Drummond, as raízes
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, MG, em 31 de outubro de 1902, às 6 horas da manhã, nono filho de uma tradicional família da cidade.
Seu pai, Carlos de Paula Andrade, era um fazendeiro onde se combinavam as tendências tradicionalistas da oligarquia rural mineira com uma tendência a “acompanhar o progresso” do início do século.
Sua mãe, Julieta Augusta, era uma típica filha das elites da época, preparada para o casamento, os filhos, a devoção à igreja católica e ao marido.
A infância de Carlos é passada no casarão da família, numa Itabira onde o minério de ferro já era explorado pela então Itabira Iron, companhia inglesa que dividia com os fazendeiros o domínio econômico da cidade. Convive com vizinhos, negras da cozinha do casarão onde morava e especialmente com um santeiro da cidade, em cuja oficina Carlos passava a maior parte do tempo lendo revistas e livros.
A adolescência é vivida entre a casa e a frequência a dois colégios: o Arnaldo, de Belo Horizonte e o Anchieta, de Friburgo. Deste, é expulso por “insubordinação mental”, fato que muda completamente sua visão da vida. Segundo suas próprias declarações, este fato o fez perder a Fé, tempo e a confiança na justiça dos que o julgavam.
O início da idade adulta é passado na Belo Horizonte da década de 20, então com 50 mil habitantes, entre intermináveis conversas com outros jovens intelectuais mineiros no Café Estrela, a procura pelas novidades na Livraria Alves e o flerte com as moças no Cine Odeon.
Também nessa época Drummond se forma em Farmácia, profissão que nunca exerceu, casa-se com Dolores, a companheira até o fim da vida, e tem sua filha, Maria Julieta.
Depois de algum tempo de volta em Itabira, onde tenta sem sucesso ser fazendeiro, Drummond passa a ser funcionário público, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, e a colaborar em vários jornais. Com isto sustenta-se até o fim da vida.
Autor de vastíssima obra, entre poesias, contos e crônicas, Drummond foi uma das maiores expressões da literatura brasileira de todos os tempos.
A carta tropical de nascimento de Drummond nos mostra Sol, Lua e Ascendente em Escorpião, com Sol e Lua na casa 12.
Drummond, o homem
Na década de 20, Pedro Nava já definia Drummond como “um padre andando atrás das moças”. Tímido, reservado, sempre de terno preto, chapéu e bengala, Drummond surpreendia a todos quando era visto seguindo por horas e horas as moças que achava bonitas, fazendo discursos inflamados no Café Estrela ou pondo fogo nos bondes de Belo Horizonte.
Isto é plenamente justificado pelo Ascendente Escorpião, que não mostra o que é, e reforçado pelo Sol e pela Lua no mesmo signo, praticamente em conjunção exata, na casa 12. Drummond é um triplo Escorpião, aquele que está sempre se queimando inteiro por dentro, para depois renascer nas próprias cinzas renovado, mas sempre de uma maneira intimista e comedida. Drummond escreve, segundo suas próprias palavras, “com o rosto ardendo”.
O Stellium de Mercúrio, Vênus, Sol e Lua na 12 nos dá a característica poética de Drummond, sua necessidade de escrever, mas o Saturno em Capricórnio na 3 dá o tom sério, realista, às vezes até pessimista de alguns escritos, enquanto a força de Escorpião em seu mapa faz com que surja o lado erótico, amoroso, sensual.
Drummond ainda faz parte de uma geração que acredita que deve ter uma “Amélia” em casa, uma esposa e mãe devotada ao lar e aos filhos. Sua vida familiar reflete a casa 7 em Touro, com Vênus e Lua na 12. A esposa Dolores sempre ficou em casa, dando o suporte familiar e ajudando na datilografia de seus poemas… Nunca era vista com o poeta em nenhum tipo de evento. Nestes, ele se fazia acompanhar pelo amor que estivesse em evidência na época.
