Este artigo é a quinta parte da dissertação de mestrado Narrativas do Céu – A presença da Astrologia nos Meios de Comunicação, apresentada em 2015 pela jornalista e astróloga Titi Vidal. Se você não leu as partes iniciais, não perca tempo:
De Zora Yonara ao TV Mulher
Em 1976, um programa conduzido por Ana Maria Braga na TV Tupi, abriu espaço para o horóscopo, feito por Claudia Hollander que, em 1977, iniciou um programa próprio na mesma emissora chamado Alto Astral, “no qual respondia cartas e fazia cálculos do signo ascendente” (RAMOS, 2002, p. 26). Hollander apresentava informações mais completas sobre Astrologia, mas também interpretava mapas de famosos. Depois passou pela TV Cultura e participou do programa TV Mulher, na Rede Globo, em 1984, tendo sido substituída por Leiloca até 1988, quando voltou ao programa (RAMOS, 2002, p. 26).
Guilherme Salviano lembra que Dioni Forti também participou de um programa diário na rádio Band AM, de 1987 a 1995, no qual falava sobre as características dos signos, respondia cartas e apresentava o horóscopo diário. Ele lembra também Zora Yonara, que iniciou sua carreira como astróloga bem jovem, em rádios do interior do Espírito Santo, onde nasceu. Zora ficou famosa por suas previsões astrológicas. Entrou na Rádio Globo em 1961 e entre 1974 e 1980 falava sobre Astrologia e previsões no Jornal do Almoço, na TV RBS (afiliada da Globo) em Porto Alegre. Também falava sobre Astrologia no TV Mulher da TV Globo entre 1982 e 1985, quando foi substituída por Leiloca. Até hoje faz previsões e dá conselhos com mensagens positivas na Rádio Globo.
Recentemente, a astróloga Cláudia Lisboa, que mora no Rio de Janeiro, faz atendimentos, entre eles de celebridades e ministra cursos de Astrologia, entre outros lugares na Casa do Saber e é uma das astrólogas mais conhecidas do Brasil. Apresentou o programa No Astral, que teve quatro temporadas, de 2011 a 2013, e foi exibido na tevê a cabo GNT, totalmente dedicado à Astrologia, com temas específicos a cada temporada e/ou programa. Como era semanal, a cada episódio Claudia Lisboa apresentava também o horóscopo da semana.
A internet também ampliou a divulgação da Astrologia, fornecendo primeiro os próprios horóscopos e combinações amorosas entre os signos nos portais, que depois passaram a vender mapas astrais on-line. Ou seja, a Astrologia surge na internet com os primeiros portais na forma de horóscopos diários, semanais e mensais, com as tendências astrológicas para os doze signos, além da descrição de cada um deles e sua personalidade. Os grandes sites também apostaram na Astrologia voltada ao amor, falando sobre a compatibilidade e os desafios entre os signos. Isso se mantém até hoje, apesar de ter expandido seus horizontes desde o surgimento dos primeiros sites pessoais de astrólogos e as redes sociais. Isto é, de início a internet foi apenas uma nova plataforma para a expressão da Astrologia e, como o horóscopo já era bem conhecido e lido em jornais e revistas, os portais repetiram o mesmo formato.
Segundo pesquisa feita por mim em 2011, para a monografia final do curso de pós-graduação lato sensu em Jornalismo, na Faculdade Cásper Líbero, a internet marca o início de uma nova fase para a Astrologia, que inclui uma nova forma de relacionamento e diálogos entre astrólogos entre si e seu público e entre a própria Astrologia com seus interessados, conforme será abordado adiante.
O Universo On-line – UOL, por exemplo, entrou na rede em 1996 com uma seção dedicada à Astrologia chamada Atração Astral, que abordava a combinação entre os signos. No começo de 1997 também estreia o Almas Gêmeas, no portal Terra, com horóscopo e combinação entre signos (RAMOS, 2002, p. 26).
