Porto Alegre é uma cidade vocacionada para o contraditório. Com uma população disposta a discutir absolutamente tudo, dificilmente uma nova ideia consegue se impor sem uma boa dose de polêmica. Foi o que aconteceu com o movimento Massa Crítica, que propõe a bicicleta como alternativa ao automóvel e seus corolários, engarrafamentos e poluição. A polêmica, no caso, não tem a ver com a ideia, mas com a forma como foi posta em prática pelo movimento gaúcho: hordas de bicicletas em passeios mensais pelas ruas da cidade, sempre numa sexta-feira, e exatamente na hora do rush. O passeio da última sexta-feira de fevereiro de 2011 terminou numa quase tragédia, quando um irritado funcionário do Banco Central reagiu ao bloqueio da via pública praticando boliche com ciclistas. Foram dezenas de bicicletas destruídas e diversos feridos atendidos em hospitais locais. Nenhuma morte, felizmente.
Para entender os elementos astrológicos da história, consideremos em primeiro lugar o manifesto de divulgação do movimento (os destaques são nossos):
A Massa Crítica é uma celebração da bicicleta como meio de transporte. Acontece quando dezenas, centenas ou milhares de ciclistas se reúnem para ocupar seu espaço nas ruas e criar um contraponto aos meios mais estabelecidos de transporte urbano.
Muitos dizem que a bicicleta no trânsito é quase que uma metáfora à fragilidade e impotência de um indivíduo frente à oposição violenta de governos, corporações e outros sistemas de repressão. (…)
A Massa Crítica é organizada de forma horizontal, não tem representantes, porta-vozes, nem líderes. Ela não tem uma voz. Ela tem tantas vozes quanto participantes. Cada um é livre para levar a manifestação ou a reivindicação que quiser.
Juntos por um trânsito mais humano, por cidades mais bonitas e alegres, por um mundo mais respirável: somos todos parte da Massa Crítica.
A própria expressão “Massa Crítica” já carrega uma conotação virginiana, assim como a ideia de “um mundo mais respirável”, já que Virgem é o signo da busca da saúde e da vida natural. Por outro lado, o movimento tem também um viés Aquário-Peixes, na medida em que pretende reunir multidões pedalando e propõe uma organização horizontal, onde “cada um é livre para levar a manifestação ou a reivindicação que quiser”. Um cardume em duas rodas, experimentando o sonho de liberdade de Urano em Peixes. Há também um quê de provocação juvenil, na medida em que o indivíduo na bicicleta se dispõe a investir alegremente contra todos os poderes constituídos, vistos como violentos e repressores.
O atropelamento ocorreu por volta de 19h, segundo todas as fontes. Observando o mapa do momento, vemos que a polaridade Virgem-Peixes ocupa exatamente o eixo Ascendente-Descendente. O regente do Ascendente, Mercúrio, está no Descendente, criando mais um vínculo entre Virgem e Peixes – e também entre os protagonistas do passeio (casa 1) e seus eventuais “inimigos abertos” (casa 7).
Do ponto de vista astrológico, bicicletas podem ser associadas a Sagitário e Aquário. Sagitário corresponde à figura do centauro, metade homem e metade animal, e homens sobre bicicletas (assim como sobre motos e todos os veículos, em geral) são versões modernas do centauro mítico. Já Aquário e seu regente, Urano, falam de liberdade e igualdade. Nada como uma bicicleta para ampliar o espaço pessoal e aplainar diferenças sociais.
No mapa do atropelamento, a Lua, símbolo da massa, está em Sagitário no Fundo do Céu. Seu dispositor, Júpiter, está em Áries, a apenas um minuto da quadratura exata com Plutão em Capricórnio. É a alegria juvenil provocando os podres poderes. Urano está em Peixes – signo do cardume – na casa 7 – dos inimigos abertos. O inimigo, no caso, veio na forma de um representante das elites, exatamente um funcionário público do setor financeiro (Plutão em Capricórnio) que se sentiu ameaçado e reagiu de forma violenta.
