Antes de tudo, uma pequena explicação técnica para o leigo ou estudante: quando se é de um signo, pode-se ter o planeta Vênus no próprio signo, ou até dois signos antes, ou dois signos depois. Assim sendo, se você nasceu pisciano – mas não se sente nada romântico – é bem provável que o seu astro do amor não esteja em Peixes (o que sugeriria, de fato, um alto teor de platonismo e “viagens” românticas utópicas), e sim em outro signo. Pela proximidade do planeta Vênus com o nosso Sol, uma pessoa de Peixes pode ter Vênus em Peixes, ou em Capricórnio, Aquário (os dois signos anteriores), Áries ou Touro (os dois signos posteriores).
Alguns dos livros astrológicos que considero mais interessantes são exatamente aqueles bem populares, que relatam coisas tais quais “Libra e o amor”, “Gêmeos e o trabalho”. Trata-se de obras que falam a língua do povo, livros que escapam da linguagem excessivamente técnica e são – por que não admitir? – gostosos de se ler. A maioria dos astrólogos que se queixa destes livros deveria se esforçar mais em falar o português e menos o astrologuês, língua inteligível apenas pela elite intelectual que pode pagar (geralmente caro) para ter acesso ao conhecimento.
Mas o que leva muita gente a não se identificar com tais descrições é exatamente o fato das questões afetivas serem regidas por Vênus, e não pelo signo solar. Uma pessoa de Câncer com Vênus em Leão, por exemplo, deveria ler “Leão e o amor”, e não “Câncer e o amor”. Estes livros deveriam trazer, pelo menos, cinco alternativas venusianas para cada signo como, no caso de quem nasceu ariano: Áries com Vênus em Aries, Áries com Vênus em Peixes, Áries com Vênus em Aquario, Áries com Vênus em Touro, Áries com Vênus em Gêmeos.
Um equívoco comum, cometido pelos astrólogos, é a atribuição instantânea de significados aos posicionamentos planetários. Não digo, com isso, que não existam significados relacionados aos posicionamentos, mas que estes significados não são garantia de nascimento, e têm múltiplos níveis de manifestação. Eles se constroem, paulatinamente, na medida em que o sujeito se desenvolve enquanto ser. Logo, afirmações categóricas do tipo “Vênus em Gêmeos não é fiel”, ou “Vênus em Escorpião é ciumento doentio”, ou qualquer coisa do gênero trata-se de puro preconceito astrológico, e não presta serviço algum, não melhora em nada e serve apenas para que muita gente veja a astrologia – justamente, neste caso – como mais uma forma de rotular as pessoas. Ou seja: fulano não gosta de cariocas, muito menos se forem vegetarianas, pior ainda se torcerem pelo Fluminense, e – pasmem! – se ele tiver um entendimento equivocado da astrologia, pode acrescentar ao rol dos preconceitos uma pérola do tipo: “Não namoro mulheres de Vênus em Áries”.
Outro erro absurdo decorre do narcisismo coletivo no qual a humanidade se encontra. Temos modernamente a consciência de que não existe “inteligência”, e sim “inteligências múltiplas”, e poderíamos dizer – astrologicamente falando – que a grande variedade de tipos de inteligência sempre foi sabida pelos astrólogos, a partir do momento em que temos doze posicionamentos possíveis para Mercúrio – no que tange ao posicionamento por signos. E cada signo permitirá que Mercúrio “atue” de uma forma distinta.
Não é diferente no caso de Vênus, mas as pessoas insistem em fazer perguntas equivocadas como, por exemplo:
—Ele me ama?
A resposta já nasce errada, porque parte de um pressuposto narcisista: se ele não me amar como eu o amo, então não é amor. E o que resta ao mundo? Um sem-fim de pessoas perdidas, infelizes afetivamente porque não compreendem que cada pessoa tem uma maneira diferente de amar, e que cada maneira não é em si mesma nem melhor, nem pior – mas cada um dá o que pode e o que tem dentro de si.
