As minhas lembranças mais antigas do consagrado jogador de futebol que é Romário remontam a 1986. O jogador baixinho e abusado despontava no Vasco da Gama, partindo em arrancadas fulminantes do meio de campo até a meta adversária, geralmente entrando com bola e tudo. Seu porte em nada lembrava o biótipo do centro-avante clássico, forte fisicamente e trombador.
Naquele mesmo ano (em que comecei a me aventurar pela Astrologia, por sinal) Romário chamou a minha atenção por outro motivo. Numa matéria que assisti no Globo Esporte, após o colégio, ele aparecia junto da namorada, Mônica Santoro, em meio a amassos e beijos explícitos de língua meu almoço adentro. Aquela nova revelação do futebol carioca parecia comportar-se de uma maneira totalmente diferente do perfil tradicional do jogador de futebol — geralmente tímido e humilde — ou mesmo dos antigos bad boys do passado (para usar uma alcunha apropriada pelo próprio Romário). Aquele vascaíno que me causava calafrios quando ligava um contra-ataque no Maracanã representava, de fato, uma nova geração e um novo paradigma dentro do próprio futebol.
Aquariano
Nascido em 29/01/1966, 23:55h, no Rio, Romário é aquariano e, como tal, corresponde ao padrão de um certo caráter pioneiro e transgressor associado ao signo. Mercúrio, Vênus e Marte, também em Aquário, exageram essa natureza a um extremo: Romário, definitivamente, não é um jogador comum.
O chamado “gênio da pequena área” possui Sol, Vênus e Mercúrio na casa IV, fortemente marcada por questões familiares e de origem. Natural da Vila da Penha, um bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, Romário personificou como ninguém a mudança cultural em curso, naquela época, no âmago da juventude suburbana. “Marrento”, era extremamente coerente com a realidade da qual havia instantaneamente emergido, fazendo questão de não se submeter ao perfil mais apaziguado dos craques que imediatamente o antecederam, forjados ainda na ditadura: Zico e Roberto Dinamite.
Por outro lado, a própria família de Romário destoa daquilo que acostumamos ver nos noticiários: seu pai é um americano roxo que se zanga quando ele faz gol no seu time, sua mãe quebrava pratos no chão a cada gol pela seleção brasileira e seu irmão foi suspeito do sequestro do próprio pai.
A Lua de Romário, em Touro e na casa VII, revela o quanto o craque é chegado num casamento (creio que ele tenha se casado umas quatro vezes). Marte, na casa V, é um forte indicativo do gosto pela paternidade e das aventuras sexuais.
A quadratura entre Sol e Lua, nas casas IV e VII, mostra uma dissonância básica entre a necessidade de autonomia pessoal e liberdade (Aquário) e o desejo de pertencimento e compromisso (Touro). As várias separações, o grande número de filhos, as assumidas escapadas conjugais e a exigência de um tratamento diferenciado, com privilégios e atritos com colegas, que muitas vezes desestabilizavam os times nos quais jogava, são algumas das características que podemos associar ao quadro exposto acima. Vênus e Mercúrio, numa conjunção praticamente exata, reforçam a ideia de uma vida familiar movimentada, além da fama de “galinha”. Romário casou e descasou com Flamengo e Vasco muitas vezes, chegando até mesmo a jogar no Fluminense.
O Ascendente de Romário, nos primeiros graus de Escorpião, sugere uma natureza inconformada e maliciosa, disposta a bater de frente ou agir às escuras para conseguir o que quer ou criticar aquilo que considera errado. Vênus e Mercúrio, numa quadratura com o Ascendente, parecem indicar uma predisposição natural para conflitos e discussões cercados de muita polêmica e teimosia (Aquário x Escorpião).
Marte, por outro lado, aplica trígono ao próprio Ascendente, vitalizando um jogador rápido e veloz que, apesar da completa aversão a coletivos e treinamentos físicos e das noitadas que pontuaram toda a sua carreira, demonstrava uma performance impressionante mesmo após os 40 anos. Já Júpiter, em Gêmeos na casa VIII e quadrando Urano e Plutão, aponta para uma personalidade extremamente hedonista.
A Lua, que aplica trígonos à mesma conjunção Urano e Plutão, corrobora várias das teses apresentadas até o momento. Romário tem uma estreita identificação com as mudanças no mundo de seu tempo e se sente muito à vontade para lidar publicamente com toda a sua excentricidade e poder pessoal. O sextil com Saturno na casa V, porém, atesta o seu compromisso enquanto pai e revela um profundo interesse pelos filhos.
