perfis — Página: 17

Mulheres, um problema na vida de Donald Trump

22/10/2016 por Márcia Ferreira Silva

A distribuição dos planetas pelos quatro elementos e a conjunção Vênus-Saturno contribuem para as dificuldades de Donald Trump com as mulheres. Pior: o padrão se repete de forma compulsiva.

Animus, o princípio masculino

De forma geral, segundo a psicologia analítica de Jung, podemos dizer que o arquétipo Animus está ligado ao princípio masculino, o qual é representado por atividades objetivas: a forma impessoal, pragmática e racional para entrar em contato com as coisas, com o predomínio do Logos e uma colocação menos conectada com sentimentos, criatividade e intuição, os quais estariam mais relacionados com o Eros e a Anima.

Para um homem, nos mostra como ele lida com a figura feminina internalizada e também com a sua própria masculinidade: com as energias de agressividade, assertividade, sexualidade, vontade e colocação profissional no mundo.

Em mapas astrológicos, podemos pensar em uma espécie de Animus assumindo o controle da personalidade, tanto no caso de homens como no de mulheres, quando encontramos uma grande ênfase em signos masculinos, que são os signos dos elementos Fogo e Ar, por exemplo:

Quando temos Sol, Lua e Ascendente, um Stellium ou uma preponderância de planetas colocados em signos masculinos, os quais são: Áries, Gêmeos, Leão, Libra, Sagitário e Aquário.
Quando encontramos planetas yang como Marte, Júpiter, Urano e Plutão em destaque como planetas angulares ou com aspectos e configurações tensas, pois nesses casos a energia desses impulsos (planetas) sente uma premência e uma pressão maiores para se expressar.

Se algumas dessas condições estiverem enfatizadas em um mapa, podemos inferir que se trata de uma personalidade com uma prevalência do Logos, do masculino, do pensamento, de muita objetividade, julgamento, menos intuição e sensibilidade, pois estas últimas pertencem ao reino da Anima. E por último, mas não menos importante, provavelmente menos aberto a questões internas e psíquicas, já que os signos masculinos são mais voltados para fora e menos voltados para intimidade e nuances internas.

A primeira coisa a se notar no mapa de Donald Trump é o seu Ascendente em Leão, no elemento Fogo, também signo masculino. Um Ascendente em Leão já nos fala das necessidades de obter atenção, de vaidade, de orgulho, de busca de reconhecimento, de ser tratado como uma pessoa muito especial e de ser amado e cortejado.

Donald Trump – 14.6.1946, 10:54 (-04:00) – Queens, New York – 074w00, 40n42.

Em seguida notamos que ele tem o planeta Marte colocado a 3 graus de seu Ascendente, o que demonstra uma Persona ou máscara social bastante agressiva, assertiva, de muita competitividade e ação.

Se o Ascendente está mais ligado com a nossa personalidade aparente e como nos colocamos no mundo, Marte no Ascendente também nos fala de características masculinas ou de um Animus muito presente em sua personalidade consciente, o que nos leva a pensar numa Anima – ou princípio feminino – mais reprimida no inconsciente na forma de Sombra. Portanto, a conexão com o Eros, com os sentimentos, com a intuição e sensibilidade, ou seja, a conexão com o amor estaria mais bloqueada e reprimida em sua personalidade. Da mesma forma a relação com a figura feminina se torna algo mais distante, desconhecido, e por isso mesmo podendo se tornar algo amedrontador.

Trump tem o Sol em Gêmeos e a Lua em Sagitário, que são também signos masculinos, sobre os quais falaremos mais adiante.

Se tentássemos traçar um paralelo com os Tipos Psicológicos de Jung, ele se encaixaria no Tipo Intuição-Pensamento. Intuição pela inovação, um lançar-se em possibilidades futuras com uma percepção global, e o Pensamento, por uma orientação mais intelectual, lógica, o que vai ao encontro de sua predominância do Animus, o que corresponderia na astrologia à predominância de Fogo, seguido do elemento Ar, ambos elementos masculinos. Por outro lado, as funções Sensação, que nos fala de percepções mais concretas e práticas, e a função Sentimento ficam relegadas à Sombra e com mais dificuldade de acesso. O elemento Água está presente em menor grau em seu mapa, e é interessante observarmos que ele tem zero ponto no elemento Terra. Tudo isso já pode nos fazer supor que sua fortuna tenha se dado muito mais por arroubos, grandes visões e sacadas grandiosas do que por um trabalho mais de “formiguinha” e “pé-no-chão”, e nos leva a pensar até em falta de alicerces ou negligência em questões de ordem prática e concreta.

