Este artigo foi escrito em agosto
de 2001. Era a base de uma palestra a ser dada no congresso
Possibilidades Amorosas da Astrologia, que Valdenir
Benedetti planejava realizar em São Paulo. Por
motivos de força maior Valdenir teve de adiar o
projeto. Logo depois, vieram os atentados terroristas
ao World Trade Center e as conseqüentes represálias
americanas. Mais do que nunca, as questões levantadas
neste artigo tornaram-se pertinentes, pois, para evitar
um retorno à selvageria, precisamos desenvolver
uma consciência como a proposta no texto a seguir. |
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Estas linhas não são um tratado
formal de Astrologia, nem tampouco uma tentativa de comprovar uma
hipótese. São apenas reflexões filosóficas
sobre até que ponto a Astrologia possibilita o surgimento
de uma consciência amorosa. Por "amorosa" entenda-se
não uma série de atitudes melosas ou românticas
como nos filmes de Hollywood, mas uma percepção de
totalidade. Neste sentido, classificar o Amor como "isso"
ou "aquilo" seria limitá-lo a uma visão
ou muito particular ou aprisionada por valores culturais. A mesma
percepção que trouxe a idéia de Amor-totalidade
veio acompanhada da já tão conhecida e tão
aguda percepção de que nós, humanos, somos
profundamente limitados. Por ser limitado, entendo que posso ter
certezas, mas não certezas absolutas. Ao que parece sempre
será preciso deixar uma pequena brecha para a entrada de
um novo elemento. Sempre haverá necessidade de incluir o
que aparentemente nos é diverso. Aparentemente sim, porque
em se tratando de consciência - veremos ao longo do texto
a seguir - o que nos é diverso só o é porque
somos socialmente educados para excluir e diferenciar. Acreditamos
que isso seja uma postura mais segura para construir nossa realidade.
Entretanto, o esforço de exclusão, diferenciação
e definição de limites muito bem demarcados entre
seres humanos acaba por criar os preconceitos e gera discrepâncias
sociais muito graves.
Como ser humano que usa a Astrologia para se guiar
nos meandros de sua existência, meu referencial filosófico
naturalmente será baseado nas inter-relações
entre os símbolos que compõem um mapa astrológico.
Como toda reflexão, parte de dentro, não posso dispor
uma bibliografia ou referências técnicas aos leitores.
O máximo que posso fazer é citar outros seres humanos
com sede suficiente de conhecimento que de uma forma ou de outra
me guiaram até as percepções que ora apresento.
Como identificar o amor
no mapa astrológico?
Temos uma visão bastante parcial do Amor e,
por ser parcial, talvez esteja equivocada. Grande parte dos astrólogos
ocidentais costuma, em função de nossa cultura, identificar
o Amor com os signos de Libra, e de Peixes, respectivamente, uma
das regências e a exaltação de Vênus,
a deusa greco-romana do amor. Peixes, inclusive, guarda analogia
com o Amor incondicional, o amor crístico, indiferenciado.
Também é possível enxergar, com muita propriedade,
Aquário como símbolo do amor impessoal à humanidade.
Os mais observadores perceberão que Leão é
o signo do amor pessoal e do desejo de ser amado, de exprimir-se
em busca de uma unidade ao ver-se refletido no mundo ao redor. Leão
e o Sol, seu regente, estão intimamente associados ao chacra
cardíaco, centro espiritual de doação de amor,
segundo as doutrinas budistas e hinduístas. O tão
propalado "amor materno", para pessoas versadas na Astrologia,
logicamente deve ser atribuído ao signo de Câncer.
E quanto aos outros signos? Com nossa consciência
segregadora e exclusivista é muito fácil identificar
tudo o que é contrário aos signos supracitados como
o inverso do Amor. No entanto, se dermos um mínimo de atenção
ao potencial de inclusividade que o próprio mapa astrológico
exprime, perceberemos que o zodíaco é um círculo
e um círculo não tem começo nem fim. Isso quer
dizer que todos aqueles processos aparentemente dissociados fazem
parte de um único processo todo-inclusivo.
Preconceitos
Não seriam os outros signos expressões
diferenciadas do amor? Negar estas expressões não
seria excluí-los e segregá-los? Não estaríamos
sendo preconceituosos, hipócritas e tacanhos em nossa mentalidade
? Será que apenas a delicadeza é o reflexo do amor
ou ela é a manifestação que aprendemos a identificar
assim por causa dos elementos coercitivos de nossa cultura?
A aplicação e conhecimento da Astrologia pode servir
de ferramenta para mostrar, por meio de seu próprio diagrama,
o quanto somos hipócritas ao tentarmos nos diferenciar dos
outros julgando-nos melhores. Esquecemos que em algum momento agiremos
sob o mesmo elemento motivador das pessoas que criticamos e segregamos.
Isso é claramente provado nas técnicas de progressões,
trânsitos e revoluções solares. Elas mostram
que, de certa forma, vivenciamos todos aqueles símbolos.
Apesar disso não percebemos de todo o quanto estamos condenando
a nós mesmos quando apontamos o dedo e pensamos: "Você
é assim, mas eu não".
Em seus primórdios, a Antropologia Física
usou características fenotípicas de cada tipo humano
para justificar preconceitos e a subjugação do homem
pelo homem. Nós, hipócritas de hoje, usamos a Astrologia
como instrumento para justificar nossos preconceitos, legitimar
nossa atitude segregacionista e nosso sentimento ilusório
de superioridade. Se não tomarmos consciência de que
tal propensão existe, tornaremos a prática da Astrologia
inviável para a construção de uma qualidade
de vida maior para todos.
Os outros signos fazem parte da circunferência
zodiacal, não há como negar. Se observarmos sob a
ótica do Amor, todos eles refletem os propósitos desta
força coesiva, cada um a seu modo particular. Com toda certeza,
em meio a astrólogos bem treinados, tal afirmação
parece controversa, até porque temos os planetas Mercúrio,
Marte, Plutão e Saturno, além dos signos por eles
regidos (Áries, Gêmeos, Virgem, Escorpião, Capricórnio).
Tais símbolos representam, para a visão dualista,
justamente o oposto do que pode ser visto como a venusiana expressão
amorosa ou o altruísmo de Aquário e Peixes. Mas isso
porque nos é mais confortável não retirarmos
os antolhos que impedem uma visão unificadora. Raciocinemos
com base no famoso Oráculo de Delfos: nenhum extremo significa
a verdade absoluta e nenhum extremo leva à totalidade. Se
é assim, então os signos venusianos e altruístas
não são a última palavra e nem a expressão
perfeita do Amor, pois representam extremos de manifestação.
O símbolo de Vênus, como parcela que é, pode,
sim, ser definido.
Vênus, a força agregadora
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