Pela filha, Maria Julieta, nutre um amor infinito de pai Escorpião, carinhoso e ciumento. O mesmo amor que o fazia passar horas em jogos verbais, inventando palavras com a filha, levou-o a brigar com João Cabral de Melo Neto, quando este ajudou Maria Julieta a conseguir um emprego na embaixada brasileira em Buenos Aires, e fez Drummond declarar, após a morte da filha em 1987, que assim terminava a vida da pessoa que mais amara neste mundo. O mesmo ciúme que o fez brigar com João Cabral de Melo Neto e que o tornava regressivo e sombrio quando Maria Julieta se interessava por algum homem. Não conseguiu ter bom relacionamento com nenhum dos dois maridos da filha.
Netuno, o regente da 5, casa dos filhos, está na 8, a casa natural de Escorpião, e em trígono com o Sol do poeta, levando a esta idealização, esta ligação que para Drummond parecia “maior que o mundo” com Maria Julieta. Essa ligação que levou a filha, apesar de também adorar o pai, a casar com um argentino e mudar-se para Buenos Aires.
Como jornalista e funcionário público, uma casa 6 em Áries com seu regente Marte em Virgem na cúspide da 11 levaram Drummond a estar sempre preocupado com a questão social, a ser um burocrata extremamente cioso de seus deveres.
Até hoje os arquivos do Patrimônio Artístico e Histórico, onde Drummond trabalhou, usam a mesma organização feita pelo poeta.
Nos jornais em que trabalhou, sua disciplina sempre sobressaía. Drummond controlava o horário (Saturno em Capricórnio na 3) de entrada e saída de si mesmo e de seus funcionários, atribuía tarefas e fazia questão de saber cada detalhe do que se passava.
Essa disciplina também era passada para o seu senso estético. Segundo José Mindlin, encarregado de fazer um livro de arte com um texto inédito de Drummond sobre a visita de Mário de Andrade a Alphonsus de Guimarães em 1919, o poeta fez o poema em dois meses, e em seguida ficou mais seis meses discutindo o tipo de letra a ser usado, a paginação etc… Drummond não gostava de linhas quebradas, e diminuía ou aumentava linhas do poema para que a estética ficasse melhor.
Leão na casa 10, com o Sol, seu regente, na 12, levavam o poeta, às vezes, a inventar personagens que escreviam cartas para o jornal, quando queria que algum assunto mais polêmico ficasse em evidência ou fosse discutido.
O Marte em Virgem na 11 também levou Drummond a todo um envolvimento político, desde a adolescência, quando se autointitulava anarquista, seu envolvimento com o Partido Comunista nas décadas de 30 e 40 e o repúdio à ditadura militar nas décadas de 60 e 70.
Sol, Lua e Ascendente em Escorpião, casa 4 em Aquário, Marte em Virgem na 11 levaram a uma independência de opiniões e ações, que foi berço de suas divergências com o Partido Comunista. Na época, o Partido agia pelo Centralismo Democrático, um método de organização partidária no qual todos são obrigados a agir pela decisão da maioria. Drummond contesta isso, e fica extremamente irritado quando a direção do partido altera os artigos que escreve para a Tribuna Popular. Como o próprio Drummond registra em seu diário:
Sou um animal político ou apenas gostaria de ser? Esses anos todo alimentando o que julgava ideias socialistas e eis que se abre o ensejo de defendê-las. Estou preparado? Minha suspeita é que o partido, como forma obrigatória de engajamento, anula a liberdade de movimentos, a faculdade que tem o espírito de guiar-se por si próprio e estabelecer ressalvas à orientação partidária…
Entretanto Drummond nunca rompeu com o Partido, apenas se afastando quando seu desagrado chegou ao limite.
Já na década de 70, o poeta chegou a esconder em sua casa uma sobrinha procurada pelo DOPS e, no Governo Figueiredo, foi um custo convencê-lo a assinar um abaixo-assinado pedindo a criação de reserva indígena para os Ianomâmi. O poeta não queria assinar para não “legitimar o ditador”, coisa que não admitia em hipótese alguma.
A morte, para Drummond, foi praticamente uma consequência da morte de Maria Julieta, de câncer. Drummond morreu de enfarte, e, honrando seu Plutão e Netuno na 8, Sol e Lua na 12 em Escorpião e Ascendente Escorpião, o poeta, ao ser internado, friamente declarou que “estava liquidado”, mantendo-se lúcido até ser sedado e morrer.