Anima, o princípio feminino

Em termos da Anima, nos chama muito a atenção o fato de Trump ter nascido sob uma Lua Cheia e principalmente num eclipse lunar, com a Lua em conjunção ao Nodo Sul. Num eclipse lunar total, a Lua é coberta pela sombra da Terra e basicamente desaparece.

Se pensarmos no simbolismo da Lua, o princípio e toda a ligação com a figura feminina ficam então obscurecidos, prevalecendo o Sol e o masculino. As questões emocionais e toda a parte sentimental ficam reprimidas no inconsciente e com difícil acesso à consciência, funcionando mais ou menos como uma “panela de pressão”, pronta a explodir. Muitos acontecimentos terrestres são precipitados pela Lua Cheia, como as marés, alterações de humores nas pessoas e tantos outros. Um eclipse lunar traz tudo isso em potencial, porém de forma mais difícil de ser acessada.

Nascer sob o impacto de um eclipse lunar, que não deixa de ser uma Lua Cheia, significa ter nascido sob a égide de uma polarização entre o masculino e o feminino onde os dois princípios se antagonizam com difícil integração, a não ser que haja grande e intenso trabalho psíquico.

Além disso, o aspecto astrológico de oposição entre Sol e Lua, existente em uma Lua Cheia, por si só já nos fala sobre a necessidade inconsciente de utilizar o mecanismo de defesa que se chama em psicanálise de Identificação Projetiva: os conteúdos não-aceitos e negados são projetados no outro e a pessoa fica esvaziada desses conteúdos sombrios. O outro recebe essa projeção maciça e com isso a pessoa meio que “controla” a mente do receptor da projeção.

O mundo todo acompanhou e assistiu os ataques que Trump tem lançado contra Hillary Clinton nos debates para a presidência dos Estados Unidos e os ataques desrespeitosos contra as mulheres e tantos outros em geral, como que se colocando a partir de uma prevalência e arrogância masculina com o intuito de desvalorizar e subestimar o outro e o feminino. Chegou a acusar Hillary em pleno palco de “mulher antipática, sórdida” ou em outro momento: “você tem muito ódio em seu coração”. Vemos aí com muita clareza um mecanismo de Identificação Projetiva maciça, pois ele se esvazia desses “maus” conteúdos, provocando quase um nocaute em seu opositor, no caso, Hillary.

Ainda em termos dessa polaridade, podemos notar que o Sol de Trump se encontra na casa X, uma casa de grande proeminência profissional e ainda em conjunção com o seu Nodo Norte, o que fortalece o planeta de ambas as maneiras. Isso lhe dá uma grande atuação e visibilidade no mundo e uma tônica profissional extremamente forte, prevalecendo assim mais uma vez o masculino e a assertividade. Já a Lua, em conjunção ao Nodo Sul, fica com sua energia enfraquecida e, segundo a astrologia kármica, isto significaria que Trump traz nessa vida um problema de vidas passadas em relação à figura feminina, de forma a repetir padrões inconscientes e problemáticos de maneira compulsiva.

Outras faces do arquétipo da Anima são a Lilith ou Lua Negra e o planeta Vênus. Tanto a Lua como a Lilith se encontram em sua Casa IV, o setor das nossas origens, background, passado e pátria. A Casa IV é uma casa psíquica e inconsciente, onde os conteúdos não são facilmente acessados na consciência e ficam pulsando, não encontrando vazão e integração na personalidade. Trump, buscando essa proeminência e a presidência em sua pátria de origem, que são questões de Lua e Casa IV, estaria indo na direção de repetir esse passado kármico, pois é onde se encontra o seu Nodo Sul, que na verdade o remete a problemáticas e a confusões, e não ao direcionamento que ele deveria seguir: o de Casa X, sua própria atuação profissional. O fato de estar preso ao Nodo Sul poderá trazer consequências sérias e muitos problemas, como aqueles em que ele já está se envolvendo.

Vênus complementa a imagem feminina na psique. Vemos que Trump tem uma Vênus em conjunção a Saturno, o que novamente nos remete a uma repressão e uma anulação do feminino, do Eros, e o que também mais uma vez corrobora toda a sua dificuldade com as mulheres e seus impulsos repressores para com elas.

