Do ponto de vista astrológico, qual o significado do esporte? Que regência podemos atribuir aos principais esportes olímpicos?
Rex E. Bills, autor da conhecida obra The Rulership Book (O Livro das Regências, Tempe, Arizona, AFA, 1995), atribui as seguintes regências a eventos esportivos, algumas das quais são bastante questionáveis:
Esporte em geral, eventos, clubes esportivos e associações, arenas e estádios – Casa 5, Sol, Leão e, secundariamente, Júpiter, Marte, Vênus e Urano.
Desportistas – Sagitário.
Esportes de competição – Marte.
Esportes não competitivos – Júpiter.
Vitórias – Marte, Sagitário.
Derrotas em competições esportivas – casa 4.
Vôlei – Marte.
Jogos com bolas, em geral – Vênus.
Bolas – Urano, Sol.
Atletismo – Marte, Sol.
Futebol – Marte.
Natação – Netuno, Peixes, Lua, Câncer.
Iatismo – Netuno, Lua.
Ginástica – Marte.
Medalhas – Júpiter.
Ouro – Sol, Leão.
Prata – Lua.
Bronze – Vênus.
Árbitros de esportes – Urano.
É digno de nota que Bills não inclui em seu livro nenhuma referência ao basquete, talvez o mais americano dos esportes.
Agora, analisemos com mais detalhes: a Astrologia provê um sistema de classificação que pode ser aplicado a qualquer dimensão da realidade. Para que tal classificação seja correta, é preciso definir em que nível de realidade estamos (quais são os limites de nosso universo) e estabelecer correspondências entre atributos de símbolos astrológicos e dos elementos que constituem o universo estudado.
Dentre as atividades humanas, o esporte, por seu caráter lúdico, se distingue do trabalho enquanto luta pela sobrevivência. Numa prova de triatlo, por exemplo, ninguém se mete no mar, depois numa louca correria de bicicleta e finalmente numa estafante corrida a pé por mera obrigação. O impulso que leva o atleta a dispender tanto esforço e energia decorre do desejo de testar os próprios limites e provar a si mesmo o próprio valor. É uma atividade que tem a ver com autogratificação, com prazer, com enfrentamento de riscos deliberadamente assumidos, e tudo isso remete ao sentido da casa 5 e do Sol. Por extensão, todos os signos de Fogo e seus regentes guardam relação com tais atividades onde a confirmação da identidade se dá através do prazer do jogo.
Em Marte temos os processos de combustão, a adrenalina, o impulso competitivo, o combate, a agressividade canalizada para o objetivo de “estar na frente”. É o planeta esportivo por excelência.
Em Júpiter e Sagitário encontramos o movimento expansivo, o gosto pelo ar livre, a confiança nas próprias possibilidades e também a culturalização dos impulsos competitivos de Áries e Marte. É em função do princípio jupiteriano que o prazer de vencer ganha dimensão abstrata e reconhecimento social, deixando de ser apenas um combate bruto para transformar-se na peleja simbólica, em que o atleta investe-se no papel de representante de um conceito mais abrangente (a equipe, o país, a bandeira nacional).
Sendo assim, o atleta consubstancia os três papéis associados aos signos de Fogo: o guerreiro (Áries), o “rei“, no sentido de foco das atenções (Leão), e o vigário (Sagitário). Esta última associação não é tão transparente, mas torna-se compreensível quando comparamos o atleta com o sacerdote. Ambos são representantes de um princípio maior (Deus, a Pátria) e legitimam seu poder exatamente por esta condição. Por isso, Nelson Rodrigues dizia, numa expressão feliz, que a seleção é a “pátria de chuteiras”, da mesma forma como diz-se que o Papa é o vigário (o representante) de Deus na terra. Não fosse por isso, não haveria a transferência de expectativas da torcida para o atleta, algo que só ocorre porque ambos estão vinculados a uma abstração jupiteriana mais ampla: a identificação com uma entidade coletiva, que pode ser o clube, a comunidade linguística, o pertencimento a uma etnia, a nação.
Diríamos, em resumo, que o esporte é uma manifestação dos signos de Fogo e seus regentes, respondendo Áries e Marte pelos seus aspectos mais físicos, Leão e Sol pela dimensão motivacional e Sagitário e Júpiter pela dimensão cultural e simbólica do fenômeno. A casa mais tipicamente esportiva é a 5, se bem que sozinha não explique toda a história.
A partir daí, outras correlações podem ser feitas. A casa 10, da reputação e do reconhecimento público, simboliza a vitória, o pódio (o lugar mais alto); a 4, que a complementa, tipifica a derrota ou a condição de adversário do favorito (por ser a sétima a partir da 10). A casa 7 é a dos adversários em geral. A casa 6, a da disciplina necessária à preparação do atleta, e também a dos lucros da atividade esportiva (por ser a segunda a partir da quinta). E, se a casa 5 é a do palco, a casa 11, que lhe é oposta, pode ser a da plateia, dos torcedores.
Gauquelin, em seu conhecido trabalho de testagem estatística da validade da Astrologia, constatou que a probabilidade de um atleta apresentar Marte em situação angular (ou seja, em pontos de destaque e valorização na carta astrológica) é bastante superior à média. Marte é um significador geral de atividade física, sendo que o gosto por esta é um requisito para a opção pela carreira esportiva.
A pira olímpica da Rio 2016
Ao adotar uma pira olímpica inovadora – uma chama de pequenas proporções ardendo no centro de uma móbile que representa a dispersão da energia solar – a coordenação dos Jogos Olímpicos Rio 2016 acertou em cheio, atualizando um símbolo leonino (o Fogo em sua modalidade fixa) e tão arcaico quanto a história da humanidade. O acendimento da pira no Maracanã, ao término de uma festa de abertura toda marcada pela cor vermelha, agregou à cerimônia um forte toque de Áries, o Fogo em sua modalidade cardinal. O transporte da chama olímpica, mais tarde, para outra pira idêntica, entre o mar e a Igreja da Candelária, no Centro do Rio, trouxe o simbolismo do signo que faltava: Sagitário, o Fogo mutável. Em Sagitário temos os espaços abertos, o ar livre e o sentido da religiosidade. A imagem da pira ardendo na frente de um templo católico uniu os universos pagão e o cristão, num sentido de continuidade histórica poucas vezes obtido com tanto poder de síntese.
A regência de cada esporte
O esporte, em confronto com as demais atividades humanas, tem esta associação natural com a casa 5, com os signos de Fogo e seus regentes. Entretanto, quando considerado isoladamente, constitui um universo completo, onde podemos encontrar de novo o simbolismo de todos os signos, todas as casas e todos os planetas. O esporte é um microcosmo de uma realidade maior – a vida – e assim podemos classificar as modalidades esportivas em função de suas características essenciais, atribuindo a cada uma um regente específico. Alguns fatores podem servir a este objetivo, entre os quais a região do corpo que é mais acionada, o biotipo que cada esporte exige de seus praticantes, o caráter individual ou coletivo, a predominância da força física ou da agilidade, as exigências quanto à velocidade, resistência e impulsão, a ênfase em comportamentos ofensivos ou defensivos, a importância do planejamento das ações, da visão de conjunto, da disciplina tática e assim por diante. Alguns esportes são facilmente classificáveis, podendo ser atribuídos à regência de um único signo ou planeta, enquanto outros parecem definir-se melhor como produtos de regências complexas, onde intervêm diversos símbolos astrológicos. Constelar preparou dois artigos para analisar as regências dos esportes olímpicos. Explore: