Em 22 de novembro (ou de outubro?) de 2023 Niterói completa 450 anos. As origens da cidade remontam a 1568, quando o governador Mem de Sá doou ao cacique Arariboia uma sesmaria do outro lado da Baía de Guanabara, em frente ao Rio de Janeiro. As terras eram uma espécie de pagamento pelo auxílio que a tribo do cacique prestou aos portugueses na guerra contra os franceses que ocuparam a região no século XVI.
Os registros informam que o cacique só conseguiu tomar posse solene da sesmaria, que abarcava as terras situadas do outro lado da baía de Guanabara, em 22 de novembro de 1573. Segundo texto da Secretaria de Turismo do município, “a doação por Mem de Sá tornou-se efetiva a 6 de março de 1568, sendo a posse solene, com a presença do governador Cristóvão Barros, realizada em 22 de novembro de 1573. Essa é a maior data de Niterói, feriado municipal, quando se comemora o aniversário da Cidade.”
Esta, pelo menos, é a história oficial. Na verdade, a posse da sesmaria aconteceu em 22 de outubro de 1573. O auto foi copiado erradamente pelo historiador Joaquim Norberto, em 1909, originando a comemoração em novembro. Em 1930 José Luis de Arariboia Cardoso, com a documentação original em mãos, solicitou a retificação da data. O pedido foi negado, alegando-se que a comemoração em novembro já havia se tornado tradição. Assim, a escorpiana Niterói acabou virando sagitariana por acaso.
Nichteroy é termo tupi, significando “Água Escondida”. Boa parte da atual cidade é resultado do aterro de antigos manguezais. A importância da sesmaria vem do fato de corresponder exatamente ao miolo do atual núcleo urbano.
O cacique Arariboia até hoje está lá, imortalizado em estátua à beira-mar. Dizem as más línguas que olha para o Rio e dá as costas à cidade que governou. Mas se Arariboia tivesse saudades de algum lugar, provavelmente não seria do Rio, e sim de Cananeia, ou Bertioga, sua verdadeira origem. Acontece que os índios temiminós, que combateram ao lado dos portugueses contra os franceses, tiveram de ser “importados” do litoral de São Vicente por Mem de Sá, já que toda região fluminense era originalmente dos tamoios.
Niterói foi capital do Rio de Janeiro durante dois períodos distintos. O “outro lado da poça” atualmente tem níveis de qualidade de vida considerados superiores aos do Rio, além de uma das populações mais bairristas de todo o país. Entre os niteroienses notáveis alinham-se a o ex-presidente Nilo Peçanha, a família Grael, do iatismo, o pintor Antonio Parreiras e, mais recentemente, o ator Paulo Gustavo, que, após falecer vítima de Covid, passou a batizar uma das ruas mais movimentadas do bairro de Icaraí.
Qual dos dois mapas refletem melhor as características da cidade? Quanto ao Ascendente, nem pensar: não há registro conhecido do momento da posse da sesmaria. O que temos, então, são dois mapas solares (sem casas), ambos calculados para o horário-padrão do meio-dia. Vamos a eles:
A hipótese Sagitário
Na carta da comemoração oficial, a cidade tem uma tripla conjunção em Sagitário, signo relacionado à cultura e aos esportes. Niterói tem uma importante universidade (a UFF) e uma forte ênfase nas atividades ao ar livre, ligadas ao calor e ao verão. Como argumento contrário, pode-se lembrar que esta não é uma característica exclusiva do município, mas de toda a região litorânea do estado do Rio de Janeiro.
Com metade da carta em Sagitário e Capricórnio, dois signos ligados à administração pública e à lei, não admira que a cidade tenha sido uma capital por tanto tempo. O poder das oligarquias interioranas, que sempre dominou a vida política da cidade, pode ser associado à oposição Júpiter-Saturno e também ao trígono Lua-Plutão.
A hipótese Escorpião
Aspectos tensos Marte-Plutão, Júpiter-Vênus e Netuno-Lua dão a tônica desta carta, onde o Sol em Escorpião não forma contatos com nenhum outro planeta. É uma carta menos ígnea e mais aquática do que a de 22 de novembro, o que parece estar de acordo com algumas características da cidade: a importância das lagoas, do porto e, evidentemente, das praias (algumas das melhores do estado).
É compatível também com o fato de a região central ter origem em aterros de manguezais, assim como com a importância do iatismo, um esporte aquático, na projeção internacional do município. Contudo, a associação mais evidente é a de Marte-Plutão e Netuno-Lua com a indústria naval. Niterói sempre teve nos estaleiros um de seus pilares econômicos. Literalmente, é uma cidade que ganha dinheiro com a água.
Niterói é mais conservadora e tradicionalista do que o Rio, o que pode ser visto na conjunção Vênus-Saturno. Sol em Escorpião sem aspectos e Netuno em Câncer são uma boa tradução astrológica do significado do nome indígena Niterói: são as “águas escondidas”, no sentido de guardadas, discretas ou pouco visíveis.
Já Plutão oposto a Marte e em trígono com Saturno parece falar de uma cidade rica mas discreta, cujos bairros oceânicos, repletos de condomínios luxuosos, não recebem nada que se pareça com as hordas de turistas que invadem costumeiramente as praias da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Qual mapa considerar? Na verdade, jamais saberemos. Talvez estejam aí para expressar o conflito entre a verdade astrológica que a cidade recusa (o rejeitado Sol em Escorpião) e aquela que gostaria de ter (o alegre Sol em Sagitário). Há quase cinco séculos à sombra do Rio de Janeiro, é natural que a velha sesmaria de Arariboia ainda não tenha conseguido resolver sua crise de identidade.
André Alcântara diz
Sol em sagitário – indubitavelmente – tem niteroiense na Sibéria até Timbuktu, Portugal Pequeno na Ponta d’Areia, alemães, dinamarqueses campeões de iatismo, além da UFF um grande número de escolas de línguas estrangeiras. O município percentualmente com a maior classe A do Brasil, na moita … escorpiana mente.
Redação Constelar diz
Faz todo o sentido, André!