Durante o trânsito de Plutão em Sagitário, no plano financeiro os mercados tornaram-se muito mais interdependentes, ficando famosa a expressão: “se um espirra de um lado, pega-se gripe na outra parte do mundo”. A internet massificou-se no mesmo período; a própria Astrologia brasileira deve muito ao fato, que permitiu maior integração de uma comunidade antes bem mais dispersa e que passou a poder se comunicar através de sites, blogs, listas e cursos online.
Todavia, nos diversos campos de conhecimento dispomos de uma enorme oferta de informação sem controle e grande parte das vezes sem fundamento algum, o que leva a erros e mal-entendidos. A necessidade de critérios confiáveis e fontes fidedignas nos obriga a sermos cada vez mais seletivos, a despeito do enorme e sedutor volume de relatos e notícias à mão.
Poderíamos enumerar uma série de outros eventos e fenômenos ligados à passagem de Plutão por Sagitário, mas o caso aqui é analisar especificamente a questão religiosa, que teve importância significativa e crescente desde 1995, quando o trânsito se iniciou.
Resumidamente, os trânsitos de Plutão representam complexos processos psíquicos, tanto no plano individual como coletivo, que fazem emergir uma poderosa disposição para a concretização de ambições que, por sua vez, tanto pode levar a realizações incríveis quanto à ruína total e absoluta.
A fissão atômica, um dos símbolos em que há maior concordância do nosso meio em relação ao tema, foi capaz de gerar avanços espetaculares e destruições avassaladoras no último século.
Os dogmas religiosos, com Plutão em Sagitário, tiveram uma considerável propagação, ganhando destaque no plano internacional e interferindo na ordem global. Um conceito, que andava esquecido, ressurgiu para explicar este fenômeno: “fundamentalismo”.
Fala-se muito em fundamentalismo islâmico aqui pelas bandas ocidentais, mas o fato é que um tipo de fundamentalismo cristão encontra-se na própria Casa Branca, seja na forma de resposta ao Islã, seja na obrigatoriedade da tese criacionista nas escolas norte-americanas. Para começar, não precisamos ir muito longe. No ano em que Plutão entrou em Sagitário a intolerância religiosa pôde ser constatada aqui mesmo, num país que se diz orgulhar de sua natureza sincrética e plural.
A entrada de Plutão em Sagitário (17.01.1995 – 01:28 GMT) ocorreu com Saturno em Peixes recebendo quadraturas de Marte e Júpiter em Sagitário. Num prenúncio do que estava por vir, tínhamos aspectos que indicavam a possibilidade de violenta radicalização religiosa.
No dia de N.S. Aparecida, padroeira do Brasil, uma rede de TV transmitiu imagens do bispo Sérgio Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, chutando repetidas vezes uma imagem da santa, o que causou grande comoção nacional. Argumentando que se tratava de uma “mera estátua de barro” e que “era um erro do povo brasileiro depositar suas esperanças em santos, ídolos ou imagens”, Von Helde referiu-se à imagem como “um bicho tão feio, tão horrível, tão abominável”.
Imediatamente o assunto repercutiu amplamente na imprensa, com a cena sendo tomada como ofensiva não apenas por católicos, mas também por seguidores de outras religiões. Inúmeras queixas e ações foram impetradas tanto na polícia quanto nos foros públicos, sob alegação de crimes como vilipêndio e desrespeito ao direito constitucional de liberdade de culto. As cenas foram repetidas exaustivamente durante os dias seguintes. Ataques de fiéis católicos armados com paus, pedras e até armas de fogo foram desferidos contra os templos da Igreja Universal, e o próprio bispo teve de se autoexilar na África do Sul, passando a pregar pela Igreja Universal daquele país. Oficialmente, a IURD nunca se posicionou sobre o assunto.
