Decifrar os mapas da Coreia do Norte e da Coreia do Sul, assim como entender seu padrão de ativações, é uma das tarefas mais urgentes do astrólogo interessado em temas mundiais. Ao lado de Índia e Paquistão, Síria, Israel e seus vizinhos, Iraque e Irã, sem falar nos Estados Unidos e nos países da região do Cáucaso, a Coreia do Norte é um dos grandes barris de pólvora da atualidade, podendo explodir a qualquer momento. Este artigo conta a primeira parte da história: como a península livrou-se do domínio japonês e como foi dividida em duas áreas de influência. A independência do Sul e do Norte e a subsequente guerra que matou quase um milhão de combatentes estão no artigo seguinte: Duas Coreias, muitos mapas.
A divisão das duas Coreias
Num encontro à meia-noite, de 10 para 11 de agosto de 1945, oficiais do Departamento de Guerra, incluindo John J. McCloy e Dean Rusk, decidiram tomar o paralelo 38º como linha divisória entre as zonas de influência soviética e americana na Coreia. Nem as forças soviéticas nem os coreanos foram consultados. Em consequência, quando 25 mil soldados americanos ocuparam a parte sul da Coreia no início de setembro de 1945, descobriram-se no meio de um forte movimento nativo pela independência e pela mudança da herança colonial. Tudo o que os coreanos queriam era resolver seus problemas por conta própria, o que os fazia muito pouco tolerantes com relação a qualquer insinuação de que eles ainda não estariam prontos para a autodeterminação. [Fonte: The Library of Congress Country Studies (on-line), North Korea: THE NATIONAL DIVISION AND THE ORIGINS OF THE DPRK.]
Para entender melhor: durante décadas a península coreana permanecera na condição de província anexada pelo Japão. Com a derrota nipônica para os Estados Unidos na Segunda Guerra, a península foi ocupada simultaneamente por tropas americanas, que desembarcaram ao sul, e por divisões soviéticas, que invadiram a região pelo norte. Se bem que as duas potências tivessem atuado como aliadas durante a II Grande Guerra, a partir do momento em que a derrota de alemães e japoneses se tornou inevitável as diferenças entre ambas começaram a aparecer. Americanos e soviéticos trataram então de ampliar suas respectivas áreas de influência, naquilo que se convencionou chamar “Guerra Fria”. Os soviéticos ocuparam toda a Europa Oriental, que passaria a constituir, daí em diante, a chamada “Cortina de Ferro”. O mesmo movimento poderia ser realizado na Coreia, o que motivou a decisão americana de promover a divisão das áreas de influência.
O mapa de 10 de agosto de 1945 – apenas quatro dias depois da bomba de Hiroshima, diga-se de passagem –, não é de forma alguma o da constituição do Estado da Coreia do Norte, mas sim o de um momento importantíssimo na história da Guerra Fria, com consequências de largo alcance na geopolítica asiática. Mais ainda: tal ato não segrega o norte do restante da península, pois o que ocorre é exatamente o oposto: é o sul que se separa do norte por uma decisão da potência de ocupação.
O mapa de 10 de agosto pode, assim, ser considerado como o da divisão da península coreana em duas zonas de influência, mas não o da constituição das duas Coreias, que permaneciam ainda na condição de territórios ocupados. Analisar esta carta significa analisar o momento em que os Estados Unidos tomaram uma decisão cujas consequências ainda afetam a vida de milhões de pessoas até os dias de hoje.
Os mapas da Independência e do Governo Provisório
Para os próprios coreanos, mais importante é o Gwangbokjeol, um feriado nacional comemorado nas duas Coreias para lembrar a independência com relação ao Japão, em 15 de agosto de 1945. Na verdade, o que ocorreu nesta data foi a rendição do Japão aos aliados, mediante a transmissão de um comunicado solene do imperador Hirohito. Este comunicado fora gravado na véspera, em linguagem formal e erudita, com termos utilizados exclusivamente na corte, de difícil compreensão pela população comum. Além do mais, não utilizava uma única vez a palavra rendição. O anúncio radiofônico, feito exatamente ao meio-dia (hora legal de Tóquio), acabou gerando grande perplexidade, sendo necessária uma segunda comunicação, desta vez pelo locutor da emissora oficial, explicando o real significado da declaração.
O mapa do anúncio da rendição (o chamado Jewel Voice Broadcast), quando calculado para Tóquio, apresenta um Ascendente em 17º37′ de Escorpião. A Lua, também em Escorpião, encontra-se na casa 12, junto ao Ascendente. A carta apresenta todos os dez planetas concentrados entre Gêmeos e Escorpião, sendo que a violenta conjunção Marte-Urano na casa 8 desempenha um papel proeminante, ocupando Marte a função de planeta guia da configuração. De uma forma geral, é um mapa que fala de morte e da possibilidade de um posterior renascimento (Escorpião no Ascendente e seu regente, Marte, na 8), assim como da violência que será despertada em torno do destino dos territórios estrangeiros ocupados (a herança do império derrotado – também um assunto de casa 8).
Quando relocado para Seul e Pyongyang, o Ascendente permanece em Escorpião e a distribuição dos planetas pelas casas é bastante semelhante. Contudo, nas capitais coreanas é Plutão, e não o Sol, que ocupa o Meio do Céu. O sentido é claro: para os coreanos, a rendição japonesa tem o sentido de um renascimento (um dos sentidos de Plutão) e de oportunidade para restaurar a identidade nacional (Plutão como regente da casa 1 na casa 10).
Na verdade, a derrota do Japão já estava prefigurada desde a semana anterior, com o lançamento da primeira bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima. Enfraquecido e desarticulado, o império agonizava. Contudo, livrar-se do domínio japonês não significava ainda autonomia para Coreia. Tanto que o destino da península já estava definido desde o dia 10 (acordo de divisão), e as tropas soviéticas já ocupavam na prática a parte norte do país desde o dia 14 de agosto.
No sul, existe ainda mais uma data para confundir os astrólogos: trata-se de 6 de setembro de 1945, quando pela primeira vez uma assembleia de representantes do povo coreano teve lugar em Seul, proclamando um governo provisório. Esta data pode ser considerada uma alternativa para a fundação da Coreia do Sul. No dia seguinte, porém, os Estados Unidos anunciaram o General John R. Hodge como novo administrador do país. Recusando-se a receber os representantes do “governo provisório”, ele desembarcou com suas tropas no porto de Incheon e tratou de promover uma ocupação militar. Em 9 de setembro de 1945, os últimos líderes da ocupação japonesa finalmente transmitiram o poder aos americanos, numa cerimônia militar.