Leia também: Trump, um narciso em busca da Casa Branca

Darci Lopes

19/10/2016 por Redação Constelar

Darci Lopes, um pesquisador discreto e bem preparado, influenciou muitos dos astrólogos e estudantes que passaram pelo Astrocenter na década de 1980.

Darci Lopes nasceu no dia 27 de janeiro de 1942, às 5h15 da manhã, em Salvador, Bahia. Era um duplo Aquário, com Sol e Ascendente neste signo. Sua Lua em Gêmeos de casa 5, em conjunção com Júpiter, reforçava a ênfase em signos de Ar. Darci era, essencialmente, um tipo mental, curioso, pesquisador, lógico e organizado. Em sua carta, o Ar era secundado pela Terra (Marte, Saturno, Netuno e Nodo Norte), definindo-o como o intelectual prático, tão apto para planejar quanto para concretizar. Com o Sol oposto ao reservado Plutão, nenhum planeta pessoal em Fogo e nenhum fator em Água, Darci era um profissional discreto e avesso ao estrelismo. Atuando como astrólogo no eixo Campinas-São Paulo, era querido pelos alunos e colegas do círculo mais próximo, mas pouco conhecido no restante do Brasil. Por outro lado, sua intensa dedicação à Sociedade Brasileira de Eubiose, entidade filosófica e religiosa com núcleos atuantes em todo o país, tornou-o um palestrante requisitado.

Darci Lopes -27.01.1942, 05:15 -03:00 – Salvador, BA – 031w31, 12s59.

Faleceu em 28 de setembro de 2016, na mesma data de fundação da Sociedade Brasileira de Eubiose (28 de setembro de 1921, em São Lourenço, Minas Gerais), e foi sepultado na manhã do dia seguinte, no Cemitério Vertical de Guarulhos.

Descrito pelo astrólogo campinense Fernando Guimarães como um “gênio da matemática e da educação”, Darci tinha excelente formação acadêmica: era licenciado em Física e Matemática, com Extensão Universitária em Psicopedagogia e cursos de Astronomia pelo Planetário Municipal de São Paulo.

Trabalhou por vários anos, desde 1985, no Astrocenter de São Paulo. Professor de muitos astrólogos hoje em atividade, é descrito por Ana Maria González como “um profissional impecável, compromissado com a busca do conhecimento. Gentil no contato com as pessoas, poderia ser chamado um gentleman”.

Em agosto de 2013 participou da programação da Astrológica, da Gaia, ministrando a palestra O problema da hora em Astrologia (retificação de cartas era um de seus focos de interesse). Sua última participação num grande evento astrológico fora de São Paulo foi em 29 de novembro de 2014, quando apresentou-se no Simpósio do Sinarj.

Darci Lopes trabalhando. As fotos deste artigo são reproduções do perfil pessoal no Facebook.

Nota do editor

Conheci Darci Lopes pessoalmente durante a Astrológica 2008. Quem fez as apresentações foi o prof. Raul Varella Martinez, que nos colocou frente a frente e sugeriu-lhe que produzisse alguns artigos para Constelar. Darci, absolutamente sério, não disse nem que sim, nem que não. Apertou minha mão em silêncio, examinou-me desconfiadamente (o típico Sol-Plutão!) e saiu sem dizer uma palavra. Meses depois mandou-me uma mensagem bem formal, encaminhando um artigo. Depois vieram mais três. No total, são quatro artigos no acervo de Constelar, separados por longos intervalos de tempo e todos versando sobre retificação de cartas.

Acabamos trocando muita informação na época da ocupação do Complexo do Alemão, em 2010. Darci via naquele processo um grande ponto de partida para discutir o mapa que melhor representaria a cidade do Rio de Janeiro. Para ele, a carta ideal seria a da batalha em que morreu Estácio de Sá. Chegou a produzir um detalhado estudo, mas utilizando uma fonte que fornecia a data com erro de dois anos. Ao descobrir o equívoco, ficou arrasado. Para uma astrólogo especialista em retificação, a precisão é uma preocupação quase obsessiva.

