Mangueira, Portela, Beija-Flor e Salgueiro são as escolas de samba mais populares do Rio de Janeiro e provavelmente de todo o Brasil, segundo pesquisa de 2023, publicada pela CNN. Outras três escolas disputam a honra de fechar o top 5: Imperatriz Leopoldinense, Mocidade Independente de Padre Miguel (certamente a mais popular da Zona Oeste) e Grande Rio (uma potência recente, com sede no vizinho município de Duque de Caxias). As tradicionais Unidos de Vila Isabel e Unidos da Tijuca ocupam as posições seguintes no ranking.
Apresentamos aqui o mapa das quatro mais populares e também da Imperatriz, campeã de 2023.
Um ponto a ressaltar é a dificuldade de obter dados precisos acerca da fundação das escolas de samba. Nenhuma delas tem um horário confirmado sem qualquer suspeita. Por isso, em três cartas optamos por um horário retificado, em outro, por um horário especulativo e, no caso específico da Beija-Flor, preferimos ficar com a carta solar (calculada para o meio-dia e sem casas).
Beija-Flor
Na década de setenta, uma escola de samba sem muita tradição rompeu o monopólio de vitórias das “grandes” e tornou-se a nova sensação do carnaval carioca: trata-se da Beija-Flor de Nilópolis, fundada no dia de Natal de 1948.
Tudo aconteceu numa conversa de botequim descompromissada, e ninguém registrou a hora. A assembleia oficial só aconteceu algum tempo depois. Então, levantemos um mapa sem casas, para o horário estimado das 18 horas.
O que se destaca de imediato é o stellium de quatro planetas em Capricórnio, sendo que Sol, Júpiter e Mercúrio fazem trígono com Saturno em Virgem. A força da Beija-Flor, nos anos das grandes vitórias sob a batuta de Joãosinho Trinta, foi o luxo das fantasias e, principalmente, o gigantismo dos carros alegóricos, verdadeiras construções em vários andares.
Júpiter em conjunção com o Sol tem relação com a monumentalidade e com o luxo, enquanto Capricórnio e Saturno referem-se às estruturas (não só dos carros alegóricos como também da organização quase empresarial desta escola). A Lua, significadora de gente comum, em Escorpião, um signo de gestão financeira, também destaca a singularidade desta verdadeira máquina de ganhar títulos.
Mangueira
A Mangueira adota a data de 28 de abril de 1928 para sua fundação, o que a deixaria na condição de mais antiga escola de samba do Rio de Janeiro. Contudo, a data correta é 28.04.29, um ano mais tarde, poucos meses após a fundação da histórica Deixa Falar.
Era uma noite de domingo, e nossa retificação aponta um horário por volta das 21h, com Ascendente entre zero e três graus de Capricórnio, em conjunção com Lua e Saturno.
Saturno, regente da carta, forma um grande trígono com Netuno e Vênus: a Mangueira é tremendamente conservadora e provoca um sentimento de veneração em outras escolas exatamente pelo que tem de tradicional e respeitável, como a sua Velha Guarda.
Sol, Júpiter e Mercúrio estão em Touro, um signo que não gosta de mudanças, na casa 5, da criatividade. Já o Meio do Céu em Virgem ativa a casa 4 do mapa do Rio de Janeiro, exatamente a casa das raízes étnicas e culturais.
A Lua capricorniana no Ascendente ajuda a entender a Mangueira como uma velha senhora (é a madrinha da maioria das outras escolas), com papel relevante na defesa das raízes do samba e da cultura popular. Não por acaso, Saturno rege os baluartes e os surdos de marcação!
Portela
Eterna rival da Mangueira, a Portela é a escola mais tradicional da cidade. Sua fundação, ainda como bloco, remonta a 11 de abril de 1923, à noite. Num trabalho de retificação, chegamos ao horário das 19h30.
Tal como a Mangueira, a Portela também tem um Saturno forte, em Libra, fazendo oposição ao Sol em Áries. Mas as marcas registradas da escola são a figura da águia, sempre presente nos carros abre-alas, e a cor azul, que inspirou um belo samba de Paulinho da Viola: “Foi um rio que passou em minha vida / e meu coração se deixou levar”.
Se prestarmos atenção no azul e branco da escola e na imagem do rio utilizada por Paulinho, não será difícil perceber aí a importância dos signos de Água, exatamente os que carregam os valores da afetividade. A escola deitando uma onda azul na avenida traz uma sugestão oceânica, confirmada pela presença de Lua, Vênus e Urano em Peixes. Este stellium ativa fortemente a própria carta da cidade do Rio de Janeiro.
Se a Mangueira inspira um carinhoso respeito, a Portela desperta um profundo sentimento. É a escola com maior número de campeonatos e uma das torcidas mais fiéis. Pela sua grande identificação com a cidade, é provável que a Portela tenha Netuno angular, como o Rio de Janeiro.
Se colocarmos Netuno próximo ao Meio do Céu, o signo Ascendente passa a ser Escorpião, que tem como um de seus símbolos exatamente a águia. Seu regente tradicional, Marte, está em Touro, signo regido por Vênus, a quem está associada a cor azul. Como Vênus está em Peixes, eis aí o azul oceânico e envolvente do rio que passou na vida de Paulinho da Viola e levou seu coração.
Acadêmicos do Salgueiro
A escola de samba Acadêmicos do Salgueiro resultou da fusão de três pequenas escolas tijucanas. A fundação formal aconteceu, após intermináveis discussões, na noite de 5 de março de 1953. O que mais chama a atenção neste mapa é a forte oposição de Marte e Vênus em Áries a Netuno e Saturno no final de Libra.
A oposição é um aspecto de natureza libriana, por exigir negociação, confronto e acordo. Como a oposição do Salgueiro realmente envolve dois planetas em Libra, temos aí o quadro do próprio processo de sua fundação, em que os diretores das três escolas antes existentes gastaram intermináveis vinte dias para discutir o nome e as cores da nova agremiação. Não poderia faltar também a ênfase pisciana: ali estão Sol e Mercúrio, em conjunção com Mercúrio, regente do Ascendente do Rio de Janeiro.
O Salgueiro sempre se definiu como uma escola “nem melhor nem pior, apenas diferente”. Sempre foi inovadora, apresentando enredos ousados e promovendo uma revolução estética nos desfiles, nos anos sessenta. Originalidade, inovação e ousadia fazem pensar em Urano. Estética é um termo adequado para Netuno em Libra.
Por esta razão, retificamos a carta para as 20h, o que deixa Urano no Meio do Céu e Netuno em Libra no Ascendente, em oposição a Marte em Áries, dispositor final de todos os demais planetas. Marte é o significador do vermelho vivo da bandeira do Salgueiro. Foi, aliás, a primeira escola carioca a adotar esta cor, antes evitada por sua associação com o demônio!
Imperatriz Leopoldinense
A Imperatriz Leopoldinense deve seu nome ao fato de ter sido fundada no bairro de Ramos, na região da cidade cortada pelo antigo ramal ferroviário da Leopoldina. É também uma homenagem à Imperatriz Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I. Foi uma das maiores ganhadoras de títulos do carnaval carioca dos anos oitenta aos primeiros anos do século XXI.
Notabilizou-se pelos desfiles tecnicamente perfeitos, o que faz pensar de imediato numa ênfase virginiana, e esteticamente requintados, o que pode destacar um fator libriano. Contudo, não há qualquer planeta pessoal nestes dois signos. É fácil imaginar que a reunião de criação da escola tenha ocorrido à noite (foi numa sexta-feira, na casa do fundador Amaury Jório), já que a maioria dos presentes era formada por trabalhadores, que não poderiam estar presentes em horário diurno. Se a reunião começou entre 18h30 e 18h55, o Ascendente é Virgem, com boa parte de Libra dentro da casa 1.
Se esta hipótese é correta, o regente do Ascendente e do Meio do Céu seria Mercúrio, que aplica uma quadratura a Saturno em Capricórnio. Todos os títulos da Imperatriz foram obtidos a partir de um rigoroso planejamento, com desfiles milimetricamente preparados para atender ao regulamento, mas sem empolgar o público presente no sambódromo. A carta que apresentamos é apenas especulativa, mas bastante possível.