Por isso mesmo que o conhecimento da astrologia é tão maravilhoso, quando se descortina: o estudante aprende que existem várias formas de amar: o amor tem doze rostos, as doze faces de Vênus. E o que parece elogiável para alguns, será criticável para outros. Quantas vezes não ouvi reclamações contra pessoas de Vênus em Câncer, por exemplo, acusadas de serem “grudentas”? Mas também já ouvi incontáveis elogios para o mesmo tipo: Vênus em Câncer é constantemente elogiado por ser carinhoso, dedicado, por estar sempre ao lado do parceiro. E, se formos pensar bem, “grude” nada mais é do que uma leitura de uma característica, mas uma leitura tendendo para o negativo. E mais: as pessoas costumam criticar, com o tempo, exatamente os mesmos aspectos que eram elogiáveis no começo da relação.
Vênus em Fogo, Vênus em Terra
Chamou-me a atenção, ao entrevistar mulheres com Vênus em signos de Fogo, sobretudo Sagitário, que a sexualidade delas, via de regra, não era satisfeita se elas fossem colocadas na posição passiva. Há, nas Vênus em Fogo, a motivação de escolher, de tomar a iniciativa, de conquistar. “Eu não gosto de ser escolhida”, comentou uma representante de Vênus em Sagitário, “prefiro eu mesma escolher quem desejo, e atacar. Sempre que alguém tenta me conquistar, eu me desinteresso”. Há, neste discurso, a explicitação da simbologia do caçador, do arqueiro, cujo símbolo é uma flecha que aponta para o alto: antes de se sentir desejada, esta mulher necessita desejar.
Obviamente, a manifestação deste posicionamento (Vênus em Sagitário) com este significado mais específico deve levar em conta a época e ambiente em que o indivíduo está inserido. Imaginemos, por exemplo, uma mulher muçulmana com este posicionamento, e outros aspectos astrológicos que sugiram impulso, iniciativa. O final de uma mulher assim pode ser, ao invés do Fogo simbólico que a motiva para adiante, o fogo literal, que se derrama sobre as cabeças de muitas que ousam “desejar”, numa cultura em que tal coisa só é permitida aos homens.
No que diz respeito às Vênus em signos de Terra, destaca-se um elemento que geralmente é definido como sendo não-amor, pelos tipos mais românticos: o pragmatismo. É sabido que o amor romântico trata-se de uma invenção como qualquer outra. Somos ensinados a amar de uma forma específica, treinados pela mídia a crer que “a forma correta de amar” envolve dramas e impossibilidades, paixões fulgurantes e desafios, além da tão falada (e ótima para vender livros) ideia de “alma gêmea”. Dizem que o amor é cego, mas, no que diz respeito à Vênus terrestre (Touro, Virgem, Capricórnio), posso dizer que o amor enxerga, e muito bem. A Terra costuma dar atenção aos aspectos práticos de um romance: é do mesmo nível que o meu? Veio somar comigo? É uma relação construtiva? Geralmente desconfiadas dos arroubos alucinados da paixão, as pessoas de Vênus em Terra costumam viver o amor como uma escolha em que diversos dados são pesados.
Dizer que isto não é amor só assume valor de verdade a partir do ponto de vista de tipos mais passionais (Vênus em Fogo, por exemplo). Por sua vez, o gosto pelo impossível, pelo distante, pelo difícil, parece ao individuo de Vênus terrestre não amor, e sim desequilíbrio hormonal.
As relações de quincunce
Propositalmente contrastei os dois tipos psicologicamente antagônicos (Fogo e Terra), com a intenção de relatar um tipo de “interação astrológica” que não costuma ser muito valorizada pela astrologia corrente. Atribui-se um valor muito grande para as relações em que as duas Vênus ocupam o mesmo elemento, ou mesmo para aquelas em que as Vênus são opostas, mas ignora-se a grande importância das relações em que a Vênus do parceiro está no signo do quincunce (mesmo que não esteja formando aspecto de quincunce – basta estar no signo), a saber:
- Vênus em Áries com Vênus em Virgem ou Escorpião.
- Vênus em Touro com Vênus em Libra ou Sagitário.
- Vênus em Gêmeos com Vênus em Escorpião ou Capricórnio.
- Vênus em Câncer com Vênus em Sagitário ou Aquário.
- Vênus em Leão com Vênus em Capricórnio ou Peixes.
