O ciclo de Urano e suas diferentes fases
Para refletir sobre o atual ingresso de Urano em Áries, façamos uma viagem pelo ciclo zodiacal iniciado 84 anos antes, no final da década de 1920. Para ter uma percepção mais clara deste pulso uraniano iniciado em 1928 vamos nos deter especificamente nas chamadas fases angulares que estariam representadas pelo trânsito em Áries, Câncer, Libra e Capricórnio.
Sem dúvida, buscar significado para os fatos de um único ciclo representa um recorte no astrológico, do mesmo modo que selecionar certos acontecimentos, e não outros, significa fazer uma síntese subjetiva no histórico. Esse procedimento parece inevitável para podermos iniciar a reflexão. Conscientes disto, tomemos os seguintes pontos apenas como marcos orientadores de uma análise mais profunda.
De 1927-28 a 1934-35: Urano transitando em Áries (fase I)
O acontecimento astrológico de Urano percorrendo a primeira fase do ciclo zodiacal corresponde (ou está em sincronia) à primeira grande crise financeira do capitalismo (a queda de Wall Street), o apogeu do fascismo na Itália, a consolidação de Stalin como único líder da União Soviética, a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, as primeiras investigações no desenvolvimento de energia nuclear, e o uso de meios audiovisuais (rádio e cinema) não só como expressão artística ou recreativa, mas também como maciça e efetiva ferramenta de propaganda política e controle da opinião pública.
Cada um destes fatos pode ser visto como marco de um novo mundo ou, ao menos, de seu desejo. Todos assinalam uma alteração irreversível da ordem preexistente. O sistema econômico mundial já não será o mesmo, como não o será tampouco a expressão das democracias liberais e do socialismo, nem a relação entre a ética e o progresso científico na geração de energia, nem a comunicação entre os seres humanos a partir da vertigem tecnológica originada naqueles anos. Cada uma dessas manifestações da atividade humana enfrentará o desafio de dar um salto de qualidade. E, a partir do olhar cíclico astrológico, as oito décadas subsequentes podem ser entendidas como o desenvolvimento daquilo que – sem conhecer suas consequências nem seus desenlaces – ali se iniciava.
De 1948-49 a 1955-56: Urano transitando em Câncer (fase IV)
O trânsito de Urano pelo signo de Câncer simboliza o tempo em que aquele impulso inicial do novo toma forma reconhecível e, ao menos na aparência, estável. O capitalismo consegue regenerar-se da crise dos anos 30, aplicando uma fórmula que parece transgredir o dogma da mais irrestrita liberdade de mercado: a intervenção estatal na economia, assegurando serviços básicos a toda a sociedade, no que ficou conhecido como o “Estado do Bem Estar”. O mesmo princípio tinha sido posto em prática de um modo mais radical durante a década de 30 pelos regimes fascistas da Europa e pela economia planificada de Stalin na URSS. Mas, para o momento da definição de forma simbolizada por Urano transitando em Câncer, o mundo ficou definido em dois grandes blocos. E se considerarmos Urano como o planeta da liberdade, da igualdade e da fraternidade, cada um desses polos foi confrontado em seu modo de entender esses princípios: o mundo do capitalismo liberal, enfatizando a liberdade individual e considerando a igualdade como uma consequência necessária de tal ênfase; o mundo do socialismo soviético, subordinando o individualismo às necessidades de uma comunidade igualitária. Esta tensão explicita a capacidade da consciência humana para dar resposta à emergência do uraniano, suas possibilidades de compreender a liberdade, com suas intuições e limitações. A Guerra Fria simboliza como a consciência humana conseguiu dar forma à proposta de lidar com um novo registro da qualidade uraniana.
Com a experiência de Hiroshima e Nagasaki, o desenvolvimento da energia atômica prova seu caráter destrutivo e se transforma na base da política militar de persuasão. A acumulação de armas nucleares firma-se como estratégia de ameaça e prevenção. Ao mesmo tempo, como consequência da Segunda Guerra, constituem-se o Estado de Israel e as Nações Unidas. A partir de uma perspectiva uraniana, estes fatos representaram a possibilidade de aquele povo errante, que sofrera as políticas de extermínio do nazismo, constituir seu próprio Estado, e as diferentes nações do mundo se reconhecerem como uma comunidade humana, instituindo valores e princípios comuns e superiores a qualquer lei local e comprometendo-se a resguardá-los. Nenhuma concepção racial, tribal ou nacional pode estar acima do valor universal da dignidade das pessoas.
