Países são construções coletivas e multifacetadas, que não cabem em uma única carta astrológica. É o caso do Brasil, cuja complexa história de 522 anos expressa-se através de pelo menos três cartas principais: a do Descobrimento, a da Independência e a frequentemente esquecida e subvalorizada carta da Proclamação da República.
Mesmo que seja muito forte a tentação de eleger um único mapa para explicar todos os aspectos da realidade nacional, este não é o melhor caminho metodológico, pois o mapa mais recente não anula os anteriores. Todos continuam “pulsando” e respondendo aos desdobramentos dos processos históricos que iniciaram.
A utilidade do mapa da República
O mapa da República tem um sentido muito específico: expressa e corporifica o momento em que o Brasil corta em definitivo seus laços com uma dinastia de origem europeia e assume uma nova forma de governo, onde as questões centrais são a escolha dos governantes pelo voto, o regime federativo e o equilíbrio entre os três poderes. Neste sentido, o mapa da República é a escolha natural para analisarmos eleições, o relacionamento do governo federal com as administrações estaduais e os (atualíssimos) conflitos entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
No Presságios (evento anual de previsões realizado por Constelar), foi com base no mapa da República, mais do que no da Independência, que antecipamos turbulências para o governo Dilma, em 2015, e a chance de vitória do outsider Jair Bolsonaro, com um ano de antecedência.
Entre a espada e a pena, qual é o mapa?
Mas, como nada em Astrologia Mundial está isento de polêmicas, qual o mapa da Proclamação da República a considerar? Alguns consideram válido o momento da assinatura do primeiro ato oficial do governo provisório, na tarde de 15 de novembro de 1889; outros, o momento em que Pedro II admite a vitória dos revoltosos e abdica do trono, na tarde de 16 de novembro.
Contudo, o ato que ficou impregnado no imaginário coletivo foi mesmo o pronunciamento militar do Marechal Deodoro em plena rua, na manhã de 15 de novembro, diante do quartel-general localizado no Campo de Santana.
Na verdade, naquele momento Deodoro sequer pretendia ainda romper em definitivo com a Monarquia. A Proclamação da República, propriamente dita, aconteceria apenas à tarde, na Câmara, anunciada pelo vereador José do Patrocínio.
Que marco é mais potente como significador do parto de um país? O acontecimento real, mas caído no esquecimento? Ou o acontecimento reconstruído pelo imaginação e carregado de um simbolismo fortemente enraizado na cultura local? Brasileiros — e latino-americanos, em geral — valorizam muito mais o ato público, teatral e viril (sacar uma espada e dar um brado) do que o documento assinado no gabinete pelo tecnocrata de plantão.
Entre a pena de Patrocínio e a espada de Deodoro, fiquemos, portanto, com o Marechal. O horário exato da manifestação de Deodoro também é sujeito a ajustes, mas o que ficou para a História é o das 8h30 da manhã, hora local do Rio de Janeiro, fixado para sempre na nova bandeira do Brasil, que representa exatamente o céu daquele momento. O Brasil é, aliás, o único país do mundo a portar em sua bandeira nacional o céu de sua inauguração.
Analisando a carta: bacharéis e coronéis
A carta da República tem o Ascendente em Capricórnio e seu regente, Saturno, posicionado em Virgem (Ordem e Progresso), enquanto Marte ocupa o Meio do Céu: os militares não apenas deram origem à nova forma de governo como também ocuparam o poder em múltiplas ocasiões. A troca de domicílios entre Vênus na 10 (em Escorpião) e Marte no Meio do Céu (em Libra) fala com precisão desta fronteira tênue entre governos democráticos e autoritários, com que convivemos há 133 anos.
Júpiter no Ascendente, regente da casa 12, fala dos “donos” do Brasil republicano: a oligarquia dos grandes proprietários rurais, que manobra nos bastidores todos os rumos do país ao longo da República Velha, na chamada República do Café com Leite.
Júpiter em Capricórnio, um símbolo bem adequado para as elites conservadoras, mais tarde mudará de roupagem e passará a incluir também os industriais, os banqueiros e os modernos empresários do agronegócio. Em quadratura com Marte, mostra que as relações entre as elites civis e fardadas nem sempre fluem de maneira suave, bastando verificar a sucessão de golpes e contragolpes que caracterizam a era republicada. Ora somos o país dos bacharéis (Júpiter), ora dos coronéis (Marte).
O Sol em Escorpião na 11, em quadratura com a Lua em Leão na 8, dá testemunho da dificuldade do Congresso Nacional para implementar uma reforma tributária decente e um orçamento público realmente transparente e participativo. Leão na casa 8 também explica a escolha de um leão como símbolo da Receita Federal: o símbolo, aqui, é literal.
O aspecto mais exato do mapa da República é a quadratura entre Saturno na cúspide da 9 e Netuno na casa 5. O ciclo Saturno-Netuno está na própria origem da identidade política da maioria dos países da América Latina, já que quase todas as colônias tentaram (e algumas conseguiram) obter sua autonomia com relação à Espanha na época da conjunção de 1809-1810. Ao optar pela forma republicana e cair quase de imediato numa ditadura militar, é como se o Brasil de repente percebesse e assumisse em definitivo — embora com atraso de 67 anos — sua proximidade histórico-cultural com os demais países do continente.
Em 2025 teremos nova conjunção Saturno-Netuno, desta vez em 0º de Áries. O aspecto fará oposição a Marte no Meio do Céu do Brasil, prometendo um momento de impasses na segunda metade do novo mandato presidencial. Por sorte, ainda temos dois anos para entendê-lo.
Caio Leite de Paula diz
Geraldo Alckmin é de uma geração com a conjunção Saturno-Netuno… Em Libra, coincidindo com o Urano do mapa da república.
André Alcântara diz
Retornamos a conjunção Saturno/Netuno [2025 – 2026] dessa vez conjunta ao Fundo do Céu e oposta a Marte que o rege.