Saturno, temido por todos, representa o princípio organizador da vida. Aquele responsável por dar forma e materializar, tornando possível a manifestação de planejamentos reais e anseios palpáveis no plano material. Princípio individualizante, que através da labuta diária vai-se desprendendo de condicionamentos ancestrais, para se tornar um ser individual e consciente do exercício de sua missão pessoal, livre de amarras e culpa, em busca do preenchimento de lacunas, que anteriormente teriam sido supostamente negadas pela vida e pelos progenitores.
Frequentemente a posição de Saturno no mapa, por aspectos e casa, representa uma esfera da vida onde o indivíduo se sente tolhido e inadequado, sem jeito e sem meios para “fabricar” aquilo tão sonhado e almejado.
Representa um buraco onde sentimos que a vida nos deve algo, porém somente com o amadurecimento, através do processo cíclico, iremos aos poucos perceber com clareza que nós mesmos somos quem devemos conquistar esse espaço.
Os planetas simbolizam anseios humanos, e Saturno, dentre outras coisas, indica os limites pessoais de cada um, assim como os esforços necessários para a conclusão de um ato, trabalho ou até mesmo uma forma de expressão da personalidade. Pode ser encontrado nos diversos reinos da natureza, tais como: elementar (elemento Terra), químico (sódio, potássio), físico (a estrutura óssea, a pele), animal (cabra, representada no mito pela subida da montanha, devagar e persistente, visando a chegada ao topo), vegetal (cactus, aparentemente seco e sem vida, porém guarda em seu interior o conteúdo precioso da vida) e humano (urgência, estados depressivos e de alto grau de culpa e cobrança, no pior dos casos; e solidez, autorrealização, organização e domínio dos processos, uma vez aprendidas as lições propostas pelo Saturno pessoal).
No corpo humano Saturno rege a pele, representando o limite entre nós e o mundo; a parte óssea, pois é ela quem dá sustento ao corpo; da mesma forma como o processo de organização celular, pois é algo involuntário e acontece além do nível de consciência normal, fato este que guarda uma íntima relação com o aprendizado saturnino, pois uma vez internalizadas as lições advindos daí, o espírito contará sempre com tais ferramentas à sua disposição: é algo que ele conseguiu por seu próprio mérito e que não será retirado dele.
Como o corpo é o nosso veículo de expressão na terceira dimensão, ou seja, na Terra, utilizamo-nos dele para alcançar nossos objetivos de ordem qualquer (já diziam os alquimistas que o trabalho alquímico de transmutação deve ser realizado na matéria, seja ele de ordem material, mental, emocional ou anímico). Por isso é muito comum nos trânsitos de Saturno algum acidente provocar a quebra de algum membro do corpo, a chegada de alguma doença ou estado de baixa vitalidade. É o senhor do tempo nos conduzindo com suas poderosas forças de supercompensação.
A intenção de Cronos nessas horas é que desaceleremos nossos passos, adotando uma postura orientada para o interior, de modo que possamos reavaliar nossos recursos e analisarmos se os esforços necessários estão realmente sendo feitos, de forma consciente, e aplicados em seu devido momento. Resumindo, se estamos fazendo bom uso de nossas máquinas e ativando nossos potenciais de forma integral.
Saturno, também conhecido como Cronos, o senhor do tempo na mitologia grega, estabelece um vínculo com as etapas da vida: nascer, crescer, desenvolver-se e morrer. Ou melhor, aprender a morrer, sem apegos e com convicção de que tudo que esteve ao seu alcance foi realizado da melhor forma.
Numa abordagem psicológica Saturno é o nosso alter ego, a parte da mente orientada para o crescimento pessoal e amadurecimento do ego. Sua linguagem é ríspida, direta, sóbria e sem rodeios. A responsabilidade e a seriedade são suas características mais marcantes.
Nas relações interpessoais, Saturno é um planeta de grande importância, pois irá sinalizar nossas fraquezas por meio de um mecanismo psicológico conhecido pelo nome de projeção. Uma projeção se dá quando sintonizamos no outro nossas próprias qualidades e, como num espelho, têmo-las refletidas, levando-nos a uma identificação e possivelmente a um torpor chamado paixão nos melhores casos (fato este em que as pessoas fortemente saturninas temem e com a qual não se sentem à vontade), porém da mesma forma também contatamos nosso lado sombra, que é um conteúdo menos consciente, mais instintivo, e que necessita ser identificado, trabalhado e por fim integrado à personalidade. Isso explica o fato de nutrirmos uma antipatia imediata por pessoas às quais nem mesmo conhecemos.
