O grande fato político do início de 2011 foi o levante da população de diversos países muçulmanos contra seus ditadores de plantão. O processo começou na Tunísia e derrubou o presidente Ben Ali, no poder há 24 anos. Em seguida, avançou para o Egito, onde o povo nas ruas pôs fim a 29 anos de governo de Hosni Mubarak. Daí a revolta se alastrou para a vizinha Líbia, onde Muammar Kadafi perdeu a vida e o governo que mantinha desde 1969, à custa de forte repressão. Neste artigo analisamos como começou a Primavera Árabe.
Tunísia, a origem da revolta
A origem da Primavera Árabe foi a autoimolação do vendedor de frutas tunisiano Mohamad Bouazizi, que ateou fogo às vestes em 17 de dezembro de 2010, diante da sede do governo local, em protesto contra os constantes extorsões que costumava sofrer das autoridades policiais. Bouazizi morreu no fim da tarde de 4 de janeiro de 2011. No dia seguinte, 5.000 pessoas participaram de sua procissão funerária, e a notícia desencadeou movimentos de protesto em todo o país. Daí em diante o povo não saiu mais das ruas, até que em 14 de janeiro o presidente Ben Ali, que governava ditatorialmente desde 1987, fugiu para a Arábia Saudita.
Bouazizi, o (anti)herói de todo o levante árabe, nasceu em 29 de março de 1984, em Sidi Bouzid, Tunísia (horário desconhecido), e faleceu com apenas 26 anos. Tinha dois planetas em Áries e três em Escorpião, dois signos regidos por Marte (o fogo, a revolta, a violência). Com o Sol em Áries recebendo, na carta natal, quadraturas de Júpiter e Netuno em Capricórnio, Bouazizi tinha ao mesmo tempo a disposição para o martírio e o desejo de fazer algo notável – um grande gesto heroico para denunciar a humilhação do povo tunisiano. No dia em que cometeu seu ato tresloucado, Marte transitava em 7º de Capricórnio, fechando uma quadratura com o Sol natal e ativando toda a configuração Sol-Netuno-Júpiter. Como Plutão em trânsito também já ativava por quadratura o Sol natal, é compreensível que tenha escrito em sua mensagem de despedida, no Facebook:
Estou viajando mãe. Perdoe-me. Reprovação e culpa não vão ser úteis. Estou perdido e está fora das minhas mãos. Perdoe-me se não fiz como você disse e desobedeci suas ordens. Culpe a era em que vivemos, não me culpe. Agora vou e não vou voltar. Repare que eu não chorei e não caíram lágrimas de meus olhos. Não há mais espaço para reprovações ou culpa nessa época de traição na terra do povo. Não estou me sentindo normal e nem no meu estado certo. Estou viajando e peço a quem conduz a viagem esquecer.
Sintomaticamente, o canal utilizado pelo vendedor de frutas Bouazizi para deixar sua mensagem de despedida foi uma rede social, conceito que agrega significados de Aquário e Peixes. A Tunísia tem uma carta de independência onde o Sol se encontra em 29º de Peixes, grau ativado, durante a revolta, pelo trânsito de Urano. Sendo este planeta exatamente o regente moderno de Aquário, sua presença sobre o Sol da Tunísia naquele momento ajuda a compreender porque a deposição de Ben Ali não foi fruto de um golpe militar organizado, mas de um movimento de cidadãos, espontâneo e horizontalmente articulado com a ajuda de ferramentas tecnológicas (Facebook, SMS e Twitter).
Egito: o papel de Saturno
No caso do Egito, a crise se explica por um duplo retorno de Saturno.
Mubarak subiu ao poder quando do assassinato do presidente anterior, Anwar Al Sadat, em 14 de outubro de 1981. Naquele momento, Saturno estava em 14º de Libra, numa conjunção aberta com o Sol em 21º de Libra e Plutão em 24º de Libra. Na data em que, pressionado por 18 dias de protesto popular, Mubarak apresentou sua renúncia ao governo egípcio, Saturno estava de volta à posição de 1981, com órbita de apenas dois graus.
O desfecho do caso egípcio só não foi pior em função da presença de Marte, Sol e Netuno transitando em Aquário e formando trígono a Sol-Plutão da posse de Mubarak. Os trígonos não evitaram a renúncia, mas pouparam o país de um banho de sangue como o que depois aconteceu na Líbia.
Mubarak, diga-se de passagem, nasceu em 4 de maio de 1928, em Monufia, Egito. Com Sol e Mercúrio em Touro opostos à Lua em Escorpião, o ex-líder egípcio é um tipo obstinado, teimoso e agarrado ao poder. No auge da crise, a imprensa brasileira comparou-o diversas vezes a José Sarney, e o paralelo não poderia ser mais correto: Sarney, cujo Sol e Ascendente estão em Touro, é um tipo tão fixo e obstinado quanto Mubarak – e até mesmo mais longevo.
O segundo retorno de Saturno diz respeito ao próprio mapa da grande data nacional, a Proclamação da República do Egito, que ocorreu no Cairo, em 18 de junho de 1953, às 23h30 UT, segundo o astrólogo inglês Nicholas Campion ou às 23h40 UT, segundo outras fontes. Este mapa deixa o Egito moderno com o Ascendente entre o último grau de Áries e o terceiro grau de Touro, o Sol em Gêmeos e a Lua em Virgem (um duplo toque mercuriano). No mapa do Egito, Saturno e Netuno estão em conjunção em Libra, aspecto que foi ativado pelo retorno de Saturno à mesma posição no início de 2011.
E a quadratura Urano-Plutão?
A onda revolucionária conhecida como Primavera Árabe já começava a esgotar-se no momento em que a quadratura Urano-Plutão ainda estava em formação, no início de 2012. O símbolo mais apropriado para a primeira fase do movimento – as revoltas populares na Tunísia, Egito, Líbia, Síria, Iêmen e outros países da região – parece ser o ingresso de Urano em Áries. As primeiras revoltas ocorreram ainda com Urano nos dois últimos graus de Peixes, enquanto o auge da efervescência popular correspondente exatamente à entrada deste planeta no signo de Marte. Mesmo assim, há que considerar que, em cada país, fatores particulares, relacionados a mapas nacionais e ciclos de importância local, explicam as características particulares assumidas pelo movimento.
O que pode ser associado com toda a clareza à quadratura Urano-Plutão é a fase seguinte, que se iniciou em 2012 e se estende, em diversos países, até os dias de hoje. É o período em que a revolta inicial dá lugar a sangrentas guerras civis (Iraque, Sìria) ou à cronificação do caos e retorno à barbárie, como vem ocorrendo na Líbia. O autointitulado Estado Islâmico, que ocupa frações importantes dos territórios de Síria e Iraque, é a expressão mais acabada dessa nova realidade pós-Primavera Árabe. Em especial, a natureza impiedosa dos combates e a brutalidade midiática das decapitações correspondem, com toda a clareza, ao simbolismo do ciclo Urano-Plutão, no qual as transformações sociais e políticas tendem a ocorrer como um rolo compressor, com pouco respeito pela vida humana.