Mais tarde, revisou a pesquisa e concluiu que a melhor carta para o Rio seria mesmo o da batalha de Uruçumirim (uma tese bastante polêmica), mas com a data correta, de 20 de janeiro de 1567. Outra preocupação dele era quanto à privacidade: “Peço, encarecidamente, que não cadastrem meu e-mail em nenhum grupo, fórum, rede social de qualquer natureza, anúncio de produto, spam, etc.” Quando trocou de endereço eletrônico, avisou: “Estou informando o endereço novo, mas não passem adiante para ninguém!” Era, de novo, aquele Plutão angular falando alto! (Fernando Fernandse)

Oil Man, o herói esquisito de Curitiba

20/09/2016 por Fernando Fernandse

Na capital mais fria do Brasil, um cinquentão desafia o termômetro pedalando pela cidade apenas de sunga de banho e coberto de óleo de bronzear. Venha conhecer o mapa de Oil Man, o herói esquisito de Curitiba!

Todo mundo sabe que Curitiba é gelada no inverno. Na capital mais fria do Brasil, não é raro que, entre junho e agosto, o termômetro se aproxime de zero. Por isso mesmo os turistas levam um susto quando veem passar aquele sujeito quase nu, untado de óleo da cabeça aos pés, pedalando sua bicicleta com o ar mais relaxado do mundo. “Quem é esse maluco?” Só mesmo um turista para fazer a pergunta, porque Curitiba inteira conhece Oil Man, a mais popular das figuras folclóricas da capital paranaense.

Oil Man, o herói desnudo da capital do frio, em foto publicada na Gazeta do Povo.

Oil Man – ou Nelson Rabello, seu nome verdadeiro – ficou famoso por ter passado os últimos 16 anos pedalando por Curitiba vestido apenas com uma sunga, tênis e muito óleo bronzeador. Visto com desconfiança nos primeiros anos, acabou ganhando status de super-herói local e paladino da causa do ciclativismo, a luta dos ciclistas pela conquista de mais espaço nas ruas da metrópole.

Em 30 de novembro de 2011 a Gazeta do Povo, mais importante jornal paranaense, publicou:

Em homenagem a esse ícone da cultura pop e ciclística curitibana, a última Bicicletada de 2011, no dia 17, será em homenagem ao Oil Man.
No encontro, todos os ciclistas serão convidados a participar com o traje oficial do super-herói: sunga de natação, um par de tênis, bicicleta e claro, muito óleo bronzeador. De acordo com os organizadores, o evento tentará estabelecer um recorde mundial de “Marcha de Homens-Óleo” no Guiness Book.

Cartaz da Bicicletada publicado na Gazeta do Povo

Acha que já leu o suficiente? Pois leia mais um pouco, porque a esquisitice não para por aí:

O Oil Man é o líder da Associação dos Homens-Óleo de Curitiba (A.H.O.C). Segundo o próprio Nelson, o grupo, que agora conta com dois novos componentes — Lupicínio e Ary — surgiu a partir de um ramo dissidente da antiga sociedade C.J.L. (Curitiba Justice League), e tem por finalidade a divulgação da bicicleta como meio de transporte ideal para Curitiba.

Traduzindo: os Oil Men estão se multiplicando! O mais revelador é a carta de nascimento (sem horário) da celebridade local. Para quem conhece os fundamentos da Astrologia, o mapa é de uma transparência que impressiona: nada menos que quatro planetas em Sagitário, signo do movimento e das grandes distâncias, representado nos mitos por um centauro – metade homem, metade cavalo. Dada a dificuldade de cavalgar em plena Av. Visconde de Guarapuava, Oil Man trocou o corcel mítico pela bicicleta, uma maneira moderna de expressar os mesmos conceitos de atividade ao ar livre e locomoção. No corpo humano, Sagitário rege as coxas e os músculos, exatamente as partes do corpo que o Oil Man mais aciona em seu incessante ir-e-vir.

Carta solar do Oil Man calculada para 17.12.1959.

O mapa também ajuda a compreender por que Oil Man escolheu uma atividade tão fora dos padrões. Marte, o planeta da atividade, está em conjunção com Júpiter, um símbolo de expansão. Esta conjunção tem um quê de ousadia juvenil, sendo muito comum, diga-se de passagem, no mapa de lançamento de filmes e histórias em quadrinhos de heróis de aventuras. Para completar, Marte recebe a quadratura de Plutão, num aspecto que indica enorme energia que precisa ser gasta de alguma forma. Para nosso personagem, trabalhar num escritório convencional seria como estar trancado numa jaula.

