Odiar, execrar e abominar
Entenda-se a semelhança entre "ódio",
"nojo" e a capacidade de exclusão como mostra a
etimologia das palavras. "Enojar" - do latim inodiare.
"Odiar" - o mesmo que execrar, abominar, ter raiva. Notemos
que o prefixo "ex" de "execrar" significa que
algo está do lado de fora, isto é, não está
incluído, não é sagrado. Quando dizemos "eu
te odeio!", estamos dizendo "eu excluo você de mim!"
ou "você não faz parte do que para mim é
sagrado!".
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É fácil fazer esta
associação entre pessoas ou costumes segregados
e o sentimento de nojo. Em vários estudos antropológicos,
como os de Mircea Eliade e de José Carlos Rodrigues ,
os autores mostram como o que sai de nosso corpo é considerado
impuro, profano, distante do que é sagrado. Isso quer
dizer que se algo não faz parte de nós, o "sacrossanto
templo onde habita a divindade celeste", esse algo precisa
ser rejeitado e, se possível, eliminado. Visa-se a pureza
e a proximidade com o aspecto luminoso em detrimento do "outro
lado". Não se percebe que esse outro lado faz parte
de nós, sai de nós e retorna a nós através
do processo de reciclagem da natureza. |
Todas as culturas
tematizam de uma forma ou de outra a rejeição
do asqueroso, do abominável, do nojento (foto: monstro
de filme japonês). |
A raiva e a insatisfação funcionam
como um referencial para busca de melhorias de qualidade de vida.
Para tal situação é preciso rejeitar primeiro
para compreender que é possível existir uma outra
realidade. Contudo, essa "energia-ódio", se permanece
como tal, torna-se sem propósito e destrói a si mesma,
pois não alcança sua finalidade superior, que é
a total-inclusão na forma de Amor. É o que acontece
em casos como o nazismo, os conflitos político-ideológico-religiosos
do Oriente Médio, ou a segregação, vinda dos
dois lados, entre favelados e os mais favorecidos, nas grandes cidades
brasileiras .
O luminoso se disfarça de trevas, de rebelde,
de transgressor ou de pária para romper com aquilo que mantém
a escravidão à repetitividade imbecilizante.
Neste mundo onde tudo é invertido, aquele
que liberta figura como agressor e precisa adotar, na maioria das
vezes, posturas contrárias à manutenção
da ordem social e de seu círculo vicioso.
É preciso arcar com isso, às vezes
às custas da própria vida, o que seria um ato de amor
altruísta e incondicional, possivelmente sendo entendido
por uma cultura como um crime até que esta o absolva. Foi
o caso de Galileu Galilei, só recentemente "redimido"
pela Igreja. Até mesmo nós, astrólogos de hoje,
empenhados numa renovação de contexto social, que
somos considerados hereges e marginais perante a cultura atual,
podemos um dia ser "redimidos" de nossos "crimes".
As consciências coletivas (um conceito durkheiniano)
são exclusivistas e tendem à segregação
de quaisquer elementos que aparentemente não contribuam para
sua continuidade ou para o fortalecimento de sua legitimidade. Para
que isso seja minimizado é preciso direcionar o sistema educacional
e a mídia para a assimilação e entendimento
de outros padrões culturais. Cada sociedade possui sua cultura
e as culturas precisam ser respeitadas. Por exemplo: os ocidentais
criticam o modo de vida dos países islâmicos, mas não
percebem em si as próprias incoerências na morte pela
fome de centenas de milhares de pessoas num país cheio de
recursos naturais como o Brasil. Os Estados Unidos têm uma
política intervencionista que prega a supremacia de seu sistema
sobre as outras culturas, mas não resolve os conflitos raciais
e ideológicos existentes em seu próprio território.
Quem é mais e quem é menos criminoso? Como saber,
se isso faz parte da cultura de cada povo? Em Antropologia Cultural
percebemos tais paradoxos.
