A República Popular da China foi fundada em Pequim às 15h15min de 1º de Outubro de 1949, segundo André Barbault. Possui Sol em Libra e Lua conjunta ao Ascendente Aquário, uma combinação notoriamente coletivista que caracteriza uma nação “comunista” em pleno século XXI; um país cheio de complexidades e contradições que vem sendo capaz de crescer e se tornar uma potência desde que Deng Xiaoping introduziu reformas econômicas e sociais em 1978.
Um stellium envolvendo o Sol na casa VIII permite a associação direta com o movimento revolucionário e a expansão econômica que transformou a civilização milenar. Levando-se em consideração a estagnação e a impotência nos séculos imediatamente anteriores à revolução e o pesadelo dos primeiros anos “modernos”, o país encontrou o caminho de um desenvolvimento voraz que a elevou ao restrito clube dos principais atores do pesado jogo da política, da economia e do meio ambiente globais. É inegável a mudança radical, poderosa e turbulenta da China nos últimos 60 anos.
Este importante ponto focal na casa VIII, principalmente no que tange à conjunção entre Mercúrio, Netuno e Nodo Sul próxima ao Sol, sugere um inspirado caráter revolucionário que, entretanto, perdeu-se em devaneios e loucuras ao longo de sua trajetória. A Revolução Cultural, entre 1966-76, foi a maior e a mais dramática delas. Netuno é, classicamente, referência em temas ligados ao comunismo. A imagem mítica de Mao Zedong, que ajudou a consolidar a revolução chinesa, é a mesma que trouxe inúmeros sofrimentos, caos e fanatismo ao país. Mesmo nos dias de hoje, Mao ainda é o mito maior da China moderna.
Uma destacada conjunção entre o Ascendente e Lua chineses, em Aquário, expressa seu assombroso tamanho populacional. A ideologia da Revolução Chinesa pontuou-se pelo lema do governo “do povo”, concentrando seus esforços na eliminação da propriedade privada, dos privilégios e das classes sociais. O individualismo e os valores burgueses vêm sendo desde então combatidos (agora de modo paradoxal, no hibridismo do comunismo chinês contemporâneo: Libra, e também Aquário), em prol da “nação” e do “povo” chineses. Por outro lado, um regime comunista desde sempre excêntrico que criou uma poderosa via de transformação e de desenvolvimento envolvendo a maior população do mundo criando uma enorme projeção – em diversos níveis – pelos quatro cantos da Terra. Forjou-se um ator muito destacado (o papel que inevitavelmente lhe cabe) no cenário internacional.
A Revolução e Mao Zedong se confundem: excentricidade e carisma
Apesar das mudanças estruturais de 1978, apenas na primeira década do século XXI os caminhos da China começam a lentamente deixar para trás a onipresença simbólica e doutrinária de Mao. A sintonia, o carisma e o apoio que ele e sua revolução permanente receberam devem-se aos trígonos que Sol e Mercúrio recebem da Lua e do Ascendente, ao passo que os descaminhos e a lobotomia social que ele mesmo engendrou estão ligados à oposição de Mercúrio e Netuno ao Nodo Norte. A quadratura entre Sol e Urano aponta para as decisões radicais e irresponsáveis que durante muito tempo criaram convulsões sociais no país. A China foi capaz de muitos planejamentos impulsivos e equivocados que conferiram um certo tipo de errância à vida social chinesa, ainda que a liderança do Partido Comunista Chinês sequer chegasse a ser ameaçada, já que os aspectos favoráveis envolvendo a conjunção em Libra, Lua e Ascendente, simbolizam um forte apoio do povo.
Uma conjunção entre Marte e Plutão possui íntima analogia com o Exército de Libertação Popular (Vermelho), que desde a década de 1920 é o principal braço do PCC. No período pré-revolucionário as duas instituições possuíam um forte caráter simbiótico encontrado ainda hoje. O sextil entre Mercúrio-Netuno-Nodo Norte e Marte-Plutão retrata esta interdependência entre o governo e as forças armadas. Marte e Plutão também podem ser associados à União Soviética, que num primeiro momento foi fundamental para a vitória de Mao e os primeiros anos que se seguiram à revolução (a conjunção está na casa VII – “parcerias” – sendo que Marte está em conjunção exata a Saturno da antiga URSS). A quadratura que Vênus em Escorpião (casa IX) aplica a ambos pode ajudar a entender o rompimento posterior com os russos, e explicar ainda os problemas com o crescimento populacional (e neste caso, a Lua angular indica um foco importante).
