Com o Sol em Leão na sexta casa e o Ascendente em Aquário nascia no Rio de Janeiro, às 18h do dia 29 de julho de 1925, o jornal O Globo, semente do maior império de comunicação do país. Esta, pelo menos, é a história oficial, já que o horário está estampado no topo da capa da primeira edição, logo acima do título.
Na prática, são possíveis três Ascendentes, já que, quando da morte do jornalista Roberto Marinho, o próprio jornal publicou matéria sobre a história da fundação do diário, lembrando que os primeiros exemplares chegaram às ruas na tarde daquele 29 de julho. Se o Globo começou a ser vendido antes de 14h43, o Ascendente é Sagitário; daí até às 16h58, Capricórnio; e Aquário, das 16h59 em diante.
Especulando sobre as várias possibilidades: Sagitário poderia ser um Ascendente adequado para este jornal cujo nome, escolhido em votação pública nas ruas do Rio, traduz uma pretensão universalizante e cujo slogan, durante décadas, foi “O Globo, o maior jornal do país”. Por outro lado, um mapa calculado para as 16h, com Ascendente em Capricórnio, mostra a oposição Júpiter-Plutão bem no eixo Ascendente-Descendente, destacando não apenas o impulso jupiteriano para crescer e ampliar horizontes como também a vocação empreendedora e construtiva desse signo de Terra.
Entretanto, cabe não esquecer que toda entidade coletiva – seja um país, um clube ou uma empresa – tende a construir ao longo do tempo um mito de criação, através do qual define-se a identidade grupal da instituição.
O mito de criação de O Globo
O “mito de criação” do Globo comporta alguns elementos bastante característicos: para começar, o nome foi escolhido por votação através de urnas espalhadas pela cidade – um processo democrático, portanto. O fundador, Irineu Marinho, era um jornalista inovador e combativo, que já estivera envolvido na fundação de outro jornal – A Noite – chegando a ser preso por apoiar a revolta tenentista de 1922. Por suas posições políticas, acabou excluído da direção de A Noite pelos outros acionistas, decidindo então fundar o novo jornal. Contudo, faleceu apenas 23 dias depois do lançamento de O Globo. Seu filho, Roberto Marinho, tinha apenas 20 anos quando foi obrigado a ocupar o lugar do pai. Em 1931, aos 26 anos, assume diretamente a direção do jornal.
Na mitologia grega, Urano, o Céu, simbolizava um princípio criador sem muito compromisso com as próprias criações. Acaba destronado pelo filho Cronos (Saturno), este sim, o administrador que vem para instaurar a ordem. No mapa de fundação de O Globo, vemos Urano presidindo o nascimento do jornal (Aquário no Ascendente). Contudo, o planeta que ocupa o Meio do Céu é exatamente Saturno, um bom símbolo para representar a longuíssima gestão de Roberto Marinho, que se estendeu por 78 anos!
Ao longo de sua existência O Globo foi incorporando outras “marcas registradas”. Caracterizou-se sempre como um jornal pioneiro, explorando de forma inovadora algumas tecnologias que depois seriam seguidas por todos os concorrentes. Tais inovações concentram-se, na maioria, no tratamento gráfico e no uso de recursos de imagem: a primeira radiofoto do jornalismo brasileiro (1936), a primeira telefoto em cores (1979) etc.
Essas características – inovação, pioneirismo tecnológico, imagens – falam mais fortemente de um Ascendente Aquário com seu regente, Urano, em Peixes na casa 2 (o domínio da tecnologia como o grande trunfo, ou recurso do jornal).
A casa 7 e o olhar mercadológico
Outro aspecto em que O Globo sempre se destacou foi no uso inteligente de campanhas comunitárias, de serviços de utilidade pública e de eventos culturais ou de lazer de grande impacto popular. Ao contrário do Jornal do Brasil, de perfil mais elitista e com foco bem definido na zona sul carioca, O Globo caiu no gosto da família suburbana através de eventos como a chegada de Papai Noel ao Maracanã (todos os anos Papai Noel chegava num helicóptero, em festa com entrada franca montada pelo jornal) e o projeto Aquarius, uma programação de grandes concertos de música erudita ao ar livre, voltada para a formação de novos públicos.
