Drummond, a obra
Algumas das poesias de Drummond são retratos fiéis de sua carta natal.
Poema de Sete Faces ilustra fielmente a casa 12 carregada, primeiro fato a chamar atenção em sua carta natal:
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida
[…]O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigodeMeu Deus, porque me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
[…]
No Meio do Caminho, escrita no fim de 1924, durante um trânsito de Saturno sobre o Sol e a Lua do poeta, é um exemplo perfeito de Saturno na casa 3 em Capricórnio, e da memória de Escorpião:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Ainda com relação a Saturno na 3, e com Marte, regente dos luminares e do Ascendente, em Virgem, temos Mãos Dadas:
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Inúmeros poemas se referem ao erotismo, mas a grande vida amorosa estilo “Escorpião na 12” de Drummond pode ser vista num dos versos que fazia e distribuía às namoradas:
Pratique o amor integral uma vez por dia
desde a aurora matinal
até a hora em que o mocho espia.
Não perca um minuto só
neste regime sensacional.
Pois vida é sonho e, se tudo é pó,
Que seja pó de amor integral.
Outro exemplo é o último verso de As Sem-Razões do Amor:
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
A preocupação social, a liberdade aquariana e a expansão jupiteriana fizerem parte da base de sua personalidade e podem ser vistas no Poema da Anistia, de março de 45:
Mal foi amanhecendo no subúrbio
as paredes gritaram: anistia
Rápidos trens chamando os operários
em suas portas cruéis também gritavam:
anistia, anistia.
[…]As lojas já pararam de vender.
Os vidros, os balcões se rebelando,
beijam teu nome, roçam tua imagem,
anistia.
[…]Anistia nos becos, nos quartéis,
nas mesas burocráticas, nos fornos,
na luz, na solidão: só anistia.
[…]Vem, pois, ó liberdade, com teu fogo,
tua rosa rebelde nos cabelos,
vem trazer os irmãos para o sol puro
e incendiar de amor os brasileiros.
A missão de vida
Na carta sideral, Drummond passa de Sol-Lua-Ascendente em Escorpião para Sol-Lua-Ascendente em Libra.
Com Ascendente, Sol, Lua, Vênus e Nodo Norte em Libra, não há como questionar o predomínio do Terceiro e Sétimo Raios no mapa de Drummond.
O Terceiro Raio é o raio da chamada “Inteligência Ativa”. É o raio da prática, da inteligência aplicada à matéria, da síntese. É o raio da discriminação (no bom sentido). Aquele que se rege por esse raio sabe discriminar, separar o joio do trigo.
Essa energia de Terceiro Raio fica bem evidente no poeta, tanto no estilo “chão” de seus poemas quanto em sua vida. A não aceitação de toda e qualquer decisão do partido, quando pertencia ao PCB, é um exemplo prático deste tipo de discriminação.
O Sétimo Raio é o da chamada “Ordem Cerimonial e Magia”. É o raio da “Era de Aquário”. Está ligado ao princípio da economia, de fazer as coisas da maneira que demande o menor gasto de energia possível. As pessoas influenciadas por esse raio gostam de ordem, de realizar na prática.
Drummond mostra essas características de Sétimo Raio em sua vida de funcionário, tanto público como em jornais, onde se sobressaía por sua organização e controle do tempo. A organização dos arquivos do Patrimônio Histórico é um exemplo perfeito disso, tanto que é usada até hoje.
Libra, sua assinatura zodiacal no zodíaco fixo, traz a busca do “caminho do meio”. Não deixa de ser interessante o fato de o primeiro poema conhecido de Drummond se chamar “No meio do Caminho”. É o signo onde a pessoa tem que aprender o equilíbrio, a transformar desejo em amor, relações pessoais em relações transpessoais, materialismo em realismo.
Lendo o diário do poeta, vemos que ele sempre estava envolvido com questões deste tipo. Como por exemplo, quando uma de suas inúmeras amigas questionou a paixão que sentiam, e Drummond retrucou: “Paixão nada, isso é amor”.
Urano, o regente esotérico de Libra, está em Escorpião na casa 2. Escorpião é um signo de Quarto Raio, o raio da Harmonia, das Artes e da Poesia. Onde mais então iria Drummond se manifestar? A sua escolha pela poesia se torna óbvia aqui.
Cabe lembrar que foi em 1928, quando Saturno, o planeta sagrado de Terceiro Raio, transitava sobre o Urano natal, que foi publicado o poema No Meio do Caminho.
É isto. Uma vida de Libra, Terceiro e Sétimo Raios, a Inteligência Concreta e a Organização, a procura do caminho do meio. Tudo se manifestando com a beleza e a harmonia do Quarto Raio, deram Carlos Drummond de Andrade. Um dos maiores poetas brasileiros, um homem de seu tempo.
Bibliografia:
CANÇADO, José Maria. Os Sapatos de Orfeu – Biografia de Carlos Drummond de Andrade. São Paulo, Scritta Editorial, 1993.
ANDRADE, Carlos Drummond. O Observador no Escritório. Rio de Janeiro, Record.
ANDRADE, Carlos Drummond. Reunião. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973.
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