Temporais e outras tragédias sempre atingiram o Rio de Janeiro. Contudo, o período de fevereiro a abril de 2019 parece concentrar de maneira mais acentuada eventos de natureza trágica ou destrutiva. Tentemos entender o por quê com base nos trânsitos e progressões sobre o mapa da cidade.
A carta que temos utilizado para a fundação do Rio de Janeiro – já exaustivamente testada ao longo de vinte anos – é a de 1º de março de 1565, por volta do meio-dia. Já fizemos em Constelar a reconstituição da fundação do Rio de Janeiro, mostrando que, apesar das muitas lacunas na documentação histórica, nenhum outro horário ou data próxima responde com tamanha precisão às especificidades da vida carioca. Trata-se de uma carta única, com três planetas geracionais ocupando os eixos do Ascendente e do Meio do Céu.
O grande drama das chuvas no Rio sempre esteve relacionado à ocupação indevida de solo urbano, especialmente das encostas. Desmatamento criminoso, construções irregulares, assoreamento e desvio do curso de rios, tudo isso contribui para que qualquer temporal mais intenso transforme-se num flagelo incontrolável. Na carta de fundação do Rio, a quadratura T que une Netuno no Ascendente, Júpiter na casa 3 e Lua próxima do Meio do Céu já fala dessa atitude de inconsequente otimismo. Os governantes do Rio comportam-se como desmemoriados (Lua-Netuno). Além do mais, o planejamento urbano (quando existe) não se traduz em ações, o que se observa na oposição de Saturno na cúspide da 3, a casa das informações, a Marte no final da 8.
A oitava casa é a significadora dos impostos que deveriam reverter em benefício de todos. É a casa dos legados – o que será deixado para as gerações futuras. O Rio parece ter dificuldade de pensar a longo prazo, e os poucos exemplos que deram certo são apenas as exceções que confirmam a regra.
Uma sequência de ocorrências traumáticas
Os graves acontecimentos que vêm enlutando a cidade nos últimos meses representam mais uma oportunidade de testar esta carta. Tivemos no Rio uma impressionante sequência de ocorrências traumáticas, a saber:
- o incêndio do Centro de Treinamento do Flamengo – o Ninho do Urubu – em 8 de fevereiro, matando dez adolescentes;
- repetidos casos de feminicídio e diversas mortes de inocentes em episódios relacionados a forças de segurança;
- cenas de tumulto e pânico que levaram ao cancelamento do desfile do Fervo da Ludmilla, no domingo de carnaval, 5 de março;
- violentos confrontos envolvendo torcidas organizadas de clubes de futebol, especialmente nos jogos Vasco x Fluminense, em 17 de fevereiro, e Flamengo x Peñarol, em 3 de abril;
- os destrutivos temporais de 6 de fevereiro e 8 de abril, com transtornos em toda a cidade, mais de uma dezena de mortes e prejuízos materiais incalculáveis.
Como pano de fundo, uma inédita crise política e econômica, com serviços públicos em colapso, parlamentares e ex-governadores presos, repetidas denúncias de corrupção e um provável processo de impeachment contra o atual prefeito.
O Rio nos trânsitos
O que se passa no mapa do Rio? Consideremos, em primeiro lugar, os trânsitos para o dia 8 de abril de 2019, quando a cidade parou em decorrência da mais volumosa tempestade dos últimos 22 anos (mais de 300mm de chuva em 24 horas nos bairros mais afetados).
Netuno, que transita há algum tempo sobre o stellium em Peixes da casa 10 do Rio, encontra-se neste momento sobre o Meio do Céu (o Poder Executivo). É o retrato de uma cidade que vem sendo governada de forma descuidada e por vezes caótica, e também um indicador de fragilidades que, no plano coletivo, funcionam de forma análoga a uma baixa de imunidade. O Rio está mais vulnerável a ameaças, sejam elas de ordem natural (fenômenos climáticos), ou administrativa.
Como um gatilho adicional das enormes dificuldades que a cidade viveu na noite de 8 de abril temos ainda um trânsito de curta duração: Marte em Gêmeos transitando sobre Netuno radical, junto ao Ascendente da cidade.
