De Curitiba a São Francisco do Sul são apenas 176 km, que podem ser cobertos hoje em pouco mais de duas horas. Mas, no início do século XVI, não havia europeu que se aventurasse serra acima, pelas encostas íngremes. Enquanto o litoral catarinense virava parada obrigatória para espanhóis, franceses e portugueses, o planalto curitibano continuava a ser território exclusivo dos silvícolas.
Desde 1516, quando espalha-se na Europa a notícia da descoberta das minas de prata da região andina pelos espanhóis, os portugueses estavam inquietos para tentar a mesma sorte. Foi esta a razão que levou o rei D. João III a enviar para cá a expedição de Martim Afonso de Souza, em 1530. Depois de passagens pelo Nordeste e pelo Rio de Janeiro, Martim Afonso chegou a Cananeia em 12 de agosto de 1531. Lá tomou contato com um personagem misterioso, cujo verdadeira identidade jamais foi desvendada. Era conhecido apenas como o Bacharel de Cananeia, e sabe-se que chegara ao Brasil como degredado, muitos anos antes (talvez em 1505). O Bacharel era um verdadeiro rei em sua região, vivendo cercado de mulheres e índios escravizados.
Seu genro, um certo Francisco de Chaves, também conhecia as histórias sobre a prata dos incas e prometeu a Martim Afonso que, se lhe dessem homens e munição, poderia voltar dentro de dez meses carregado de metais preciosos. Com autorização de Martim Afonso de Souza, Francisco partiu de Cananeia em 1º de setembro de 1531, com o capitão Pero Lobo e 80 homens armados até os dentes: eram quarenta espingardeiros e quarenta besteiros (atiradores de flechas) que constituíam, para os padrões da época, um respeitável corpo de guerra. A tropa tomou o caminho do Peabiru – uma trilha conhecida pelos índios, que passava nos arredores da atual Ponta Grossa e seguia para oeste, no rumo do Paraguai. Tudo inútil: quatro meses depois, toda a expedição foi destroçada pelos índios na travessia do rio Paraná.
O horário da partida da expedição é desconhecido, mas tudo indica que tenha ocorrido pela manhã, logo ao nascer do Sol, como era o costume na época. Neste caso, o Sol estaria junto ao Ascendente, em Virgem, fazendo quadratura a Saturno próximo ao Meio do Céu e oposição a Netuno junto ao Descendente. Tais aspectos não são indicadores de um final bem sucedido: temos aí o quadro de uma iniciativa (Sol conjunto ao Ascendente) equivocada (oposição a Netuno) e sujeita a todo tipo de atrasos e obstáculos (quadratura a Saturno).
Júpiter em Libra, na cúspide da 2 e regendo a casa 4 – que indica o desfecho da situação, ou seu resultado final – formava uma oposição com Marte em Áries na 8 (morte). Aspectos tensos Júpiter-Marte são típicos de empreendimentos arriscados, precipitados e guiados pelo excesso de confiança. Na travessia do rio Paraná,
receberam-nos os índios da região com fingidas mostras de amizade, propondo-se dar-lhes passagem em suas canoas. Para esse efeito, trouxeram-nas furadas, mal tapadas de barro as fendas e aberturas. De sorte que, já no meio do rio, retiraram o barro, com o que se alagaram as canoas e, assim, dos portugueses, os mais se afogaram ao peso das armas que levavam, e alguns que apanharam vivos mataram-nos a flechadas e nenhum sobrou.
Francisco de Chaves e Pero Lobo buscavam ouro e prata. Encontraram apenas a turbulência das águas e as flechas dos nativos. A presença de Mercúrio, regente do Ascendente, na 12, a oposição Sol-Netuno no eixo 1-7 (aspecto de engano e ingenuidade), assim como o benéfico Júpiter sofrendo a oposição de Marte na 8 e a quadratura de Plutão explicam o trágico fim da empreitada.
