Aspectos tensos — ou dinâmicos — são aqueles que implicam a necessidade de alguma forma de ajuste entre os princípios planetários envolvidos. São, principalmente, a quadratura, a oposição e algumas conjunções. Quando envolvem Plutão, trazem à tona a necessidade do controle, da manipulação e da desigualdade na relação com parceiros afetivos ou profissionais.
Lua e Vênus são planetas básicos na constituição do padrão de resposta emocional e de expressão afetiva. Quando ativadas por aspectos tensos de Plutão tendem a apontar para problemas bem definidos, onde a rigidez e a repetitividade desempenham função importante. Seguem-se alguns relatos retirados de entrevistas com indivíduos cujos mapas apresentam tais aspectos ou configurações que, de alguma forma, evidenciam o papel de Plutão.
1) Mulher, 39 anos, conjunção Vênus-Plutão na casa 10. Frases típicas: “Adoro homem.” “Os homens têm medo de mim.” É independente, dura consigo mesma. Outra frase: “Sou uma sobrevivente.” Por outro lado, considera-se uma carente crônica e escreve poesias secretamente, sobre a dor e a incomunicabilidade. Depois de dez anos de muitos relacionamentos rápidos, mergulhou num intenso e sofrido envolvimento com homem carente, desestruturado e dependente químico.
2) Mulher, 29 anos, conjunção Sol-Vênus em quadratura com a conjunção Plutão-Lua — vida sexual precoce, mas sempre acompanhada de frigidez. Diz ela que seus poucos orgasmos foram obtidos sem qualquer envolvimento afetivo e após meio litro de vodca. Relacionamentos seguindo um padrão reiterado e sempre marcados por alguma forma de impossibilidade: homens difíceis e de vida complicada (casados, alcoólatras, morando muito longe etc.). Já foi vítima de violência sexual mais de uma vez. Frase típica: “Nunca vou casar, meu destino é ser a outra.”
Tipos plutonianos costumam ter o cenho carregado, mesmo quando tentam aparentar descontração: é o caso da escritora J. K. Rowling (criadora de Harry Potter), da modelo Fernanda Lima, da atriz Jodie Foster, da psiquiatra Nise da Silveira (todas com conjunção Lua-Plutão), da tenista Venus Williams (Plutão no Ascendente), do ex-tenista Guga (conjunção Vênus-Plutão) e do político Jader Barbalho (quadratura Plutão-Sol).
3) Mulher, 64 anos, conjunção Lua-Plutão na 6, conjunção Sol-Júpiter na 11: dirigiu com mão de ferro, durante muitos anos, uma comunidade espiritualista. Frases típicas: “Se eu não estivesse por perto, nada aconteceria.” “Dirigir uma comunidade é muito desgastante. Todos dependiam de mim.”
4) Mulher, 38 anos, Vênus em Escorpião, Sol em aspecto tenso com Plutão na 12 – está prestes a detonar o quarto casamento. A iniciativa de separação é sempre dela. Relacionamentos marcados por grande intensidade e ambiguidade: amor/ódio, às vezes resultando em pancadaria. Escolhe homens sensíveis, doces, manipuláveis, depois conclui que “eles não tem estrutura pra acompanhar meu pique”. Outra afirmação comum: “Fiz o melhor por ele, tentei mudar a vida dele, mas ele não quer se transformar.”
5) Homem, 48 anos, Vênus em Peixes na 10 em oposição a Plutão na 4 (Sol na 9, Plutão regente da 7): liderou durante anos um grupo místico fechado que pretendia assumir o poder num país da América Central e criar um regime teocrático. Conspirou durante anos, sempre se acreditando seguido pela polícia do país, e jamais tomou qualquer iniciativa para colocar o projeto político em prática. Sua relação com a namorada era mais ou menos como a de um guru com a discípula.