Não podemos nos esquecer, entretanto, de que as maiores vítimas da Igreja Universal no Brasil são justamente os cultos afro-brasileiros. O governo, a sociedade e a mídia simplesmente ignoram este fato. Em contrapartida, os próprios evangélicos passam a sofrer preconceito cada vez maior de vários segmentos, mas devemos levar em conta que o poder financeiro e político de algumas igrejas pentecostais é enorme.
Paralelamente, o Talibã chegava ao poder no Afeganistão em 1996. O significado da palavra, ao pé da letra, quer dizer “aqueles que estudam o livro (Alcorão)”, numa literal referência ao dogmatismo que, por sua vez, seleciona deliberadamente as passagens sagradas que condizem com o seu interesse sectário e opressor. Para citar alguns exemplos, as mulheres viram-se obrigadas a vestir a famosa burca, tornada mundialmente conhecida através da circulação de informações e imagens que, com os avanços tecnológicos, crescia em proporção avassaladora. O cinema foi proibido, aparelhos de TV e videocassete destruídos, membros de ladrões amputados e até mesmo a previsão do tempo ou simplesmente empinar pipas foram banidos. Os hindus locais passaram a sofrer séria repressão. Em março de 2001, o Talibã ordenou a destruição de duas gigantescas estátuas de Buda, uma com 1800 e outra com 1500 anos de idade. O ato foi condenado por quase todos os povos do mundo.
O ataque terrorista às Torres Gêmeas e ao Pentágono, com a oposição entre Saturno e Plutão (na metade precisa do trânsito de Plutão em Sagitário), marcou o auge da percepção global sobre os efeitos do fundamentalismo no mundo contemporâneo. Note que, apesar da magnitude, não se tratava de um ataque isolado, já que atentados justificados pela fé islâmica atingiam os Estados Unidos em repartições e posições estratégicas na África e na Ásia. Tendo na presidência o ex-alcoólatra George W. Bush, que atribui sua cura à conversão evangélica, iniciou-se um embate que passou a ser chamado de “choque de civilizações”, contrapondo o Ocidente ao Islã.
Com uma retórica que incentivava a intolerância entre cristãos e muçulmanos, George W. Bush, reconhecidamente um líder de mentalidade estreita, atacou o talibã afegão, sem, contudo, eliminar completamente o grupo religioso que ainda ameaça voltar ao poder naquele país. Com a subsequente invasão ao Iraque, outro combate, agora interno ao Islã, acirrou-se: sunitas e xiitas guerreiam num país dividido, naquela que talvez seja a região mais caótica do mundo, hoje.
No entanto, o simbolismo de Plutão em Sagitário não pode ser associado apenas a atos radicais de religiosos que descambam em violência ou intolerância. Muitas vezes foi o próprio Estado laico quem colocou lenha na fogueira, desrespeitando as crenças alheias. Em setembro de 2004, na França, as relações com a comunidade muçulmana, que corresponde ao segundo grupo religioso do país, sofreram um abalo depois da aprovação de uma lei proibindo a exibição de símbolos religiosos nas escolas públicas. Entre esses símbolos estavam o véu usado pelas muçulmanas, o solidéu judaico e os crucifixos cristãos. Como as tensões na Europa já se encontravam bastante afloradas com os ataques de 2001 aos Estados Unidos, a decisão gerou inúmeros protestos.
Um ano depois, também em setembro, um jornal dinamarquês publicou as famosas charges do profeta Maomé, que criaram gigantesca cizânia. Dezenas de protestos ecoaram pelo mundo islâmico, onde confrontos com a polícia levaram a inúmeras mortes em vários países, da Indonésia à Nigéria. Só neste último, 15 foram os mortos. Retaliações comerciais foram impostas à Dinamarca por países de fé islâmica, surgiu um caloroso debate sobre o direito inalienável e os limites e da liberdade de imprensa e até mesmo um concurso de charges sobre o Holocausto foi promovido no Irã.
