Martha Pires Ferreira já vinha exercendo um ativo papel na Astrologia carioca desde a década de 1960. Em 1972 escreveu A Nova Era, texto que obteve sucesso em publicações alternativas. Passados 26 anos, Waldemar Falcão recuperou o original, digitou-o e distribuiu-o no Encontro da Nova Consciência realizado em Campina Grande no carnaval de 1998. As poucas cópias disponíveis provocaram enorme interesse e esgotaram-se em minutos. Em outubro de 1998 Constelar publicou o texto na internet pela primeira vez.
O cronograma do advento da Nova Era, citado por tantos astrólogos dos anos 1970, mostrou-se excessivamente otimista. Ainda estamos longe de uma transformação radical de consciências. Contudo, Martha foi muito precisa ao antecipar, quatro décadas atrás, o clima de apreensão e desencontros em que hoje vivemos e que, segundo a autora, representaria a necessária transição para a mudança de paradigma civilizatório.
A Astrologia, embora não seja ainda levada a sério pelo academismo de nossa época, é tão antiga quanto o homem. O estudo dos astros surgiu provavelmente de uma apaixonada tentativa de descobrir o segredo da vida e da morte. Conhecida por todas as civilizações e culturas, a Astrologia permanece até hoje como ciência e arte de caráter experimental, de observação, que estuda as relações entre o homem e os planetas do sistema solar – o comportamento do ser humano no espaço das forças cósmicas.
Ela se ocupa de determinar as influências celestes, que presidem o destino dos seres e das coisas. É a arte das correspondências universais aplicadas aos indivíduos de toda natureza.
Os astros dispõem, mas não impõem
“Astra inclinant, non necessitant”
De repente muitos querem saber o que seja a tão decantada Era de Aquarius. Parece mesmo que os olhos brilham mais ao tocar nestes assuntos do vir a ser do mundo futuro – o amanhecer do ano 2000. Uma esperança, um anseio de beleza, gozo paradisíaco?!
Não darei dados de Astronomia para explicar que o eixo vernal, por um processo de retrocesso, se afasta do signo de Peixes, onde passou vinte séculos, e se aproxima agora do signo de Aquário. Depois do ano 2000, aproximadamente por volta do ano 2014, podemos dizer que este eixo passa para a constelação de Aquário, dando assim início a uma nova Era da História da Humanidade. [*]
Como não se pode afirmar categoricamente nada a respeito de acontecimentos futuros, acredita-se apenas que esta época será de grande esclarecimento mental para a humanidade inteira. A Era de Aquário é o despertar da Intuição – apreensão imediata -, tendendo a humanidade então para maior expansão espiritual e científica. Era da libertação, da independência, da autoexpansão, da telepatia, da clarividência, da precognição. O homem em busca da sabedoria – e por uma espécie de vidência – sabe o que pensam, são ou desejam os outros. Ele é um pouco qualquer outro. É o que vulgarmente chamamos de “homem ligado”, no sentido mais amplo da expressão. O desenvolvimento da percepção o fará tão penetrante quanto o Raio-x. É o ser se ampliando em todos os sentidos e todas as direções. É a ciência tomando novos rumos, rumos estes que permitirão conhecimentos até agora enigmáticos para a humanidade. Anuncia na verdade um estado superior da evolução humana – um estado de esclarecimento individual – iluminação ou lucidez da consciência.
A Era de Aquário constitui um novo plano de desenvolvimento na história do homem. Uma total mudança de nível – o homem agindo noutro nível psíquico. A criatividade em toda a sua potencialidade, força e vigor, transcendendo completamente a realidade atual.
A consciência do Deus interno – do Eu profundo – se manifestará no centro mesmo da psique. Cada ser humano terá como desejo primordial o autoconhecimento – o anseio de se saber tal qual se é em essência, o que no pensamento de C.G. Jung significa o caminho da individuação. O homem experimentará por vivências pessoais o que realmente seja harmonizar-se uns com os outros. Um crescente sentimento-amor, sacrifício-generosidade, tomará conta de toda a espécie humana. O homem saberá que somos todos da mesma família – que somos todos um só. Que a dor e o sofrimento de um é a dor e o sofrimento de todos, o mesmo se dando em relação ao bem estar comum, às chances e oportunidades, alegrias e prazeres. O homem aprenderá enfim a respeitar profundamente a individualidade própria e alheia – a respeitar sobretudo, e em absoluto, o outro como ele é, com seus segredos, defeitos e virtudes. A Era de Ouro da Humanidade, segundo a filosofia yogue. A Era da Beleza, porque a Era do Caminho da Sabedoria. E quem sabe, a Era da Arte de Viver!! O homem se harmonizando com sua natureza – com o alargamento do seu eu. O crescente emergir da criatividade inegavelmente trará maiores possibilidades de felicidade e prazer na esfera individual e coletiva.
Os homens continuarão como sempre foram; com seus aspectos claros e escuros, com suas contradições de seres mortais. Entretanto, saberão melhor como lidar com esses aspectos escuros e sombrios que existem em cada um de nós. As máscaras, tão comuns nos relacionamentos diários, não terão mais sentido porque o homem novo na sua autenticidade e espontaneidade não terá mais o que evitar, esconder, temer. Ele saberá aceitar-se e aceitar o mundo, assim como será aceito na sua legitimidade de ser único, integrado no coração mesmo do Universo. O homem da Era de Aquário é o homem independente. É o homem que elabora o processo da liberação total.