Há uma corrente de pensamento empresarial
bastante recente que prega uma espécie de simbiose de culturas,
coletando das mesmas aquilo de melhor em termos de bom senso. A
idéia não é tão utópica assim,
pois considera a necessidade de tempo e de inclusão de fatores
educacionais. Preza também pela existência da diversidade
para gerar criatividade e satisfação, através
da administração de conflitos. Tudo isso gradativamente,
evitando as formas impositivas de inserção de culturas
diferentes. O importante é fazer com que haja um meio-termo
entre as coisas que um povo respeita e cultua e aquilo que outro
povo faz que possui harmonia com as necessidades culturais do primeiro.
A restrição e a seletividade acabam,
portanto, sendo um ato de Amor, quando se tem bom senso. Ocorre
que, em nossos tão humanos e imperfeitos exageros, restringimos
ao ponto do preconceito e da destruição do que consideramos
"nocivo" ou "indigno". Esquecemos de que nem
sempre algo é de fato nocivo, senão num contexto cultural
segregacionista.
Quando criticamos ao "outro", estamos tentando,
mesmo sem saber, segregar um aspecto que nos pertence à categoria
de inexistente a nós. Para nós, o criticado tem um
mal ou ele é o mal. Para o criticado, é aquele que
critica que representa o mal, o processo destrutivo que vai contra
a estrutura sob a qual, ele, o criticado, vive e prefere viver.
O mapa astrológico, portanto, figura como
um gráfico que mostra claramente, seja no mapa natal, seja
nos trânsitos e progressões, os modelos de rejeição
e de inclusão, além de perspectivas de conciliar as
duas coisas. Como? Através do entendimento do conceito de
complementaridade.
Inclusividade e seletividade
Poderíamos perguntar, com base no simbolismo
astrológico, se viver em consciência todo-inclusiva
não seria negar a estrutura essencial do signo de Virgem,
o representante mais forte do conceito de seletividade. Isso não
seria excluir uma parte do sistema de totalidade do zodíaco?
Não. Convém lembrar que mesmo a total-seletividade
está incluída na total-inclusão. Para que sejamos
de fato todo-inclusivos é imprescindível que também
sejamos, em algum grau, seletivos, senão não será
inclusão e sim absorção indiscriminada. A integridade
de sistemas num determinado período faz parte de um ciclo
de experiências, e ciclos obedecem a um contexto. Cada ciclo
de experiências vivenciado é um acréscimo no
elemento todo-inclusivo de nossa existência. Até para
sermos seletivos é preciso haver um mínimo de experiência
com aquilo que desejamos excluir do sistema no qual estamos provisoriamente
inseridos. Isso é um conjunto de três experiências:
· Referenciação;
· Distinção-Discernimento;
· Compensação.
Assim, é indispensável que exista a
distinção para podermos conhecer o que desejamos incluir.
Agora o paradoxo: isso não é excluir de fato. Estamos
incluindo na categoria de referencial aquilo que distinguimos como
diverso do nosso sistema. Em seguida, compensamos com uma atitude
oposta, mas que se apóia justamente no elemento de referencial.
Talvez o que cause mais sofrimento seja a falta de percepção
de que aquele referencial nunca deixou de estar em nosso contexto
de vida. Pensamos tê-lo feito deixar de existir, porém
é exatamente o contrário. É ele quem forma
a base para nosso bem-estar contextual. Ele está, mais do
que nunca, presente.
A total-inclusão leva a prezar pelo desenvolvimento
de atributos, e não à exclusão preconceituosa.
A seletividade deve existir, do contrário não estaríamos
falando de total-inclusão. Entretanto, ela deve ser contextual
e relativa, dando chances para que haja desenvolvimento. Não
deixamos de ser seletivos ao ser todo-inclusivos, mas contextualizamos
e relativizamos em cada situação e necessidade. Mais
do que isso, admite-se que seja possível a passagem de um
estado de consciência ou de cultura a outro. Não há
um esforço para impedir tal desenvolvimento em quem, em dado
momento, não apresenta os requisitos necessário a
uma inclusão social qualquer, seja ela a de uma empresa,
função, sociedade ou grupo de elite.
É a diversidade que provoca conflito, mas
é este conflito que gera uma adaptabilidade maior e uma humanidade
melhor. A admissão da diversidade leva ao crescimento individual
e, conseqüentemente, coletivo.
Exemplos de pensamento inclusivo
em ação
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