A ocorrência do incidente em Porto Alegre no mesmo momento em que populações muçulmanas do norte da África faziam um levante contra seus ditadores não é mera coincidência. Trata-se do mesmo aspecto – Júpiter em Áries em quadratura com Plutão em Capricórnio – manifestado de maneiras diversas, de acordo com o contexto social. O atropelador, em sua violência sociopata, expressou a mesma rigidez de um Muammar Kadafi frente às multidões em fúria. O que choca no caso de Porto Alegre não é o ato individual do atropelador, mas o fato de que boa parte da opinião pública da cidade, segundo manifestações em fóruns de discussão dos meios de comunicação locais, deu razão ao motorista que investiu contra os ciclistas. Argumentos não faltaram: a Massa Crítica teria fechado ruas importantes em horário de rush sem pedir qualquer autorização oficial; os defensores da bicicleta seriam ambientalistas alienados, que não entendem a vida dura do trabalhador ao enfrentar o trânsito do dia a dia; e por aí vai.
O que se discute, em última análise, é o eterno conflito, ativado no início de 2011 pelas quadraturas de Júpiter e Urano a Plutão, entre os valores de Áries (liberdade individual, ousadia) e Capricórnio (ordem, segurança). A polêmica estava só começando. Quando Urano entrou em quadratura exata com Plutão, essa mesma questão começou a ser colocada de forma bem mais aguda. E não apenas nas ruas de Porto Alegre.
Redação Constelar diz
Comentários recuperados da versão anterior do site:
05.03.11 @ 13:51
Comentário de : Osmarina Marta Cappelli [Visitante]
O conceito contraditório emprestado à Porto Alegre, traduz, na verdade cidade fechada para idéias novas.No entanto assim não é, porque Porto Alegre, acolhe ciclistas que respeitam o trânsito de outros veículos. A passeata feita pela MASSA CRÍTICA cujo nome já significa imposição, visou afirmar a bicicleta como transporte preponderante. Veja-se, sequer solicitaram licença à EPTC, órgão encarregado da circulação de veículos da via pública,a qual sempre atendeu o solicitado por outras entidades,as quais nas suas manifestações públicas sempre tiveram o resguardo da Brigada Militar. Isso, é claro não absolve o dito atropelador, nem justifica o insano ato, mas recomenda cautela no julgamento, sempre afeto à justiça, a quem todos devem respeito e acatamento.
07.03.11 @ 18:43
Comentário de : Marciel [Visitante]
Oras, mas Porto Alegre é uma cidade ARIANA com Plutão em CAPRICÓRNIO, oras.
Isso para não se falar do grande trigono em Terra. Vênus-Urano em Touro, Netuno em Virgem e Lua-Plutão em Capricórnio.
Coincidência ou não, o Sol do dia está justo sobre o Marte da cidade.
10.03.11 @ 22:47
Comentário de : Diego [Visitante]
Mais uma pessoa defendendo o atropelador.(mesmo que não reconheça isso). As pessoas que NUNCA participaram da Massa e apenas leem os jornais da RBS não têm condições de opinar.
12.03.11 @ 10:26
Comentário de : Osmarina Marta Cappelli [Visitante]
Quadratura é feito uma esquina, local preferido das colisões, o ponto mais cego, o lugar de onde vem o inesperado, o desafio.Exatamente foi numa esquina que aconteceu o infeliz acidente.
Para os ciclistas todo o meu apoio, pois sem aventura não há transformação.
A canceriana aqui, se refere ao comentário de que Porto Alegre é uma cidade vocacionada para o contraditório e não concorda, de maneira nenhuma com o ato do atropelador.
30.06.11 @ 12:51
Comentário de : Amanda Martins [Visitante]
Muito legal a análise! Adorei ler o artigo, e com certeza Porto Alegre é uma cidade de pretos e brancos, chimangos e maragatos, gremistas e colorados. Essa dança de opostos está sempre presente! A Massa Crítica existe há muito tempo em Porto, mas acredito que justamente pela configuração astral daquele dia, é que a questão das bicis X carros veio a ser conhecida. O atropelamento deu mais força à Massa, que hoje (acredito)conta com muito mais integrantes cheios de vontade de mudar o status quo do trânsito, é essa idéia de opostos novamente. Fala aqui uma porto-alegrense, pedestre e que gosta de andar de bici.