A carta astrológica de Israel desempenha um papel importante na análise dos desdobramentos do conflito iniciado no sábado, 7 de outubro. É o único mapa com horário investigável, já que a criação do Hamas não tem sequer uma data consensual, podendo ter acontecido em diversos momentos entre dezembro de 1987 e janeiro de 1988.
Não há dúvida quanto à data da fundação do Estado de Israel: 14 de maio de 1948. Contudo, qual o horário da Independência? Vamos aos fatos.
Do final da Primeira Guerra Mundial a 1948, toda a região do Levante esteve sob a administração de potências europeias. O Reino Unido ocupava as atuais áreas de Israel, Jordânia e Palestina, enquanto a França mantinha controle sobre Líbano e Síria. Em 29 de novembro de 1947 as Nações Unidas aprovaram uma resolução prevendo a divisão da Palestina entre dois estados, um árabe e outro judeu. Contudo, ingerências políticas atropelaram as pretensões dos palestinos, a quem foi destinada uma área de terra considerada insuficiente.
Numa situação de forte tensão, com uma coalizão de forças árabes prontas para iniciar uma invasão, a passagem do poder para os judeus foi marcada para 14 de maio de 1948. A cerimônia aconteceu no museu de Tel-Aviv. Começou às 16:00 (“pontualmente”, segundo Dominique Lapierre e Larry Collins, e “por volta de”, segundo narração do áudio histórico recolhido ao arquivo de Israel) e constou de um discurso proferido pelo líder sionista David Ben-Gurion, que mais tarde seria o primeiro-ministro. O discurso tinha apenas 19 parágrafos e seu momento culminante está no 11º parágrafo, após o qual ocorre uma demorada salva de palmas:
Assim, nós, membros do Conselho do Povo, representantes da comunidade judaica de Eretz-Israel e do Movimento Sionista, estamos aqui reunidos no dia do término do mandato britânico e, em virtude de nosso natural e histórico direito e com a força da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, declaro o estabelecimento de um estado judaico em Eretz-Israel, a ser conhecido como o Estado de Israel.
Após o discurso, as autoridades presentes foram convidadas a assinar a declaração de independência. Formou-se uma fila e 37 pessoas colocaram sua assinatura no pergaminho. Em seguida, Ben-Gurion comunicou suas primeiras decisões e, batendo na mesa com um martelo de nogueira, deu por encerrada a cerimônia.
No total, há cinco horários possíveis. Vejamos os prós e contras de cada um.
Cinco horários possíveis para Israel
16h00min – Este é o momento em que David Ben-Gurion dá início à assembleia no Museu de Tel-Aviv, confirmado por várias fontes. O Ascendente corresponde a 23º02′ de Libra. É bastante comum tomar o horário do início de um ato público como referência para levantar o mapa da criação ou independência de um país. Contudo, não é uma prática consensual. No caso de Israel, o momento culminante da assembleia certamente não foi o de sua abertura, como veremos a seguir. Além do mais, a assembleia apenas formalizava decisões que já haviam sido tomadas desde a Resolução da ONU, em 1947, e amplamente negociadas com os ocupantes britânicos da Palestina.
16h37min – Horário em que Ben-Gurion declara criado o Estado de Israel e encerra a reunião. Este horário é adotado por duas fontes respeitáveis: a obra Mundane Astrology, de Nick Campion, Michael Baigent e Charles Harvey; e o livro O Jerusalem!, resultante de um monumental trabalho de jornalismo investigativo sobre a independência de Israel, por Larry Collins e Dominique Lapierre.
O Ascendente desta carta encontra-se em 0º52′ de Escorpião. O Astro-Databank cita também o horário de 16h37min30s como o momento em que Ben-Gurion enuncia a frase “O Estado de Israel nasceu”, conforme registro feito pela Rádio de Israel, que transmitia ao vivo. O Ascendente, neste caso, estaria em 0º59′ de Escorpião.
16h32min – O Astro-Databank cita pesquisa de Isaac Starkman, em 2014, corrigindo em cinco minutos para menos o horário em que Ben-Gurion teria declarado a fundação do Estado de Israel. Nesta hipótese, o Ascendente retorna para 29º49′ de Libra.
16h15min07s – Horário proposto pelo renomado astrólogo suíço Alexander Marr, com base em técnicas de retificação. Não temos detalhes da metodologia utilizada. Nesta hipótese, o Ascendente passa para 26º15′ de Libra.
