Quando pensamos em doenças que se caracterizam por febre alta, dores agudas na região da cabeça, episódios hemorrágicos e transmissão mediante picadas e sangue contaminado, estamos falando do simbolismo de Marte. Tanto a dengue quanto a zika e as febres amarela e chikungunya são doenças regidas por Marte, e todas são transmitidas pelo mesmo mosquito: o Aedes aegypti, cujas larvas preferem ambientes de águas limpas e paradas e têm uma enorme capacidade de sobrevivência. Nos períodos de seca, os ovos do Aedes podem resistir por quase um ano e meio, mantendo um estado de latência e retomando normalmente o desenvolvimento quando entram outra vez em contato com a água.
Agrega-se, portanto, ao simbolismo marciano da manifestação dessas doenças um simbolismo de signos de Água, presente no processo de transmissão. Como Marte, além de regente de Áries, é também o regente clássico de Escorpião, é este o primeiro signo em que devemos pensar quando procuramos um significador para as epidemias de dengue que periodicamente vêm assolando o Brasil.
Epidemias são também um problema de saúde pública (eixo casa 6-casa 12) e um processo de natureza coletiva, que abarca vastas porções da sociedade. Neste sentido, remetem aos planetas que atuam especificamente na dimensão do coletivo, Netuno e Plutão.
Em resumo: Marte, Netuno, Plutão, o eixo das casas 6-12 e os signos de Água, especialmente Escorpião, são os fatores que deveremos considerar prioritariamente na compreensão das epidemias que nos incomodam hoje e também da febre amarela, que já tirou tantas vidas no passado e pode voltar a manifestar-se de um momento para outro.
Netuno, os trânsitos mais perigosos
A primeira epidemia de febre amarela no Brasil começou em Recife, em 1685. O barco que trouxe a doença viera de São Tomé, na África, com escala em São Domingos, nas Antilhas, dois focos tradicionais da febre.
A violência da epidemia é narrada no terceiro livro de medicina escrito no Brasil, Notícias do que é o Achaque do Bicho, publicado em 1708 por um mascate e médico leigo português chamado Miguel Dias Pimenta. Segundo Miguel, do dia de Natal de 1685 a 10 de janeiro de 1686 morreram no Recife e arredores perto de seiscentas pessoas (uma parcela considerável da população da cidade na época).
A febre amarela, que se caracteriza por febre alta, icterícia, fenômenos hemorrágicos e degenerações no fígado e nos rins, era então chamada de males, já que parecia reunir todos eles em uma só doença. Mas já em 1690 o governador de Pernambuco, marquês de Montebelo, depois de ser curado da febre pelo médico Ferreira da Rosa, seguiu os conselhos deste e promoveu a primeira campanha profilática de que se tem notícia no Brasil. Ainda não se tinha ideia de que a transmissão da febre se dava pela picada de um mosquito, mas Ferreira da Rosa chegou perto das causas ao recomendar o despejo do lixo em local adequado, a segregação dos doentes, o enterro dos mortos em covas bem fundas, fora da área urbana, e a limpeza periódica de ruas e casas. Por ordem do governador, o devotado médico escreveu um livro que foi publicado em Lisboa em 1694 e que se chamava Tratado Único da Constituição Pestilencial de Pernambuco. Neste, a doença era definida como “febre pestilenta do gênero dos sínocos podres” (sendo sínoco um termo antigo para identificar um agente inflamatório) e “a mais cruel doença que tem o mundo”.
Enquanto isso, a epidemia já grassava na Bahia, onde chegara exatamente em 4 de abril de 1686. As primeiras vítimas foram dois homens que morreram 24 horas depois de serem vistos jantando com uma meretriz. Rapidamente a epidemia se alastrou, a ponto de matar até os médicos e cirurgiões de Salvador. A população em desespero correu para o Colégio dos Jesuítas, onde implorou ajuda a São Francisco Xavier. Em maio de 1686 houve uma grande procissão em que a imagem do santo percorreu as ruas da cidade enquanto o povo chorava de joelhos. Coincidência ou não, a partir daí a epidemia diminuiu. Como agradecimento, em 3 de março de 1687 Salvador adotou São Francisco Xavier como seu santo padroeiro.
