Existem diversas alternativas de carta para as Coreias do Norte e do Sul. Para entender qual delas representa a escolha mais adequada, é necessário considerar os fatos. No artigo O Japão, os Estados Unidos e a divisão da Coreia analisamos as etapas iniciais do processo: a ocupação da península coreana pelo Japão (1910-1945) o colapso do poderio japonês e a divisão da Coreia em duas áreas de influência, numa decisão unilateral tomada em Washington, na noite de 10 para 11 de agosto de 1945. O inicial artigo apresenta duas cartas que são essenciais para a compreensão das tensões no Extremo Oriente, mas não são ainda representativos do surgimento das modernas Coreia do Sul e Coreia do Norte como estados independentes. É o que veremos a seguir.
Dois novos países soberanos
As duas metades da Coreia permaneceriam ainda três anos na condição de territórios administrados e ocupados por tropas estrangeiras, até que, quase ao mesmo tempo, americanos e soviéticos “concedem a independência” a suas respectivas áreas de influência. É uma independência vigiada e militarizada, mas mesmo assim inevitável, tendo em vista o forte sentimento autonomista que subsistia na população.
Na Coreia as linhas já estavam traçadas. Com as tropas apoiadas pelos soviéticos ao norte e as forças americanas ao sul, os esforços conduzidos pelas Nações Unidos para reunificar pacificamente o país fracassaram. Em 1948 os sul-coreanos elegeram Syngman Rhee presidente da República da Coreia. Em resposta, os soviéticos logo criaram e reconheceram a República Democrática da Coreia do Norte. A linha divisória entre os dois países, agora sancionada pelas Nações Unidas, continuou a tomar como base o paralelo 38°.
(Fonte: http://www.quartermaster.army.mil)
Os Estados Unidos só transferem o poder aos locais quando conseguem eleger um político de viés ditatorial e totalmente subordinado aos interesses americanos – Syngman Rhee, que governaria o país com mão de ferro por décadas. A instalação do primeiro governo da Coreia do Sul acontece em 15 agosto de 1948 (exatamente três anos após a rendição japonesa), enfatizando o Sol leonino desse país.
Não se conhece o horário exato da independência. Sabe-se apenas que ocorreu em horário diurno, em função das fotos que documentaram a cerimônia. Assim, são possíveis os Ascendentes desde o final de Leão até o início de Aquário. A Lua pode estar no final de Sagitário ou início de Capricórnio. É uma carta com ênfase no elemento Fogo, com destaque para a configuração formada pela conjunção Sol-Saturno em Leão, em trígono com Júpiter em Sagitário. Este Júpiter em domicílio, em trígono com todo o stellium em Leão, fala da importância da educação e da disciplina na vida deste país, assim como na vocação exportadora. Predominam na carta energias masculinas (Fogo e Ar), indicando a possibilidade do florescimento de uma cultura otimista e extrovertida.
Já a fundação oficial da Coreia do Norte acontece menos de um mês mais tarde, em 9 de setembro de 1948. A data nacional da Coreia do Norte é, desde então, 9 de setembro, sempre marcada por agressivas exibições de poderio militar e comemorações cívicas. A carta para a fundação oficial, cujo horário se desconhece, parece ser a mais indicada para a compreensão de como a Coreia do Norte conduz seus assuntos internos e como se vê como nação.
Pouco se sabe sobre o horário do nascimento da República Democrática Popular da Coreia (nome oficial da Coreia do Norte). Sabe-se apenas que a cerimônia oficial contou com uma parada militar em horário diurno, com sol já elevado, o que limita os Ascendentes possíveis a Escorpião ou Sagitário (os mais prováveis) com alguma chance também para Libra ou Capricórnio. O astrólogo australiano Jamie Partridge, após detalhado trabalho de retificação, propõe o horário das 12:39 +09:00, correspondendo a um Ascendente em 2º48′ de Sagitário, em estreita conjunção com a Lua do país.
Quando a Coreia do Norte realizou seu primeiro teste nuclear, em meados de 2006, esta carta passava por fortes ativações, com destaque para dois trânsitos: o de Urano em Peixes oposto ao Sol radical em Virgem e o de Saturno chegando à posição radical de Plutão em Leão. Combinados, estes trânsitos podem traduzir a rebeldia (Urano-Sol) da Coreia do Norte em admitir qualquer espécie de controle (Saturno) sobre seu programa nuclear (Plutão).
O programa nuclear norte-coreano voltou a ser notícia na imprensa ocidental a partir de 2013, quando uma sequência de testes, com armamento cada vez mais poderoso, colocou em alerta os três tradicionais inimigos: Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos. De uma forma geral, pode-se considerar Urano o fator comum em todos os testes, na medida em que este planeta, em trânsito por Áries, ativou sucessivamente todos os planetas em Leão, Sagitário e Libra da carta radical do país.
Se considerarmos a teoria dos Modelos Planetários de Marc Edmund Jones, a carta da Coreia do Norte corresponde ao modelo Taça (também chamado Tigela), onde o planeta com função mais destacada é sempre o primeiro no sentido horário. No caso, este planeta-guia é exatamente Urano em Câncer. Uma Taça “puxada” por Urano pode indicar um país que preza de forma desproporcional a própria autonomia e autossuficiência.
Duas diferenças marcantes distinguem as cartas radicais das duas Coreias: na Coreia do Sul, Marte está exilado em Libra e em conjunção com Netuno, em concordância com um país com forças armadas relativamente reduzidas e poderio industrial ligado à indústria da imagem e do entretenimento (Samsung, LG etc.). Já na Coreia do Norte, Marte está domiciliado em Escorpião e em trígono com Urano, em concordância com um país armado até os dentes e adepto de uma ousada beligerância. Outra diferença notável é que, enquanto a Coreia do Sul apresenta um trígono Sol-Júpiter, na Coreia do Norte este contato surge na forma de quadratura, indicando dificuldades na relação com o exterior e na gestão de sua própria economia – sem falar na natureza nada democrática do regime.
