Os títulos no Japão
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Carta natal convencional de Senna relocada
para Suzuka, Japão. |
Em Suzuka Senna materializou suas três maiores
conquistas, que foram os títulos mundiais de Fórmula-1
de 1988, 1990 e 1991. Foi lá também que ele viveu
seu momento mais condenável no automobilismo, quando, para
garantir o título, jogou o carro contra o de seu eterno rival
Alain Prost, tirando-o da corrida na primeira volta. Foi um ato
antidesportivo que vingava comportamento idêntico de Prost
no ano anterior. Suzuka serviu ainda de palco para o discutido encontro
místico de Senna com Deus, uma experiência que parece
tê-lo marcado profundamente e contribuído para uma
aproximação mais intensa com a religião e a
espiritualidade.
Ao observarmos o mapa relocado, vemos que o Japão
reiterava o mapa natal de Ayrton em São Paulo. Os mesmíssimos
três planetas encontram-se angulares, se bem que em ângulos
invertidos: Netuno vai para o Fundo do Céu, Urano para o
Ascendente e Marte para o Descendente. Urano é o planeta
mais angular, o que explica a rudeza da agressão motorizada
a Alain Prost. É como se Senna estivesse dizendo: "Não
agüento mais esperar, não quero nem saber o que vai
dar (Urano), quero é vencer (Marte)!"
Já a experiência mística encontra
explicação no Netuno no Fundo do Céu, conjunção
que tornava Suzuka um lugar propício para viagens interiores.
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Mapa relocado de Senna para Suzuka com casas
geodésicas. |
O mapa geodésico para Suzuka reitera ainda
com mais força o mapa natal. O destino netuniano de Senna
de tornar-se um ídolo de massas e um mito do automobilismo
aqui se realiza plenamente. É como se Senna tivesse o destino
(casa 10) nas mãos (Ascendente). Já a oposição
Marte-Urano do seu eixo Ascendente-Descendente passa agora para
o eixo Fundo do Céu-Meio-Céu, mostrando que as qualidades
inatas do piloto encontravam em Suzuka um canal adequado para projetá-lo
para grandes realizações.
Nenhuma outra pista do mundo permitia a Senna ser
tão ele mesmo quanto Suzuka. Era uma extensão natural
de São Paulo, reiterando a mesma ênfase Netuno-Urano-Marte,
mas com uma inversão de casas que dava maior amplitude e
perspectiva à vivência dos três princípios
planetários. A oposição é um aspecto
de consciência. Em Suzuka, na medida em que os planetas em
tela ocupam ângulos opostos aos do mapa natal em São
Paulo, Senna podia ter uma percepção mais lúcida
sobre o próprio potencial e sobre os limites a superar. E
ele usou com perfeição as chances que teve.
A morte
em Ímola
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Carta natal convencional de Senna relocada
para Ímola, Itália. |
Tal como em Monte Carlo, em Ímola Senna tem
um expansivo Júpiter no Meio-Céu. Contudo, o Sol,
em vez de estar na casa 1, como no principado de Mônaco, apresenta-se
agora na casa 12, dos sacrifícios e da inconsciência.
Uma interpretação detalhada desta carta revelará
diversos indicadores de risco de vida. Todavia, a angularidade de
Júpiter parece sugerir que, mesmo neste último e trágico
ato, Senna estava destinado à glória. Aficcionados
por velocidade no mundo inteiro acompanharam a notícia de
que Senna, já com diagnóstico de morte cerebral (a
total inconsciência da casa 12), deixava a vida para entrar
no reino dos mitos perenes.
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Mapa relocado de Senna para Ímola
com casas geodésicas. |
A carta geodésica de Ayrton Senna em Ímola
não apresenta nenhum planeta angular, o que talvez possa
significar que ali ele não tivesse controle real sobre nenhum
de seus muitos recursos. É a única, de todas as cartas
apresentadas neste artigo, que não apresenta qualquer conjunção
entre um planeta e um ângulo. Por outro lado, três planetas
na casa 6, das crises agudas, e outros três na casa 8, associada
à morte, mostram quão dramática poderia ser
sua experiência ali.
Se a análise astrocartográfica dos
mapas de trânsitos, direções e lunações
assinala com clareza uma série de riscos, como aponta Raul
V. Martinez em outro artigo, a ausência de planetas angulares
na carta geodésica de Ímola mostra a condição
anômala de um piloto superdotado que de repente vê-se
despossuído de todos os recursos, numa situação-limite
em que não há nada a fazer senão esperar o
choque fatal com o muro. É o fim. Mas é um fim em
que o homem (casa 1) se torna referência e modelo (o Sol,
regente da 1, na casa 9). Dez anos depois, a memória do grande
piloto continua mais viva do que nunca. Netuno, no Meio-Céu
da carta natal e, como vimos aqui, em posição de destaque
em tantos mapas relocados, cumpriu seu papel: do sacrifício
do piloto nasceu o mito, tão elevado e distante do comum
dos mortais quanto só os mitos sabem ser.
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Fernandes.
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