“A arte do amor é, em grande parte, a arte da paciência”
(Albert Ellis, psicólogo)
Ângulos entre os planetas Vênus e Saturno são alguns dos mais profundos e difíceis que um tema astrológico pode apresentar. Quando em mapas de pessoas que não se motivam para o autoconhecimento, as implicações resultantes dos circuitos Vênus-Saturno podem ser grande fonte de sofrimento cíclico, cuja base é a rima desagradável que a pessoa insiste em fazer com as palavras amor e dor.
Entretanto, sob outro ponto de vista, pessoas com estes aspectos são as mais capazes de compreender o verdadeiro significado da palavra “amor”, com todas as implicações de autodoação que esta curta e poderosa palavra sintetiza. O que podemos inferir, em interações Vênus-Saturno, é que a maturidade (Saturno) melhora em muito as vivências amorosas (Vênus) do indivíduo, e por mais que o termo maturidade seja um tanto quanto subjetivo, no que diz respeito a Saturno ele envolve – na prática – um certo avançar da idade.
A primeira coisa que podemos notar num indivíduo Vênus-Saturno é uma dificuldade em viver o amor saudavelmente, uma vez que a pessoa acostumou-se a recolher-se por trás de poderosas defesas. E é bastante comum encontrarmos, na história de vida deste indivíduo, um primeiro fracasso ou rejeição amorosa que traumatiza mais do que o esperado, marcando a psique de uma forma que matiza todas as suas relações futuras. Esta “primeira rejeição” termina funcionando como um bode expiatório que a pessoa usa como justificativa para todo o seu comportamento maniacamente desconfiado, do estilo que “cata cabelo em ovo”, como se diz no jargão popular.
A compulsão vênus-saturnina para ficar pensando a respeito da relação e querer discuti-la infindavelmente é bem conhecida pelos pesquisadores astrológicos, e termina sendo justamente este comportamento o que cansa as pessoas, levando o indivíduo Vênus-Saturno a terminar atraindo para si aquilo que ele mais teme e que tanto o fragiliza: ser rejeitado.
O profundo sentimento de rejeição que existe na base estrutural da alma vênus-saturnina tem supostamente como origem psicológica um ambiente familiar algo “frio”, em que um ou ambos os pais não deram à criança o amor necessário para que ela se sentisse confiante de seu valor no mundo. É muito comum que pessoas com este aspecto tenham sido “amadas” por seus pais apenas porque eram filhas deles, ou seja, um amor condicionado ao sangue, e não um amor genuíno pelas peculiaridades da identidade da criança. Fica patente, de uma forma ou de outra, que, se aquelas pessoas não fossem parentes, provavelmente não seriam amigas.
Assim sendo, a espécie de “amor” que é vivenciada neste tipo de relação parece mais um ato de resignação por parte do pai ou mãe que não vê escolha a não ser amar seu filho, e isso é percebido pela criança de uma maneira bastante clara. Desta forma, estabelece-se a base para um futuro sentimento de desconfiança em relação ao amor, que deixa de ser entendido como algo prazeroso, para ser visto como algo que gera dor, ou que está submetido a algum “interesse” da parte do outro. Uma vez que a pessoa continuamente espera que será abandonada, termina atraindo para si situações que confirmam esta ideia fixa.
O outro lado da moeda, que poucos astrólogos salientam, é que é interessante, e que sou mais inclinado a aceitar. Fala-se muito do fato da criança Vênus-Saturno não ter recebido suficiente e genuíno amor por parte de um dos pais, e com este discurso tende-se a enfatizar a questão da “culpa parental” sobre os problemas afetivos do indivíduo. Mas pouco se fala a respeito do fato do quanto é difícil amar uma pessoa Vênus-Saturno, mesmo quando ela é criança, uma vez que ela mesma não se permite ser amada. Não é apenas uma questão de não ter “recebido” afeto. É, acima de tudo, uma questão do ser que cria couraças em torno de si, de modo que provavelmente constrangia um ou ambos os pais, quando estes tentavam dar-lhe afeto. Pois, de forma mais ou menos intensa, a depender de cada caso, é muito difícil amar alguém que rechaça ou duvida do ser amor, seja a pessoa criança ou adulta.
Por que não se permitir amar?