O Rio nas progressões secundárias
Se observamos as progressões secundárias, confirma-se o mesmo quadro de crises provocadas por descuido e relaxamento. Comecemos pelo mapa progredido em si, calculado para 8 de abril: Novamente vemos um encontro Sol-Netuno enquadrando o Meio do Céu: é uma configuração de fragilidade e de omissão administrativa. Ao mesmo tempo, Sol e Plutão progredidos já se encontram em órbita de quadratura. Este contato, que ainda se estenderá por mais um ano, fala de violência urbana e, provavelmente, da ação do crime organizado desafiando a autoridade.
Progressões secundárias revelam uma cidade disfuncional
Quando projetamos o mapa progredido sobre os planetas e casas do mapa radical do Rio de Janeiro, temos um quadro revelador: o Sol progredido encontra-se a menos de um grau da quadratura exata com o Meio do Céu radical, que acaba de receber também o trânsito de Plutão. Marte progredido acaba de formar conjunção com Saturno radical e avança agora para a oposição com Vênus.
No conjunto, estes aspectos falam de um governo disfuncional, em crise, e de um sério problema de segurança e/ou desafio à autoridade. Netuno ainda se encontra suficientemente próximo do Ascendente progredido, indicando que vivemos uma fase de colapso de serviços públicos. Como os planetas no mapa progredido avançam muito lentamente (com exceção da Lua), estes aspectos refletem uma realidade que se arrasta há alguns anos. Na verdade, a quadratura do Sol aos planetas da casa 10 já se encontrava ativa em 2009, quando o Rio foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Na época, o Sol quadrava a Lua radical e transitava sobre Netuno radical. Era a fase áurea dos esquemas montados entre administradores públicos e grandes empreiteiras, raramente em benefício da população.
Há saídas para o Rio de Janeiro?
Não há lugar para o fatalismo em Astrologia. Trânsitos e progressões de Netuno e Plutão apenas indicam desafios que podem e devem ser enfrentados, como já aconteceu no passado.
Um dos momentos em que o Rio de Janeiro deu um salto qualitativo mais importante como espaço urbano foi no início do século XX, quando Plutão em trânsito cruzava o Ascendente da cidade. Correspondeu aos governos do presidente Rodrigues Alves e do prefeito Pereira Passos, que conduziram uma revolução urbanística sem precedentes, rasgando avenidas modernas e transformando o Rio numa Paris tropical. Neste mesmo período, o cientista Oswaldo Cruz promoveu uma guerra incansável e bem sucedida contra a febre amarela e outras doenças endêmicas. Através do saneamento e da vacina, a cidade enfrentava ratos e mosquitos.
Mal utilizada, a energia plutoniana se expressa sob a forma de manipulação do poder e crime organizado. Bem utilizada, pode ser a força propulsora de mudanças drásticas, nem sempre bem recebidas no primeiro momento, mas essenciais no longo prazo, por implantarem conceitos e projetos benéficos para todo o tecido social.
O mesmo ocorre com Netuno: em sua manifestação mais rasteira, sinaliza períodos de omissão, descaso, corrupção, propaganda enganosa e engodos. Já em sua manifestação mais elevada, pode significar um período em que a administração pública está a serviço de grandes ideais, quando conceitos inspiradores podem florescer na forma de arte, estímulo ao turismo e inclusão social.
O Rio de Janeiro é uma cidade desiludida e sem esperança em seus governantes. Paradoxalmente, é este sentimento que pode proporcionar grandes oportunidades de renovação, num futuro próximo. Nascida sob a marca de Netuno no Ascendente e Plutão no Meio do Céu, tudo o que a cidade precisa é tomar posse de seu próprio mapa, decidindo em que nível pretende vivê-lo nas próximas décadas. Como afirma o ditado, o momento mais escuro é exatamente aquele que antecede a aurora.
consuelo pamplona diz
Ái que dó. Não estou vendo muito jeito de alçarmos um degrau na escala evolutiva nas próximas décadas. Ou, utilizar de forma positiva as energias de Plutão e Netuno. Vamos tomar fumo mesmo, chumbo grosso. 80 vai ser fichinha. Todavia dizem que Netuno é o planeta dos milagres… clamo por um.
