As linhas de Urano e Netuno
A linha de Urano rege áreas modernas, com um toque futurista, e tende também a atrair organizações científicas e a estimular o espírito gregário e associativo. Em Curitiba, esta linha corre muito próxima da de Júpiter, mas deixa sua marca em pelo menos dois pontos: a Universidade Federal do Paraná e os fundos do Aeroporto do Bacacheri (Urano rege também a aviação).
A linha de Netuno rege áreas vinculadas a atividades psíquicas, místicas ou que estimulam a imaginação e o escapismo. É um bom lugar para práticas religiosas ou locais de reclusão, como hospitais, asilos e presídios. Pode indicar um risco maior de contaminação ambiental, mas também um estímulo para o surgimento de consciência ecológica. Bebidas alcoólicas, drogas, música e dança também são temas netunianos.
Esta linha corre por alguns bairros tranquilos da região nordeste, sendo que num deles esteve por muitos anos o maior presídio de Curitiba (lugares de reclusão, voluntária ou forçada, são regidos por Netuno). É provável que, ao longo do trajeto da linha de Netuno, existam mais espaços esotéricos ou místicos do que possamos imaginar. O que ocorre sob a regência de Netuno nem sempre é visível ou facilmente identificável. Também ficam nas proximidades desta linha a Rua 24 Horas, com seus boêmios a bebericar pelos bares que jamais se fecham, e a exótica e sugestiva Praça do Japão.
Bairros sob a linha de Netuno tendem a ser repousantes, mas um tanto enganosos. Entre as áreas netunianas de Curitiba estão tranquilas ruas residenciais do Juvevê e o (falso) pagode oriental da Praça do Japão, entre o Batel e a Água Verde.
As linhas de Júpiter e Saturno
A linha de Júpiter
Júpiter, planeta da expansão e da cultura superior, indica universidades, sedes de instituições religiosas e áreas relacionadas ao estrangeiro, incluindo embaixadas, escolas de línguas e centros de comércio exterior. Júpiter é também significador de tudo o que é grande, monumental ou hipertrofiado. Em Curitiba, a linha de Júpiter corre muito “espremida” entre as de Saturno e Urano, o que contribui para reduzir drasticamente sua esfera de abrangência. Mesmo assim, pelo menos duas grandes construções caem parcialmente sob a linha de Júpiter: a velha sede da Universidade Federal do Paraná, na Praça Santos Andrade, e o imenso Teatro Guaíra, ambas apresentando o traço de imponência e nobreza que caracteriza este planeta. A linha de Júpiter corta ainda a quadra onde estão as principais instalações da Universidade Federal do Paraná.
Curitiba tem um mapa de fundação com Júpiter em Gêmeos na casa 1 (auto-imagem) e Lua em Capricórnio, signo de Saturno. Há alguns anos, curitibanos elegeram a sóbria e imponente fachada da Universidade Federal do Paraná (foto) como a imagem-símbolo da cidade. O edifício está exatamente no caminho das linhas de Júpiter e de Saturno, que correm muito próximas. A escolha mostra como o imaginário popular está em ressonância com o mapa da comunidade.
A linha de Saturno
A linha de Saturno tem uma função estruturadora e disciplinadora. Por onde passa, o crescimento tende a ser menor e mais lento, assim como o tamanho dos edifícios. Como a linha de Saturno cruza várias ruas paralelas que separam os bairros do Batel e do Bigorrilho, entende-se porque existe uma espécie de vazio de grandes edifícios entre os eixos viários principais desses bairros populosos. Não fosse pela linha de Saturno, provavelmente toda a região ter-se-ia transformado numa única massa de arranha-céus. Áreas saturninas têm um aspecto mais sóbrio e recatado. A leste do Centro, o único espaço tipicamente saturnino é a Praça Santos Andrade, com seu ar um tanto seco e severo.
A praça Santos Andrade está sob a linha de Saturno, o que a torna pouco atrativa. Ao fundo, o Teatro Guaíra, regido por Júpiter e Saturno: imenso e com platéias exigentes. Fonte: Google Earth/Panoramio.