A promoção de grandes eventos com entrada franca e voltados para multidões fala novamente do eixo Leão-Aquário, ressaltando a disposição festeira e um tanto megalomaníaca do jornal (Leão) com ênfase nas ações comunitárias (Aquário) e nas atividades artísticas (Urano em Peixes). Aliás, o nome Projeto Aquarius já fala por si. A Lua na casa 10 fala da resposta positiva do público. As maiores multidões já reunidas no Maracanã não foram em partidas do Flamengo ou da seleção brasileira, mas sim nas festas da chegada de Papai Noel.
Aproveitando uma ideia lançada pelo O Jornal, que já mantinha, nos anos 60, um Suplemento do Méier (um importante bairro da Zona Norte), O Globo lança os jornais de bairro, suplementos direcionados para regiões específicas da cidade. E, em momentos específicos da vida do Rio de Janeiro e do país, O Globo percebeu a existência de algumas lacunas que, preenchidas com competência, resultaram em grandes sucessos: é o caso do Globinho, caderno infantil lançado em 1938, de “O Globo Expedicionário”, voltado para os pracinhas brasileiros na Itália durante a Segunda Grande Guerra, e de campanhas como “O Rio Será Sempre o Rio”, para elevar o moral do carioca após a transferência da capital para Brasília.
Esta sintonia fina com as necessidades do público pode ser percebida na ênfase na casa 7, exatamente a mais ocupada da mapa. Ali estão nada menos que Marte, Netuno, Vênus e Mercúrio, aos quais se agrega o Sol, tecnicamente na 6 mas já em conjunção com o Descendente. Uma das características de pessoas ou instituições orientadas para a casa 7 é a capacidade de ouvir e compreender o cliente, extraindo daí os subsídios para direcionar novas ações de marketing.
Esquerda, direita e poder econômico
Até o final dos anos 50, o mercado carioca mantinha-se bem mais concorrido. O “jornalão” da cidade era o Correio da Manhã. O Jornal, dos Diários Associados, ainda era uma referência importante, enquanto a Última Hora, de Samuel Weiner, e a Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, polarizavam a disputa política entre petebistas e udenistas. Havia ainda o Diário de Notícias, já em fase de declínio, o Jornal dos Sports para os amantes do futebol. Finalmente, um espaço importante era ocupado pelos jornais populares que a elite rejeitava porque “espirravam sangue”: Luta Democrática, O Dia e A Notícia. Foi quando o Jornal do Brasil promoveu uma vigorosa revolução editorial e tornou-se o diário mais moderno da cidade.
Durante os anos de chumbo, o ariano Jornal do Brasil manteve uma decidida postura crítica com relação ao regime, enquanto O Globo manteve uma linha mais neutra, demorando a posicionar-se. Daí a eterna fama de O Globo como o jornal governista e conservador (Saturno em Escorpião no Meio do Céu em quadratura com o Sol), algo que sempre o tornou alvo de críticas dos partidos de esquerda. Ironicamente, desde a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência, O Globo passou a ser tachado como um jornal de esquerda, mas sem perder a pecha de manipulador (Plutão-Lua) de opinião. Esta nova imagem oposicionista pode ser associada ao trânsito de Urano, desde 2019, em oposição a Saturno radical e pelo Fundo do Céu do jornal.
O Globo nasceu com uma Lua em fase crescente na casa 10, próxima do Meio do Céu e em trígono com Plutão e Urano. Esta Lua elevada responde pela visibilidade e popularidade do jornal, recebendo ainda o reforço dos trígonos de Urano em Peixes na casa 2 (as inovações tecnológicas e a qualidade gráfica) e de Plutão em Câncer na cúspide da 6 (uma empresa familiar administrada de forma segura e persistente). Cabe lembrar que Plutão é um símbolo do poder econômico, algo sempre associado à família Marinho.
Por tudo isso, entendemos que o jornal responde adequadamente a seu horário oficial de lançamento, às 18h.