Particularmente, acredito que atribuir à vida familiar as razões para a insegurança afetiva e o sentimento de rejeição que acomete o ser Vênus-Saturno é um ato reducionista. Pois, por mais que de fato um dos pais não tenha sido um primor de afeto, verifica-se na prática que é o próprio indivíduo vênus-saturnino, com sua defensividade mórbida e suas desconfianças constantes, que bloqueia mais ainda o afeto alheio.
Alguns astrólogos que seguem a linha kármica sugerem que o indivíduo Vênus-Saturno sofreu alguma imensa decepção afetiva na vida imediatamente anterior, e por isso reencarna com um trauma afetivo. Segundo estes astrólogos, a pessoa pode ter morrido de desgosto, ou se suicidado por motivos amorosos. Para esta corrente astrológica, a origem dos problemas afetivos vênus-saturninos seria uma vida passada, e não necessariamente os pais desta existência.
Contudo, procurar externamente as razões para a dilemática deste circuito planetário é tão válido quanto perguntar se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha. Foi o pai que não amou suficientemente seu filho que o fez tornar-se tão afetivamente bloqueado, ou foi o filho, por sua natureza encouraçada desde o nascimento, que não deixava o pai à vontade para amá-lo? Teria tudo origem numa vida anterior que jamais conseguiremos provar eficientemente? O que importa, no que diz respeito a aspectos Vênus-Saturno, não é atribuir culpas e culpados, mas sim compreender o aspecto, dissecando-o ao máximo, para que assim a pessoa possa libertar-se do que os livros medievais e retrógrados de astrologia chamam de “destino para a infelicidade amorosa”.
No que concerne à possível questão reencarnatória, não deixa de ser interessante observar as pesquisas feitas pela psicoterapeuta e também astróloga Jeanne Avery que, após ter hipnotizado uma considerável quantidade de indivíduos com este aspecto e ter aplicado neles a terapia regressiva, teve como resultado um incontável número de “lembranças” por parte dessas pessoas acerca de uma “existência anterior” onde elas se recordavam de terem sido traídas, abandonadas, rejeitadas e humilhadas por causa do amor. Jeanne atestou uma considerável melhora da qualidade da vida afetiva destes indivíduos após terem trabalhado um processo de cura através da hipnose e da terapia de vidas passadas.
Saindo então das especulações, entremos em questões de ordem mais prática:
Primeiramente, cabe salientar que a pessoa portadora de circuitos Vênus-Saturno progride mais quando se afasta da família, não num sentido de “romper relações”, mas de sair do esteio dos pequenos dramas e novelas da mãe e do pai, dramas estes que a própria pessoa tende a repetir, inconscientemente, por ser peculiarmente sensível a dramalhões (por mais fria que seja a máscara que criou para sua própria defesa).
É muito importante que a pessoa compreenda que seu sentimento de incapacidade afetiva está, direta ou indiretamente, atrelado às vivências que tem com o pai e/ou a mãe. Sair da posição de filho, elegendo os pais como amigos, é uma forma interessante de estabelecer outro tipo de vínculo, em que a pessoa não fica nem tão vulnerável, nem tão dependente. O que ela não deve é ficar esperando que, do nada, seus pais se tornem a imagem incondicionalmente amorosa que se vê em filmes.
Leia também os outros artigos da série de Alexey Dodsworth:
zaz diz
texto muito interessante, apesar de o começo ter sido copiado do mapa astral da personare. Descobri hoje que tenho esse aspecto na minha carta natal, e chamou-me a atenção a maneira como este é descrito. “Engraçado” que no meu caso sempre tive pais muito amorosos, então sinto que essas caracterísiticas já vieram comigo, desde a tenra infância. Esta dificuldade de se auto-amar foi até hoje uma pedra em meu caminho, apesar de não ter nenhuma dificuldade em dizer à minha companheira o quanto a amo, ou seja, nada frio com ela! Em busca da evolução pessoal, sempre… Obrigado pelo texto, um grande abraço
Redação Constelar diz
Na verdade ocorreu o contrário. Alexey, o autor do artigo, é também responsável por textos do Personare. O artigo em Constelar é mais antigo: foi escrito em 2003, antes da estreia do Personare.
Patrick diz
o tapa na cara que eu levei.
Ana Lucia Ribeiro da Silva diz
Sou eu mesma. Tenho conjunção Saturno Vênus e posso dizer o quanto é complicado. Às vezes somos invisíveis. Acredito nas questão das vidas passadas. Acho que tem bastante a ver. Estranho…