O aprendizado saturnino não e fácil, podendo ser menos doloroso de acordo com o grau de resistência aplicado pelo indivíduo. Cronos educa diariamente, porém encontramos em nossa mente subterfúgios e distrações para aplacar essa tensão. Mas como tudo na vida respeita uma lei natural, o senhor do tempo vem, a cada sete anos, nos cobrar (período crítico em que Saturno aspecta sua posição natal por quadratura e oposição). É chegada a hora da colheita, e o que foi plantado será colhido. Se nada foi plantado então também é chegado o momento do vazio, da culpa, amargura, solidão e arrependimentos.
Saturno descortina a realidade, forçando-nos a enxergar as coisas como elas realmente são, ou pelo menos obrigando-nos a depositar o valor necessário nas questões em jogo.
Primeiro de tudo, nossa percepção de realidade ainda se encontra um tanto fragmentada e subjetiva. Daí o fato de pessoas valorizarem tanto algumas coisas que para outras são insignificantes.
Por exemplo, se você nasceu para ser comerciante, não adianta utilizar seu potencial para medicina. Você pode idealizar tal profissão, andar no meio de médicos e filiar-se a causas ligadas à área, porém não nasceu com os dons, talentos e mecanismos naturais necessários para desempenhar essa ocupação.
Ao passar pelo retorno de Saturno, tudo que não for verdadeiro irá desmoronar perante seus olhos, colocando em xeque questões vitais como: Qual o porquê de tal escolha? O que ela representa pra você? Estaria você buscando tal formação por vontade própria, ou para satisfação de terceiros? Teria você realmente a capacidade para lidar com vidas alheias ou seria um mero capricho? Haveria uma identificação superficial com o status proporcionado pelo cargo, ou o dinheiro seria o único objetivo visado? Daí o fato de muitas pessoas passarem por uma crise por volta dos 30 anos (período da revolução do planeta, astronomicamente falando), redirecionando carreiras e propósitos de vida, abandonando velhos hábitos e focando de modo objetivo em questões mais essenciais.
Ciclo arquetípico de individuação de Saturno
Assim como a lagarta passa pela crisálida para se tornar borboleta e o diamante submete-se a altas temperaturas para irradiar seu brilho, analogamente também o homem, para acessar sua sabedoria, necessita enfrentar muitas provas e expiações para lapidar seu íntimo e alcançar seu esplendor.
Veremos a seguir como Saturno atua sobre nossas vidas em diversas fases e ciclos, encaminhando-nos para a busca da individuação e aquisição de uma saudável autossuficiência.
1º ciclo – zero a 28 ½ aproximadamente – aprendendo a caminhar
Neste primeiro momento, a lição se caracteriza pela busca da autoexpressão, desvinculada de todo e qualquer condicionamento que não venha a fazer parte dos princípios partidos da própria entidade ou indivíduo. É a busca de nossa segurança no mundo, de qual influência e contribuição iremos ofertar para a sociedade, como iremos extrair nosso sustento (podendo acontecer no nível coletivo, comunitário ou mesmo no ambiente que nos rodeia). É também a descoberta da vocação pessoal, pois é através da mesma que iremos desenvolver várias tarefas, colocando-nos em constante contato com nós mesmos.
Um grande empecilho aqui é a não reprodução de padrões familiares e a tentativa dos pais de realizarem seus sonhos através dos filhos, comprometendo de certa forma o livre arbítrio destes.
Zero a 7 anos (choque – o primeiro contato)
Ao nascer, a criança ainda não possui a percepção de si enquanto um ser individual, funciona em simbiose com os pais, especialmente com a mãe.
Os primeiros anos de vida requerem um cuidado muito especial da parte dos pais, uma vez que os bebês ainda não respondem por si.
Por volta de um a dois anos de idade, quando a criança começa a falar, chamar papai, mamãe, dar nomes e expressar suas vontades, este é o primeiro indício do processo de formação do ego (complexa teia de dogmas e princípios, enraizados no individuo, e que tiveram início na filtragem dos resultados obtidos através das primeiras experiências).
O princípio organizador ainda não pode ser contemplado, mas já se encontra ativo. A criança organizará seus feedbacks e noções básicas a partir de uma lente pessoal que irá filtrar os resultados de modo a estimulá-la ou reprimi-la quando entrar em contato, novamente, com situações semelhantes.