Ramos (2002, p. 27) conta que o Universo On-line e o Terra aumentaram o espaço dedicado à Astrologia em 2001, quando o Atração Astral transformou-se em Astral, abrigando horóscopo, mapa astral on-line e vários outros assuntos esotéricos, enquanto o Almas Gêmeos oferecia mapa astral on-line, uma revista on-line de Astrologia, entre outras colunas não apenas astrológicas, mas de assuntos esotéricos, como tarô e runas, entre outros.
Assim, a Astrologia foi ganhando cada vez mais espaço na rede, desde os grandes portais até os sites pessoais dos astrólogos, passando pelos grandes sites especializados em Astrologia, como o Personare e o Estrela Guia, que publicam horóscopos e artigos sobre Astrologia, além de venderem mapas e outros serviços on-line. Estes dois são sites especialmente voltados ao público leigo, mas existem outros direcionados aos astrólogos, como a Constelar, uma importante revista eletrônica de Astrologia, cujo principal público são profissionais e estudantes da área.
A ditadura dos horóscopos
Atualmente, as principais revistas e jornais do país têm colunas astrológicas, especialmente horóscopos, mas, apesar da popularização da Astrologia nos últimos anos, pouca coisa mudou em sua relação com a mídia no Brasil.
Jornais publicam horóscopos diários e dão pouco espaço para outros temas astrológicos. Muitas revistas também contêm horóscopos, semanais ou mensais. Algumas poucas revistas abrem espaço para matérias mais profundas sobre o tema Astrologia. Uma delas é Bons Fluidos, da Editora Abril, que, por exemplo, na edição de julho de 2014, teve como matéria de capa o artigo Escrito nas Estrelas, assinado pela astróloga Silvia Bacci.
Na televisão, alguns programas abrem espaço para a Astrologia, mas, em geral, esse espaço também é restrito aos horóscopos. Um exemplo é o Programa Mulheres, na TV Gazeta, que tem uma coluna semanal dedicada à Astrologia, voltada às previsões astrológicas para os doze signos, ou seja, um horóscopo semanal. Além disso, eventualmente algum astrólogo é chamado para participar de algum programa de entrevistas, para abordar um tema específico. Em geral os temas propostos têm a ver com previsões sobre acontecimentos coletivos, personalidades e celebridades, entre outros, com exceção do Programa No Astral, já citado, apresentado pela astróloga Cláudia Lisboa.
A Astrologia está presente também na internet e aparece em diferentes formatos. Um deles é a astrologia nos portais, que em muito se assemelha ao que já acontecia em revistas e jornais. Assim, os principais portais têm colunas de horóscopos e, eventualmente, publicam artigos com entrevistas de astrólogos a respeito de assuntos como “previsões para a Copa”, “compatibilidade entre signos” e previsões para celebridades. Por outro lado, a internet também abriu espaço para que os astrólogos criassem seus sites e blogues pessoais, nos quais podem se aprofundar no assunto, escrevendo artigos mais completos e complexos sobre Astrologia. Além disso, as redes sociais também permitiram aos astrólogos maior aproximação de seu público e criaram uma nova forma de escrever horóscopo e falar sobre Astrologia.
O fato é que a Astrologia está presente de forma intensa na mídia porque desperta a atenção do público e, portanto, resulta em audiência para os diversos veículos que a publicam. Por exemplo, uma pesquisa feita pelo IBOPE Nielsen On-Line em 2011, revelou que 42,8 milhões de pessoas usaram a internet no Brasil, sendo que entre os principais interesses das mulheres adultas estão os sites de Astrologia. Outra pesquisa, também do IBOPE, em Belo Horizonte em 20122, revelou que das pessoas que leem jornal impresso (35%), 24% leem diariamente a sessão de Astrologia e horóscopo.