O dom de iludir
Netuno tem um lugar de destaque no mapa de Romário, pois está na primeira casa. Os trígonos que este planeta aplica ao Meio do Céu e ao próprio Saturno indicam frieza e objetividade justamente na arte de encantar e iludir torcedores e adversários ao jogar bola, fazendo mágica com as chuteiras (Netuno é corregente de Peixes, um signo que rege os pés). Aliás, Romário demonstrou ser excelente mesmo descalço, nas praias do futevôlei ou na seleção brasileira de futebol de areia. Outra alcunha autoatribuída é a de “peixe”.
Uma palavra muito presente no jargão de Romário é “parceiro”. Algo relativamente casual para alguém com Lua em Touro na casa VII, mas que pode não se dar necessariamente ao pé da letra quando numa estreita quadratura com o Sol em Aquário. O baixinho (uma conotação quase infantil, típica de muitos que possuem uma forte casa IV como ele) teve uma série de desafetos ao longo da carreira, passando por colegas de time, treinadores, dirigentes, jornalistas e até mesmo monstros sagrados como Pelé e Zico.
Apesar das brigas serem comuns no meio do futebol, Romário colecionou uma considerável série de episódios: desenhos de Zico sentado na privada e Zagallo com o papel higiênico (ou vice-versa), pancadaria na Argentina, barracos com Sávio, Edmundo, Vanderlei Luxemburgo, tapas com torcedores do Fluminense no estádio das Laranjeiras e por aí vai.
Romário foi o grande craque da Copa de 94 (cartaz acima). Contudo, foi cortado da delegação que foi às copas de 98 (cartaz abaixo) e 2002 (último cartaz).
Carioca em nova fase
Se por um lado Romário nunca morou em Roma, o artilheiro é a cara do Rio. Com o Sol natal no meio da conjunção entre Vênus e Marte do mapa da cidade (em Aquário), o craque carrega muito do temperamento saliente e rebelde de boa parte dos cariocas. O Saturno do jogador faz conjunção exata com o Plutão do Rio. Definitivamente, Romário não é otário. Pelo contrário: o goleador da Copa de 94 e de tantas outras competições é um dos casos mais expoentes da incorporação catedrática de uma representação da malandragem, da ambição e da agressividade cariocas.
Por outro lado, justamente quando Urano e o Nodo Norte incidiram sobre seu Saturno, domiciliado na casa V, Romário assumiu duas grandes e talvez impensáveis responsabilidades quanto a seu próprio desempenho como homem: seja assumindo uma liderança política ao discursar em Brasília no dia dedicado às pessoas com necessidades especiais (e a mais nova experiência como pai o levou a isso), seja na incrível meta dos mil gols, que parecia impossível alguns meses antes, na iminência de superar até mesmo a marca de Pelé em jogos oficiais.
NOTA DE CONSTELAR:
Romário de Souza Faria começou jogando peladas nos campos da Vila da Penha, bairro carioca onde foi criado. Atuou na equipe principal do Vasco de 1985 a 1988, retornando ao clube apenas no ano 2000. Entre 1988 e 1993 jogou na Holanda, pelo PSV Eindhoven, clube de onde saiu com uma média de mais de um gol por partida. No período 1993-94 jogou pelo Barcelona, onde, logo na primeira temporada, tornou-se o artilheiro do time, com 31 gols.
Em 1995 voltou ao Brasil para fazer sucesso exatamente no maior rival do Vasco: o Flamengo, onde jogou diversas temporadas entre 1995 e 1999, entremeada por uma rápida passagem pelo Valência, da Espanha, entre 1996 e 1997.
Apesar da pouca altura para um centro-avante (Romário tem 1,67m), Romário é o segundo maior artilheiro de todos os tempos no futebol brasileiro e provavelmente o terceiro no âmbito mundial, perdendo apenas para Pelé, a quem chama “Deus”, e Cristiano Ronaldo. Em 22 anos de carreira, marcou 1000 gols, apesar de ser um assumido amante da vida noturna e sempre ter fugido de treinamentos. O milésimo gol foi alcançado numa cobrança de pênalti no dia 21 de maio de 2007, no estádio de São Januário, em partida contra o Sport Recife.
Em 2010 Romário trocou definitivamente o futebol pela política. Desde então, elegeu-se Deputado Federal para o mandato 2011-2015 e, na sequência, Senador para o mandato 2015-2023, sempre pelo Rio de Janeiro.