6) Mulher, 40 anos, profissional dinâmica, Vênus na 12 oposta a Plutão na 6, bem casada com homem mais jovem, da mesma profissão, tímido, obeso e dócil: “Tenho que ir pra casa. Ele deve estar precisando de mim. Não sabe fazer nada sozinho, tadinho.”
7) Mulher, 65 anos, conjunção Sol-Plutão-Vênus na 1: controla a vida pessoal de todos os membros da família. O filho mais velho tomou coragem, aos 39 anos, para livrar-se da esposa imposta pela mãe. Mudou-se para outra cidade e está namorando uma mulher casada. A mãe não sabe. “E Deus me livre se ela souber”, diz ele.
8) Homem, 45 anos, vários planetas em Escorpião na casa 10, sendo que um deles é Vênus em quadratura com Plutão-Júpiter: sedutor, competente, bem relacionado, saiu-se muito bem de alguns fracassos na área de produção artística e hoje dirige uma empresa em outro estado. Ponto forte: excelente negociador. Absolutamente frio. Blefa olhando nos olhos do interlocutor e consegue recursos do nada.
9) Homem, 53 anos, Ascendente em Libra, Vênus em Aquário, na 5, em aspecto difícil com Plutão. Passou quase dez anos indeciso entre se separar ou não. A mulher sugeriu a separação várias vezes. Frases: “Ela que tome a iniciativa, eu não vou tomar. É duro, mas dá pra aguentar mais um pouquinho. Tenho que pensar nas crianças.”
10) Mulher, quase 60 anos, Ascendente em Escorpião, Plutão angular em conjunção com Vênus. Namorava um solteirão na faixa dos 75 anos. Como o namorado estava incapacitado sexualmente, não havia relacionamento físico. Contudo, ela não acreditava no que considerava ser apenas “uma desculpa”, e importunava-o telefonando fora de hora e aparecendo de surpresa nos lugares que ele frequentava. Cansado de tanta insistência, ele encerrou o relacionamento. Mais do que de depressa, ela contratou um detetive para segui-lo e descobrir “se ele não tinha uma namorada secreta”.
Elis Regina, quadratura Vênus-Plutão: voz privilegiada e temperamento difícil.
O aspecto tenso do planeta pessoal com Plutão, em seis dos casos acima, está associado a relacionamentos desiguais e, às vezes, à própria supressão da possibilidade de um relacionamento. Quando as coisas fluem, alguém se sente bem no papel de protetor, outro no de protegido. Há um relato de estupro e vários de rispidez sexual no relacionamento com o parceiro. Todos parecem estar sempre repetindo o mesmo padrão. Os relatos mais doloridos são os de mulheres. Apenas uma dessas pessoas assume ser ciumenta. Os três homens com o aspecto têm uma vida profissional muito ativa e tendem a diminuir a importância dos relacionamentos em sua vida. Dois trabalham com o aspecto de forma ativa, o terceiro sofre-o passivamente (a “plutoniana” é a mulher, é ela que, segundo ele, controla e manipula).
Nenhuma dessas dez pessoas pode ser considerada “leve”. Todas transmitem muita energia ou muita intensidade. Todas têm dificuldade para relaxar. Em todas, há alguma forma de fixidez, de rigidez ou de paralisia. Os relacionamentos tendem a seguir o rumo, até a última gota. Os rompimentos são bruscos apenas na aparência. Na verdade, só acontecem após longos impasses. Todas adorariam levar as coisas menos a sério. As que tiveram vida sexual mais variada insistem que o faziam como busca (do orgasmo, do “homem que me ature”) ou como autoflagelação (“eu tento levar a sério e quebro a cara, é preferível ficar sozinha”). Todas tem uma espécie de marca registrada: o cenho franzido, que vai deixando vincos na testa com o passar dos anos.