A região permanece inexplorada por mais algumas décadas, se bem que jamais deixe de despertar a curiosidade dos portugueses. Em 1548, por exemplo, uma expedição visita Superagui e troca informações com o aventureiro alemão Hans Staden, que ali naufragara. Staden, aliás, de volta à Europa, seria o autor de um dos primeiros e mais interessantes relatos de viagem sobre o Brasil, baseados, em parte, em sua experiência no litoral paranaense.
O capitão das canoas de guerra funda Paranaguá
Já no século XVII, em plena fase das explorações bandeirantes, o planalto paranaense ainda era uma região agreste e inexplorada. É quando surge a figura pioneira de Ébano Pereira, o precursor do processo histórico da fundação de Curitiba.
Eleodoro de Ébano Pereira ostentava os pomposos títulos de capitão das canoas de guerra da Costa do Sul e entabolador oficial das minas. Enviado numa entrada (expedição exploratória de caráter oficial) para pesquisar minas, coletou amostras de metais em vários pontos do interior do Paraná entre 1645 e 1647, remetendo-as ao governador geral Duarte Correa Vasqueanes. Foi o fundador das explorações auríferas do Arraial Grande, no mesmo local onde está hoje o bairro do Atuba, na saída de Curitiba para São Paulo. O arraial não passava, na verdade, de um acampamento de mineradores, instável e sem qualquer infraestrutura.
O período de fundação do Arraial Grande é marcado pelo trânsito de Saturno em Áries e pela lenta passagem de Plutão pelos primeiros graus de Gêmeos, fazendo oposição a Netuno e, logo em seguida, a Urano em Sagitário.
Enquanto Ébano Pereira explorava o interior, Gabriel de Lara conduzia o processo de ocupação do litoral. Foi ele que, em 26 de dezembro de 1648, reuniu a toque de caixa o povo do pequeno arraial em que vivia para instalar oficialmente a vila de Paranaguá e eleger os ocupantes dos cargos do primeiro governo local. A convocação a toque de caixa (ou seja, com proclamações lidas em plena rua ao rufar dos tambores) foi mera formalidade, já que a reunião teve lugar na própria casa de Lara e compareceram apenas quinze homens bons (não havia muito mais do que isso!). A carta solar da nova localidade apresenta o Sol em Capricórnio quadrando Júpiter em Libra e uma fortíssima configuração em signos mutáveis: a conjunção Plutão-Saturno em Gêmeos oposta à conjunção Urano-Netuno em Sagitário, sendo que todos os quatro planetas formam quadratura com Marte em Virgem.
Esta carta de fundação de Paranaguá teve uma dramática confirmação em abril de 1999, quando a cidade foi atingida por um violento surto de cólera. Na época, Plutão transitava em Sagitário, ativando por aspectos todos os cinco planetas radicais no eixo Gêmeos-Sagitário.
A cólera é uma doença infecciosa (Marte-Netuno) que afeta especialmente o aparelho digestivo (Virgem) provocando vômitos e diarreia (típicos processos expulsórios, que podem ser associados a Plutão). Atinge as populações mais pobres (Saturno) e é transmitida pela água contaminada (Netuno). No surto de abril de 1999, a epidemia foi trazida de Mato Grosso e Rondônia por caminhoneiros envolvidos no transporte (Gêmeos) de cargas (Saturno) de longa distância (Sagitário). O surto explodiu de forma súbita (Urano), provocando a necessidade de medidas sanitárias emergenciais.
Provavelmente, a vocação comercial e portuária da cidade também pode ser explicada pela ênfase no eixo Gêmeos-Sagitário, signos ligados às trocas, às comunicações e às viagens. A Lua em Touro, somada ao Sol em Capricórnio e ao aspectadíssimo Marte em Virgem, coloca em evidência os três signos de Terra, em correspondência com as mercadorias sempre exportadas por Paranaguá: o café, a soja e outros grãos, produtos da terra.