Em 2006, novamente em setembro, o Papa Bento XVI citou um texto da Idade Média sobre o Islã, causando uma onda de protestos no mundo muçulmano. Tratou-se do trecho de um diálogo sobre a relação entre religião e violência, em que um imperador bizantino argumentava para um estudioso persa, em 1391: “Mostre-me então, o que Maomé trouxe de novo, e ali só encontrarás coisas más e desumanas, como esta, de que ele determinou, que se propague através da espada a fé que ele prega”, teria dito o imperador, “de forma surpreendentemente brusca”. Bento XVI ainda mencionou a argumentação usada pelo imperador contra a conversão através da coação, para dizer que “a religião nunca deve ser usada para incitar ou justificar a violência”. A polêmica seguia cega e surda. O sonho globalizado de uma sociedade multicultural, tão aclamado no início dos anos 90, chegava ao fim.
Com a decisão arbitrária do governo chinês de atribuir para si o direito de até mesmo escolher o Dalai Lama, a lição que fica da intolerância de Plutão em Sagitário é a de que, independente da sua origem, se laica ou fundamentalista, quem sai perdendo mesmo é a própria espiritualidade. Não seria justamente isto que estava contido no simbolismo de Saturno em Peixes em 1995? A única exceção, felizmente, parece ter sido o entendimento entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Mas foi apenas uma exceção.
André Alcântara diz
Cabe o comentário a respeito das passagens de Plutão pelo signo que anteriormente alguns anos Netuno tinha transitado. O assunto é antigo e peço perdão por não citar, por não me lembrar do estudioso que inicialmente tratou do assunto, mas vale a pena considerar: Quando Netuno transitou em Libra, o amor terminava sempre em um casamento “felizes para sempre”. Plutão, mais a frente em Libra trouxe uma onda de divórcios como nunca vista, trouxe também a visibilidade da mãe solteira, da mulher que decide ter e manter seu filho sozinha. Depois Netuno passou de Libra para Escorpião: vamos fazer sexo porque é muito bom e com pílula anticoncepcional o grande perigo de uma gravidez acabou, Doença Sexualmente Transmitida se curava com umas doses da dolorosa, mas barata Bezentacil, foi a grande liberação do movimento homossexual. Plutão sai de Libra e entra em Escorpião: sexo mata, Aids e HIV, no horário nobre da TV tomamos conhecimento da “existência” de sexo anal. Netuno em Sagitário: o outro, de preferência bem distante e exótico é atraente e fonte de sabedoria, nunca se falou tanto em ecumenismo. Plutão em Sagitário foi brilhantemente descrito acima pelo Dimitri. Netuno em Capricórnio: vamos ficar ricos, vamos montar um negócio, também a velhice, lote de Saturno e Capricórnio, é alçada a categoria de “melhor idade” um final de vida radiante. Plutão em 2008 quebra a economia (e ainda vai quebrar mais ainda) e com a crise as economias do baby boomers (os nascidos após o fim da segunda guerra mundial) se evaporam. Aqui no Estado do RJ, no presente momento os mais prejudicados são os aposentados, inclusive com um infeliz número de suicídios. Netuno já passou por Aquário trazendo a conectividade em todo lugar, em toda hora. Quem pode viver sem um celular, que acabou virando um micro com precisão de imagens inimagináveis. A internet, gratuita e território livre para todos. Penso que quando Plutão ingressar em Aquário veremos uma epidemia cibernética superior ao crack, a cocaína ou outras drogas pesadas. Prevejo também que muitas pessoas abandonaram mesmo o celular, a conexão instantânea, não me surpreenderei se voltarem a escrever cartas a mão 🙂
Redação Constelar diz
Brilhante, André. Quanto a Plutão em Aquário, há o risco também da “conexão compulsória”, o controle do grande irmão que a ficção científica já prevê há tantas décadas. NÃO ter uma identidade digital rastreável em tempo real pode virar motivo de exclusão social e perseguição…
André Alcântara diz
Pobre de mim com meu Saturno em Aquário.