Agora, um caso raro de casamento durável e, segundo o casal, bem-sucedido: ele tem 60 anos, Vênus/Plutão na 1, em oposição a Saturno na 7. Ela tem 50, Vênus/Plutão na 1 em oposição a Júpiter na 7. Ela tem Capricórnio na 7 e ele, Saturno. Ele tem Sagitário na 7 e ela, Júpiter. Pura simetria. Os dois parecem formar um sistema um equilíbrio. Não competem entre si, mas atuam juntos e protegem-se mutuamente. Frase típica da esposa: “Ele é barra pesada.” Frase típica do marido: “Ela não é fácil.” Frase típica dos filhos: “Aqueles dois não tomam jeito.” E a família toda se adora.
Outro casal especial: ambos passaram dos 40 anos e têm o Sol em aspecto tenso com Plutão. Discutem em qualquer lugar, em altos brados, e na frente de qualquer pessoa. Acusam-se mutuamente de todos os defeitos plutonianos. E ficam chocadíssimos quando alguém de fora acha que o casamento está em risco. Aí, unem-se de imediato para abrir uma discussão com o estranho e convencê-lo de que uma boa briga é a melhor prova de um casamento saudável. Jamais concordam em nada, exceto quanto ao fato de que o casamento deles é o mais politicamente correto do universo.
Nota: todos os plutonianos citados neste artigo (exceto o “revolucionário” da América Central, cujo contato foi perdido há mais de dez anos) concordaram em ser utilizados como exemplo, com a condição, naturalmente, de que seus nomes não fossem revelados nem divulgados seus dados de nascimento. Você jamais saberá quem são (há muita gente, aliás, com as configurações referidas neste artigo). Se agissem de forma diferente não seriam plutonianos. Um secreto prazer dos filhos deste planeta é manter esqueletos no armário. É preservar o anonimato correndo o risco calculado de serem descobertos. Nos últimos anos, com a explosão da Internet, plutonianos encontraram um novo prazer: povoar as salas de chat, as listas eletrônicas e as redes sociais sem deixar rastros. Foram eles que inventaram os nicknames, as senhas complicadas e a criptografia. Purificar-se através da catarse e ao mesmo tempo proteger-se de olhos indiscretos são duas artes típicas de Plutão.
Esse artigo é muito interessante pra quem está tentando entender seu próprio Plutão. O meu relacionamento amoroso é altamente passional (amor e ódio) e simbiótico (só nos damos bem quando estamos apenas nós dois juntos, entre quatro paredes e longe do convívio social, ou seja, nossa vida é praticamente 100% íntima, do lar, reservada). Se a gente sai pra beber ou dançar ou curtir sempre dá em briga por ciúmes provocadas por ele, então não saio mais, fico em casa. Não temos amigos em comum, só ele tem os amigos dele com quem ele sai pra curtir enquanto fico em casa com as crianças. Brigamos muito. A tentativa de controlar um ao outro é constante e muitas vezes inconsciente, pois não achamos que estamos tentando controlar, mas que estamos sendo controlados… Guerra de poder, disputa, briguinhas bestas que viram um escândalo em poucos minutos se ninguém ceder. Tento me separar mas não consigo me desvincular… É um tal de termina-volta, termina-volta sem fim. Uma sensação de que estou presa pra sempre nessa relação, que não tenho poder pra sair dela. Tenho afeto e carinho profundos por ele mas ao mesmo tempo detesto seus valores, modos de pensar e agir rude, grosseiro… Fico perguntando porque estou com ele e não consigo entender como só de olhar pra ele eu já não tenho mais controle sobre mim mesma e me submeto. Ele, de alguma forma, acaba fazendo o mesmo em muitas situações.
Tenho Vênus na casa 8 em Câncer em Quadratura com Plutão e Marte na 11, em Libra e em Escorpião, respectivamente. Meu marido é de Escorpião.
Eu tenho vários planetas em escorpião – incluindo sol e plutão juntos, e eu tenho enormes esqueletos guardados no armário. Eu tenho essa mentalidade de sempre agir sem ser pego pelo radar, e de sempre refletir exaustivamente quando vou fazer algo pra não deixar rastros e passar por cima da situação.