José A. Baptista diz
Quando eu morava na fazendo e tinha sete anos – há exatos 60 anos atrás – meu avô paterno e meu sempre diziam: “Se você procurar chifre na cabeça de cavalo você pode achar!”, em pouco tempo de procura encontrei: Os Unicórnios tem chifre! Assim é com a astrologia, depois do acontecido não precisamos fazer exaustivas pesquisas, basta darmos umas olhadas no Mapa Astral de uma determinada pessoa, de uma eventos e de uma cidade, lá estão todas as respostas para o que aconteceu e o que está acontecendo. Não sou adepto dessa astrologia. Agora, no caso de usar um acontecimento – ou acontecimentos – desastroso como referência para prevenir outros, aí sim, concordo em todos os sentidos. E usando a astrologia astrólogos competentes conseguem antever fatos com razoável precisão. Como exemplo, baseando nos dados astrológicos do rompimento da barragem de Brumadinho, segundo minhas análises pode ocorrer outro rompimento em Minas entre 15 e 30 de abril, mais precisamente entre 20 e 25 de abril, principalmente se chover muito neste período.
Redação Constelar diz
José A. Baptista,
A função mais nobre da Astrologia Mundial não é fazer previsões factuais precisas, que aliás não são sequer possíveis, por dois motivos: o primeiro é que o número de variáveis que intervêm na gênese de um acontecimento de ordem coletiva é complexo demais para ser aprisionado dentro de um modelo matemático. Tal como na Meteorologia ou na Economia, o papel da Astrologia é traçar cenários, levantar prognósticos a partir da análise comparativa de ciclos passados e de fatos históricos correspondentes – sem a pretensão de predizer o futuro. O segundo motivo é o princípio do livre arbítrio. Observe que não defendemos no artigo que o efeito destruidor das últimas enchentes esteja em relação direta com o volume pluviométrico, mas sim com a omissão e o descaso do poder público, assim como com a corrupção endêmica. Estes comportamentos estão em analogia com o campo nocional de Netuno e Plutão, mas só manifestam as piores possibilidades relacionadas a estes planetas em função da interação das configurações celestes com fatores socioculturais que em parte escapam à análise da Astrologia: nível de educação, caráter, valores éticos etc. Em outras palavras: o homem INTERAGE com o céu, não estando sujeito a sofrer deterministicamente os efeitos de configurações planetárias.
Quanto a correlacionar fatos passados com as configurações correspondentes, este é um exercício tão importante para o astrólogo quanto a compreensão de processos sociais do passados é vital para o historiador. Em ambos os casos, o objetivo é dar um significado à experiência e aprender a evitar a repetição automática de situações negativas. Aí sim, temos o papel mais nobre da Astrologia.
José A. Baptista diz
Primeiramente agradeço pelas respostas. Mas desde comecei a estudar astrologia – em meados de 70, como se divulgava maciçamente na época como fazer previsões com a astrologia –, me propus à criar métodos de, no máximo possível, tentar evitar acontecimentos desastrosos. Como sou Rosacruz – desde 1971 – as coisas para mim se tornam muito mais fáceis, até demais. O maior empecilho para a astrologia no que se refere as previsões são as coordenadas geográficas.
Exemplo: Ao traçarmos um mapa para a cidade do Rio de Janeiro e para um cidadão que mora nesta cidade, as coordenadas geográficas serão as mesmas – é aí que mora o empecilho. Pois um acontecimento indicado para o Rio de Janeiro é o mesmo para o cidadão, pode acontecer para o Rio de Janeiro, mas não acontecer para o cidadão – e vice-versa.
Antigamente as previsões astrológicas eram mais exatas devido não existirem grande cidades como hoje. Estima-se que atualmente o Rio de Janeiro conta com mais de 17 milhões de habitantes, 43×60+12=2592 minutos (9.331.200 milésimos do segundo) divididos por 17 milhões, praticamente nada para cada habitante – essa é a minha visão.