A Astrológica 2016, mais importante evento astrológico de São Paulo, caiu de cabeça nas abordagens transdisciplinares. A Astrologia deu a mão às teorias transgressivas e juntou no mesmo balaio Rupert Sheldrake, Bert Hellinger, Allan Kardec e Karl Marx.
A Astrológica 2016, promovida de 15 a 17 de julho pela Gaia Astrológica, de São Paulo, foi marcada pelas propostas transdisciplinares. O público descobriu que muitos astrólogos vêm hoje experimentando na prática diversas formas de síntese de técnicas de atendimento astrológico com as mais variadas abordagens terapêuticas. Nesta linha, o destaque foi para a palestra de Maurício Jacoel, astrólogo radicado em Brasília, que apresentou uma instigante integração da leitura astrológica com as técnicas de constelação familiar de Bert Hellinger.
Os planetas ganham voz e conversam com o cliente
Em vez de estabelecer uma relação de consulta convencional, Maurice leva o cliente a vivenciar diretamente o próprio mapa, num processo em que o astrólogo deixa de ser consultor para ser facilitador. Neste trabalho, realizado em grupo, cada participante assume um dos planetas da carta natal do cliente, que pode, assim, dramatizar sua relação com Saturno, Plutão ou Netuno. Segundo Maurice, a simples atribuição de papéis e a utilização de uma mandala zodiacal em escala humana, sobre a qual é possível caminhar, já induzem o participante a “corporificar” o planeta representado, mesmo sem qualquer conhecimento técnico de Astrologia.
O fenômeno reportado por Maurice Jacoel, muito conhecido dos praticantes de Constelações Familiares, poderia ser ao menos em parte explicado pelo conceito de campo mórfico, expressão cunhada pelo controverso biólogo Rupert Sheldrake (quem não se lembra da teoria do centésimo macaco?). Este foi, aliás, o tema de outra palestra, apresentada pelo astrólogo e psicólogo Luiz Carlos Teixeira de Freitas. Numa sucessão de propostas transgressivas para os padrões da ciência convencional, Luiz Carlos recorreu a David Bohm, Sheldrake e – mais uma vez – a Bert Hellinger para justificar uma visão da Astrologia totalmente desvinculada da Astronomia. Destacando que não há influência direta de corpos celestes sobre o comportamento humano, o palestrante pediu à plateia para esquecer o céu astronômico, lembrando que “são os campos imateriais que codeterminam a existência”.
Kardec, Marx e Darwin: tudo em comum
A também psicóloga Lydia Vainer defendeu que as obras de Marx, Darwin e Kardec estão linkadas por um pano de fundo astrológico comum, onde a presença de planetas geracionais em Touro contribui para a influência de longo prazo que essas obras exerceram. Nas palavras da palestrante:
Há momentos específicos na história da civilização que determinam profundamente o pensamento e o comportamento humano. É o caso do biênio 1857-1859. 1857 é o ano em que foi lançado na França o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, livro que fundamentou toda a teoria espírita vigente até os dias de hoje e seguida por milhares de pessoas.
Lydia lembra que aquele período caracterizou-se por forte materialismo nas ciências e na Filosofia, ainda como herança do Iluminismo do século anterior. Esta exacerbação da tendência materialista pode ser associada ao trânsito de Plutão em Touro, vigente desde 1851. Kardec introduziu uma descrição metódica da vida dos espíritos e explicou didaticamente o intercâmbio entre os mundos visível e invisível. Neste sentido, Kardec reproduz o processo taurino de materializar a vida pós-morte.
A leitura daquele momento se revela mais completa quando consideramos os três planetas invisíveis e seus posicionamentos: Netuno em Peixes, Urano em Gêmeos, Plutão em Touro. E prossegue Lydia:
Em 1859 é publicado o livro de Darwin – A Origem das Espécies. É o primeiro estudo científico sobre a evolução dos seres vivos como sendo originários de processos e seleção inteiramente naturais. Darwin, com sua teoria da evolução, contradiz a crença religiosa da criação divina tal qual é apresentada na Bíblia, no livro Gênesis. As discussões desencadeadas pela suas teoria, amplamente embasada, criaram o primeiro debate científico internacional da história. Novamente pensamos em Urano em Gêmeos e Plutão em Touro como determinantes deste processo e deste pensar.