É interessante me estender mais um pouco. E até mesmo necessário. Estamos às portas do século XXI, esperando o decantado ano 2000 da lindeza e da solidariedade, da cor e do som, da paz e da felicidade paradisíaca. Para alguns, esta Era já se iniciou por antecipação, mas apenas aparentemente, porque a Era de Aquário não é, como se sabe (e os videntes também sabem), o privilégio de uns poucos ou de um grupo humano mais bem dotado, seja lá em que for. A era do próximo milênio é primordialmente o reencontro da humanidade inteira – na qual ninguém está interessado em aparecer mais ou menos, ser mais ou melhor. Não resta dúvida de que os sintomas desta Era da Intuição já se fazem presentes – em pequenos núcleos – nos mais diferentes setores da atividade humana. Entretanto, antes de entrarmos nesta plenitude de viver, sofrerá o mundo todo com a humanidade inteira, a mais completa e fundamental transformação. Um cataclismo! E as décadas que vão dos meados de 1970 ao ano 2000 não serão nada muito eufóricas, nem floridas.
A transfigurada explosão já se faz notar. A imaginação parece se dilatar – o homem quer inventar, aparecer, criar, como nunca pensou ser possível. A arte já não é mais o privilégio de um pequeno grupo de artistas, não mais o Dom de uns poucos – verifica-se que todo homem é potencialmente um criador, um artista, em maior ou menor grau. E ao lado desta efervescência vivemos paradoxalmente uma crise como nunca se ouviu falar – o desencontro humano é geral. A mente inquieta e aflita tenta com todos os esforços solucionar problemas cada vez mais complexos – impossíveis mesmo de serem resolvidos. E mergulhando um pouco mais fundo, parece mesmo que qualquer tentativa de harmonia geral entre pessoas ou nações é realmente inútil. A humanidade está se desentendendo cada dia mais. Por todos os lados a violência, a agressão, a insatisfação individual e coletiva. O homem está sofrendo e não adianta querer esconder de si próprio tal verdade. A crise é cultural, moral, política, econômica, religiosa, sociológica. E esta crise entrará num crescente enorme – a fome aumentará cada dia mais -, o descontrole geral chegará às vias do absurdo!!! Velhas tradições, velhas convicções, velhos ideais e costumes, velhas leis éticas e metafísicas sofrerão assombrosas modificações antes do surgimento do Novo Ciclo da Raça Humana. Não são poucos os que estão atentos, conscientes e sabedores de tais perspectivas. Parece mesmo que a humanidade inteira está despertando para enfrentar a metamorfose morte-ressurreição! Como em todas as metamorfoses, em todas as grandes mudanças, o que é formoso, belo e precioso, surge da depuração – como na Alquimia. Depuração esta que se processa acompanhada de muito trabalho e dor.
Este período de desencontro que antecede a Era de Aquário e que já estamos atravessando, pode ser visto como um fenômeno apocalíptico. O estado psíquico geral da humanidade se torna cada vez mais perigoso. É o desabamento de velhos moldes: paradoxos, incongruências, inconsequências, contradições, disparates – o imprevisível! Uma realidade altamente cheia de dúvida e absurda.
Por toda parte, falsos profetas da verdade e do saber – falsos cordeiros, falsos magos, falsos videntes, falsos sábios, falsos iluminados. Muitos destes homens, como dogmáticos “salvadores da humanidade”, ditam princípios e normas para a mente e para a alma, confundindo ainda mais a inquietude geral do mundo. As dores aumentarão e a humanidade há de gemer, estremecer e excitar-se. Ignorando completamente o que lhe falta, saberá apenas que sente dor e que necessita urgente de algo que a alivie e tranquilize.
Quem tem a sua tocha individual bem acesa, quem permanece em estado de plena atenção, não tem o que temer. O observador atento da fenomenologia atual só tem uma saída: enfrentar o momento presente, enfrentar a si próprio e a escuridão de sua época, sem ditar dogmas ou princípios que em pouco tempo estarão superados. O homem lúcido não perde a meta – ele trabalha incansavelmente por um mundo humano e pleno de alegria. Ele sofre e não teme a metamorfose. Aceita o peso do mundo sobre os seus frágeis ombros e não se desespera. Confia. Confia sobretudo nas forças da natureza. Acredita no amanhecer da lucidez universal. Confia no princípio coordenador de energias, nas forças renovadoras que emergem do centro mesmo da psique. Trabalha no silêncio e no amor.
A Era de Aquário, uma utopia ou uma realidade? Consultem geólogos, sociólogos e astrônomos: eles têm dados interessantíssimos a respeito de acontecimentos singulares. Parece mesmo que tudo se transforma. Nada se pode afirmar, entretanto, só o tempo constata e confirma.
Para alguns estudiosos, os dois mil anos que nos seguirão podem ser vistos também como a Era da Conquista do Espaço Cósmico, e o homem já deu provas suficientes de que isso é possível. Mas a Era de Aquário é sobretudo a Era do Descobrimento do Homem Interior – ERA DO HOMEM CÓSMICO.
Num interesse profundo em conhecer sua natureza íntima e a sua essência eletromagnética, o homem descobrirá que a alma é o divino se manifestando na matéria.