Poucas vezes, nos últimos anos, tivemos uma sequência de posses de governadores em horários tão próximos e com mapas tão semelhantes. Nas posses para o mandato 2015-2018, sete governadores de estados importantes – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia, Goiás e Ceará – assumiram com Peixes no Ascendente e Sagitário no Meio do Céu. Os três estados mais populosos, São Paulo, Rio e Minas, são exatamente os que apresentam mapas mais críticos, com Netuno no Ascendente e Saturno no Meio do Céu. No caso de Minas, o planeta mais angular é Saturno no ponto mais elevado da carta. Rio e São Paulo, por outro lado, apresentam Netuno cravado no Ascendente.
A atual quadratura Saturno-Netuno é a última de um ciclo iniciado em 1990, quando ocorreu a conjunção dos dois planetas em Capricórnio. O ciclo coincide com a ascensão de Fernando Collor ao poder e seu malfadado pacote de medidas para acabar com a inflação. Quem lembra do confisco da poupança? Do desmonte de órgãos públicos e da demissão em massa de servidores, sob o pretexto de caça aos marajás?
Saturno e Netuno são princípios astrológicos muito diferentes e, em certa medida, muito difíceis de compatibilizar. Em comum, têm a pouca energia, a melancolia, a visão pessimista do futuro. Em momentos de ativação deste ciclo, existe a tendência de apostar em administradores que se assemelhem a pilotos experientes, capazes de conduzir o barco em meio à tempestade. Governantes que tomem posse em momentos críticos deste ciclo recebem um voto de confiança que funciona mais ou menos assim: “Faça o que você achar melhor, desde que me deixe a salvo na praia mais próxima.” Os novos governadores precisam, portanto, ter um forte sentido de missão, pois cada um deles terá de matar um dragão já definido previamente pelo eleitorado. Alckmin, por exemplo, terá de resolver a crise hídrica de São Paulo; Pezão precisará trazer de volta o dinheiro do petróleo e provar que as UPPs podem limitar a ação do crime organizado; a Rodrigo Rollemberg cabe a tarefa de livrar o Distrito Federal do descalabro administrativo e financeiro dos últimos anos. Não se esperam desses governantes ideias geniais ou projetos inovadores: espera-se simplesmente que administrem situações de crise, com o mínimo de solavancos possível.
Pimentel foi eleito pelo PT, Rollemberg pelo PSB, Alckmin pelo PSDB e Pezão, pelo velho PMDB. Os mapas de posse quase idênticos mostram que o eleitor votou menos nos partidos e mais num perfil de gestão “feijão com arroz”. “Não inventem e não arrumem novas encrencas”, é o recado.
Em todos esses estados, o mapa da posse apresenta uma oposição de Júpiter em Leão na casa 6 a Marte em Aquário na casa 12, um aspecto que pode ter vários significados. Júpiter é o regente do Meio do Céu, representando aqui a própria figura do governador. Na casa 6, do serviço e das obrigações, mostra que o sucesso administrativo só virá se o governante assumir uma postura de servidor público no mais amplo sentido da palavra: cumpridor da lei (Júpiter), administrador presente (Leão, um signo que organiza e centraliza) e trabalhador incansável, capaz de envolver-se em todos os detalhes da rotina (sentido de casa 6). Algumas coisas que estes governadores não poderão sequer pensar em fazer:
- Ausentar-se com frequência do estado que governam – Júpiter em Leão precisa estar sempre visível e próximo. Afinal, é o maior dos planetas!
- Isolar-se no próprio gabinete, tornando-se inacessível – Mesmo na subalterna casa 6, Júpiter em Leão é conspícuo demais para tornar-se invisível. Um governante que prefira trabalhar trancado, longe da vista do público, estaria negando a natureza deste posicionamento e alimentando rejeição. Júpiter em Leão é naturalmente vistoso, até um tanto exibido. Estes governadores precisam estar na rua, tomando contato diretamente com os problemas e fazendo-se acessíveis à população.
- Anunciar pretensões políticas futuras, além dos limites do cargo atual – O que se espera de um trabalhador de casa 6? Que produza e mostre resultados. A população desses estados não quer estadistas nem ideólogos, mas apenas que os serviços públicos funcionem. Esta cobrança, que já existiria qualquer que fosse o mapa, torna-se ainda mais crítica com o regente da casa 10 na casa 6.
- Fazer acordos de bastidores – Nem pensar: Marte, o pequeno maléfico, está na casa 12, dos assuntos varridos para debaixo do tapete. Este Marte rege a casa 2, dos recursos financeiros, e está em recepção mútua com Urano, regente de Aquário e presente em Áries. Para obter aportes financeiros os novos governadores terão de mexer em vespeiros muito perigosos. Não há como conseguir recursos (casa 2) sem entrar em confronto com interesses escusos (casa 12) ou lidar com adversários prontos para morder (Marte). Aqui, podemos pensar num conjunto de situações que, em cada estado, pode criar obstáculos para o saneamento financeiro: interesses de cartéis, atuação de lobistas, crime organizado ou simplesmente o velho “toma lá da cá” do fisiologismo endêmico. Como Júpiter é um símbolo de legalidade, cabe aos novos governantes agir estritamente dentro dos limites determinados pela ética e pela legislação.
Nenhum aspecto astrológico traduz tão bem o espírito do cavaleiro andante, paladino da verdade e da justiça, quanto Júpiter-Marte. É um aspecto que carrega em si um toque de idealismo adolescente, assim como um desejo ardente de justiça. É como se aos novos governadores fosse oferecida a oportunidade de assumir o papel do guerreiro que luta contra o dragão da maldade. Sem inovações e invencionices, como já vimos nos parágrafos anteriores, mas com coragem para enfrentar de peito aberto os interesses escusos. Dos sete estados considerados, algum deles teria um governador em condições de incorporar um arquétipo tão elevado? Sejamos otimistas e acreditemos que, dentre tantos, ao menos um consiga fazê-lo. O prêmio? Uma possível indicação para a sucessão de Dilma Rousseff, em 2018.