Porém, apesar de despertar o interesse de muita gente e estar tão presente nas diversas mídias, a Astrologia também traz em si a carga de ter sido popularizada pela mídia, especialmente pelos horóscopos, previsões genéricas para os doze signos do zodíaco. O horóscopo leva em consideração apenas os doze signos, ao passo que um mapa astrológico considera pelo menos doze signos, dez planetas, doze casas astrológicas e diversos outros pontos importantes e a infinita relação que se forma entre esses. Ou seja, o horóscopo é algo genérico e superficial que, se, por um lado, leva a Astrologia ao conhecimento do público, por outro, reduz toda a sua complexidade e contribui para o preconceito que existe. Além dos horóscopos, em geral a mídia aposta em outras ideias astrológicas superficiais, como a compatibilidade afetiva entre os signos – também sem levar em consideração todos os outros pontos e complexidades astrológicas – e previsões sobre as celebridades.
Essa generalização feita pelos horóscopos pode ser um dos principais motivos do preconceito e das críticas à Astrologia.
Outro fator que contribui para o preconceito é o fato de a Astrologia estar na mídia constantemente relacionada a artigos esotéricos e à imprensa sensacionalista, que “não podia deixar de se interessar pelos fenômenos misteriosos, perturbantes, pelas coincidências que a ciência não consegue explicar” (FISCHLER, 1972, p. 33). Assim, assinala Fischler, as colunas de horóscopo passam a ser cada vez mais empregadas depois da guerra, ganhando espaço no jornal, fazendo com que o horóscopo fique “enquadrado por variada publicidade ocultista, e também por anúncios de casamento” (1972, p. 33). Com isso, a Astrologia de massa passa a se expandir e, até hoje, pode ser encontrada nas sessões de entretenimento e/ou nas publicações relacionadas ao ocultismo/misticismo.
José A. Baptista diz
“O horóscopo é superficial: por um lado, leva a Astrologia ao conhecimento do público; por outro, reduz sua complexidade e contribui para o preconceito”.
Na verdade os horóscopos contribuem diretamente para divulgação em massa da astrologia, mas divulgação negativa, principalmente na Internet, onde se vê enorme quantidade de sites e, principalmente, de canais no Youtube, com conteúdo de baixa qualidade.
Atualmente acho que não estão ensinando astrologia, e sim, vendendo cursos de astrologia por atacado, pois, falar de astrologia qualquer pessoa sabe – basta abrir a boca.
Lembro muito bem que em 1984, quando contatei a escola “Regulus – Cursos e Assessoria Astrológica”, pois eu pretendia estudar astrologia o professor Waldyr Bonadei Fücher me respondeu que não poderia me aceitar como aluno de sua escola, pois eu não tinha o curso superior – para ser astrólogo, naquela época, era praticamente muito importante. Respondi ao professor Fücher que eu era membro da Ordem Rosacruz já há 15 anos – como na época não era qualquer pessoa que ingressava na Ordem – ele me aceitou como aluno. Inclusive, na pág. 4 (capt.2) consta o sistema de Decanatos CALDEU, e na pág. 5 (capt2) consta o sistema de Decanatos INDU, ambos com metodologias de regências diferentes. Perguntei ao professor Fücher o porque do sistema de Decanatos CALDEU usar metodologias diferentes e ele me respondeu que não se sabia ao certo. Respondi para ele que a regência no sistema de Decanatos CALDEU é de acordo com os dias da semanas, iniciando pela Terça-feira (Marte – 1º Dec. de Áries); Quarta-feira (Mercúrio – 2º Dec. de Áries); Quinta-feira (Júpiter – 3º Dec. de Áries); e assim por diante… até o 3º Dec. de Peixes sendo regido pela Terça-feira (Marte).
Como escrevi acima, atualmente acho que não estão ensinando astrologia, e sim, vendendo cursos de astrologia por atacado, pois, falar de astrologia qualquer pessoa sabe – basta abrir a boca.