Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, os chefes de estado de todo o mundo discutem, cada vez com maior intensidade, os riscos decorrentes da degradação do meio ambiente. A ECO-92, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, teve uma dimensão inédita e colocou na agenda política, em definitivo, o conceito de desenvolvimento sustentável.
Nos últimos anos tivemos o Protocolo de Kyoto (1997), a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (Bali, 2007) e o Acordo de Copenhague (2009), sem falar em todas as demais COPs, até chegar à versão atual: a COP 28, realizada em Dubai em novembro-dezembro de 2023.
Sem dúvida, o aquecimento global é a grande vedete do momento, exigindo urgentes medidas de mitigação. Mas o que diz o mapa do momento de início do evento? Podemos esperar ações mais efetivas?
Chama a atenção de imediato a importância de Vênus como planeta mais elevado da carta, em Libra — seu próprio domicílio —, dispondo de Júpiter e Urano em Touro e, indiretamente, de Sol e Marte em Sagitário. Ocupa a casa 9, das questões de alcance global, e é também o planeta-guia do modelo planetário da carta.
A teoria dos modelos planetários foi desenvolvida por Marc Edmund Jones, na década de 1940, e baseia-se na ideia de que o desenho geral formado pela distribuição dos planetas pela carta já é, em si, revelador de algumas características.
No caso, trata-se de uma Locomotiva, modelo em que os dez planetas habitualmente considerados (do Sol a Plutão) ocupam dois terços da mandala, enquanto o último terço permanece vazio. A Locomotiva é um modelo que expressa um forte ímpeto de atuação, mas com tendência a preservar o movimento já iniciado. O planeta de maior destaque é aquele que “puxa” os demais no sentido horário, como se fosse a locomotiva que arrasta os vagões do trem atrás de si.
Vênus: a locomotiva jeitosa arrastando vagões desconjuntados
Vênus tem um simbolismo que favorece a diplomacia e os acordos, especialmente quando ocupa seu próprio signo. Contudo, faz uma oposição bastante fechada com o planeta anão Éris, descoberto em 2005. Éris — a deusa da discórdia do mito grego — simboliza o desafio de enfrentar uma situação inédita, de alto risco e que só pode ser resolvida a partir de uma ação coordenada e inclusiva.
A situação inédita com a qual a humanidade agora se defronta é o aquecimento global, que ameaça, nas previsões mais sombrias, mudar radicalmente a vida e a economia do planeta nas próximas décadas.
Vênus em Libra na 9 (as relações internacionais) oposta a Éris em Áries na casa 3 (o meio ambiente) mostra o tamanho do desafio da COP 28: ou as lideranças mundiais se entendem — e rápido — ou caminharemos todos para um caos climático de proporções inimagináveis.
Ocorre que Vênus está em quadratura com Plutão, um dos regentes do Meio do Céu, em Escorpião, cujo outro regente, Marte, também está envolvido numa tensa quadratura com Saturno na casa 2.
Plutão na casa 1, muito perto do Ascendente, indica as enormes e inevitáveis transformações prestes a emergir. Já Saturno, regente do Ascendente capricorniano, ocupa a casa 2, da economia, mostrando que o interesse imediato das grandes potências industriais mais uma vez tentará sabotar a urgência das providências. Saturno em Peixes, signo das águas, em quadratura com Marte, significador de calor, também fala do risco de mais e mais furacões, tufões e tornados, caso o aquecimento dos oceanos não possa ser revertido.
Devo, não nego, pago quando puder
Júpiter no Fundo do Céu é o planeta mais angular da carta. Por ser regente das casas 11 (das organizações não governamentais) e 12 (dos assuntos varridos para debaixo do tapete), mostra que as ONGs ambientalistas trarão para a discussão alguns assuntos incômodos, que as maiores economias do mundo não parecem dispostas a enfrentar: a dependência excessiva de uma matriz energética ainda baseada no petróleo, o destino do lixo plástico e assim por diante. As ONGs estarão na oposição aos donos do poder, e provavelmente farão muito barulho.
Um último ponto a considerar é a presença da Parte da Fortuna na cúspide da casa 8 da cerimônia de abertura. A casa 8 tem conotação financeira, e diz respeito à gestão de recursos compartilhados. Um dos tópicos da pauta da COP 28 é a contribuição de cada país para a manutenção de fundos de combate à mudança climática.
Estarão na ordem do dia questões como a dívida de algumas potências econômicas junto a organismos internacionais (e quem mais deve no mundo são exatamente os Estados Unidos e demais países do G-7). Portanto, preparemo-nos para ouvir muitas versões eruditas e diplomaticamente elegantes do “devo, não nego, pago quando puder”.
O que podemos esperar
A COP 28 pode ser um sucesso diplomático. Afinal, colocar na mesma foto de encerramento americanos e chineses, russos e ucranianos, sem falar de todas as lideranças do Oriente Médio, já será um feito e tanto. Todavia, não devemos ter expectativas muito otimistas com relação aos resultados práticos da COP 28, com uma louvável exceção: como a Lua em Câncer, na casa 6, faz trígono com o Meio do Céu, podemos esperar um avanço real em questões relacionadas à água potável e à produção de alimentos, dois assuntos de natureza lunar.
É o mínimo do mínimo, mas já é alguma coisa.