Duas e meia da madrugada em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Algumas centenas de jovens dançavam na boate Kiss quando, por volta das 2h30 da manhã, o vocalista da banda que se apresentava naquele momento resolveu fazer uma espécie de show pirotécnico, provavelmente utilizando sinalizadores. A espuma do isolamento acústico foi atingida por faíscas e as chamas rapidamente se espalharam, provocando pânico. Segundo relatos de sobreviventes às redes de TV, muitas pessoas não conseguiram encontrar as portas de saída. Outros relatam que, num primeiro momento, seguranças não entenderam tratar-se de um incêndio e dificultaram a fuga, exigindo o pagamento de comandas de consumo.
Segundo os bombeiros, 90% dos corpos não apresentava queimaduras, indicando morte por asfixia (a espuma do isolamento acústico libera substâncias altamente tóxicas). A maioria dos corpos encontrava-se amontoada nos banheiros, provavelmente indicando que as portas de emergência estavam sinalizadas de maneira confusa. Sobreviventes confirmam que muitas pessoas em pânico correram para o banheiro pensando tratar-se da saída da boate.
Eis o mapa do início do incêndio, calculado para 2h30 da madrugada:
O incêndio antecede em apenas alguns minutos a Lua Cheia, que ocorreu às 2h38 HV. A Lua em Leão era, naquele momento, o planeta mais elevado da carta, o que já sinaliza um acontecimento de massa, público, de proporções ampliadas. O Ascendente em Sagitário e a situação angular de Júpiter também contribuem para dar ao evento uma dimensão hipertrofiada, pois Júpiter rege tudo o que é grande. Aliás, Júpiter, regente do Ascendente e, consequentemente, significador do evento, está numa situação particularmente crítica: em exílio (Gêmeos), retrógrado, na casa 7, e em quadratura com Netuno na casa 4 (Netuno rege substâncias químicas e de efeito narcótico – a fumaça tóxica gerada pela queima de uma espuma sintética, feita com derivados do petróleo).
Cabe lembrar que a casa 7, de tantos significados positivos (parcerias, casamentos), funcionou neste evento em sua dimensão mais negativa: o confronto, ou conflito, que teve lugar quando centenas de pessoas tentaram ganhar ao mesmo tempo uma única saída. Segundo relatos de sobreviventes, “todos se empurravam e se atropelavam”, num “estouro de manada” que levou muitos à morte por pisoteamento. E, para os que utilizam pontos pouco comuns na análise astrológica, vale assinalar que Júpiter está em conjunção com a Parte da Fortuna e em quadratura com Quíron, além de não muito distante de Lilith, a chamada Lua Negra. Para astrólogos defensores da interpretação cármica, seriam indicadores de uma certa inevitabilidade, o que se reforça com a presença de Saturno na 12 em quadratura com os luminares.
Numa abordagem mais “mundana”, podemos falar em inconsequência, algo que pode ser lido na própria angularidade de Júpiter (de cujo nome derivam as palavras jovem e juvenil) em Gêmeos (um signo de comportamento adolescente), assim como na quadratura da alegre e festeira Lua em Leão com o cauteloso Saturno: o apelo ao cuidado e ao bom senso está encerrado na casa 12. Saturno lembra aqui o velho agourento a quem ninguém quer dar atenção, e que acaba se transformando no cobrador implacável. Os seguranças que atrapalharam a saída dos jovens por causa das comandas de consumo também são figuras saturninas!
Comparando com outros incêndios: pontos em comum
Em 2005 publicamos em Constelar uma análise comparativa de seis mapas de incêndios de grandes proporções, três deles em danceterias:
- Discoteca Cro-Magnon, em Buenos Aires (2004);
- Canecão Mineiro, em Belo Horizonte (2001);
- Station Concert Club, Rhode Island (2003);
- Galeria Comercial Mesa Redonda, Lima, Peru (2001);
- Supermercado Ycuá Bolaños, Paraguai (2004)
- Edifício Joelma, São Paulo (1974).
A seguir, transcrevemos as conclusões que apresentamos em 2005. Vejamos se as características astrológicas dos incêndios anteriores foram confirmados na tragédia de Santa Maria:
1 – Em todos os seis casos, Lua ou Netuno estão em estreita conexão com os eixos do horizonte e do Meio do Céu. A conexão pode ser por presença no ângulo, por regência ou por aspecto tenso com o regente. Em cinco desses casos, a Lua está envolvida. No único caso em que não está, o de Rhode Island, ela é substituída por Netuno, planeta com o qual a Lua tem diversas afinidades. Esta constante Lua/Netuno parece ter relação com o fato de serem eventos de massa.
Confirmado. Na tragédia de Santa Maria, o planeta mais elevado é a Lua em Leão, na casa 9, a apenas 10 graus do Meio do Céu. A Lua está a apenas quatro minutos da oposição com o Sol (Lua Cheia), sendo o Sol dispositor da Lua e regente do Meio do Céu.
2 – Nos seis mapas Marte forma aspectos tensos com outros planetas – quadraturas e oposições, e às vezes também conjunções. Os planetas que aspectam Marte variam caso a caso.