Matheus Leme, o possante de peças
Enquanto Paranaguá crescia lentamente e os mineradores de Ébano Pereira vasculhavam o fundo dos rios do Arraial Grande em busca do ouro, surge um terceiro personagem que seria decisivo para a formação da futura capital paranaense. Seu nome é Matheus Leme, beneficiário de uma das mais antigas sesmarias concedidas em Curitiba, que se estendia pelas duas margens do rio Bariguy. O ato, de setembro de 1668, marca um dos primeiros passos no desenvolvimento da atividade que seria o sustentáculo da economia local até poucas décadas atrás, a agricultura. A partir daí, inicia-se o povoamento em bases estáveis, com a definitiva fixação à terra.
É fácil imaginar que entre os rústicos agricultores e os ainda mais rústicos faiscadores de ouro as relações sociais não fossem caracterizadas exatamente pela gentileza. O planalto curitibano era, na época, um território de aventureiros, alguns dos quais inescrupulosos e violentos, o que motivou um pedido dos então chamados homens bons da comunidade ao governo de Paranaguá para a instalação de um pelourinho. Dezesseis homens, na maioria proprietários de terra, assinaram a petição, articulados por Matheus Leme.
Em 4 de novembro de 1668, Gabriel de Lara, o todo-poderoso chefe político de Paranaguá, subiu a serra para levantar um pelourinho em “paragem e lugar decente.”
A inauguração do pelourinho deve ter praticamente coincidido com a Lua Nova, ocorrida às 9h15 (hora local) daquele 4 de novembro. Estudar o mapa da Lua Nova pode ajudar a compreender a natureza do evento, um importantíssimo passo na constituição da futura cidade.
Sol e Lua estão conjuntos na casa 11, em 12°54′ de Escorpião. A Lua Nova recebe a quadratura de Saturno domiciliado em Aquário, no final da casa 1 (a apenas um grau da cúspide da casa 2) e regente do Ascendente Capricórnio. Este é o planeta da estrutura social, da hierarquia, do respeito à ordem e à autoridade constituída. É significativo que o primeiro equipamento urbano de Curitiba tenha sido exatamente um aparelho relacionado à aplicação da justiça e à punição dos criminosos. Um ato simbólico e concreto de imposição da ordem, portanto.
Tropeiros fazem parte da paisagem de Curitiba desde o século XVII. A lavoura deu o impulso para o povoamento. A presença de Marte em Capricórnio, junto ao Ascendente e em conjunção com Netuno, dá indícios do quadro de violência e de desagregação social que Matheus Leme pretendia extirpar. Leme era o porta-voz das necessidades dos primeiros agricultores do povoado, que exigiam segurança e respeito à propriedade para desenvolver sua atividade laboral.
Em 1691, Matheus Leme assumiu as funções de capitão povoador, ou seja, a autoridade local investida pelo donatário da capitania com o poder de conceder sesmarias em nome de El-Rei. Está na hora de falar um pouco mais deste personagem que pode ser considerado, sem sombra de dúvidas, a figura patriarcal de Curitiba: Leme era de São Paulo, tendo sido descrito por cronistas da época como um homem “possante de peças”. A expressão pode referir-se tanto à propriedade de armas (peças de artilharia) quanto de escravos (que também eram chamados de peças). De qualquer forma, indica que Matheus Leme pertencia ao estrato mais rico da sociedade da época e que detinha considerável influência. Como tantos paulistas que contribuíram para a expansão territorial do país nos séculos XVII e XVIII, Leme deve ter sido um indivíduo rude e objetivo – um típico self-made man sem muita cultura formal, mas que compreendia das leis o suficiente para entender sua importância.
O papel de Leme como pioneiro e povoador, o exercício de funções públicas, sua preocupação com a instauração de um estado de direito e com a repressão aos abusos fazem dele uma personagem com características de Marte, Júpiter e Saturno. Coube a ele fundar Curitiba, uma cidade em cujo mapa de fundação estes planetas também exercem papel importante, como veremos a seguir.
Leia também: Curitiba, uma cidade com a marca de Touro