- Vênus em Virgem com Vênus em Aquário ou Áries
- Vênus em Libra com Vênus em Touro ou Peixes
- Vênus em Escorpião com Vênus em Gêmeos ou Áries
- Vênus em Sagitário com Vênus em Câncer ou Touro
- Vênus em Capricórnio com Vênus em Leão ou Gêmeos
- Vênus em Aquário com Vênus em Virgem ou Câncer
- Vênus em Peixes com Vênus em Libra ou Leão
Acontece que – vale dizer – relações em que as Vênus ocupam o mesmo elemento, aspecto tradicionalmente considerado benéfico, geralmente estão mais atreladas ao narcisismo, que procura no outro algo similar a si mesmo. Não há muito mérito quando, por exemplo, duas pessoas de Vênus em Fogo se dão bem. É natural que se deem bem, mas aí que está o problema: por serem tão parecidas afetivamente, há o alto risco de terminarem se desencontrando. Alguém consegue imaginar em que momento duas pessoas de Vênus em Sagitário – com sua excessiva atividade social, sua predisposição para a vida de solteiro – conseguem se casar? Não é minha intenção inverter o que já é sabido, e criar a verdade oposta, afirmando que relações de pessoas com Vênus no mesmo elemento sejam maléficas, longe disso. O que quero é salientar que existe um tipo específico de encontro, muito mais comum do que geralmente se percebe, sobretudo quando as pessoas já passaram dos trinta anos e entenderam que namoro não é apenas divertimento, e sim lapidação mútua. E este tipo de “encontro” envolve Vênus em posições muito diferentes, como no caso de uma pessoa de Vênus em Aquário – livre, desimpedida, que vive no mundo da mente – e uma pessoa de Vênus em Câncer – mais afetiva, que chama para o universo emocional.
Estas relações de quincunce me fascinaram, na medida em que minha pesquisa se desenvolvia, justamente porque elas pareciam surgir na vida das pessoas num momento específico em que elas se conscientizavam que amar não é só dar risada e ir comer pipoca no cinema, fazer sexo gostoso e outras coisinhas lúdicas. Quando elas se tocavam, finalmente, que o grande sentido do encontro é a transformação mútua, a lapidação mútua, então passavam a atrair indivíduos de Vênus em signos de quincunce.
A pesquisa – chamada por mim de “As Doze Faces de Vênus” – também teve uma segunda etapa: entrevistas de pessoas, gravadas em vídeo, onde se questionavam aspectos de suas vidas afetivas. Tais pessoas, totalmente leigas em astrologia, nunca tendo feito mapas astrológicos na vida, comprovaram em seus depoimentos sobre o amor e o ato de amar a verdade do que a astrologia diz a respeito das posições de cada Vênus. Quis pessoas leigas por não estarem viciadas na linguagem astrológica. Pessoas que estudam astrologia, ao darem tais depoimentos, incorrem no erro de fazerem associações automáticas entre aquilo que estão dizendo e suas posições planetárias. O leigo, livre deste vício, dá um depoimento mais puro. E é, para mim, assim que a astrologia se prova: na escuta, na observação, no “ouvir o outro” e observar que existe relação entre o que é vivido e dito e aquilo que o mapa astral revela. E que melhor forma de aprender astrologia, senão na vida – nossa melhor e gratuita escola?
Graziela Pain diz
Simplesmente maravilhosa a sua percepção sobre as diversas formas de existir o amor! Nunca havia reparado em relações entre pessoas com a Vênus formando uma aspecto de quincunce, mas a partir de agora irei prestar mais atenção nisso.
É o primeiro artigo seu que leio, mas me deixou inspirada a forma sem preconceitos de ver a astrologia e entender que se trata da complexidade de cada ser de ser e viver os assuntos relacionados a Vênus. No fim, se trata de aprendizado/troca e compatibilidade.
Gratidão!
Thais diz
Que artigo maravilhoso!!!
Ceci diz
Excelente artigo! Ampliou bastante o meu conhecimento sobre Vênus. Gostaria de ler um sobre Marte também.
ANGELA DE P SCHNOOR diz
É sempre um prazer ler algum e todo texto do Alexey!
Sempre algo novo e lúcido a aprender!