A cultura de massa tende a ecoar e, muitas vezes, antecipar as tendências, conflitos e questões sinalizados pelas configurações astrológicas mais relevantes. Isto é especialmente verdade com os ciclos de planetas geracionais, de Júpiter a Plutão: a cada novo signo transitado, ou a cada novo aspecto entre geracionais, os temas correspondentes emergem no cinema, nas produções televisivas, na música popular e em outras manifestações da indústria cultural.
O panorama cinematográfico desta década vem sendo fortemente condicionado pelos trânsitos de Plutão em Capricórnio, desde 2008; de Urano em Áries, desde 2010; e de Netuno em Peixes, desde 2011. Saturno, neste período, avançou de sua posição em Virgem, em 2008, até o ingresso em Capricórnio, em dezembro de 2017. Júpiter, por sua vez, avançou praticamente um zodíaco inteiro, cruzando aproximadamente um signo por ano, até sua atual posição em Escorpião.
Assim, nos filmes que concorrem ao Oscar 2018 podemos ver o reflexo das configurações vigentes no período em que foram produzidos (com Saturno em Sagitário e Júpiter em Libra) e em que alcançaram maior visibilidade (já com Saturno em Capricórnio e Júpiter em Escorpião).
Netuno: me chame pelo seu nome na forma da água
Na safra 2018, nenhum filme consegue ser mais pisciano do que A forma da água, analisado em brilhante artigo de Vanessa Tuleski. Nele, todo o universo de Netuno em Peixes parece estar representado de forma particularmente expressiva, desde a invisibilidade social da personagem principal até seu trágico romance com o homem-peixe vindo dos confins da Amazônia. O filme passa pela vitimização, pela exclusão social e pelas questões das minorias, tudo isso temperado por muita fantasia e por uma belíssima declaração de amor ao próprio cinema.
A temática de Netuno em Peixes também surge com força em Me chame pelo seu nome, um filme elegante, lento e intimista que coloca em questão as nuances de um relacionamento homoafetivo.
Mas o grande personagem do ano é, sem dúvida, Plutão em Capricórnio. Este posicionamento de Plutão traz à tona, em grande estilo, questões relacionadas ao poder político e financeiro, com todo o seu corolário de problemas: abuso de autoridade, materialismo exacerbado, controle da informação por grupos hegemônicos, tirania, teorias conspiratórias, além do efeito devastador da interferência do Estado e das grandes corporações sobre os assuntos do signo oposto, Câncer: os vínculos de afeto e os valores da família.
Plutão em Capricórnio: o presidente e o magnata
No Oscar 2018, dois filmes carregam intensamente a marca do atual posicionamento de Plutão: Todo o dinheiro do mundo, de Ridley Scott, e The Post: a guerra secreta, de Steven Spielberg.
Todo o dinheiro do mundo tem como tema a triste história de como o bilionário do petróleo Jean Paul Getty se recusou a pagar o sequestro do neto, que chegou a ser mutilado durante o período em que esteve em cativeiro, em 1973.
Em The Post: a guerra secreta Spielberg reconstitui o episódio da luta de bastidores e do processo judicial dos jornais The Washington Post e The New York Times contra o governo de Richard Nixon, em 1971. Na raiz do confronto, a luta pelo direito de divulgar documentos secretos que provavam que seis presidentes norte-americanos, ao longo de duas décadas, haviam impedido deliberadamente que a opinião pública soubesse da inutilidade da Guerra do Vietnã.
Não é difícil reconhecer no manipulador e mentiroso Nixon de The Post um alter ego do atual presidente, Donald Trump, em sua guerra contra a liberdade de imprensa e sua estratégia de disseminação de fake news. Já em Todo o dinheiro do mundo, o complexo industrial-militar dos Estados Unidos aparece corporificado em Jean Paul Getty, que chegou a ser o homem mais rico do mundo na virada dos anos quarenta para os anos cinquenta.