Genial seu artigo! É muito profunda a relação Plutão-Vênus. Sempre sempre sempre
Interessante. Tenho uma conjunção de Vênus e Plutão em escorpião na casa 12. Meu primeiro relacionamento foi um completo desastre. Sofria abusos da parte dele, mas sempre me submeti, sempre aceitei tudo (não de bom grado) por pressão da minha família. Um belo dia eu simplesmente “pirei” (aos olhos da família) e chutei o balde. O casamento acabou de uma forma que acabou com a cabeça de muita gente que era próxima, mas eu me reinventei e renasci das cinzas.
Mesmo não sendo um padrão de beleza, homens se sentem atraídos por mim, mulheres idem. Mesmo eu não me preocupando ou pensando em seduzir qualquer pessoa. Meu segundo relacionamento sofreu muitos ataques externos, mas durou e somos leves, felizes e muito amigos. A coisa mais rara é brigarmos. Ele diz que sou muito intensa e eu passei a maneirar no meu lado controlador. Tem funcionado bem, em todos os sentidos. É possível sim ser muito feliz com este aspecto tão complicado.
Achei bacana o artigo mas gostaria de saber o que a astrologia nesse caso recomenda a ser tratado. Comportamento? Crenças limitantes? Traumas?
Olá Carol, primeiro é importante distinguir o espaço de atuação da Astrologia, que deve ficar circunscrito ao diagnóstico, sem invadir o terreno das opções terapêuticas, que é de outros profissionais. Mas, quando falamos de Plutão, estamos falando de compulsividade: padrões de repetição, necessidade irracional de segurança e controle, rigidez etc. Na maioria absoluta dos casos, psicoterapia é a melhor indicação para “plutonianos de carteirinha”, que só tendem a admitir a necessidade quando estão em crise e não aguentam mais ser como são.
Acho que já cheguei nesse nível. Felizmente ou infelizmente. Como procuro ajuda? Tenho sol lua e Vênus em Escorpião e sofro com a impulsividade, mesmo sabendo que sou uma pessoa de ótimo coração e boas intenções. Estou ficando chateada comigo mesma quando situações em que a explosão ocorre e meu lado plutoniano resolve desabrochar.
A melhor ajuda seria psicoterapia, Larissa. Trata-se de uma ferramenta insubstituível para o processo de autoconhecimento.
Minha mãe me sufocou por anos a fio, Plutão dela faz oposição a minha Lua. Casei-me 6 meses após conhecer meu atual marido, somente para sair da casa dela. Muitas vezes desejei que ela morresse para que eu pudesse, enfim, viver em paz. Quando pequena, ela me torturava, me xingava, ameaçava me matar e me afastava do meu próprio pai. Na idade adulta, passou a fazer chantagens emocionais, passando-se por coitada para que eu não saísse de casa. Quando finalmente fui para minha própria casa, decorei tudo de modo completamente diferente, para que nada me remetesse à vida que tive vivendo com ela.
minha mae eh controladora e sufocante, moro com ela ateh hoje, 60 anos. Jah tive muitos relacionamentos serios, e agora moro com ela. Lua na 12a em quadratura estreita com Plutao….
Interessante.Temos conhecimento de 2 aspectos envolvendo Plutão e planetas pessoais – ele Plutão oposto a Vênus, características afetivas estranhas…
Ela, a Lua em conjunção ao Nodo Sul e Plutão – não consegue abrir mão de relacionamento/convivência familiar difícil.
Entretanto, creio que qualquer ligação de planetas pessoais com Plutão leva o indivíduo ter uma necessidade de controle e consequente manipulação. No caso do trígono, a pessoa te manipula e vc não percebe de tão bem arquitetada que é a situação. Sempre tem um lado de poder e dependendo de outras características do mapa pode não ser tão positivo assim para quem convive…