Neste mesmo ano Karl Marx publica sua Contribuição para a crítica da Economia Política, livro introdutório aos conceitos básicos desenvolvidos na sua obra máxima, O Capital. Marx, fundador da doutrina socialista, produziu ideias e conceitos que tiveram grande impacto em todo o mundo ao longo do século XX, desencadeando movimentos sociais, partidos políticos e toda e uma gama de calorosos debates entre os intelectuais, desde a sua publicação até os dias de hoje.
As ideias marxistas versam substancialmente sobre o trabalho, a produção, o valor, lutas de classe, crítica ao sistema capitalista, entre outros. A profundidade das suas reflexões se encaixa perfeitamente na concatenação de Plutão em Touro, Urano em Gêmeos e Netuno em Peixes.
A conclusão de Lydia Vainer é que a importância e o impacto permanente da obra e do pensamento destes três precursores – Marx, Kardec e Darwin – ilustra claramente “como uma combinação celeste única e remotamente replicável cria circunstâncias e dinâmicas únicas”.
De São Tomás de Aquino a Alice no País das Maravilhas
Sem dúvida, a palestra mais densa do evento foi A questão astrológica no medievo cristão, apresentada pela professora universitária Henriete Fonseca. Ao contrário da visão convencional da Idade Média como uma era de atraso e superstições, Henriete descreveu um mundo lógico, organizado e racional, presente em especial na obra de São Tomás de Aquino, mas também de Raimundo Lúlio (ou Ramón Llul), São Boaventura e outros teólogos católicos. A palestra terminou com um convite para um mergulho mais intenso na filosofia medieval, indispensável, segundo Henriete, para uma adequada contextualização histórico-filosófica das concepções astrológicas.
Lewis Carroll era pedófilo? Em caso de resposta positiva, teria chegado a consumar o ato? Está é a surpreendente questão horária que Adon Saleeby (Adonis Saliba) analisou na Astrológica 2016, utilizando técnicas de Astrologia Horária. Saleeby, que também é pesquisador na área de energia nuclear, defende uma Astrologia Horária bem mais ampla do que aquela cujas regras foram estabelecidas por William Lilly no século XVII. Para o palestrante, é possível utilizar a técnica não apenas para dar resposta a questões objetivas (“Onde está o anel que perdi?”), mas também para descrever as circunstâncias, os valores intelectuais e o estado emocional que cercam a situação de consulta. No caso de Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, a conclusão do palestrante foi de que a tendência pedófila existia sim, mas jamais ultrapassou os limites de um beijo bem comportado na menina Alice, que inspirou o personagem homônimo.
A Astrológica 2016 não parou por aí, mas a programação apertada não permitia assistir a todas as palestras. Como a de Titi Vidal, sobre os mil primeiros dias de vida do bebê; ou como a de Marcelo Rafael de Carvalho, sobre Andy Warhol, e de Ana González, sobre o filme Samba. Rodrigo Araês Caldas Farias falou sobre os Sete Raios de Alice Bailey e o grupo Terra Brasilis apresentou mais uma de suas excelentes pesquisas na área de Astrologia Coletiva. Uma programação rica, que bem mereceria uma reedição ou uma edição em vídeo.
ALEXANDRE RODRIGUES diz
Muito interessante este evento! Parabéns aos organizadores e divulgadores.
Ana Lucia Ribeiro da Silva diz
Pelo conteúdo das palestras acima, fiquei com água na boca.
A nova abordagem através dos campos mórficos é genial.
A visão do materialismo através das posições planetárias no signo de touro e o surgimento da codificação espírita , que trouxe a realidade concreta do mundo dos espíritos, igualmente genial.
Avanços concretos na pesquisa astrológica.
Parabéns a todos.