O surto de febre amarela de de 1685 a 1687 se dá com Netuno em Peixes, transitando sobre a conjunção Urano-Lua do mapa do Descobrimento. Netuno é exatamente o regente da casa 6 (saúde pública) do mapa do Brasil Colonial. No dia em que a febre amarela desembarca em Recife, ocorreu uma Lua Nova em Capricórnio em oposição a Marte em Câncer do mapa do Descobrimento. Por outro lado, Marte e Netuno do mapa da lunação estavam em conjunção em Peixes.
Polca e Urucubaca nos primeiros surtos de dengue
Encerrada a primeira epidemia, a febre amarela passou a ocorrer esporadicamente, deixando de ser uma preocupação maior da população. Seria preciso mais de um século e meio para que o Brasil conhecesse de novo os males que vinham com a picada do Aedes aegypti. E, desta vez, eles vinham com força dobrada, reunindo a dengue e a febre amarela.
Os primeiros surtos de dengue ocorreram, segundo relatos, na ilha de Java, em 1779, e em Filadélfia, em 1780. Em 1827 registra-se o primeiro surto no Caribe, a partir de navios chegados da costa atlântica dos Estados Unidos. A primeira referência sobre a dengue no Brasil data de 1846, quando teria havido uma epidemia em São Paulo, Rio, Salvador e outras cidades. No Rio, o povo deu à dengue o apelido de polca, dança então em moda na cidade. Já em outros cidades, chamavam a febre de patuleia. Nova epidemia ocorre entre 1851 e 1853 em São Paulo, e ainda outra em 1916. Neste última, chamavam a dengue de urucubaca.
Em 3 de setembro de 1849 chega a Salvador um navio americano ironicamente chamado “Brazil” trazendo uma nova epidemia de febre amarela, desta vez de Cuba. Em outubro ocorrem as primeiras mortes. Em novembro, os hospitais já estão lotados. O médico alemão Wucherer, radicado em Salvador, resolve improvisar em sua casa uma enfermaria onde recebe 20 marinheiros doentes. Poucos dias depois, estão mortos os 20 marinheiros e mais a esposa do alemão.
Em 18 de dezembro de 1849 um navio francês chega no Recife com tripulantes doentes. Começa nova epidemia na capital pernambucana, desta vez matando 2.800 vítimas. Em 28 de dezembro do mesmo ano a epidemia chega pela primeira vez ao Rio de Janeiro, levada por navios provenientes da Bahia. Em 1850 será a vez do Pará, de Sergipe, do litoral paulista, e daí num crescendo até atingir todo o país, já por volta de 1860. Daí em diante a febre amarela e a dengue apavoram com frequência o Brasil inteiro, em constantes epidemias facilitadas pelo desconhecimento de sua forma de transmissão.
Recapitulando: a dengue chega ao Brasil em 1846, apenas três anos antes do ressurgimento da febre amarela. Entre 1849 e 1853 há surtos violentos das duas doenças, sendo que a febre amarela, especialmente, provoca elevado número de mortes.
Este é o período em que Netuno transita pelo Ascendente e pela casa 1 do mapa da Independência do Brasil, ao mesmo tempo em que volta a atingir a Lua do mapa do Descobrimento. Tal como na epidemia de 1685, Netuno está novamente saindo de Aquário e entrando em Peixes.
Em 1981 registra-se o primeiro surto de dengue hemorrágica no mundo, com origem em Cuba. No mesmo ano, ocorre a primeira epidemia de dengue clássica no Brasil devidamente documentada do ponto de vista clínico e laboratorial: foi em Roraima, na cidade de Boa Vista. Em 1986 começam as grandes epidemias nos centros urbanos do Sudeste e do Nordeste, sendo que os anos de maior incidência foram o próprio ano de 1986, 1991, 1998, 2002, 2007-2008 e 2013.
