Às 15h31 do dia 1º de janeiro, hora brasileira de verão, a presidente Dilma Rousseff foi empossada para seu segundo mandato presidencial. Eis a carta:
Os signos fixos ocupam os ângulos da carta, dando um tom de continuidade ao segundo mandato. Signos fixos costumam ser mais conservadores e previsíveis, deixando as coisas como já estão. A tendência da presidente é não promover mudanças radicais no estilo de governar já adotado desde 2011. O regente do Ascendente, Vênus, está em Capricórnio e faz um sextil imperfeito com Saturno (o aspecto existe, mas os elementos não são compatíveis).
Em mapas de posse presidencial, o Ascendente dá a atmosfera geral do país nos próximos quatro anos, enquanto o Meio do Céu fala mais diretamente da figura da governante. Vênus aparece neste mapa como uma espécie de mediadora da oposição entre Lua e Saturno, já que forma aspecto harmônico com os dois planetas. Lua e Saturno, dois princípios frios, falam de uma situação de engessamento e paralisia do país, seja por questões institucionais (Saturno rege a casa 9, das leis e do Supremo Tribunal Federal) seja por contingências externas (a casa 9 também são os países distantes e a dependência do Brasil ao comércio exterior). Com a mediação de Vênus, planeta das negociações e acordos, as piores possibilidades indicadas pela oposição podem ser mitigadas. Vênus em Capricórnio é pragmática, objetiva, sem fantasias. A própria presidente já tem este posicionamento em seu mapa natal.
O que pode acontecer? No momento em que se inicia o mandato, há dois abacaxis de casa 9 em andamento: o mais evidente é a crise da Petrobras, que pode levar a um penoso processo no Supremo Tribunal Federal, de proporções ainda maiores que o mensalão; o segundo é a situação nas contas do comércio exterior, área em que, depois de sucessivos resultados positivos desde o ano 2000, o Brasil acumulou um pesado déficit em 2o14. Com o dólar em alta, petróleo em queda, Mercosul em crise e maciça invasão de produtos chineses, o cenário não é animador. O mapa deixa claro que nenhum impasse será resolvido pelo confronto. O caminho é o do acordo, no melhor jeitinho capricorniano (ceder sem perder a pose!).
Contudo, os problemas da casa 9 não se restringem à oposição Saturno-Lua: há todo um stellium capricorniano por ali, com destaque para o Sol, regente da casa 4, colado à áspera quadratura Urano-Plutão. Estão aí envolvidos, numa configuração só, os regentes das casas dez (Urano, a presidente), quatro (Sol, as lideranças oposicionistas ou os empresários do agronegócio) e sete (Plutão, os parceiros ou adversários do país). Eis algumas possibilidades:
- A oposição utilizando processos no Judiciário para paralisar o governo;
- Crise no agronegócio, em função de queda de preços ou redução de vendas no exterior;
- Complicações com parceiros comerciais (impossível não pensar na Argentina!).
Urano, regente da 10 (a presidente), está junto à cúspide da casa 12 (as limitações); Marte, regente da 12, está na casa 10. Ambos estão em recepção mútua (cada planeta no signo do outro), situação que tem força semelhante a uma conjunção. Assim, nesta carta Dilma é tão regida por Marte quanto por Urano. Ei-la pintada com tintas de guerra e de armas na mão, pronta para entrar em combate com… Júpiter, um símbolo de excessos, regente da casa 8, das dívidas e contas públicas! Preparemo-nos: ou Dilma acaba com o déficit público ou o déficit público acaba com os avanços econômicos e sociais dos últimos vinte anos. O risco de inflação é real, se bem que há um fator muito positivo, que é a presença de Mercúrio, regente da casa 2 (recursos), em conjunção com Vênus na casa 9. Dificuldades financeiras sim, mas não chega a ser o caos. E – não custa 0bservar – mais uma indicação de quanto a economia do país dependerá de negociação (Vênus) e diálogo objetivo (Mercúrio).
Se a presidente estivesse disposta a ouvir um conselho de astrólogos, eis o mais útil: cercar-se de uma equipe econômica muito experiente em negociações de toda ordem (sindicais, institucionais, comerciais, internacionais) e com toda a disposição do mundo para reuniões intermináveis. Daí virão pequenas vantagens, ganhos aparentemente insignificantes que, no somatório final, podem salvar o país. Será muito útil também que os assessores da equipe econômica falem diversas línguas. Inglês, espanhol e chinês são indispensáveis.
Resta considerar a quadratura da Lua na casa 1 a Netuno na 10, que fala de expectativas desfocadas e da possibilidade de decepção do eleitorado do PT. Netuno rege a casa 11, do Congresso Nacional e dos partidos políticos, em geral. Sabemos que o sistema político brasileiro tem vícios estruturais que tornam o Executivo refém dos interesses fisiológicos do Legislativo. Para manter a base de apoio no Congresso, indispensável para aprovar seja lá o que for, Dilma montou (mais uma vez) um ministério fraco, onde os especialistas ficaram de fora para dar lugar a indicações dos partidos da base governamental. Esta hidra de várias cabeças que não se entendem entre si está bem representada na presença do regente da casa 11 em plena casa 10. É a ingerência dos partidos aliados no dia a dia do governo, que trará muitos problemas e dor de cabeça para este mandato presidencial, incluindo novos casos de corrupção (Netuno, significador de assuntos nebulosos!). A maior parte do desgaste presidencial virá daí.
Isso nos leva a uma das possibilidades mais desagradáveis do mapa do posse: a Lua de casa 1 rege a casa 3, da imprensa. Esta, ao investigar assuntos netunianos, poderá despertar mais uma vez o ímpeto dos que querem a todo custo o controle da mídia. Saturno oposto à Lua fala exatamente desta possibilidade: limitações institucionais à liberdade de expressão, ou mesmo ao direito de ir e vir. De todos, é o pior cenário apresentado por este mapa. Felizmente, é apenas uma possibilidade, dentre muitas. Outros mapas de posse presidencial ou de ingresso anual do Sol em Áries para o Brasil já apresentaram quadros ainda mais ameaçadores que não chegaram a concretizar-se. De qualquer forma, imprensa e instituições terão alguns estranhamentos.
Em resumo: trata-se de um mapa difícil, mas não há como esperar facilidade em tempos de quadraturas Urano-Plutão e Saturno-Netuno. Do comportamento do governo nos primeiros meses depende muito do resultado do segundo mandato. E sempre há escolhas, já que qualquer configuração celeste pode ser vivenciada em vários níveis. O desfazimento da quadratura Urano-Plutão, ao longo de 2015 e 2016, trará uma progressiva sensação de distensão e, quem sabe, um clima de maior concórdia na busca de soluções consensuais para os velhos problemas do país.