Em tempo: a bicicletada aconteceu e foi um sucesso. Daí surgiu uma página no Facebook, ilustrada com foto do Oil Man, para divulgação do cicloativismo em Curitiba. Quando a página já contava com mais de 500 depoimentos, o Facebook tirou-a do ar sem explicações. Segundo a Gazeta do Povo de 20 de dezembro de 2011, o motivo era a quase nudez do Oil Man, que parece não ter agradado ao conservador site americano. Novamente Curitiba se mobilizou. De paladino da bicicleta, Oil Man se transformou também em vítima da censura e paladino da liberdade da expressão. Observemos de novo sua carta, onde brilha um trígono entre o Sol sagitariano e o Urano leonino. Literalmente, é o tema da liberdade (Urano) de expressão no sentido amplo (Sol), e no signo da justiça (Sagitário). Conseguirá Oil Man vencer o preconceito da gigantesca rede social contra os cinquentões de sunga? Mais uma aventura para nosso super-herói!

O discurso do Rei

18/09/2016 por Silvia Bacci

Baseado em episódios da vida do Rei George VI da Inglaterra, o filme O Discurso do Rei ganhou quatro Oscars em 2011 e conquistou o coração do público. Trata-se da identificação com o “nó na garganta”, que tem mais a ver com nossas angústias pessoais do que com a gagueira em si. Mercúrio é a pista para entender esse incômodo.

O constrangimento do Duque

O filme nos faz sentir muita tensão ao acompanhar as tentativas que Albert, o então Duque de York, faz para falar em público. Um simples microfone ganha enquadramentos especiais, que traduzem o terror da palavra que não sai. A retórica era de grande importância no contexto daquela época, com o rádio como meio de comunicação fundamental da realeza para atingir a população. Nem em casa Albert escapa da gagueira ao contar uma história para as filhas na hora de dormir. Seu discurso é marcado pelo incômodo e pelo constrangimento. O personagem se divide entre o desejo não assumido de ser rei e o temor de falhar, por causa da sua limitação para se comunicar. Um autêntico Mercúrio em crise. Por intervenção de sua mulher, Elizabeth, entra em cena a figura do curador, o excêntrico terapeuta da fala, Lionel Logue. O filme mostra o relacionamento entre paciente e terapeuta, as resistências do primeiro e a determinação do segundo, e o processo para a cura do já então rei George VI.

NOTA: O nome completo do príncipe era Albert Frederick Arthur George. Subiu ao trono em 1936 como George VI após a abdicação de seu irmão, o rei Eduardo VIII, que trocou o trono pelo casamento com uma plebeia americana e divorciada. É o pai da atual rainha, Elizabeth II.

Quando Mercúrio nos aflige

Tanto o filme quanto o livro O Discurso do Rei trazem diversas questões que envolvem o planeta Mercúrio. Ele se faz notar na mensagem que existe, mas não é devidamente transmitida no momento em que é mais esperada – o que não significa falta de conteúdo –, na angústia diante do que não é dito, não só por parte do emissor como também do receptor, na defasagem entre pensamento e fala e nos lapsos. Os três primeiros signos do zodíaco também estão envolvidos. Gêmeos corresponde à oratória em si, ao ritmo da fala e à importância da respiração e dos exercícios “para falar”. As especulações sobre as causas físicas e psíquicas da gagueira geram novas reflexões. O problema começa no pensar, na tensão nervosa ou na articulação mecânica da palavra? Ao analisar o funcionamento de algumas aparelhagens do corpo, como a garganta e a boca, entramos nos territórios de Touro e Áries.

Albert é um personagem tenso, cheio de conflitos e dificuldades originadas numa infância com pouca liberdade para ser quem ele realmente era. Não lhe foi dado, por exemplo, o direito de ser canhoto. Seu Mercúrio foi obrigado a “fazer ao contrário”. Talvez por esta razão, personagem e filme tenham cativado tanto o público, por meio da identificação. Quando o planeta Mercúrio não exerce plenamente suas funções, provoca angústias de uma ordem muito peculiar. Não é o sentimento, mas a razão, o raciocínio, a expressão de conceitos e ideias que não fluem que provocam nossa inquietação. Há uma sensação de dúvida, consciente ou não, mesmo quando sabemos “que sabemos” algo. E, em consequência disto vem o “nó na garganta” e a hesitação.