A esquecida opção da meia-noite
00h00min00s – O 11º parágrafo do discurso lido por Ben-Gurion diz textualmente:
DECLARAMOS que, com validade a partir do momento do término do Mandato Britânico, esta noite, véspera do sábado, (…) o Conselho do Povo atuará como Conselho Provisório de Estado.
No calendário judaico, o novo dia não começa à meia-noite, e sim no momento do pôr do sol, que, naquele dia, teve lugar às 18h26. Ocorre que o Mandato Britânico sobre a Palestina extinguiu-se não em consonância com o calendário judaico, mas sim com o ocidental: exatamente à meia-noite, na passagem do dia 14 para o dia 15! Portanto, o Ascendente calculado para este horário não pode ser desprezado, e seu Ascendente corresponde a 14º04′ de Aquário. Eis o mapa:
Os prós e contras de cada mapa
Ao levantar a carta de um evento em Astrologia Mundial, a pergunta que cabe responder é: qual a ocorrência que estamos tentando explicar? No caso em pauta, o mapa desejado é o que reflete o nascimento de Israel como um estado soberano e com autodeterminação. Durante as décadas anteriores, o território estivera sob a tutela do Reino Unido. No momento em que teve início a reunião em que foi lida a declaração de independência, Israel ainda não existia como estado. Portanto, o horário das 16h não nos parece o marco adequado.
A retificação proposta por Marr provavelmente se refere ao mesmo evento – o momento inicial da reunião, padecendo, portanto, do mesmo vício. É a aposição das assinaturas no pergaminho que expressa, no plano simbólico, o compromisso e a decisão das lideranças judaicas quanto à criação de um novo país. Por isso, Ben-Gurion aguarda a assinatura de todos para dar o Estado de Israel como realidade. A dúvida é apenas quanto ao horário: 19h32 (últimos minutos de Libra) ou 19h37 (primeiro grau de Escorpião)?
O Ascendente expressa, entre outros significados, a imagem que um país quer fazer de si mesmo e como é visto pelo resto do mundo. Já o Meio do Céu representa o poder executivo do país e as linhas mestras de sua atuação político-administrativa. Israel já nasceu enfrentando uma batalha por sua sobrevivência. No próprio site do Ministério das Relações Exteriores de Israel podemos ler que:
Menos de 24 horas depois [da independência], os exércitos regulares do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram o país, forçando Israel a defender a soberania que acabara de reconquistar.
Batalhas aconteceram com frequência durante a existência de Israel, que mantém um dos exércitos mais bem equipados do mundo, com considerável força dissuasória (Marte). É um país permanentemente em estado de alerta, com enorme resiliência e capacidade de reversão de situações críticas. E mais: Israel tem o serviço secreto mais temido do mundo, o Mossad.
Tudo isso faz pensar em Escorpião e seus dois regentes, Marte e Plutão. Ponto, portanto, para as alternativas que apresentam Escorpião no Ascendente ou no Meio do Céu e qualquer de seus regentes dignificado pela posição angular. Esta é uma situação que se apresenta nas alternativas das 00:00 (Escorpião no Meio do Céu e Plutão-Saturno enquadrando o Descendente, relacionado aos inimigos e aos conflitos abertos) e das 16:37 (Escorpião no Ascendente e seus dois regentes na casa 10, estando Plutão a nove graus do Meio do Céu).
Se bem que não possam ser de todo descartadas, entendemos que as três hipóteses com Ascendente em Libra não dão conta destas características fundamentais. Ficamos, então, provisoriamente e sem considerar retificações com base em eventos importantes da história do país, com as duas hipóteses referidas no parágrafo anterior – ou até mesmo com a hipótese das 16:32, desde que acrescida em mais 50 segundos, o que deixaria o Ascendente em 00º00′ de Escorpião.
Cabe lembrar aqui uma analogia. No Brasil, quando um novo presidente da República ascende ao poder, passa por dois momentos fortemente investidos de significado simbólico: a posse no Congresso, consubstanciada na assinatura do livro de posse, e a transmissão da faixa, no parlatório do Palácio do Planalto. Estes dois momentos, afastados entre si por um intervalo de tempo que pode chegar a mais de uma hora, não são antagônicos, mas, antes, complementares.
O mesmo fenômeno parece ter ocorrido na independência de Israel: a assinatura do pergaminho e a declaração formal da autonomia, com o Ascendente entrando em Escorpião, e a independência de fato, com o fim do mandato britânico sobre o país, com Escorpião no Meio do Céu.