durante os anos de adolescência e juventude, até o primeiro retorno de Saturno (entre os 28 e os 29 anos). Netuno tem muito a ver com referências culturais e comportamentais que dão o tom único de cada época. É ele que simboliza o “espírito de cardume” e os ideais coletivos: os sonhos que sonhamos juntos e as escolhas que nos fazem diferentes de nossos pais.
Basta lembrar o período 1970-84, sob Netuno em Sagitário. Os valores sagitarianos jamais estiveram tão em alta: foi o tempo das discotecas lotadas, de Michael Jackson e dos Embalos de sábado à noite. Foi também o tempo do “pé na estrada”, da febre das religiões orientais e dos filmes de aventuras de Indiana Jones e Guerra nas Estrelas.
Já a geração que cresceu sob Netuno em Capricórnio (1984-98) preferiu adotar um visual dark e manifestou um raro apetite pela atividade política. Quem não se recorda da queda do Muro de Berlim?
Com Netuno em Aquário (1998-2012), estar plugado com o mundo tornou-se o grande sonho coletivo. Aquário é reconhecidamente gregário, mas ao mesmo tempo racional e amante da própria liberdade. Depois que Netuno ingressou nesse signo, o comportamento “descolado” tornou-se a regra. Nada de vínculos grudentos, nada de paixões avassaladoras. O resultado foi o surgimento da geração mais conectada da história, e ao mesmo tempo mais solitária. Em vez das complicadas relações pessoais de outras épocas, muito mais fácil descobrir o outro através de uma tela de computador.
O Google, os blogs e as redes sociais são típicas invenções de Netuno em Aquário. E, dentre as redes sociais, nenhuma fez tanto sucesso quanto o Facebook, cujo processo de criação foi discutido no filme A rede social, de 2010.
Parêntesis: recente pesquisa de opinião revelou que, entre os adolescentes japoneses, 40% dos garotos e 60% das garotas não nutrem o menor interesse em sexo. Muitos vão além, declarando sua aversão a qualquer contato físico. Segundo especialistas em comportamento, um dos principais fatores por trás desse desinteresse é o excesso de tempo que os japoneses dedicam a atividades virtuais, especialmente a internet.
A pesquisa foi notícia na imprensa em meados de fevereiro de 2011 – coincidentemente, durante um stellium de Sol, Marte, Mercúrio e Netuno em Aquário.
Um comportamento oposto, mas tão Netuno em Aquário quanto o da pesquisa japonesa, é o dos universitários que aparecem em A rede social: sexo o tempo todo, com múltiplos parceiros e sem grandes complicações, mas também sem qualquer vínculo real.
Em Aquário, Netuno tende a banalizar o corpo e desconectar-se das emoções básicas. O que sobra é um mundo mental, cool, masculino, em que gênios adolescentes se divertem escrevendo programas como se estivessem numa espécie de Clube do Bolinha tecnológico. Há garotas em toda parte, mas elas não têm a menor importância e são descartadas assim que aparece um assunto mais sério. Muito mais divertido do que discutir a relação é aperfeiçoar um script – ou invadir o servidor da universidade.
O mapa do lançamento do Facebook demonstra claramente o poder de sedução da nova rede social: Sol e Netuno estão em conjunção nos graus intermediários de Aquário, mostrando como o novo empreendimento poderia energizar e trazer à luz (Sol) as expectativas difusas de toda uma geração (Netuno). Secundariamente, há um subtom feminino neste mapa, já que a Lua, domiciliada em Câncer, e Vênus, exaltada em Peixes, envolvem-se num complexo jogo de aspectos com Júpiter em Virgem e Plutão em Sagitário. Esta configuração, considerada por si só ou em confronto com a conjunção Sol-Netuno, nos diz muito sobre alguns dos segredos que fizeram o sucesso dessa rede social.
