Charles Schulz, o desenhista que criou Peanuts, tinha um mapa natal onde predominavam os elementos Água e Fogo, escasseava o Ar e faltava completamente o elemento Terra. Como descreve o jornalista Irineu Toledo:
Ele foi reprovado em todas as matérias na oitava série. No segundo grau foi reprovado em física com a nota mais baixa da escola, (…) foi reprovado em Álgebra e também em Inglês. O desempenho nos esportes também não era bom, era insuficiente, parecia que ninguém se importava com o Charles. (…) Os professores e os colegas de classe sabiam que ele era um fracassado segundo os padrões convencionais. (…) Contudo, contrariando todas as expectativas, no fundo ele acreditava possuir uma centelha natural de genialidade ou talento pra desenhar. (TOLEDO, Irineu. A história de Charles Schulz. In: https://felizdianovo.com.br/ )
O elemento Terra fala do senso de realidade e da experiência prática. Tem muito a ver com a experimentação, o desenvolvimento de habilidades num nível mais concreto. O elemento Ar tem relação com o pensamento lógico, com a capacidade de abstração e conceituação. Seus três signos – Gêmeos, Libra e Aquário – expressam melhor que quaisquer outros o tipo de processo de aquisição e repasse de conhecimento praticado no sistema escolar.
Estes dois elementos, Ar e Terra, são a base do paradigma científico, do conhecimento racionalmente estruturado e voltado para a produção. Os comportamentos associados a estes dois elementos são supervalorizados pela civilização ocidental, a ponto de sufocar as outras dimensões do saber: a intuição (signos de Fogo) e a sensibilidade (signos de Água).
Schulz foi um crítico mordaz da escola convencional, talvez porque ele próprio fosse um tipo intuitivo-afetivo (dominante Fogo-Água) com dificuldades para enquadrar-se num modelo de educação que privilegia a experiência intelectual. Três de seus personagens parecem corporificar de maneira mais aguda as diferentes atitudes da criança diante do universo escolar. Vamos conhecer as meninas.
Patty, a direta
Patty Pimentinha (Peppermint Patty), assim como seu criador, também nasceu sob um grande trígono de Água envolvendo Lua e Júpiter (22 de agosto de 1966). É autoconfiante, franca e direta, além de ser uma líder natural quando se trata de conduzir atividades esportivas ao ar livre (Sol, Vênus e Mercúrio em Leão e uma bem aspectada conjunção Marte-Júpiter em Câncer).
Seu grande problema está na escola, onde raramente consegue conceitos acima de insatisfatório. Não que lhe falte inteligência ou habilidade – muito pelo contrário: a dificuldade de Patty está em concentrar-se nas aulas, que sempre lhe parecem desinteressantes e intermináveis. Na carta solar de seu lançamento, o aspecto mais difícil é a conjunção Netuno-Lua em Escorpião, que costuma estar vinculada à desatenção e à dificuldade de concentração por longos períodos. Além disso, a ênfase leonina e a conjunção Lua-Netuno caracterizam uma mente fértil e uma disposição otimista para enfrentar situações.
Na escola, Patty faz o gênero “se colar, colou”. Numa tira dos anos oitenta, ela é convidada pela professora a explicar à turma a origem da água. Audaciosamente, ela começa: “Como todos sabem, a origem da água está nos bebedouros.” E prossegue, com toda a confiança: “Se todos quiserem seguir-me até o corredor, poderei dar-lhes uma demonstração de como funciona”, para terminar, sob o olhar gélido da professora: “Bem, talvez não seja preciso…” Isso é um mapa com ênfase em Leão e sem qualquer planeta em signo de Ar!
Sob a perspectiva escolar, Patty é uma espécie de alter ego de Charles Schulz. Sua incapacidade de lidar com conceitos e classificações é tamanha que ela chega a demorar um ano inteiro para perceber que Snoopy não é um “garoto com cara engraçada”, e sim um cão!
Marcie, a ingênua
Marcie foi um dos últimos personagens de Peanuts a vir a público. Ela aparece pela primeira vez na tirinha de 20 de julho de 1971, sob uma tripla ativação de Sol, Lua e Vênus em Câncer. Ela é, portanto, a cuidadora do grupo, aquela que se preocupa com todos e assume o papel de pequena adulta responsável.
Aliás, Marcie “nasceu” sob uma oposição Saturno-Netuno, aspecto que muitas vezes se expressa sob a forma de um forte sentimento de missão. Talvez por isso mesmo, forme com a “espalha-brasas” Patty Pimentinha uma estranha dupla de amigas inseparáveis. Prestativa e com um pé na realidade, é ela quem dá “cola” para os colegas e telefona para Patty para lembrá-la da data de entrega dos trabalhos escolares.
Contudo, Marcie é ingênua e um tanto inocente, colocando-se de boa vontade sob a sombra e proteção de Patty, a quem admira entusiasticamente. Com Marte em oposição a Mercúrio, não tem nenhuma vocação para esportes, se bem que os outros deixem-na jogar no time de baseball.
Nutre um interesse platônico por Charlie Brown. O que poderia ser melhor para um garoto atrapalhado do que o cuidado maternal de uma canceriana?
Marcie tem uma carta com excesso de Água (inclusive os dois luminares). Contudo, seu segundo elemento mais ocupado é o Ar, o que faz toda a diferença. Mesmo sendo um temperamento predominantemente afetivo e orientado para pessoas, não lhe falta a capacidade de transitar na esfera dos conceitos e relações abstratas. De todos os personagens de Peanuts, o mais adaptado à realidade escolar é exatamente esta menininha de óculos, que chama todo mundo de “Sir”.
Marcie bem pode ser enquadrada como um tipo saturnino. É séria e formal, boa aluna e responsável. Seu traço mais saturnino é exatamente a insegurança, que a faz acreditar que sempre estão sendo sarcásticos com ela.
Sally, a absurda
Sally Brown é a irmã mais nova de Charlie Brown. Surgida em 22 de agosto de 1960, apresenta uma forte ênfase em Virgem e Leão, com três planetas em cada signo. Desinibida e precoce (Sol em Leão), não dá sossego a Linus, o menininho do cobertor, sua grande paixão, a quem persegue com inconveniente insistência (conjunção Lua-Plutão e quadratura Marte-Vênus).
Porém, o traço mais característico deste personagem é sua irresistível tendência para o nonsense. Mercúrio (a linguagem articulada) está em conjunção com Urano (o imprevisível) no demonstrativo signo de Leão, e ainda formando trígono com o expansivo Júpiter em Sagitário.
Escrevendo cartas ou trabalhos escolares, Sally constrói frases onde abundam termos utilizados de forma imprópria ou despropositada. O resultado costuma ser absurdo, ou surpreendente, ou ambas as coisas. Mercúrio pressionado por Urano tende a levar à linguagem descuidada, se bem que criativa, e Marte mal aspectado em Gêmeos (signo da escrita) completa o quadro.
Marte tem ainda mais destaque por ser o planeta-guia do modelo planetário da carta, uma Locomotiva. Em quadratura com Vênus em Virgem, e considerando que Sally tem uma forte concentração de seis planetas numa estreita faixa de 25 graus, temos aí um temperamento ingênuo, generoso, alegre, doce, mas ao mesmo tempo bastante obsessivo (“eu quero, eu quero, eu quero”), além de ambicioso e manipulativo.
Em resumo, Sally é um tipo primário, com dificuldades de aprendizagem, provavelmente disléxica. Através desta desinibida leonina, o cartunista Charles Schulz bate mais uma vez numa das questões que mais o incomodam: a dificuldade do sistema escolar para lidar com os “diferentes”.