A carta geodésica é uma técnica simbólica que mostra o impacto de configurações planetárias sobre o globo terrestre. As posições dos planetas nos signos são calculadas exatamente como nos mapas convencionais. Já a estrutura de casas não tem relação com o momento do levantamento do mapa, mas sim com as coordenadas geográficas do local considerado. Em outras palavras: a estrutura de casas para um mesmo local sempre permanecerá fixa. O meridiano de Greenwich é considerado equivalente ao Meio do Céu em 0º de Áries. Cada grau de longitude para leste representa um grau no sentido direto dos signos; para oeste, o Meio do Céu avança no sentido inverso ao dos signos. Por esta razão, a maior parte do território brasileiro apresenta, de acordo com esta técnica de astrolocalização, Meio do Céu em Touro e Ascendente em Aquário. Sobre esta estrutura arbitrária de casas, projetam-se as posições planetárias reais de qualquer mapa de nascimento ou evento. Como resultado, temos um novo mapa que pode ser interpretado de acordo com os métodos usuais, no que diz respeito ao significado de planetas em signos e casas, mas sem perder de vista a função dos equivalentes geodésicos como importantes localizadores geográficos. É nesses termos que vamos considerar o mapa para o blecaute de 1999.
Nosso objetivo é avaliar se as casas geodésicas podem explicar que configurações planetárias estavam mais ativadas para as cidades envolvidas mais de perto com o blecaute que, iniciado às 22h16 daquele 11 de março de 1999, deixou no escuro por algumas horas nada menos que 55 milhões de brasileiros (e mais alguns milhões de paraguaios).
A seguir, uma lista dos Meios do Céu e Ascendentes geodésicos de algumas localidades envolvidas no evento (se você não se lembra do que aconteceu, leia os detalhes do artigo de Barbara Abramo):
- Bauru, SP: Meio do Céu – 10°56’ Aquário; Ascendente – 9°36’ Touro.
- São Paulo, SP: Meio do Céu – 13°22’ Aquário; Ascendente – 11°27’ Touro.
- Rio de Janeiro, RJ: Meio do Céu – 16°45’ Aquário; Ascendente – 14°37’ Touro.
- Foz do Iguaçu (Itaipu): Meio do Céu – 5°25’ Aquário; Ascendente – 3°47’ Touro.
- Angra dos Reis: Meio do Céu – 15°41’ Aquário; Ascendente – 13°39’ Touro.
O que chama a atenção de imediato é a fechada conjunção de Urano e Marte com os ângulos geodésicos da cidade de São Paulo. Vejamos o mapa:
Marte está na casa 7, a apenas 29 minutos da cúspide, regendo a casa 12 das ocorrências incompreendidas e a própria 7; Urano ocupa a 10, a 1°29’ do Meio do Céu. Tal situação de angularidade da quadratura entre Marte (energia) e Urano (eletricidade) explica porque São Paulo foi a cidade que mais sentiu os efeitos do blecaute. Vênus, regente do Ascendente, transita pela casa 12, em exílio. O eixo da transmissão e dos transportes (casas 3-9) apresenta também um quadro crítico, com a Lua, regente da 3, presente na cúspide da 9 e exilada em Capricórnio, enquanto seu dispositor, Saturno, encontra-se na limitativa casa 12 em quadratura com Netuno na 9. Tal configuração remete para um sentido de colapso nos transportes (inclusive da energia) e nas comunicações: trens e metrôs parados, engarrafamentos e notícias confusas.
O posicionamento do regente do Ascendente na 12 responde pela cidade mergulhada numa situação de limitação e isolamento. Marte regendo a 12 em oposição ao Ascendente pode ser o significador de um ato agressivo de origem desconhecida. O trânsito de Urano pelo Meio do Céu da cidade simboliza os permanentes percalços e sobressaltos que atingiram São Paulo desde o início de 1999, com uma sequência de enchentes e crises políticas (o envolvimento dos vereadores na questão das propinas) que veio culminar no blecaute.
Projetadas sobre as cartas geodésicas do Rio de Janeiro e de outras capitais, as posições planetárias são bastante semelhantes, se bem que as órbitas sejam mais largas, indicando São Paulo como o epicentro do evento.
O mapa levantado para Itaipu já apresenta outro quadro: agora, é Netuno o planeta mais próximo do Meio do Céu (órbita de menos de dois graus), enquanto Saturno na 12 passa a fazer conjunção com o Ascendente (órbita de 2°40’). A quadratura Saturno-Netuno traz consigo um conteúdo de frieza, letargia e baixa de energia. Como Saturno rege a casa 9, tal efeito depressivo tem origem em uma região distante. Os dois planetas nos ângulos explicam o desligamento total das turbinas e a demora na retomada da plena carga.
Em várias das cidades mais atingidas pelo blecaute, como São Paulo, os dez planetas situam-se acima da linha do horizonte, indicando tratar-se de um evento de caráter coletivo, público e compartilhado por toda a comunidade.
As cidades que escaparam totalmente do blecaute, ou sofreram-no por apenas poucos minutos, são, coerentemente, aquelas cujos ângulos geodésicos não foram ativados pelas duas quadraturas referidas nos parágrafos anteriores. É o caso, por exemplo, de Salvador, na Bahia, ou de Recife, cujos ângulos já se encontram alguns graus adiante nos signos fixos.
Considerando as posições planetárias da Lua Cheia imediatamente anterior (2.3.99, 3h59 – a carta está no texto de Raul Martinez) e aplicando-as sobre a estrutura de casas geodésicas, a cidade mais afetada continua sendo São Paulo, dada a angularidade de Marte. Não há indícios conclusivos de que as causas do blecaute realmente estejam, conforme noticiou a imprensa na época, em Bauru, cujos ângulos são ativados – seja pela carta da lunação, seja pela do blecaute – de forma bem mais suave do que as do Rio de Janeiro ou de São Paulo.