No nível tecnológico, logo depois de ter iniciado sua etapa sonora em 1928, o cinema se consolida como a principal indústria de entretenimento e de produção artística. Mas a síntese da imagem e da comunicação começa a desenvolver uma nova ferramenta: a televisão.
De 1968-69 a 1974-75: Urano transitando em Libra (fase VII)
O pulso do princípio criativo que se inicia em 1928 chega a sua fase de oposição. O ciclo precisa completar-se, enxergar o que até esse momento não era possível para em seguida ser capaz de incluí-lo. A forma estável adquirida na fase IV (trânsito por Câncer) enfrenta o desafio de saber complementar-se com aquilo que não se tornara visível até o presente. Como símbolo, os protestos de Maio de 68 na França, com palavras de ordem como “a criatividade no poder” e “sejamos realistas, peçamos o impossível”, expressam a instabilidade da ordem alcançada com De Gaulle como referência da resistência e liberação da França 20 anos antes. A Guerra do Vietnã, o espírito revolucionário no âmbito político e cultural e a consolidação da China como potência são alguns dos marcos do transbordamento dessa visão de um mundo estruturado em dois blocos, sustentada nos anos da Guerra Fria. Os movimentos de libertação nacional na África, Oriente Médio e Ásia geram um espaço político novo em nível mundial: os países “não alinhados”. À luz dos acontecimentos de 2011, ganha relevância o fato de que naqueles anos tenha ocorrido a ascensão ao poder de Muamar Kadafi na Líbia e Anwar Sadat no Egito, mais tarde assassinado e substituído por Hosni Mubarak. Esta imagem de um “Terceiro Mundo” questiona a ordem bipolar em torna da qual a atividade humana se organizou logo depois da Segunda Guerra. Os “não alinhados” contam, além disso, com uma variável decisiva: são os donos do petróleo, são os que controlam a fonte de energia do mundo tecnológico. Isto provoca um conflito econômico mundial, a chamada “crise do petróleo”, espelho daquela outra grande crise dos anos 30, com Urano transitando em Áries. A fase libriana refletindo a ariana, o momento de complementação levando a consciência a confrontar a ação inicial.
No desenvolvimento nuclear com fins bélicos, ambas as forças em disputa parecem neutralizar-se. A proliferação de mísseis atômicos chega a converter-se em uma ameaça de destruição global. A situação de “empate”, a efetiva neutralização do inimigo a partir da dissuasão que o próprio arsenal representa, gera uma situação de equilíbrio tenso e frágil. Ninguém dá o primeiro passo para o conflito, mas tampouco para o desarmamento. Assim, na época do trânsito de Urano em Libra, com relação ao uso da energia atômica a situação é incerta, vacilante, sem que ninguém se anime a definir uma direção.
Por outro lado, a chegada à Lua marca uma guinada no desenvolvimento tecnológico iniciado no momento de Urano transitando em Áries. Com efeito, a construção dos primeiros foguetes dirigidos data dos anos 30 e tinha um fim bélico. Não obstante, além dos motivos de segurança e defesa, a Apolo XI abre o horizonte da corrida espacial, o domínio do espaço exterior através da tecnologia como produto e ferramenta da mente humana. Isto acontece em consonância com o desenvolvimento dos computadores e a comunicação via satélite, se bem que sem o mesmo impacto individual já alcançado pela tecnologia da imagem, com a televisão a cores e a disseminação de televisores nos lares.