Em ambos os filmes, quem se contrapõe às figuras nefastas do governante sem escrúpulos e do plutocrata embrutecido pela avareza (duas facetas de Plutão em Capricórnio) são mulheres sensíveis e ao mesmo tempo tenazes. São matriarcas que corporificam os melhores valores da família para defender o filho em perigo ou o direito do homem comum à informação. Numa época em que Plutão traz para o primeiro plano as piores possibilidades de manifestação de Capricórnio, é natural que o cinema apresente como saída os traços mais positivos do signo oposto – Câncer.
Churchill, uma lembrança em tempos difíceis
Uma dimensão menos sombria de Plutão em Capricórnio aparece em O futuro de uma nação, filme que retrata a ascensão de Winston Churchill ao poder na Inglaterra no momento em que o país se prepara para uma luta de vida ou morte contra Hitler. O Churchill do filme é a reiteração do mito do homem certo no lugar certo. É o herói grosso, áspero, machista, autoritário e obstinado, mas, por isso mesmo, absolutamente preparado para a tremenda tarefa que o espera. O Churchill de verdade era um sagitariano com Ascendente em Virgem. Em O futuro de uma nação, todavia, os traços destacados com mais vigor são aqueles que expressam os posicionamentos dos planetas geracionais durante a época da produção do filme: a dureza e resistência de Plutão em Capricórnio somada à ousadia de Urano em Áries.
Plutão, Saturno e Júpiter: Três anúncios para um crime
Já em Três anúncios para um crime vemos a recontextualização de um tema relativamente comum nos velho gênero faroeste: o indivíduo que, contra tudo e contra todos, decide enfrentar a inércia, a hipocrisia e a conspiração de silêncio da comunidade para fazer justiça. A personagem principal é Mildred, que há nove meses cobra das autoridades algum avanço nas investigações sobre os assassinos de sua filha, morta enquanto era estuprada. O que move Mildred é o rancor, cada vez mais atiçado pela incompetência das autoridades, pelos preconceitos da cidadezinha medíocre e por uma história de vida marcada pela desilusão e ausência de horizontes.
Mildred é o retrato perfeito dos quase três anos em que Saturno esteve em Sagitário: o anseio por uma Justiça dura e eficaz – tal como o clamor da opinião pública, no Brasil, pela prisão dos acusados de crimes de corrupção. Simultaneamente, Plutão avançava por Capricórnio e o explosivo Urano aprontava em Áries, definindo o tom do período em que foi realizado o filme (2016-2017).
De forma ainda mais ácida e contundente que The Post e Todo o dinheiro do mundo, Os três anúncios de um crime constrói a imagem de uma América socialmente doente, dividida e violenta. A cidade de Ebbing, Missouri, é habitada exatamente pelo tipo de gente que defende a livre venda de armas, mal suporta negros e latinos e vota em peso em Donald Trump. O filme – ótimo e surpreendente – é a mais perfeita tradução de Plutão em Capricórnio em combinação com Saturno em Sagitário, além de lembrar Júpiter que, ao não obter justiça por meios legais em Libra, parte para a vingança pessoal em Escorpião. Já a memorável Mildred é Marte em Escorpião no que tem de mais violento, com direito a explosões, incêndios, muito sarcasmo e pitadas generosas de humor negro.
Outros artigos sobre Astrologia e Cinema:
- A Forma da Água, um lindo filme pisciano – por Vanessa Tuleski
- Quíron, Peixes e a ferida aberta dos anos sessenta – por Vanessa Tuleski
- O amor em tempos de Saturno & Netuno – por Fernando Fernandse
José Dagostim diz
No Filme A Forma da água tem o padrão peixes, mas também com grande enfase para o signo de virgem (faxineiras/limpeza), não por acaso os signos opostos, quando unem-se, potencializam a CURA. Então, temos “Netuno” mas com grande participação de MERCÚRIO/VIRGEM, e os virginianos são os Curadores e os piscianos Mestres…
Grato, José