O terceiro governo Lula não será um mar de rosas. O mapa de sua posse, calculado para às 15h05 (juramento às 15h04), mostra que os planetas que simbolizaram o clima de intolerância dos últimos dois anos continuam muito vivos e atuantes: Urano rege o MC (o presidente) e está na 12 (limitações), em conjunção aberta com o Ascendente, enquanto Saturno ocupa o Meio do Céu, indicando mais restrições.
Em parte, o sucesso do novo governo depende do Supremo e de outras instâncias da Justiça (casa 9), que aparecem muito fortalecidas. O presidente terá de administrar de forma sacrificial, com retidão absoluta e total compromisso com a Constituição. Urano na 12 pode indicar alguma forma de impedimento, se bem que não falte apoio popular, especialmente dos beneficiários de projetos sociais (Urano na 12 em trígono com Sol na 8 (orçamento e previdência), regente da 4 (a base populacional).
Marte retrógrado na casa 1 em quincunce com o Sol na 8 é um aspecto que pode ter várias interpretações. Marte é significador de homens em armas e rege a 12, mostrando que as aspirações golpistas não irão arrefecer. Marte rege também a 7, mostrando que os inimigos declarados estarão sempre muito próximos e mantendo um discurso agressivo (Gêmeos).
Não se deve esperar uma oposição ferrenha por parte do Congresso, se bem que seja necessário muito cuidado para entender o que acontece ali (Netuno, com sua cortina de fumaça, está na cúspide da 11).
Mercúrio, Marte e Urano retrógrados mostram um governo que começa com muitas indefinições e poderá ter um momento de “restart” mais adiante. O mandato se inicia no crepúsculo de uma época e testemunhará, logo nos primeiros meses, grandes mudanças coletivas com os ingressos de Saturno em Peixes e Plutão em Aquário. É um período de tremendas mudanças, e a Lua, aplicando conjunção a Urano perto no Ascendente, já sinaliza que nada será como antes.
As velhas soluções não irão funcionar. Mais do que nunca, este mandato precisará contar com sangue novo, já que o passado não será garantia de nada. Este é o principal recado do mapa de posse: Lula, Alkmin e seus auxiliares terão de reinventar-se, aceitar a inovação e aprender a governar fora da caixinha.
O mapa da transmissão da faixa
As solenidades do início do novo governo não terminaram na posse, pois ainda faltava a transmissão da faixa, desta vez realizada por legítimos representantes da sociedade brasileira. A posse no Congresso e a transmissão da faixa têm significado diferente, que é explicado em detalhes no artigo Mapa da posse ou da passagem da faixa: qual considerar?
Resumidamente, a posse no Congresso é um momento institucional, que legitima o poder do novo presidente diante dos demais poderes da República. A análise astrológica deste momento mostra como o presidente poderá se articular com o Congresso, o STF e as demais instituições, e qual sua margem de liberdade nestas interfaces. Já o mapa da passagem da faixa descreve um momento que não é imprescindível para a existência do novo governo, mas que está investido de forte simbolismo no imaginário popular. Expressa as expectativas do povo, que, quando frustradas, podem ser tão catastróficas quanto um processo de impeachment.
Por natureza, Lula tende a dar muito mais importância ao momento simbólico (a faixa) do que ao compromisso formal (a posse no Congresso). E o que nos mostra o mapa da passagem, ocorrida às 16h56?
Diferentemente do mapa da posse, agora vemos signos mutáveis nos ângulos da carta (mais adaptabilidade e jogo de cintura) e alguns aspectos preocupantes: Netuno, planeta relacionado com a fantasia e as expectativas exageradas, está em seu domicílio, Peixes, sobre o Meio do Céu. Lula terá de lidar com expectativas gigantescas e nem sempre realizáveis. Se adotar um tom excessivamente populista, corre o risco de comprometer sua base de sustentação, que não se restringe ao PT (trata-se de uma frente com diversos partidos, muito diferentes entre si).
