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ASTROLOGIA, COMPORTAMENTO E CULTURA

Consciência inclusiva, amor e preconceito

Carlos Hollanda

 

O tabu do individualismo

O processo de rejeição quanto a signos solares é talvez uma das maiores ilusões de quem estuda Astrologia. De uma forma ou de outra aquela expressão arquetípica não reconhecida e não integrada ressurgirá na forma de alguém que tem o regente daquele signo em grande evidência no mapa. Pode acontecer de evitarmos quaisquer pessoas cuja sinastria mostre o tal regente em condição aflitiva com algum fator de nosso mapa. Não adianta. Aquilo estará presente no trabalho, na família, nos filhos e até andando na rua. Vamos vivenciar o arquétipo de qualquer maneira. É possível, então, que a melhor solução seja compreendê-lo e assimilá-lo nos períodos em que ele precisa estar presente, mas sem jamais recalcá-lo.

A sociedade também tem expressões arquetípicas na organização social - o "bom" e o "ruim" - sob a ótica do preconceito. Um ótimo exemplo é a prostituição. Somos preconceituosamente levados a crer que toda e qualquer prostituição é um mal e que as pessoas que a isso se prestam na verdade não prestam. Quão hipócrita é nossa sociedade, isto é, todos nós! A prostituição só existe porque muitos senhores e até senhoras distintas a alimentam, mesmo quando a criticam após terem dela se utilizado. Seja de forma direta, no contato carnal, seja de forma indireta, nos vídeos e revistas. Muitos tabus sociais, aliás, fazem parte do simbolismo da casa 8 e de Escorpião. Tudo o que se relaciona com a excreção e com o sexo precisa ficar entre quatro paredes, escondido, considerado perverso e nocivo. A saliva, quando sai do corpo, é "nojenta", mas enquanto permanece dentro da boca é normal. A prostituição e a sexualidade, enquanto relegadas ao "submundo", estão ilusoriamente separadas do restante da sociedade. Entretanto, a prostituição faz parte da sociedade, por mais que se deseje segregá-la. Não deve ser pequeno o número de pessoas que criticam programas eróticos, mas que se excitam ao vê-los. O que se depreende disso? Que há necessidade de um meio-termo. Que nem defendermos fanaticamente a prostituição nem rejeitá-la é a solução.

A guilhotina na Revolução Francesa: exemplo de como ideais de fraternidade podem gerar dor quando aplicados de forma incompleta.

Outro tabu muito bem disfarçado é o do individualismo, tão condenado nas sociedades modernas, onde o indivíduo, no sentido sociológico do termo, "não pode existir". Relacionado a este tabu está o signo de Áries e o planeta Marte. Agir isoladamente significa, para este paradigma, egoísmo e falta de consciência social. A sociedade reage quando alguém deseja agir por si. Quão egoísta é a sociedade (nós), que impede o indivíduo isolado de realizar-se em suas necessidades pessoais e só aceita o que ela crê estar dentro de seu escopo! Contudo, palmas para a sociedade, que é a base do desenvolvimento individual. Que paradoxo!

Astrologia é uma prática limitada a um círculo de elite. Poucos são os astrólogos que se dignam a dedicar esforços a comunidades carentes e a pessoas que realmente precisam de orientação, mas não podem pagar. Gostamos de ver a nós mesmos como idealistas e altruístas. Um símbolo bastante aquariano, diga-se de passagem. Se somos tão altruístas e desinteressados, então por que nós, incluindo quem tem o Sol em Aquário, não estamos empenhados, todos, em projetos humanitários? A resposta talvez seja: porque somos humanos e também somos limitados. Isso vai imediatamente ao encontro dos gravíssimos problemas sociais do Brasil e do mundo que todos nós insistimos em não perceber ou acreditamos não ter meios para mudar. Para mudar, não basta apenas compaixão (Peixes) e idéias (Aquário), é preciso organização (Virgem-Capricórnio) para aplicá-la. Não basta apenas organização, é preciso coragem (Áries-Leão-Escorpião) para iniciá-la. Não basta apenas coragem, é preciso bom senso para não sermos injustos (Libra). Não basta apenas bom senso, é preciso conhecer cada contexto, núcleo social, linguagem e sociedade para não explodirmos em conflitos culturais (Sagitário-Câncer-Gêmeos). Não basta tudo isso. É preciso continuar a tentar indefinidamente (Touro).