Entender a natureza de Mercúrio

Existem diversas configurações que podem indicar dificuldades na expressão mercuriana. Por exemplo: se Mercúrio está guardado na casa 12, é possível que esteja sendo subutilizado. O planeta do intelecto na casa do escondido e da dissolução pode agir como um inimigo secreto, até ser decifrado. Às vezes é preciso que seja percorrido um caminho, construída uma ponte para o estabelecimento da comunicação. Faz-se necessário entender a natureza deste Mercúrio, conforme signo, elemento e aspectos envolvidos e tirá-lo do “armário”. Inseridos numa cultura que não valoriza o saber intuitivo, podemos desprezar as qualidades sutis de um Mercúrio nesta posição.

Também pode acontecer que Mercúrio esteja retrógrado. Ele nos traz, nesta condição, boas possibilidades a partir das revisões, ajustes e aprimoramentos que fazemos em nossas produções mentais. Isso só acontecerá, no entanto, se nos concedermos tempo para dar a Mercúrio este segundo olhar.

Outros fatores de incômodo podem ser:

a briga entre o signo da casa 3 e os planetas que a ocupam, ou entre este signo e o signo de Mercúrio;
aspectos tensos e restritivos afligindo Mercúrio na carta natal.

Esta última situação é a que ocorre no mapa de Albert, como veremos a seguir.

O Mapa do Rei

O livro O Discurso do Rei traz um provável horário de nascimento para Albert. Ele teria nascido em 14 de dezembro de 1895, às 3h30, em Sandringham, uma propriedade real perto de Norfolk, no Reino Unido. O Sol estava em 21º56 de Sagitário. O stellium na casa 1 fala sobre a sua forte necessidade de expressão. O ascendente faz uma quadratura com Júpiter, acentuando a expectativa sobre si mesmo. A Lua, conjunta com os nervosos Marte e Urano, leva à somatização das dificuldades emocionais. Albert sofria de uma terrível úlcera.

Rei George VI – 14.12.1895, 3h30 UT – Sandringham, Reino Unido. 000e30, 52n50. [Nota do Editor: Lois Rodden cita o horário de 3h05 como o correto de acordo com a certidão de nascimento, o que resultaria num Ascendente em 27° de Libra. ]

Plutão, regente do ascendente, está em Gêmeos, signo da linguagem, e faz oposição a Mercúrio conjunto ao Sol. A fala não podia ser menos tensa. O filme mostra o terapeuta Logue fazendo Albert soltar o verbo nos momentos de raiva. Praguejar e permitir-se dizer impropérios pode ter sido mesmo um elemento importante para a sua cura. Plutão não está sozinho nesta oposição. Ele está conjunto a Netuno, na casa 8 do mapa, uma casa que simboliza as transformações do ego e também as heranças. Netuno criava dificuldades para que Albert acessasse o legado da família, o trono. Estas dificuldades diziam respeito aos planetas envolvidos na oposição, Sol (autoconfiança) e Mercúrio (comunicação). Só quando ele se propôs a ir fundo, usando Plutão e seu implacável poder de transformação, foi possível mudar.Segundo o livro, a vida escolar de Albert não foi nada gloriosa. Na cúspide da sua casa 3, que influencia o raciocínio e os processos mentais, Capricórnio conflita com o signo onde está o Mercúrio de Albert, Sagitário. Um quer conter e o outro quer expandir. Um obedece, o outro questiona. Capricórnio, mesmo observando regras, deveres e hierarquia, traz ambição à mente. E Sagitário provoca a necessidade de falar sobre o próprio saber. Os planetas regentes destes signos estão em aspecto tenso. Saturno em Escorpião quadra o vaidoso Júpiter em Leão. Vênus, conjunta ao ascendente, também faz quadratura a Júpiter. Somando-se a isto o Meio do Céu em Leão, é possível avaliar o quanto Albert desejava ser rei.

O perfil do terapeuta da fala

Lionel Logue

Lionel Logue nasceu em 26 de fevereiro de 1880, sob o signo de Peixes. Todas as referências a ele no filme, no livro e nas citações sobre seu trabalho junto a Albert fazem pensar em uma forte influência de Aquário e seu regente Urano. Sem formação na área científica e usando métodos não ortodoxos, Logue quebrou preconceitos e conseguiu um feito notável, curando o rei e estabelecendo com ele uma longa relação de amizade.

