Na tarde da sexta-feira, 29 de setembro de 2006, quase 150 pessoas esperavam pelo embarque da Gol no aeroporto de Manaus. Não tinham ideia de que seu destino se cruzaria, menos de três horas depois, com o de um piloto e cinco passageiros americanos que às 14h51 decolavam num jatinho da Embraer no aeroporto de São José dos Campos, rumo aos Estados Unidos. Apenas 44 minutos separaram as decolagens das aeronaves que estavam destinadas a protagonizar o maior acidente da história da aviação brasileira até aquela data.
O jatinho Legacy da Embraer e o homem manejando um dardo
O mapa da decolagem do jatinho Legacy revela de pronto as duas configurações que estariam presentes também nos mapas da outra decolagem, em Manaus, e do choque entre as duas aeronaves: a quadratura T envolvendo Saturno, Netuno e Júpiter e a conjunção Lua-Plutão em Sagitário.
Saturno e Urano regem Aquário, signo no Ascendente da carta. Urano está em Peixes, signo de Netuno. Já Saturno está em Leão, um de seus exílios, e em oposição a Netuno em Aquário. Portanto, os dois regentes do Ascendente, além de envolvidos em aspectos tensos, estão ambos vinculados de alguma forma a Netuno, planeta que rege as névoas, as nuvens, os enganos, o ilimitado (a floresta amazônica sem fronteiras definidas). Ambos, Netuno e Saturno, formam quadraturas a Júpiter, o grande amplificador, mostrando que tudo que adviesse da relação tensa Netuno-Saturno seria magnificado e exagerado.
No mapa de uma decolagem, a casa 1 pode indicar o caráter do evento, ou seja, a viagem em si. Com Saturno, um maléfico essencial em mau estado cósmico (exilado, na casa 6 e tensionado) e com Netuno tão destacado como chave para a compreensão da natureza daquela viagem, em que podemos pensar? Erro humano é a primeira hipótese, mas há também a possibilidade de que o desvio de rota do jatinho escondesse algo mais. Não esquecer que o escorregadio Netuno está na casa 12, daquilo que não se quer mostrar – ou que não se consegue enxergar.
Na cúspide da casa 11, a Lua acaba de deixar para trás uma conjunção com Plutão, o senhor do mundo dos mortos, e avança para uma quadratura com Vênus na casa 8 (que também significa a morte, entre outras possibilidades). Vênus rege a casa 4, do resultado final da situação, e a 9, das grandes distâncias e do estrangeiro. Apesar de considerado um planeta essencialmente benéfico, nesta carta Vênus não faz jus a tal status, tendo em vista sua condição de planeta em queda (Virgem), conjunto ao Nodo Sul (efeito restritivo) e na casa 8, sempre temida pelos astrólogos antigos.
Em resumo: a Lua, que sempre é uma indicadora de ação em mapas de eventos, caminha para um aspecto tenso com planeta em mau estado cósmico numa casa relacionada à morte. Não é, certamente, uma indicação favorável. Contudo, o que torna este mapa particularmente dramático encontra-se em outra parte. O Ascendente da partida do Legacy encontra-se em 24º17′ de Aquário. Considerando a velha tradição dos graus simbólicos, que atribui uma imagem sugestiva para cada grau do zodíaco, encontramos as seguintes descrições para a posição deste Ascendente:
Volosfera – Um homem de olhar sombrio, uma expressão de raiva furiosa em todo o corpo, bate os pés, agitando um punhal; sua fronte está golpeada por um rastro de sangue. Ele vira as costas para uma grande construção triste (prisão ou asilo), onde todas as janelas têm barras e onde uma mão entreabre a pesada porta.
Calendário Tebaico – Um homem manejando um dardo.
Trata-se de uma impressionante evocação de violência e de agressão (o dardo, o punhal, a fúria), deixando claro o papel que o jatinho Legacy teria na tragédia.
O Boeing da Gol encontra seu destino
O Boeing da Gol só deixou o aeroporto de Manaus às 14h35, hora local (15h35, hora de Brasília), cinco minutos depois do horário marcado. As posições planetárias nos signos são quase idênticas às da carta da partida do Legacy, mas as cúspides das casas apresentam uma diferença de alguns graus para menos, com relação ao mapa da decolagem do jatinho da Embraer. Isso faz com que a oposição Saturno-Netuno, que na carta do Legacy encontra-se no eixo 6-12, passe agora para o eixo Ascendente-Descendente, o que lhe dá um papel muito mais decisivo. O Ascendente simboliza aquilo que está sendo iniciado e corporificado. Na partida do Boeing de Manaus, o que se corporifica é o risco de um grande engano (Netuno) de avaliação que impediu a percepção correta da posição de um “inimigo oculto” (Saturno na 7 regendo a 12).
O choque entre as duas aeronaves ocorre em algum momento logo após 16h58, quando se deu o último contato do Boeing com a torre. No dia seguinte, a tendência mais forte entre os analistas era considerar que o choque pudesse ter ocorrido no espaço aéreo do município de Jacareacanga, no sul do Pará, por volta das 17h. Daí até o desfecho final devem ter-se passado poucos minutos, tempo suficiente para o avião cruzar a fronteira do Mato Grosso e espatifar-se na área de uma fazenda perto do município de Peixoto de Azevedo.
Este novo mapa põe a nu o potencial de risco presente nos mapas anteriores. Agora o Ascendente avançou para o final de Peixes, opondo-se a Vênus – exatamente aquela Vênus que no mapa da decolagem do Boeing ocupava a casa 8 e recebia a quadratura da Lua. Na carta do acidente, a quadratura acabou de acontecer: a Lua marcha agora para mudar de signo sem formar qualquer novo aspecto, indicando uma situação já decidida, irremediável.
Lua e Plutão estão agora enquadrando o Meio do Céu. Os nodos estão no eixo Ascendente-Descendente. Júpiter, plantado no Meio do Céu da decolagem do avião da Gol, recebe agora todo o impacto das quadraturas de Netuno e Saturno em plena casa 8 – a da morte.
Outro dado relevante é que a região da queda da aeronave situa-se na área de sombra do eclipse parcial solar ocorrido poucos dias antes, em 22 de setembro. Mais impressionante: a quadratura Lua-Vênus do momento do choque ativa por conjunção e quadratura o eclipse de 22 de setembro! Os aspectos são praticamente exatos, mostrando como a utilização dos mapas de eclipses dá uma chave preciosa para a compreensão dos eventos que se desdobram nas semanas posteriores.
Está explicado porque o acidente do vôo 1907 foi um dos dois mais terríveis da história da aviação brasileira? Temos de admitir que ainda não. Outros voos foram iniciados em horários e aeroportos próximos, com mapas muito semelhantes, e nada aconteceu de notável. Além do mais, pouquíssimos astrólogos olhariam para os três mapas aqui analisados e “veriam” as configurações de um desastre com 155 mortos. Para entender é preciso ir um pouco mais além.
Leia também:
- Queda livre, astrocartografia da tragédia de Vinhedo, por Maria Eunice Sousa
- O mapa da Gol, a empresa da barrinha de cereal, por Fernando Fernandse
- 2007: tragédia com avião da TAM em Congonhas por Fernando Fernandse