No mapa de Santa Maria, Marte está em Aquário, em recepção mútua com Urano em Áries. Considera-se tradicionalmente que a recepção mútua (quando o regente do signo A está no signo B e o regente do signo B encontra-se no signo A) tem valor semelhante ao de uma conjunção, já que os dois planetas encontram-se em estreita conexão e podem ser lidos cada um na posição do outro. Marte em Aquário não forma aspectos tensos tradicionais com planetas lentos. Contudo, forma uma quadratura com os Nodos, um aspecto nada desprezível, enquanto Urano está em quadratura com Plutão. Pelo efeito da recepção mútua, é como se tivéssemos, portanto, uma quadratura Marte-Plutão, o que confirma a característica observada nos mapas das demais tragédias.
3 – Em cinco dos seis mapas considerados, Marte rege ou a casa 6 ou a 8, ambas consideradas indicadoras de crises (estamos considerando Marte como regente clássico de Áries e Escorpião).
Confirmado: no mapa da tragédia de Santa Maria Marte rege a casa 6, das crises agudas.
4 – Quatro dos seis mapas apresentam Saturno envolvido em quincunces (ângulos de 150 graus), e sempre com Vênus ou Plutão. Nos dois mapas restantes, Saturno forma oposição a Plutão. Além de Marte, Saturno é o único planeta que forma aspectos desarmônicos em todas as cartas.
Saturno não forma quincunces (um aspecto tenso) nem está em aspecto tenso com Plutão, mas sim em aspecto harmônico (sextil) e recepção mútua (troca de domicílios). Por outro lado, confirma-se plenamente a regra de aspectos desarmônicos envolvendo Saturno, já que este planeta é o vértice de uma quadratura T envolvendo nada menos que Sol, Lua e Mercúrio. Além do mais, Saturno – um regente de portas e também de obstáculos – está na casa 12, das prisões e limitações, enquanto os outros planetas da quadratura T estão no eixo das casas 3 e 9, das vias de comunicação (representando, no caso, as vias de escape da boate).
Estatisticamente, o dado mais significativo nos mapas pesquisados é a recorrência de aspectos tensos de Marte e de Saturno. Todavia, apenas a análise de um maior número de incêndios com numerosa quantidade de vítimas e horário bem conhecido poderá confirmar se as tendências aqui identificadas podem ser realmente válidas.
O caso de Santa Maria confirma quatro das características presentes nos mapas de outros incêndios estudados: o envolvimento de Lua ou Netuno com os ângulos, os aspectos tensos de Saturno, o envolvimento tenso de Marte com planetas lentos (desta vez de forma indireta, mediante recepção mútua), e a regência de Marte sobre uma casa crítica – 6 ou 8.
José A. Baptista diz
Tendo por base a data da concepção deste evento – incêndio na boate Kiss –, concepção esta que aconteceu em 23/04/2012/19h.39m., segundo minhas análises utilizando-se o método CAL (Código Astral Natal), conjuntamente com o software astrológico que utilizo, ele reportou que o início do incêndio na Boate Kiss na data (27/01/2013) foi por volta da 01 h. e 22m., e que as pessoas só começaram a ver a gravidade do incêndio alguns minutos depois, aí o desespero foi maior. É no mapa da concepção do evento – primeiro conceber para depois nascer – é vemos a gravidade do que iria acontecer naquela data (27/01/2013) e naquela hora (01h. e 22m.).
Contudo, quando ocorre acontecimentos desastrosos – como o incêndio na Boate Kiss, onde morreram 242 pessoas –, e que envolvem muitas pessoas (dezenas, centenas, milhares ou mais) agrupadas, as análises devem ser feitas no modo coletivo, aqui no caso, o mapa astral que é individual não conta. E sim, se monta e se analisa o Mapa astral que que envolve muitas pessoas, neste caso, o ponto de partida são os planetas de trânsito lento e que alteram o curso da história: Júpiter, Saturno, Quíron, Urano e, principalmente, Plutão.
Neste contexto, então, o acontecido na Boate Kiss naquela data e naquele horário, por exemplo, pode ter brotado bem antes das 02h.22m. (01h.22m.), às 01h.20m. (00h.20m., sem o horário de verão), por exemplo, quando Saturno (negativo) estava ocupando a Cúspide da Casa Astral 1; Plutão e Vênus na Casa Astral 3 (negativos); Sol e Mercúrio na Casa Astral 4 (negativos); Marte e Netuno conjuntos com a Casa Astral 5, mais Quíron (ambos negativos); Urano (negativo) conjunto a Cúspide da Casa Astral 6; Júpiter (negativo) na Casa Astral 7; e a Lua (quase) Cheia (negativa) estava na Casa Astral 10. Se colocarmos Plutão na Cúspide da Casa Astral 1, Urano se posiciona na Cúspide da Casa Astral 4.
Não esqueçamos também do momento em que a porta da Boate Kiss foi aberta (provavelmente por volta das 23 horas (22h.) de 26/01/2013, aqui o Ascendente que ascendia era Libra) e as pessoas começaram a entrar na Boate. Sendo praticamente neste momento em que o “evento desastroso” começaria à nascer, e às 02h30m. se escutaria os berros – não de bebês gêmeos nascendo –, e sim, de pessoas morrendo. Momento de nascer, momento de viver, e momento de morrer – é a lei da vida.