Plutão e os fantasmas do Museu Paranaense
A leste do Centro, a regência lunar prossegue de forma um tanto atenuada, dando lugar, agora, à primazia de Plutão. Diz Otávio Azevedo a respeito da linha de Plutão:
Tende a existir existe uma forte consciência local, uma espécie de controle seletivo, que em casos mais pronunciados pode rejeitar a presença de pessoas estranhas. É como se houvesse uma placa “É proibida a entrada de estranhos”. Numa cidade, esta linha pode estar também conectada a assuntos ocultos, atividades clandestinas, atividades sexuais, áreas de pesquisa e a entidades ou símbolos que detenham algum tipo de poder. Por associar-se à decadência e à reciclagem, em alguns locais influenciados por esta linha podem aparecer construções antigas corroídas ou escurecidas pelo tempo.
O sombrio prédio do antigo Museu Paranaense, que tinha fama de mal-assombrado, está sob a linha de Plutão. Nos arredores, muitos hotéis e casas de prostituição. O prédio foi reformado e hoje abriga o Paço Municipal.
A linha de Plutão corta a Praça Generoso Marques, onde está o Paço da Liberdade (um local que carregou por muito tempo a fama de mal assombrado por fantasmas), e corre diretamente para os confins de Curitiba, onde estão o estádio Pinheirão e o hipódromo do Tarumã. Ao longo da linha de Plutão situam-se alguns discretos pontos de prostituição no Centro, assim como áreas residenciais bastante seletivas, normalmente pouco frequentadas por moradores de outras partes. Uma particularidade interessante é que esta linha passa nas proximidades de alguns dos hotéis mais luxuosos de Curitiba, que tendem, por esta razão, a atrair não os despreocupados turistas de fim de semana, mas principalmente os reservados homens de negócios.
No meio do caminho: áreas com regência mista
Em Curitiba, como em qualquer cidade, algumas áreas situam-se a meio caminho entre o trajeto de duas linhas planetárias, recebendo, pois, uma regência mista. É interessante observar como isso se manifesta na prática, com a mescla de significados. Alguns exemplos:
Marte-Plutão – As linhas destes planetas formam um cone que vai abrindo progressivamente na direção sudeste. É uma região que concentra velhas e sombrias fábricas (como a antiga sede do Matte Leão), linhas ferroviárias em desuso e algumas áreas consideradas perigosas e violentas. Uma construção que expressa claramente o significado conjugado dos dois planetas é o Teatro do Paiol, resultado da reciclagem (Plutão) de um antigo paiol de pólvora (Marte).
O Teatro do Paiol é fruto da reforma e reciclagem (Plutão) de um antigo paiol de pólvora (Marte). Mesmo como teatro, continua preservando um aspecto militar e sombrio.
Marte-Lua – Abrange os bairros da região noroeste da cidade. Apesar de ser uma região de casas e sobrados, sem muitos edifícios, abriga as maiores torres de Curitiba, como a das Mercês, com seu mirante, e a maioria das torres de emissoras de rádio e televisão. Formação de imagens é um atributo lunar; estruturas metálicas, um assunto marciano. Não é à toa que as torres de transmissão estão quase todas por ali! A Torre das Mercês, ponto mais alto da cidade, sintetiza conteúdos de Marte (a forma afilada, como um punhal enterrado no chão) e de Lua (as várias antenas de formato côncavo e cor prateada).
Um impressionante exemplo da modelagem dos equipamentos urbanos pelas linhas planetárias do Local Space: a foto, retirada do próprio prospecto da Telepar para a divulgação turística da Torre, mostra a fusão de elementos marcianos (estruturas metálicas) e lunares (antenas côncavas). Por coincidência, a foto mostra também uma enorme lua avermelhada (cor de Marte). Nem mesmo um astrólogo seria capaz de produzir uma foto com elementos simbólicos tão evidentes. A torre, vista de longe, lembra um punhal enterrado no chão.
Leia também:
Local Space: espaços que dão certo sob a linha certa