É muito importante que cada um, dentro de suas limitações, faça sua parte. Igualmente importante é saber que tudo se desenvolve e que os limites de hoje podem ser os alicerces de amanhã. A junção de todos os atributos considerados no par[agrafo anterior é o esforço para alcançar uma expressão verdadeiramente mais humana. Não estou fazendo uma convocação para todos largarem tudo e se dedicarem aos pobres, mas para que todos tenham consciência de que é preciso fazer sua parte. Todos somos responsáveis pelo mundo em que vivemos.

Dentro das Possibilidades Amorosas da Astrologia está seu potencial para a distribuição de conhecimento acerca do ser humano. Isso seria a partilha de percepções que podem, algum dia, melhorar nosso processo de vida neste planeta já tão maltratado por nossa ânsia de sobrevivência e por nossa compreensível ignorância. Também, em se tratando das possibilidades amorosas, no sentido mais amplo do termo, a Astrologia, como estudo transdisciplinar, pode ser utilizada em paralelo com as ciências sociais, sobretudo com a Antropologia Cultural. Conhecer as motivações dos indivíduos de acordo com suas culturas pode ser mais fácil se dispusermos da disciplina astrológica de traçar correspondências entre realidades aparentemente isoladas. Como astrólogos, podemos aventar a hipótese de um dia termos chegado ao ponto de elevarmos a Astrologia à categoria de estudo importante para a sociedade. O potencial conscientizador de nossa arte talvez contribua para uma vida menos sofrida não por eliminar o sofrimento, mas por levar o Homem a compreender sua função e terminá-lo tão logo possível.

Ama a teu próximo como a ti mesmo

Talvez uma das melhores contribuições da Astrologia para o desenvolvimento de uma consciência de fato amorosa, no sentido mais completo da expressão, seja a percepção do processo de total-inclusão.

Mas como chegar a uma atitude todo-inclusiva? Não sei dizer ao certo. Sei que faz parte de um processo gradativo e que a cada passo somos mais capazes de unificar fatores. Cada passo, aliás, não livre de muitas crises e dores, diga-se de passagem. Isso faz lembrar da psicologia junguiana, que parece ter uma das chaves para a total-inclusão quando demonstra a projeção da sombra inconsciente em pessoas e circunstâncias. A sombra nada mais é que algo que faz parte de nossa totalidade inerente, mas que não reconhecemos e segregamos. Como o universo é todo-inclusivo, e como somos análogos a ele, os processos interiores e exteriores ao Homem se refletem e se interinfluenciam mutuamente numa total interdependência. Dentro desta visão todo-inclusiva, não parece haver dissociação entre os eventos factuais e a vida interior humana, chamemo-la psíquica, mental ou espiritual.

Levando tudo isso em conta, não seria estranho dizer que "amar o próximo como a si mesmo" significa entender que tanto aquela pessoa que nos incomoda quanto aquela que nos dá prazer são partes de nossa própria totalidade esquecida. São reflexos do que está dentro de nós. Mais ainda: aquela expressão externa não pode ser eliminada, pois equivaleria a eliminar a nós mesmos (a típica relação entre Jeckill e Hyde). Não importa que rejeitemos a presença de uma pessoa, que a segreguemos e nem que ela seja morta. Aquele mesmo aspecto sempre ressurgirá vestido com as roupagens mais variadas de acordo com nosso momento de vida. Acontece assim porque não se trata apenas de uma circunstância externa, mas de uma expressão de partes de nossa totalidade das quais não estamos conscientes. E assim continuará acontecendo até que nos tornemos conscientes de que é preciso "incluir", ou seja, amar. Felizmente ou infelizmente, não sei, o processo de inclusão pelo amor é gradativo. É através das experiências cruciais ou extremas que tomamos consciência de seus anversos. Não podemos esquecer: somos limitados. Nossa consciência percebe a Realidade (com "R" maiúsculo) através dos contrastes, da dualidade. Como diz o cantor e compositor Lulu Santos numa de suas músicas:

Não existiria som se não houvesse o silêncio
Não haveria luz se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim

Restrição: um ato de amor

 

Atalhos de Constelar 73 - julho/2004

Consciência inclusiva, amor e preconceito, de Carlos Hollanda
Como identificar o amor no mapa astrológico? | Vênus, a força agregadora | O tabu do individualismo | Restrição: um ato de amor | Odiar, execrar e abominar | Exemplos de pensamento inclusivo em ação

Astrologia no Globo Repórter: o jogo do morde-e-assopra, de Fernando Fernandes
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Todas as mulheres de Vênus, de Fernando Fernandes
Vênus de Áries a Virgem | Vênus de Libra a Peixes


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