
Rio Itajaí-Açu cortando o centro de Blumenau.
O Vale do Itajaí, além de ser a região mais alemã do Brasil, tem grande importância para a economia de Santa Catarina e do país como um todo. O principal eixo organizador do povoamento foi o rio Itajaí-Açu, que garantia transporte e água para a lavoura e os assentamentos humanos. Contudo, o convívio da população com o rio nunca foi fácil, já que pelo menos desde 1880 as enchentes periódicas são um problema para as cidades do vale.
Nas últimas décadas, os efeitos cada vez mais visíveis do aquecimento global e das mudanças climáticas na América do Sul, especialmente devido ao desmatamento e às queimadas, vêm tornando as cheias mais e mais destrutivas. Blumenau e cidades próximas ficaram submersas nas grandes enchentes de 1983 e 1984.
Reconstruídas e revitalizadas, as mesmas cidades voltaram a sofrer, em novembro de 2008, com uma enchente ainda maior. Desta vez a catástrofe ambiental teve proporções dantescas, com mais de uma centena de mortos, oitenta mil desabrigados e desalojados e 1,5 milhão de pessoas afetadas de alguma forma.

Blumenau parcialmente submersa na inundação de 1983: a de 2008 foi ainda pior.
A Astrologia pode contribuir para o planejamento urbano mediante a compreensão da “personalidade” específica de cada região do país, assim como de seu possível papel histórico-cultural e vocação econômica. Entender a natureza astrológica de uma região significa também entender suas vulnerabilidades, permitindo a prevenção de futuras catástrofes.
Sem dúvida, as duas cidades mais importantes do vale são Itajaí, no litoral, e Blumenau, às margens do médio Itajaí-Açu. Esses centros regionais funcionam como as estrelas de primeira grandeza de uma constelação que também inclui cidades como Brusque, Pomerode, Navegantes, Rio do Sul e o Balneário Camboriú.
É em Itajaí e Blumenau que devemos, portanto, concentrar nossa análise em busca de um traço astrológico dominante para a região.
É comum que cidades contem com mais de uma data significativa em sua história. Qual considerar para levantamento de uma “carta de nascimento”? A experiência nos diz que nada melhor do que valorizar o que a própria comunidade considera como seu marco fundador, normalmente associado a um mito de criação que pode envolver um herói individual ou coletivo.
Os fatos relacionados a esse mito de criação nem sempre são verdadeiros, ou nem sempre são os mais importantes do ponto de vista estritamente histórico, mas é exatamente aí que reside o interesse astrológico.
Ao contar uma determinada história sobre seus primórdios, a comunidade revela como se percebe e como gostaria de ser vista pelo mundo. Ao mitificar suas origens, a cidade plasma no imaginário uma identidade coletiva.
Itajaí, entre Netuno e Plutão
Apesar de colonizada pelo menos desde 1750, Itajaí considera 15 de junho de 1860 como a sua verdadeira data de fundação. Foi o momento da instalação da vila, desmembrada de Porto Belo, e da instauração do princípio da ordem urbana, corporificada na Câmara Municipal.

Itajaí, uma cidade plana e vulnerável à beira do rio do mesmo nome.
Segundo o astrólogo e professor Paulo Pinheiro, nativo de Itajaí e morador da cidade, a instalação da vila ocorreu às 9h da manhã, do que resulta um Ascendente Câncer. É ele quem relata, em comunicação de 2008:
A fundação do Município de Itajaí foi às 9 horas do dia 15 de Junho de 1860. Fiz essa pesquisa através do Museu Histórico de Itajaí, há seis anos, e constatei que esta cidade tem Câncer no Ascendente e a Lua em Touro na casa 10. Netuno em Peixes quadrando o Sol em Gêmeos está na Casa 8, o que explica vulnerabilidade a perdas.
Existem outros aspectos significativos, como a conjunção Plutão/Lua, na Casa Dez, o que dá um tom de desvalorização, por parte de populações vizinhas, em torno da má fama sobre os itajaienses, no que se refere a conceitos de comportamento, já que a Lua taurina é regente do Ascendente.

Itajaí, carta de fundação – 15.6.1850, 9h LMT. 048w39, 26s53.
Às observações de Paulo podem-se acrescentar mais algumas:
- a quadratura do Sol em Gêmeos com Netuno no último grau de Peixes coloca em destaque dois signos mutáveis, ligados às trocas comerciais, sociais e culturais;
- a conjunção Lua-Plutão em Touro, no Meio-Céu, indica a vocação da cidade no trato com a riqueza e a produção de bens, com destaque para a área de alimentos. Itajaí é o principal porto de exportação de frios do Brasil, além de contar com uma variada indústria e setor de serviços.
Por outro lado, a própria função portuária da cidade favorece a difusão de doenças sexualmente transmissíveis. Durante muito tempo, Itajaí sempre constou nos primeiros postos dos índices de Aids no Brasil, situação que só recentemente começou a ser revertida.
A difusão da Aids também pode ser relacionada a Lua-Plutão no Meio-Céu, assim como a Vênus no Ascendente oposta a Marte e em conjunção com o Nodo Sul.
Já a oposição de Marte em Aquário a Júpiter-Vênus, no eixo do Ascendente, indica uma disposição jovial, alegre, algo adolescente. Por outro lado, favorece a pesquisa acadêmica e o desenvolvimento tecnológico. Além de contar com uma das maiores universidades de Santa Catarina, Itajaí tem nos arredores os balneários mais agitados do litoral catarinense, sempre lotados de gente jovem.
Blumenau, uma cidade Sol-Netuno
Já no caso de Blumenau, a data considerada mais significativa é a da fundação da colônia, em 2 de setembro de 1850, conforme o próprio site da Prefeitura Municipal:
Em 1850, o filósofo alemão Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau obteve do governo Provincial uma área de terras de duas léguas, para estabelecer uma colônia agrícola, com imigrantes europeus.
Em 02 de setembro de 1850 (data que ficou marcada como a fundação da cidade), dezessete colonos chegaram ao local onde hoje se ergue a cidade de Blumenau.
Muitos outros imigrantes atravessavam o Oceano Atlântico em veleiros de companhias particulares. E assim foi crescendo o número de agricultores, povoadores e cultivadores dos lotes, medidos e demarcados ao longo dos rios e ribeirões que banhavam o território da concessão. (site da Prefeitura de Blumenau)
Dr. Hermann Blumenau, o fundador jupiteriano