Para começar, o Facebook é um espaço público que se presta contraditoriamente à exposição do universo pessoal e doméstico (Lua). Nele se praticam jogos de sedução e relacionamento social (Vênus) que antes dependiam de oportunidades de encontro face a face. Plutão, um símbolo de manipulação, entra no circuito como o fator de controle. É o poder que o usuário do Facebook tem de mostrar apenas o que lhe convém, ao mesmo tempo em que garimpa o máximo de informações sobre as possíveis “presas”.
Convém não esquecer que, na origem, o Facebook era um sistema voltado apenas para entretenimento e “azaração”, apresentando pares de fotos de pessoas e propondo ao usuário que escolhesse a mais “quente” (the hottest). Uma brincadeira, portanto, que explorava os interesses de consumo erótico (Vênus-Plutão) do público-alvo através de um cruel mecanismo de seleção (Júpiter está em Virgem) que tinha por matéria-prima um diretório de fotos roubadas nos servidores da Universidade de Harvard (uso ilegal de fotos: Plutão-Lua!).
Todo esse background sexista do Facebook fica evidente quando consideramos a carta de nascimento de seu criador Mark Zuckerberg, um estudante de origem judaica que contava na época apenas 19 anos. O que se destaca é uma forte concentração no eixo Touro-Escorpião, exatamente o que apresenta maior carga de conotações eróticas.
O mapa, com seis planetas na quadruplicidade fixa e apenas um na mutável (Urano), fala claramente de obstinação, insistência, projetos de longo prazo e uma teimosia à toda prova. Nos primeiros anos do Facebook, Zuckerberg recusou diversas ofertas tentadoras para vender o negócio. Para desespero dos colaboradores mais diretos, apostou alto no futuro e teve paciência para encontrar os investidores certos, que lhe permitiram capitalizar-se sem abrir mão do comando da empresa.
Este aspecto estável do temperamento de Zuckerberg quase não é explorado no filme, que prefere focalizar o suposto lado obscuro do milionário precoce: a ganância, a falta de ética e o comportamento quase sociopata. É como se o filme – e o livro que o inspirou – tivessem sido produzidos por um astrólogo pessimista, que tentasse utilizar o mapa de Zuckerberg para provar como podem ser duros e impiedosos os aspectos tensos de Saturno e Marte. O planeta pessoal mais afligido é a Lua, exilada em Escorpião e incomodamente “imprensada” pelos dois planetas maléficos da Astrologia Clássica. A oposição a Vênus completa o quadro, descrevendo alguém que, definitivamente, tem dificuldades para lidar com o feminino.
Logo na primeira cena do filme, depois de um show de grosseria e arrogância, o gênio da informática é sumariamente “dispensado” pela namorada. Por mais que insista, jamais voltará a ter outra chance com ela. Para compensar ou reverter essa rejeição, Zuckerberg teria criado o Facebook, que é usado ora para impressionar ora para intimidar a garota.
Na verdade, a garota do filme não existe. Depois de um namoro de muitos anos, Zuckerberg casou-se com uma estudante chinesa, por influência da qual chegou mesmo a aprender o mandarim. Portanto, a versão hollywoodiana envolve elementos de pura ficção, se bem que seja coerente com o mapa do biografado. A frustração amorosa de Mark e seus supostos comportamentos compensatórios – tratar todas as mulheres como objetos de prazer e depois descartá-las – são, efetivamente, uma das manifestações possíveis dos aspectos tensos de Lua e Vênus no eixo Touro-Escorpião.
Aí chegamos noutro ponto: o olhar moralista do filme sobre o comportamento social, afetivo e ético do protagonista. É como se A rede social nos dissesse o tempo todo: “Está vendo, Mark, como a arrogância e a falta de ética trazem problemas? As coisas seriam mais fáceis se você respeitasse mais os outros.” Essa mensagem subliminar está presente desde a primeira cena, e revela-se claramente na cena final, quando a advogada diz a Mark que ele não é tão bad boy quanto tenta parecer. Ele ainda pode ser um bom rapaz, desde que se corrija.
