Datas possíveis para o Japão
11 de fevereiro de 660 a.C. – É a data da fundação mítica do Império do Japão, quando teria subido ao poder o primeiro imperador.
8 de setembro de 1868 – início da Era Meiji. É o momento da restauração do poder imperial, com o fim do xogunato, e de início de uma fase de rápida modernização do Japão, que em poucas décadas se torna uma grande potência em todos os sentidos.
11 de fevereiro de 1889 – Promulgação da Constituição Meiji – É a primeira constituição do Japão moderno, e que valerá até 1947. A data escolhida tem grande força simbólica, pois é a mesma da fundação mítica do Império do Japão. Contudo, essa Constituição só entra em vigor quase dois anos mais tarde.
29 de novembro de 1890 – A Constituição Meiji entra em vigor e, simultaneamente, toma posse a primeira dieta (parlamento) do Japão moderno. Essa constituição subsistirá durante todo o período de ocidentalização e expansão militar, que inclui a tomada do Sudeste Asiático, a Segunda Guerra Mundial e a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
3 de novembro de 1946 – Promulgação da moderna constituição japonesa, a chamada Constituição do Pós-Guerra, válida até os dias de hoje.
3 de maio de 1947 – Entrada em vigor da Constituição do Pós-Guerra.
Astrólogos ingleses e americanos tendem a valorizar, na busca de mapas nacionais, muito mais os atos formais do que os fatos políticos do mundo real. Em consequência, tendem a transpor de forma simplista o critério anglo-saxônico, que estabelece o primado da lei e do documento escrito, para outras culturas onde nem sempre os atos formais desempenham um papel de tanta força. Essa questão cultural, somada à influência da astrologia anglo-americana sobre astrólogos brasileiros nas últimas décadas, acaba gerando algumas distorções. Um exemplo é a obra de Nicholas Campion, astrólogo inglês de inegável competência como pesquisador. Sempre que possível, Campion escolhe como base para a carta nacional o momento da declaração formal de independência (assinatura de uma declaração, por exemplo) ou do ato legal que define a constituição de um novo regime.
Fugindo um pouco à racionalidade britânica e buscando um raciocínio mais apropriado tanto à mentalidade latina quanto oriental, optamos aqui pelas cartas com maior peso mítico e simbólico. Mapas de fundações míticas sempre são de extrema importância. Mesmo que não correspondam à verdade histórica, dão pistas preciosas sobre a construção da identidade nacional. Por isso, consideramos como a mais importante das cartas representativas do Japão a da fundação mítica, em 660 a.C., na medida em que é o mapa de como o povo japonês se vê e como quer ser visto pelo resto do mundo. Em segundo lugar, temos a carta da entrada em vigor da Constituição do Pós-Guerra, que marca um rompimento jurídico e político com o status anterior: pela nova Constituição, o Japão abdica do expansionismo militar (as Forças Armadas do país são insignificantes até hoje), implementa instituições plenamente democráticas e lança as bases para uma nova fase de crescimento, que começa a dar frutos já nos anos 1960.
O mapa da fundação mítica do Império
O mapa da fundação mítica é o mais antigo e provavelmente o mais revelador de todos os considerados. Se considerarmos o horário-padrão das 12h LMT (hora local), teremos o Sol a pino, simbolizando a afirmação do poder central. O Sol está em Aquário, em conjunção com Plutão. Outros dois planetas, Mercúrio e Jupiter, ocupam o mesmo signo. Indica o Japão como uma nação construída sobre a percepção da prevalência do grupo sobre o indivíduo, e onde a consciência social (Aquário) está na base de um forte impulso de autorregeneração (Plutão). Este aspecto tem a ver com a permanente convivência do povo japonês com o risco do aniquilamento (vulcões e terremotos) e a capacidade de reerguimento após os momentos de aparente destruição.
Saturno e Vênus em Capricórnio, em aspectos fluentes com Lua, Netuno e Urano, falam de disciplina, operosidade e valorização da ordem e da hierarquia. A Lua em Escorpião em conjunção com Netuno reforça a conjunção Sol-Plutão em Aquário, na medida em que enfatiza mais uma vez o senso do coletivo e o tema da morte e regeneração. É o mito da Fênix que renasce das próprias cinzas, presente duas vezes na carta japonesa. Lua e Netuno juntos num signo de Água destacam ainda a questão da importância do mar na vida do país. Não há como esquecer que o crescimento japonês sempre esteve em relação direta com a atividade pesqueira e com a capacidade de sua marinha (mercante e de guerra). Outro tema relacionado tanto com Plutão-Sol quanto com Lua em Escorpião é o do suicídio ritual – o harakiri, um dos traços culturais mais estereotipados da cultura japonesa.
Trata-se de um mapa organizado em torno de apenas quatro signos, sendo três deles fixos (Aquário, Touro e Escorpião) e nenhum mutável. A tradução mais direta seria falta de “jogo de cintura”, indicando uma atitude rígida e obstinada diante dos grandes desafios coletivos. Não custa lembrar que quase todas as grandes cidades japonesas já foram, num momento ou noutro, destruídas por terremotos (Tóquio, Cobe, Yokohama) ou por guerras (Hiroshima, Nagasaki, Nagoya), sendo sempre reconstruídas no mesmo lugar.
O mapa que rege a atual fase da História do Japão – o da entrada em vigor da Constituição de 1947 – apresenta diversas analogias com o mapa da fundação mítica. Mais uma vez, o Sol está num signo fixo (Touro) e em aspecto dinâmico com Plutão (agora, uma quadratura). Lua e Netuno estão outra vez em conjunção (agora mais aberta) e Vênus repete o contato direto com Saturno (conjunção na fundação, trígono em 1947). A quadruplicidade predominante é a cardinal (cinco planetas), mas, em perfeita analogia com a carta de fundação mítica, faltam novamente planetas em signos mutáveis, com a única exceção do geracional Urano em Gêmeos.
A carta de 1947 carrega mais dinamismo e mais espírito empreendedor do que a carta de 660 a.C. Contudo, é o mesmo país-fênix do mapa da fundação, com forte senso do coletivo (Lua-Netuno em Libra), valorização da disciplina (Vênus-Saturno) e capacidade de descer aos infernos para depois regenerar-se outra vez (Sol-Plutão).