Uma verdadeira constelação

O elenco afiado chama a atenção em O Discurso do Rei. Albert é interpretado com riqueza de detalhes pelo virginiano Colin Firth, com direito a todas as sutilezas que o papel exige. Tão elogiado quanto ele, o canceriano Geoffrey Rush está impagável como Lionel Logue. As cenas em que Logue desbanca o rei e estabelece com ele uma relação baseada na igualdade valem o filme. A geminiana Helena Bonham Carter vive um personagem completamente diferente daqueles eternizados nos filmes dirigidos por Tim Burton. Sua Elizabeth “dá a liga” entre rei e terapeuta, de maneira precisa e eficaz.

Jorge Amado e o mapa da Bahia

24/07/2016 por Fernando Fernandse

Não fosse a Bahia, o que seria de Jorge Amado? A comparação entre o mapa do escritor e o de seu estado natal revela uma forte sinergia, cujo eixo organizador é a Lua em Câncer presente em ambas as cartas.

Jorge Amado no Pelourinho, cenário de várias de suas obras.

A Bahia, berço da brasilidade, é fruto de uma feminina e maternal combinação Câncer-Touro aliada à picardia de um Ascendente em Gêmeos. Nada melhor para considerar como mapa-matriz das terras baianas do que a carta do início das obras de fundação da cidade de Salvador, primeira capital brasileira. Salvador começou a nascer, segundo as palavras do padre jesuíta Manoel de Nóbrega, precisamente às oito horas da manhã do dia 1º de maio de 1549 (e não em 29 de março, data da chegada de Tomé de Souza, primeiro Governador Geral, que foi a escolhida para as comemorações oficiais). Diriam as más línguas que o motivo da troca é que 1º de maio já é feriado nacional. Comemorando a fundação em 29 de março, os baianos traem sua própria história, mas ganham um feriado extra…

Basta verificar a carta levantada para 1º de maio de 1549 para entender que a Bahia não poderia ter outro mapa. Lá está a Lua em Câncer na casa 1, em conjunção com Marte, simbolizando o papel de Salvador e, por extensão, de todo o estado como seiva nutridora da formação de uma identidade nacional. Ao mesmo tempo, é o indicador de um padrão de ação (Marte) feminino, que, em vez de ir diretamente ao assunto, come o prato quente pelas beiradinhas, no estilo lateral e persistente típico de Câncer. Lá está o stellium em Touro, na casa 11, mostrando a importância dos jogos partidários e das figuras que se projetam no cenário nacional a partir do uso do poder econômico como base para a carreira política – quem não se lembra do velho senador Antonio Carlos Magalhães?

Os planetas de Jorge Amado, no círculo externo, sobre a carta natal de Salvador (mapa-matriz da Bahia). Observar ambas as Luas em Câncer, o Sol de Jorge Amado na cúspide da casa 3 da Bahia e Mercúrio do escritor na mesma casa, formando trígonos com Netuno e Júpiter, regentes do Meio do Céu do mapa baiano.

Touro na casa 11 tem a ver com a ligação visceral entre a terra e a política, que resultou no coronelismo de viés fortemente conservador. Já o Sol bem junto à cúspide da casa 12 mostra a vocação baiana para ser a terra do misticismo e da afirmação do elemento negro em nossa cultura. A casa 12 é a dos escravos e dos desterrados, e foram exatamente eles que acabaram transformando a Bahia no que ela ainda é.

Se projetarmos o mapa de Jorge Amado no mapa da fundação de Salvador, vamos ver que os planetas natais do escritor de Itabuna ativam fortemente a casa 3 (linguagem, literatura) do mapa de seu estado de origem, indicando claramente que o papel que viria a desempenhar na sociedade local teria relação direta com a comunicação e a produção intelectual.

A Lua de Jorge Amado, dependendo do horário exato do nascimento do escritor, está em algum lugar sobre a Lua ou Marte de Salvador, reiterando, de qualquer forma, o sentido lunar e canceriano da capital baiana (Caetano Veloso, outro famoso filho da terra, também tem a Lua em Câncer). Jorge foi a antena emocional da Bahia e o tradutor de sua memória e ancestralidade.

Destacam-se ainda mais dois aspectos: Vênus da Bahia, em Áries, em trígono quase exato com Vênus de Jorge, em Leão; e o trígono de Urano-Júpiter da Bahia, em Touro, ao Mercúrio de Jorge Amado, em Virgem. É a associação harmoniosa da palavra escrita com os vastos horizontes da imaginação, num caso astrologicamente exemplar de casamento perfeito do escritor com seu cenário.