Marte é indicador essencial de quê?
Entendo o Ascendente como “projeto de vida do indivíduo” (é claro que não estou com isso invalidando as interpretações tradicionais do Ascendente, apenas propondo outra). Por “projeto de vida” entendo a própria finalidade da existência, o por que nascemos, o princípio e o fim. Todas as outras casas, de alguma forma, convergem ou são representadas e sintetizadas pelo Ascendente.
Um parêntesis: tenho o hábito, em meu trabalho, de considerar três indicadores para cada casa ou questão:
1- Indicador condicional, que é o planeta que está ocupando a casa, o mais evidente e importante na análise da questão, pois impõe suas condições, tal como: Saturno na III impõe uma condição saturnina ao discurso do indivíduo.
2 – Indicador acidental, o regente do signo que acidentalmente, naquele horóscopo, rege determinada casa. É o dispositor da questão. E, finalmente…
3- Indicador essencial ou universal, que é o regente natural da casa, tal como: Lua, indicador essencial da casa IV, Saturno da X, Júpiter da IX etc.
Neste caso, Marte seria o indicador essencial da questão I, do Ascendente, e, consequentemente, do “projeto de vida”. Torna-se assim um planeta da maior importância, pois o indicador essencial é o símbolo que estabelece um vínculo, uma relação mais profunda e inconsciente entre o indivíduo e o universo, pois esta é, como entendo, a função do Indicador Universal ou Essencial. Como indicador universal do projeto de vida, Marte passa a significar (além de seus significados condicional e acidental) a expressão, o link entre meu projeto e uma certa realidade. A possibilidade maior de expressão, ou o instrumento da expressão do meu projeto. Na verdade, e sempre, meu Corpo e meu Gesto, a única forma de realizar meu projeto nesta existência, pois é esta a única ferramenta que o destino, ou a natureza, me concedeu.
A vontade de ocupar ou dominar territórios, o esforço, a luta pela preservação da espécie, o instinto de defesa e de ataque seriam as manifestações mais básicas e fundamentais do Marte como significador do Projeto de Vida, e é claro que está implícita, nesta ideia de projeto, a própria sobrevivência.
As variáveis de signo ou casa de Marte seriam a tradução para o cotidiano, a redução que sempre fazemos do símbolo a mínimos denominadores comuns, a nosso ambiente real. Mas, acima disso tudo, paira o desejo marciano de cumprirmos nosso projeto, de realizarmos aquilo que viemos aqui para realizar, seja lá o que for, e com este Corpo que temos, com este Marte que temos.
Talvez a guerra e outras distorções do uso harmonioso de Marte partam da nossa imaturidade, da nossa incapacidade de perceber a função cósmica do planeta. Ou talvez tenha que ser assim mesmo, sei lá, aí já me perdi…
Marte e virilidade
Bem, tenho observado o seguinte, inclusive amparado por pesquisas realizadas em quase três pessoas. [Nota do Editor – Neste trecho, como em vários outros, Valdenir está ironizando o uso indiscriminado de pesquisas estatísticas em Astrologia.]
Marte em mau estado cósmico no mapa (em exílio, queda, signos de Água, recebendo aspectos de planetas em mau estado cósmico, com seu dispositor em mau estado cósmico etc. – segundo a velha teoria das determinações) confere aos indivíduos do sexo masculino:
1- necessidade de provar virilidade através de atividades essencialmente masculinas: arte marcial, colecionar e cultuar armas, fascínio pela guerra, colecionar automóveis (grandes, de preferência), adorar caminhõezões daqueles imensos etc.
2- necessidade de provar virilidade através de uma performance sexual supercaprichada. Minha amiga que fez esta parte da pesquisa (foi espontanamente, eu nem tinha encomendado nada) disse que é isto mesmo, os homens com Marte em bom estado cósmico não têm nada pra provar, viram pro lado e dormem, são corretos e adequados, mas, segundo ela, os outros são geralmente muito, mas muito mais divertidos (não sei bem, em termos quantitativos, as bases da pesquisa, ela só deu a referência qualitativa).
Depois falo do Marte nas mulheres, em pesquisa também realizada com quase cinco pessoas deste sexo (em entrevistas, evidentemente).
Nesta série de cinco artigos, a importância e o significado de Marte são passados a limpo a partir de diversas abordagens. Publicada originalmente por Constelar em março de 1999, registra um debate que se estendeu de 2 a 7 de fevereiro de 1997, através da lista de discussão Solstix. Foi o primeiro grande debate astrológico da Internet brasileira – e um dos melhores.
Leia a sequência inteira:
O amor de Marte diante da morte – Ana Ocampo e Marcus Vannuzini
Da virilidade ao projeto de vida – Valdenir Benedetti
A ereção eterna do tutor de Marte – Barbara Abramo
A guerra do desejo e a hora do sexo – Barbara Abramo e Valdenir Benedetti
O que vale a pena ler sobre mitologia – Barbara Abramo