Mas de onde vem esse olhar moralista e condenatório? Para entender é preciso lembrar que a produção e a estreia do filme aconteceram em tempos de Saturno em Libra. Mais significativo ainda: na data da estreia mundial, em 24.9.2010, o Sol também estava em Libra, em conjunção com Saturno. Não admira, pois, que o pano de fundo de A rede social seja um julgamento, ou, na verdade, dois: o que efetivamente ocorreu na Justiça americana, em que Mark Zuckerberg é acusado de roubar o projeto da rede social e enganar três colegas de Harvard; e o julgamento moral difuso, que se inicia na primeira cena do filme e se estende até os créditos finais.
Zuckerberg ganhou o processo “real”, mas sua sua imagem ficou fortemente chamuscada por causa do filme. Numa típica postura de Saturno em Libra, Hollywood expõe os fatos (alguns deles distorcidos) e deixa o espectador chegar a suas próprias conclusões. E, na visão libriana de um mundo que só funciona bem à custa de concessões mútuas e do respeito aos acordos, Mark Zuckerberg é, com toda a certeza, um mau caráter.
O grande impasse da situação real, magistralmente captado pelo filme, é que o Judiciário americano sempre esteve a serviço da defesa da propriedade, base do sistema capitalista. Ocorre que a tecnologia trouxe duas mudanças viscerais durante o trânsito de Netuno em Aquário: em primeiro lugar, os bens imateriais passaram a ter mais valor e a gerar mais lucro do que os bens palpáveis, a ponto de Google e Facebook valerem hoje mais do que qualquer siderúrgica; segundo, as novas formas de organização do trabalho transformaram os conceitos de propriedade intelectual em ficção. O que é o Facebook? É uma ideia? Ou é o código de programação que viabiliza essa ideia? E se esse código tiver pedaços de outros códigos, quem é o dono?
Mark Zuckerberg construiu sua fortuna exatamente em cima desses pontos de interrogação. Posicionando-se como um típico hacker, explorou todas as indefinições sobre propriedade intelectual utilizando uma política de fato consumado: primeiro fazer, depois deixar que os advogados briguem entre si.
No mapa da estreia do filme, a conjunção Sol-Saturno, significadora da “velha” ética, está em quadratura com Plutão em Capricórnio (a “briga de foice” do mundo dos negócios) e em oposição a Júpiter-Urano em Áries (as novas tecnologias que chegam sem pedir licença e revolucionam o comportamento).
Resvalando no didatismo, o filme corporifica essa configuração em alguns personagens. A oposição de Sol-Saturno a Urano-Júpiter ganha vida respectivamente através dos personagens Eduardo Saverin, o amigo e sócio brasileiro de Zuckerberg que planeja crescer através de estratégias mais convencionais, e o diabólico Sean Parker, fundador do Napster, uma influência anárquica e provocativa que empurra o Facebook para rumos sequer imaginados. No meio disso tudo surge o apoio do grande capital (Plutão em Capricórnio), corporificado no dono do PayPal, que decide injetar dinheiro no Facebook – desde que o “certinho” Eduardo Saverin saia de cena.
Se quisermos resumir num só parágrafo, A rede social é um filme que conta, a partir da perspectiva de Saturno em Libra, a saga de um personagem Touro-Escorpião que abre caminho no mundo de Netuno em Aquário. O trabalho é bom não por retratar fielmente a vida de Mark Zuckerberg – o que efetivamente não faz – mas sim por dramatizar o grande dilema da primeira década do século XXI.
Desde 1998 o trânsito de Netuno em Aquário vinha dissolvendo o conceito de autoria e corroendo os códigos de propriedade intelectual. Já não está claro quem são os verdadeiros criadores, já que Leão, signo complementar a Aquário, também foi afetado. Moral e tecnologia sofreram um divórcio, e um novo ajuste terá de ser feito (talvez na próxima década, sob Netuno em Áries). Neste sentido, A rede social conseguiu captar um momento único na História, enquanto ele ainda estava acontecendo.