Dr. Hermann Blumenau e esposa.
Diga-se de passagem que, além de filósofo (atividade de Júpiter), o Dr. Hermann Blumenau era também farmacêutico (uma profissão Plutão/Netuno) e representante comissionado da Sociedade de Proteção aos Imigrantes Alemães no Sul do Brasil (imigrantes é assunto dos signos de Júpiter, Sagitário e Peixes).
Casou-se apenas aos 48 anos e viveu até os 79 anos (casamento tardio e longevidade: Saturno).
Dr. Blumenau nasceu em 26 de dezembro de 1819, no ducado de Braunschweig, atual Alemanha. Com o Sol em Capricórnio, nada menos que cinco planetas estão nos signos de Júpiter, Sagitário e Peixes. O “herói mítico” da cidade era, portanto, um tipo jupiteriano.

Dr. Hermann Blumenau, carta solar – 26.12.1819, Braunschweig, Alemanha.
Deixando o fundador e voltando agora às origens da cidade de Blumenau: a carta solar da fundação mostra o Sol em Virgem em oposição a Netuno em Peixes, como a indicar que o que esta cidade tem de mais criativo e de mais especial guarda relação com os valores do signo das águas oceânicas.

Blumenau, carta solar – 02.09.1850, 12h LMT.
Quando alguém pensa em Blumenau, lembra, de imediato, dois princípios netunianos: um é a marca registrada da mais conhecida indústria da região, a Hering, simbolizada pelos dois arenques cruzados um sobre o outro (lembrando os dois peixes do signo de mesmo nome).
O outro traço netunino é a Oktoberfest, festa criada nos anos 80 exatamente para levantar o turismo na cidade após as terríveis enchentes daquela época. Cerveja e bebidas alcoólicas, de maneira geral, podem ser associadas a Netuno e a Peixes.
Porém, há outros dois conceitos netunianos fortemente vinculados a Blumenau. Um deles é o de enchente — um fenômeno que evidencia a força das águas que com tanta violência desaloja periodicamente milhares de nativos; e o outro é exatamente o de desabrigado, caso lembrarmos que Peixes guarda analogia com a casa 12, das vítimas e da impotência humana diante de fenômenos além de sua capacidade de controle.
A outra data importante na história de Blumenau é a da emancipação do município, ocorrida em 18 de março de 1882. A carta solar para essa data mostra, mais uma vez, uma ênfase netuniana, já que este planeta é dispositor, simultaneamente, do Sol e da Lua em Peixes.
Santa Catarina, uma dominante jupiteriana
Não se pretende defender aqui que a dominante netuniana, comum a Itajaí e Blumenau, explique as periódicas cheias do rio Itajaí-Açu. Todavia, não há como deixar de ressaltar que aquela é, provavelmente, a região do Brasil com mais forte ênfase pisciana.
O próprio Estado de Santa Catarina tem Peixes e seu regente clássico, Júpiter, enfatizados desde o início de sua colonização, como defendemos no artigo A Estrela de Santa Catarina, de abril de 2004:
Estas são apenas observações iniciais, referentes a um período muito recuado e pouco conhecido da história de Santa Catarina. Mas parece claro que, com base nos pontos enumerados, uma dominante Sagitário-Câncer-Peixes afirma-se desde os primeiros anos. Júpiter, regente de Sagitário e corregente de Peixes, exalta-se em Câncer, e aí pode estar uma chave importante para compreender o significado astrológico deste Estado.
No mesmo artigo mostramos que, bem ao estilo de Júpiter, o primeiro navio que aportou em praias catarinenses chamava-se L’Espoir — A Esperança. Além do mais, na Antiguidade e Idade Média, a estrela Canopus – uma das mais brilhantes do céu do Hemisfério Sul — era chamada de Estrela de Santa Catarina. Canopus era, na mitologia, um grande navegador e piloto do navio Argo. Cabia a ele encontrar o caminho e guiar o navio para fora dos perigos.
Nascido sob a égide de Júpiter, o grande benéfico, e de um piloto mítico que guia sua gente para longe dos riscos, Santa Catarina tem conseguido reerguer-se de desastres cada vez mais frequentes. Contudo, há que evitar outro significado da relação tensa Sol-Netuno, presente no mapa das cidades mais atingidas: a vulnerabilidade ambiental.
Não se trata simplesmente de recolher os escombros e reconstruir Blumenau e Itajaí a cada nova enchente. Trata-se de repensá-las em novas bases, com plena consciência (Sol) da permanente presença das águas (Netuno). Sol-Netuno pode ser a marca do desabrigado, da vítima. Mas pode ser também o sinal de uma nova relação com a natureza, mais respeitosa e mais inclusiva.