Desde sua fundação, a Coreia do Norte sempre manteve forte rivalidade para com os Estados Unidos. O corrosivo e enganador Netuno ocupa, no mapa norte-coreano, uma posição que o coloca em quadratura com o Sol dos Estados Unidos, em Câncer, além de formar conjunção com o Saturno americano, em Libra. Não é sem motivo que americanos e norte-coreanos jamais se entenderam. A relação entre os dois países é um diálogo de surdos, sendo compreensível que Washington defina o regime de Pyongyang como não confiável (Sol-Netuno em aspecto tenso!). Ocorre que os mesmíssimos aspectos também se apresentam na sinastria entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Do ponto de vista astrológico, a relação entre Washington e Seul parece muito mais frágil do que a amizade que os dois países insistem em exibir. Na verdade, os Estados Unidos tendem a sofrer fortes desgastes com as duas Coreias, o que torna altamente desaconselhável um possível envolvimento do país numa nova guerra no Extremo Oriente. Trata-se de um conflito em que os americanos só têm a perder.
Os mapas da guerra e da paz
Mais duas cartas, desta vez com horário preciso, também devem ser levada em conta para a plena compreensão do imbroglio coreano:
Às quatro horas da manhã de domingo, 25 de junho de 1950, projéteis de artilharia começam a chover sobre Kaesong, a antiga capital coreana. Em seguida, vêm as tropas norte-coreanas, que cruzam o paralelo 38º e atacam a Coreia do Sul com todas as forças. Horas mais tarde, numa reunião de emergência, o Conselho de Segurança da ONU aprova uma resolução apelando por um cessar-fogo seguido de imediata retirada das forças invasoras. O exército da Coreia do Norte ignora a resolução e continua sua rápida ofensiva em direção a Seul, encontrando no caminho as surpresas unidades sul-coreanas que, uma a uma, são capturadas ou obrigadas a recuar.
(Fonte: http://www.quartermaster.army.mil)
Trata-se, portanto, do mapa do início da Guerra da Coreia, que se estenderia por longos três anos envolvendo tropas locais, soviéticas, chinesas e americanas. O mapa mostra uma forte quadratura envolvendo Sol, Urano e Marte. São três planetas que, juntos, falam de secura, calor, violência e rápida sucessão de acontecimentos. A quadratura de Saturno a Mercúrio no Ascendente agrega um toque adicional de aridez. Num primeiro momento, foi uma típica guerra-relâmpago, com enormes deslocamentos de tropas em curto espaço de tempo. Aos poucos o conflito estendeu-se por toda a península, com a entrada em cena de chineses e americanos. No total, aproximadamente três milhões de soldados participaram dos combates, com quase um milhão de baixas, além de 2,5 milhões de civis mortos ou feridos.
O acordo que pôs fim a esta guerra foi o Tratado de Panmunjom, redigido em coreano, inglês e chinês e assinado às 10h da manhã (hora local) do dia 27 de julho de 1953, e cujos efeitos passaram a vigir às 22h daquele mesmo dia. O Tratado estabelece diretrizes geopolíticas válidas até hoje, no que diz respeito à fronteira entre os dois países e ao estabelecimento de uma zona desmilitarizada. A Coreia do Sul, diga-se de passagem, continua abrigando um maciço contingente de militares americanos.
Observe-se que o fim das hostilidades correspondeu à conjunção exata entre Netuno e Saturno, na casa 1 do Tratado. O ciclo Saturno-Netuno é um dos significadores mais precisos para a compreensão do regime soviético e também da chamada Guerra Fria, o estado de paz armada que dividiu o mundo em dois blocos a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Cabe lembrar que os momentos mais significativos da Guerra Fria estiveram relacionados a ativações do ciclo Saturno-Netuno, como a construção do Muro de Berlim e a derrocada do regime soviético, durante o governo de Mihail Gorbachev.
A permanência das tensões entre as duas Coreias mostra que a Guerra Fria ainda não acabou, bastando lembrar que a decolagem do programa nuclear norte-coreano ocorreu sob a oposição Saturno-Netuno de 2006. É significativo observar que, no mapa do Tratado, Saturno-Netuno encontram-se em quadratura com os imprevisíveis Marte e Urano na casa 10, indicando a fragilidade do acordo estabelecido em 1953. Tecnicamente, as duas Coreias ainda se encontram em estado de guerra.
Conclusão
Sete diferentes mapas – desde o da divisão inicial da península, decidida em Washington, até o do cessar-fogo após três anos de guerra – fazem das duas Coreias um prato cheio para especulações astrológicas. A escolha de que mapa utilizar depende do objetivo: para tentar entender as tensões entre as duas Coreias, as melhores escolhas são o mapa da divisão (10 de agosto de 1945) e os dois da Guerra da Coreia (início e cessar-fogo). Para entender a natureza particular de cada um dos dois países, assim como os altos e baixos dos respectivos processos históricos, valem o mapa da independência com relação ao domínio japonês (15 de agosto de 1945) e os mapas de fundação nacional do norte e do sul, ambos de 1948. Já a relação de desconfiança mútua entre Estados Unidos e Coreia do Norte precisa ser rastreada em pelo menos três dessas cartas: o da divisão inicial (1945), o da Fundação da Coreia do Norte (1948) e o do cessar-fogo da guerra (1953).