Em 1986, Netuno em trânsito está sobre a conjunção Netuno-Urano do mapa da Independência, além de estar também em oposição a Marte do mapa do Descobrimento. Pela terceira vez, um ciclo epidêmico inicia-se sob uma ativação de Netuno a fatores importantes dos mapas da Colônia e do Império. Este planeta indica fragilidades ambientais – a degradação do ambiente natural que leva à extinção, por exemplo, dos inimigos naturais do Aedes aegypti e cria condições excepcionalmente favoráveis para a proliferação do mosquito.
A epidemia de 2015-2016
A análise das epidemias anteriores provocadas pelo Aedes aegypti mostra a recorrência de alguns fatores astrológicos: Netuno em Peixes, contatos Netuno-Marte e ativações de Netuno a fatores críticos dos mapas do Descobrimento e da Independência do Brasil.
O recrudescimento da dengue e a eclosão, em bases epidêmicas, da chikungunya e da zika nos últimos meses de 2015 guarda relação direta com o atual trânsito de Netuno em Peixes. Em 2015 Netuno fez, quase simultaneamente, conjunção à Lua do mapa do Descobrimento e quadratura à Lua do mapa da Independência. Ao longo de 2016, Netuno começa lentamente a entrar em órbita de oposição ao Sol do Grito do Ipiranga, aspecto que só se tornará partil (exato) dentro de três anos.
Caso estivéssemos analisando o mapa de um indivíduo, diríamos que ele estaria vivendo uma fase de depressão imunológica, representada pelo longo trânsito de Netuno na casa 1 afetando, por quadratura e oposição, a Lua e o Sol radicais. É exatamente o que ocorre hoje com o Brasil, sendo que a época de maior vulnerabilidade teve início com a quadratura Netuno-Lua de 2015 e deve estender-se por todo o período de trânsito de Netuno em Peixes.
jao diz
não consigo escrever-sentir outra coisa além de: Gratidão. Que estudo impressionante! Muito obrigado!
Fabiane diz
E o que dizer das estratégias que vêm sendo usadas pelo governo? Larvicida da Monsanto que causa microcefalia, mosquitos transgênicos… Articulando isso com as informações do texto, penso que as estratégias de “combate” (não sei se dar dinheiro para multinacionais cancerígenas é combate ou capitalismo se aproveitando das crises, como sempre, mas enfim….) piorarão as coisas um bom tanto, até que se resolva parar de usar a população como cobaia e se enfrente a situação com práticas mais complexas e profundas, como saneamento básico, fim do desmatamento e cuidado real com o meio ambiente, promoção de saúde, investimento em pesquisas (sem autorizar para uso medicamentos que nem passaram por todas as etapas de teste, como aconteceu na época do H1N1), etc….
A impressão que eu tenho é que esse Netuno lança uma cortina de fumaça bem útil para os poderosos ludibriarem a população com promessas miraculosas de intervenções, que enchem mais ainda seus bolsos às custas do sofrimento do povo…
José diz
Concordo com seu comentário. Grato, José
Redação Constelar diz
Você tem toda a razão, Fabiane. O drama das epidemias e dos acidentes ambientais não pode ser desvinculado da destruição indiscriminada do meio ambiente promovida pelo casamento de uma política desenvolvimentista míope com a ação de multinacionais que só têm foco no próprio lucro. Assisti no ano passado ao filme Bhopali, que trata do acidente desastre ambiental ocorrido na Índia, em 1984, por irresponsabilidade da multi Union Carbide. A história de Bhopal já conhecia bem. O que não poderia imaginar era que a contaminação por produtos químicos continuasse até os dias de hoje, provocando, a cada ano, uma enxurrada de novos casos teratológicos em crianças da região. E também não tinha ideia de que a Union Carbide (cujo controle acionário mudou) JAMAIS tivesse sido punida. Aqui também os efeitos danosos dessa epidemia vão-se estender por muitas e muitas décadas.