Logo nos primeiros anos de escola, por volta dos sete anos (primeira quadratura de Saturno em relação ao Saturno natal), as crianças se confrontam com Saturno pela primeira vez. Acostumadas a serem paparicadas dentro de casa, logo percebem que sua conduta no ambiente escolar deve ser diferente, terão que fazer alguns sacrifícios pessoais em função do convívio em grupo, não terão todas as suas vontades satisfeitas.
Nessa primeira fase Saturno cristaliza a consciência da separação física dos pais. O cordão umbilical já foi cortado, literalmente.
7 aos 14 anos (conflito – integração na personalidade)
O período compreendido entre 8 e 11 anos é um momento relativamente tranquilo, as lições anteriores estão sendo internalizadas.
Chegados os 12 anos mais ou menos, com a efervescência hormonal e a adolescência, o jovem enfrenta um período de extrema tensão. O desafio aqui é administrar uma mudança em nível bioquímico em seu corpo, ao passo que sente latente seus valores, e quer a todo custo reafirmá-los perante o mundo. Ele busca afinidades através dos esportes, das artes, da companhia dos amigos como uma extensão de si, afim de sentir seu ego manifesto (projeção).
O jovem enfrenta a autoridade numa tentativa de experimentar sua autoridade interior, e a forma como os pais irão lidar com isso é de suma importância, e irá impactar no grau de autossegurança que irá acompanhá-los por toda vida.
Também é chegado o tempo em que a curiosidade sobre o sexo oposto começa a aflorar, os primeiros relacionamentos vão se formando. Mais uma vez podemos ver a questão saturnina em jogo, pois os jovens terão que aprender a trocar, baseados naquilo que acreditam e experimentaram até o presente momento.
14 aos 21 anos (mudando de rumo – reaparição de questões anteriores)
Até os 17 anos os jovens seguem experimentando a vida e a si mesmos, em meio a conflitos internos e os estabelecidos dentro de casa. Incertos da posição que ocupam, oscilam entre a maturidade já adquirida e o anseio inconsciente de retornar ao útero, numa tentativa de se livrar das cobranças da vida.
Com a chegada dos 18, legalmente já respondem por si em muitas questões, e o fato de o vestibular estar se aproximando estabelece um novo questionamento: o vocacional.
Na conjuntura em que vivemos, nosso sistema de ensino ainda se encontra bastante obsoleto, educando cidadãos de forma indiferenciada, fato que obstrui a criatividade, para servir a uma sociedade robótica onde os impulsos originais são reprimidos e a vontade, frequentemente tolhida. A situação é complicada. Eles se sentem cobrados a responder de forma incisiva e a fazer escolhas que repercutirão por toda a sua vida.
21 aos 28 anos (conscientização, colheita e início de novo ciclo)
No final desta fase Saturno retorna à posição original ocupada no mapa, no momento do nascimento. E, com ele, todas as cobranças contidas no escopo das possibilidades por ele representadas.
Nesse momento, todos os planetas do mapa já foram ativados por Saturno em trânsito, indicando com isso que o indivíduo já presenciou no nível de consciência natural, durante todos esses anos, seus reais anseios, os movimentos praticados na obtenção dos objetivos e as máscaras utilizadas para negação dos mesmos.
Agora é a hora da verdade. Psicologicamente amadurecidos, muitos já casados e constituindo família ou ainda pensando em sair de casa, irão experimentar grande cobrança interna na aplicação e vivência dos valores adquiridos.
As tarefas são cumulativas, e, se todas foram vencidas com resignação, este é um período de ótimas colheitas e sensação de ser o verdadeiro dono de si. Do contrário, haverá um sentimento profundo de tudo ter sido uma ilusão, de não termos apostado nas coisas em que acreditamos, e por fim, de termos tentado enganar a nós próprios sem sucesso, do que resultará no âmago de nosso ser um agudo sentimento de fracasso.
Este é um período no qual o objeto de desejo tarda para chegar. Uma sensação de estar atado frequentemente se instala, seja ela interna ou enfrentada através de algum obstáculo externo (exemplo: um chefe, uma condição, uma doença, um colega de trabalho), até que o trânsito tenha terminado.
Saturno é nosso grande mestre. Inicialmente deflagra nossas maiores inadequações e medos; posteriormente nos dá a confirmação de nosso sucesso por meio dos resultados práticos adquiridos.
Agora, portadores de suas lições cumpridas, ninguém mais nos retira tal aprendizado: é nosso por direito.
Yara diz
Obrigada Thiago. Saturno é um velho exigente, que nos coloca as verdadeiras oportunidades de crescimento.
Élia diz
Muito bom!!!
Um forte abraço
Élia
Élia diz
Parabéns! achei muito bem explanado.
Um forte abraço
Élia