De 1988 a 1995-96: Urano transitando em Capricórnio (fase X)
Finalmente, o ciclo uraniano que se iniciara em 1928 chega a sua fase culminante com o trânsito por Capricórnio. O novo mundo que parecia abrir-se com a crise do capitalismo, a emergência do fascismo e a consolidação do comunismo nos anos 30; essa nova ordem humana que, com Urano em Câncer, acreditava ter adotado uma forma estável logo depois da derrota do nazismo sob o desenho de dois blocos mundiais separados por uma “cortina de ferro”; essa nova humanidade que, sob Urano em Libra, parecia encontrar maior plenitude com os movimentos libertários do final dos anos 60 e a conquista espacial; esse impulso renovador, criativo e revolucionário chega, enfim, a seu momento de maturação. É tempo de constatar os frutos, de avaliar resultados e de registrar o máximo de suas possibilidades. O que chega a sua plenitude são as potencialidades surgidas no impulso criativo de Urano em Áries de 1928 e consolidadas na forma estável constituída na passagem de Urano em Câncer, por volta de 1948.
As consequências das tragédias do ônibus espacial Challenger e do reator nuclear de Chernobyl (ambas ocorridas em 1986) representam dois episódios que desencadearão a decisão de pôr limite à continuidade tanto da corrida espacial quanto do uso da energia atômica. Paralelamente, por volta desses anos começa o processo em cadeia de queda do bloco soviético e, com ele, o fim daquele mundo organizado em torno da bipolaridade constituída na fase de Urano em Câncer (1948). Isso gerou uma “primavera neoliberal”, anunciando-se inclusive “o fim da história”, metáfora que tentava refletir o triunfo do modelo capitalista em escala mundial e o início de uma era em que esse modelo já não seria questionado.
Por sua vez, o acesso maciço ao computador pessoal se manifesta como o fruto do desenvolvimento tecnológico gerado nos anos 30, dando origem à hiperconectividade entre os seres humanos e a uma revolução nas comunicações sem precedentes na história da humanidade.
De 2010-2011 a 2018-19: Urano transitando em Áries (fase I)
O computador pessoal e a Internet representam a própria substância em que o início do novo ciclo uraniano de 2011 se desenvolverá. Sobre ela se imprimirá o princípio criativo e renovador que se desdobrará nos próximos 84 anos. O livre acesso pessoal à informação da rede global, e o salto de qualidade que isso representa na comunicação e nos vínculos humanos, são fatos de uma dimensão tão vasta que hoje não há ainda como apreciá-la em suas consequências e potencialidades, como não era possível para aqueles que começaram a desenvolver a comunicação por rádio imaginar o microcomputador e a Internet.
Nos acontecimentos de 2010-2011, que pipocaram em cadeia nos países árabes, reclamando transformações sociais e mudanças políticas, foi posto em evidência o caráter revolucionário da conectividade em rede. Esses acontecimentos coletivos deixaram a descoberto as dificuldades (que serão cada vez mais irreversíveis) do aparelho estatal e institucional para controlar a vertigem da livre circulação de informação entre as pessoas.
A crise econômica de 2008 e 2009 nos EUA e Europa tornou a expor a necessidade de reformular a relação entre a liberdade individual, o capital e a intervenção do Estado. Aquela primavera dos anos 1990 terminou deixando uma incerteza ainda não resolvida com relação ao que parecia ser um de seus mais incontestáveis legados: a gestação de uma comunidade europeia e de uma moeda forte.
Na tragédia do terremoto do Japão ficou exposta a vulnerabilidade das construções humanas frente à atividade vital da Terra no paradoxo de sua destrutiva criatividade. Ao mesmo tempo, a ameaça de contaminação radioativa em Fukushima exige uma reavaliação em nível mundial do uso da energia nuclear, uma avaliação mais madura de seus custos e benefícios, além dos slogans idealistas ou da suficiência (quando não indiferença) dos tecnocratas.
Ficou evidente, além disso, que a hiperconectividade entre todos os habitantes da Terra, além de diferenças de idioma, nacionalidade, raça ou religião, permite um nível de contato sensível com a informação, de ressonância compassiva com o drama humano que as imagens transmitem, de uma contundência tal que não necessita da intermediação da palavra, nem de nenhuma interpretação ideológica ou religiosa para nos fazer estremecer. Trata-se de uma possibilidade inédita de sentir a dimensão transpessoal que atravessa a experiência de nossa consciência… E aqui Netuno transitando em Peixes (a partir de abril de 2011 e esgotando um ciclo de 168 anos) possivelmente poderá nos revelar significados que certamente mexerão conosco.