Saturno, em Virgem, sem fazer aspectos principais com os outros planetas ou os ângulos, está na casa VIII. Em outro artigo refletiremos sobre sua condição “feral”. Por enquanto, é importante saber que somente ao fim do primeiro ciclo de Saturno a Revolução Chinesa tomou o prumo atual, introduzindo reformas econômicas e controle populacional.
Continuaremos a seguir com as análises sobre a China moderna, tendo em vista a sua relevância cada vez maior no cenário mundial.
China, os primeiros anos da nação libriana
Quando pensamos na China, a imagem óbvia é a de um país continental com a maior população do planeta e uma etnia diferente da nossa. Isso passa a ideia de uma unidade fechada, mas a realidade é diferente.
Toda bandeira nacional é carregada de forte simbolismo. O pavilhão chinês, criado dez dias antes da proclamação do novo Estado, contém cinco estrelas sobre um fundo vermelho. A estrela maior representa o Partido Comunista, assim como as demais, menores, indicam as diferentes classes sociais como o campesinato, o operariado, a burguesia e os capitalistas. No início da revolução, a ideia era fazer o Partido integrar estes quatro segmentos da sociedade chinesa tendo em vista alcançar as diretrizes do socialismo. Uma visão da importância do entendimento e da interdependência entre os estamentos que então compunham a sociedade chinesa para que, liderados pelo PCC, atingissem o sucesso da Revolução. Um simbolismo, portanto, em sintonia com a ênfase Libra-Aquário.
Não devemos nos esquecer que o Kuomintang, derrotado pelo Exército Vermelho, fugiu para a ilha de Formosa (Taiwan) onde ficou protegido por um bloqueio naval norte-americano e criou a República da China sob a liderança de Chiang Kai-Shek. As relações entre os dois países sempre foram muito tensas, como ainda hoje continuam a ser. Tendo o Sol em Libra, é natural que a República Popular da China possua também espectros definidos de alteridade e rivalidade. A pressão de Pequim ante sua “província rebelde” é bastante intensa e, tecnicamente, as duas nações continuam em guerra. [Nota do Editor: em 2016, a eleição da nova presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, reacende a expectativa de atritos com a China. Contudo, tanto o governo da China Continental quanto o novo governo taiuanense, de tendência independentista, têm mantido um tom cauteloso e até amigável no que tange às relações mútuas.]
Todavia, não se trata apenas de Taiwan. A China moderna teve de conviver durante décadas com Hong Kong e Macau, duas possessões europeias no próprio continente que no final dos anos 1990 passaram para o controle chinês. Consideradas “regiões administrativas especiais” (principalmente no caso de Hong Kong, um dos centros financeiros mais dinâmicos do mundo) e dotadas de uma identidade e uma história muito particulares, gozam de um atributo que condiz com a natureza libriana através do lema: “um só país, dois sistemas”. De modo que a unidade chinesa é um caso muito mais complexo do que parece.
A história da República Popular da China é marcada por milhões de mortes, bem ao estilo de sua destacada casa VIII. Os dois anos após a tomada de Pequim viram 5 milhões de mortes devido à repressão aos contra-revolucionários liderados por Taiwan. Nesse meio tempo, o país é reorganizado em moldes comunistas, com a coletivização das terras e o controle estatal da economia. A busca da igualdade completa entre os cidadãos também pode ser entendida como um tema libriano, sendo a China moderna portadora de Netuno (um planeta classicamente associado ao Socialismo) em Libra.
Em 1950, Mao Zedong assinou um tratado de amizade com a antiga URSS, tratado esse fundamental nos primeiros anos da nova China. Aliás, os soviéticos reconheceram o novo governo chinês no dia seguinte à sua proclamação e uma semana depois já tinham um embaixador em Pequim. Já vimos que Marte chinês está na casa VII em conjunção exata a Saturno da URSS. Se a União Soviética teve de criar o comunismo real como experiência inédita e a partir dali assumir a liderança do modelo proletário para o mundo (Netuno em Leão), à China coube o papel de implementar o comunismo diante do exemplo e da sombra do país pioneiro (Netuno em Libra).