O aspecto mais difícil da carta continua sendo o quincunce Sol-Marte, que agora está entre as casas 7 (dos inimigos abertos) e 12 (das conspirações), envolvendo as regências das casas 3 (da imprensa), 6 (das crises) e 11 (do Congresso). O risco aí presente é a manutenção de um clima conspiratório capaz de trazer um permanente clima de inquietação ao longo do mandato. Significa que a polarização presente nos últimos anos ainda não se encerrará. A saída para Lula (resta saber se ele a aceitaria) está em atrair para a atual gestão alguns de seus mais ferrenhos opositores. Esta possível ampliação da frente ampla está indicada pela presença de Júpiter, regente da 7, em plena casa 10.
A posse dos governadores dos principais estados
Mapas de posse são “estruturas vazias”. Falam de situações, não de pessoas. Indicam um quadro geral que tende a se manifestar, independentemente de quem ocupe o cargo. É como se mostrassem uma pista de motocross antes da disputa começar. Podemos antecipar onde estão as rampas íngremes, os atoleiros e as armadilhas. O sucesso na competição depende da perícia de cada piloto. No caso dos governadores, a competência e a ética de cada um farão a diferença. E isto não está no mapa.
Venho acompanhando posses de presidentes e governadores há pelo menos vinte anos e nunca vi circunstâncias astrológicas tão favoráveis quanto as de 2023. Não significa que serão governos tranquilos e bem-sucedidos, mas sim que seus ocupantes terão todas as condições para fazer um bom trabalho, desde que tenham transparência e boas intenções.
Nos cinco estados mais importantes, todas as posses apresentam Sagitário no MC e Peixes no Ascendente. Isto destaca a enorme importância de Júpiter, que rege ambos os signos e está fortalecido em Áries na casa 1, em sextil com Vênus. Os governadores terão as rédeas nas mãos e recursos suficientes para gerir (especialmente Tarcísio, com Júpiter já na cúspide da 2). O trígono Sol-Lua favorece a relação com a opinião pública.
Netuno na casa 1 pode ser indicador de expectativas exageradas, alimentadas pela propaganda oficial ou por discursos religiosos (Claudio Castro no Rio e Ratinho Jr., no Paraná). Marte junto ao Fundo do Céu, em quincunce com o Sol, é o único aspecto realmente perigoso, indicando oposição aguerrida em SP e no RS, assim como protestos de rua e tensões com o funcionalismo.
Nos cinco estados, os governadores lidarão com Assembleias Legislativas muito pragmáticas (especialmente em SP), e prontas para o toma-lá-dá-cá dos bastidores (planetas em Capricórnio na 11 e seu dispositor, Saturno, na 12). Se caírem na tentação dos acordos não republicanos, podem enfrentar problemas com a Justiça. A boa notícia é que resistir a estas pressões só depende deles. Como a carta favorece a integridade, eventuais desvios estarão por conta do livre arbítrio. Desta vez, não há como botar a culpa no céu.
Eliane Caldas diz
Mais uma vez muito boa sua análise. Será que não podiam consultar um astrólogo para o horário da posse? O dono da casa Um numa conjunção partil com Plutão é a cara do terrorismo, como já vimos hoje. Muito bons também os outros dois artigos citados:
Como analisar mapas de posse ( já li algumas vezes) e Mapa da posse ou da passagem da faixa.
Parabéns pelo dia do astrólogo.
Eliane Caldas
Redação Constelar diz
Obrigado pelo comentário, Eliane. A cerimônia da posse envolve inúmeras variáveis, inclusive a presença no país de autoridades estrangeiras. Dificilmente o cerimonial admitiria alterar seja lá o que for em função de uma previsão astrológica. Talvez em países em que a Astrologia tenha outro status, como a Índia e algumas nações do sudeste asiático.
Portuga diz
Mas Fernando, o fato de Saturno estar no domicílio/triplicidade/termos não ajuda, já que o planeta está forte?
E o fator do Ascendente estar perto de Algol? não é digno de nota?
Redação Constelar diz
Sim, Saturno está muito forte, o que reforça todos os significados saturninos: autoridade e seriedade mas também contenção e restrições. As três primeiras semanas de governo já vem mostrando o presidente “pisando em ovos” e fazendo uma administração claramente cuidadosa. Quanto à proximidade de Algol ao Ascendente, tem sido uma constante nas últimas posses. Contudo, a órbita, no caso, é muito ampla, pois estrelas fixas tendem a ser consideradas atuantes apenas quando estão em aspectos bem fechados (um grau já estaria de bom tamanho).