O nascimento da nova China permitiu que seu enorme país colaborasse decisivamente para aumentar o poderio do bloco socialista e transformasse o equilíbrio geopolítico no mundo. Portanto, para a URSS era de vital importância investir nas relações com a China e estabelecer uma sólida aliança. Tendo Marte e Plutão em conjunção com Saturno soviético, esta intenção fica clara; o “peso” da China (Marte-Plutão) atendia aos interesses pragmáticos dos russos (Saturno).
Em 14.02.1949 ambos os países assinam o tratado no qual uma estrada de ferro e um porto chineses passavam a ser utilizados em parceria. Curiosamente, isto significava um retorno aos privilégios que a Rússia czarista tivera antes da invasão japonesa ao nordeste da China. Em troca, obteve apoio da força aérea de Moscou contra os bombardeiros de Taiwan e incentivo a 141 empresas industriais de grandes dimensões, abrindo caminho para a criação de bases sólidas para o desenvolvimento da China.
Durante a assinatura do tratado, a Lua progredida aplicava trígono ao Sol natal chinês, dando ênfase à possibilidade de alianças importantes. Pelos trânsitos, Vênus em Aquário estava em conjunção exata a Lua chinesa, estando Vênus em movimento retrógrado aparente, indicando que a sintonia de interesses poderia não durar muito, o que realmente aconteceu. Júpiter, também em Aquário e na casa I, formava trígonos com os planetas em Libra da China. Finalmente, Lua e Mercúrio estavam em conjunção com Júpiter natal. O acordo com a URSS era realmente uma mão na roda.
Com a ênfase em Libra, o caso chinês é um ótimo laboratório para observações acerca de Éris. Nos próximos posts sobre o país abordaremos este importante detalhe.
O maior pirata do mundo!
O mapa da China moderna possui uma característica interessante: Júpiter e Saturno estão em signos de Terra (Capricórnio e Virgem, respectivamente). Júpiter, na casa XII – onde está à vontade -, é dispositor da II e da XI, favorecendo uma série de atividades realizadas nos bastidores, entre elas a pirataria.
Nota-se uma sextilha “exilada”, formada com Vênus em Escorpião, indicando o “potencial” para lucros através de ilícitos. Gilberto Scofield (“Um Brasileiro na China”) afirma que em Pequim é fácil comprar bolsas Prada ou casacos de couro Armani em lojas que mudam de endereço de três em três meses. É possível encontrar de artigos absolutamente idênticos aos originais a imitações grosseiras. Os fornecedores, muitas vezes, são funcionários das fábricas terceirizadas das grandes grifes, que se estabeleceram no país atrás da mão de obra barata.
A capital chinesa possui pelo menos três grandes mercados piratas que, depois da Cidade Proibida e da Grande Muralha, são os maiores pontos turísticos da cidade, recebendo cem mil pessoas por dia. Num deles, uma bolsa Louis Vuitton idêntica à original pode ser comprada por 150 yuans (US$23.00 em janeiro de 2016).
Após quase quatro décadas de abertura econômica, a China se vê pressionada a combater o mercado negro interno e as falsificações, já que é a maior nação pirata do mundo. Para se ter uma ideia, as cópias de produtos brasileiros (de café e guaraná em lata até orelhões) e o contrabando via Paraguai fazem o Brasil perder US$ 4 bilhões por ano. Já o Japão tem prejuízos de US$ 34 bilhões anuais com cópias de suas multinacionais.
Este é um aspecto importante e, levando-se em conta que Vênus é o dispositor do Sol, adquire magnitude considerável. O país tem um parque industrial capaz de produzir virtualmente tudo, além de mão de obra barata, necessidade de gerar empregos e alto nível de empreendedorismo. Até 1986, não havia lei que protegesse marcas e patentes na China. E, até 2002, a lei só protegia as marcas e patentes estrangeiras. Chineses podiam copiar chineses à vontade. Ao entrar para a Organização Mundial do Comércio, em 2001, as coisas começaram a mudar. Lentamente.
Júpiter, regente das casas II e XI, sugere o peso que a pirataria tem no PIB do país e o seu alcance internacional. De Viagra a carros importados, passando por livros e artigos esportivos, a China é capaz de copiar – com talento ou não – quase tudo. Afinal, o país tem uma conjunção entre Sol, Mercúrio e Netuno em Libra e na casa VIII!
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