Este artigo seleciona algumas questões que os participantes do curso de Astrologia Médica apresentaram aos professores do curso de Astrologia Médica que a Escola Astroletiva lançou em novembro de 2000. Excluíram-se dados pessoais para preservar a privacidade dos pacientes.
Pulmões
–Conheci uma pessoa que ficou na UTI por 15 dias; esta pessoa tem Plutão no Ascendente em Leão e a internação foi por motivos pulmonares. Neste caso, o que se observaria primeiro? Plutão, o Ascendente, o pulmão e o signo relativo a esta área do corpo?
CARLOS HOLLANDA – Antes de tudo, eu observaria a cúspide da casa 6, seu regente, os planetas dentro desta casa; Mercúrio, por corresponder também aos pulmões; e a casa cuja cúspide toca Gêmeos, pelo mesmo motivo. As condições de cada um desses pontos mostraria caminhos para prováveis diagnósticos. É claro que esta não é a única abordagem correta. Cada astrólogo tem seu método.
–A cúspide da 6 da pessoa em questão é regida por Saturno e Saturno está na 5 (em Sagitário, e Júpiter na 2 em Virgem faz um trígono com o Meio do Céu em Touro). Saturno faz uma oposição com Marte em Gêmeos e Mercúrio vai para Touro, Netuno faz oposição com Mercúrio, e, do mesmo modo que a doença veio, ele ficou milagrosamente curado: seus pulmões foram 99% atingidos, e o médico disse que a cura era um milagre. O caso era gravíssimo, acompanhei-o pessoalmente. Mercúrio faz uma quadratura com o Ascendente e Urano está angular na 12.
ANA TERESA OCAMPO – Como disse antes, é importante não nos atermos a um fator isolado do mapa, mesmo que ele seja muito chamativo, porque pode não ser determinante. Essa configuração que você cita, por exemplo, envolve um planeta transpessoal que atravessou Leão por anos! Mesmo considerando que esteja próximo ao Ascendente, haverá muitas pessoas com essa configuração. Procure primeiro pelos planetas mais pessoais, e se eles aspectam esse Plutão. O aspecto com o Ascendente de um planeta regente de casas VI ou VIII pode ser mais elucidativo do que com Plutão (embora devamos considerar, sempre, esse Plutão e o Ascendente juntos).
Por fim, há outras técnicas (Arco Solar, Progressões, Trânsitos) que auxiliam a estender a compreensão para certos prazos, períodos em que a qualidade de um planeta pode-se expressar, e, na análise, você pode combinar esses prazos com as áreas de maior susceptibilidade para adoecimento às quais o próprio planeta corresponde.
Doenças graves sempre serão identificadas no mapa pela ativação de fatores pessoais (ângulos e planetas rápidos).
Tireoide e intestinos
–Uma pessoa com Sol em Libra, Ascendente e Lua em Escorpião, e, na meia-idade, um problema de tireoide (ligada a Touro, na casa 7). Após um tratamento, assim que a tireoide foi regularizada, novos problemas surgem: intestinos. Não é só coincidência, é?
CARLOS HOLLANDA – De fato nada é coincidência. Quando estudamos as leis de Correspondência, percebemos que sempre há uma analogia entre uma causa e um efeito. Escorpião está ligado ao sistema excretor, ao reto, entre outras coisas. Virgem lida com o trato intestinal, com a síntese de proteínas, com separação do que serve e do que não serve para o organismo na função das microvilosidades intestinais.
A tireoide afetada pode estar ligada a Vênus também, não somente a Touro angular. A condição deste planeta pode ser tensa. Onde e como está Marte, o regente de Áries? Ele rege a casa 6 desse mapa. Onde e como está Mercúrio, o regente de Gêmeos? Ele rege a casa 8 desse mapa. A casa 8 também está ligada ao aparelho excretor e a processos de cura por expurgo de males.
ANA TERESA OCAMPO – Essa é uma questão pra lá de interessante! Uma das primeiras regras que a gente deve perceber em Astrologia (de modo geral, e não só para a saúde) é a chamada Lei das Polaridades.
De todos os eixos de polaridades de signos, o que mais me encanta, particularmente, é esse de Touro e Escorpião. É impressionante a sincronicidade de situações em que os órgãos sexuais e o intestino grosso estão envolvidos com a área da garganta. Esse que você coloca é bem típico.
Você não explica se o problema intestinal acomete o intestino delgado (mais tradicionalmente ligado a Virgem) ou o cólon (Escorpião), mas aponta para um problema básico de retenção – seja da energia necessária ao metabolismo corporal (tireoide), seja dos resíduos que precisam ser expurgados.
Só para ilustrar, uma amiga minha, que durante alguns anos tentou engravidar sem sucesso, quando o conseguiu perdeu a criança no parto. Vários distúrbios físicos se sucederam na área genital e, quando ela finalmente pareceu “resolver” tudo e pensava em engravidar novamente, apareceu um tumor benigno de tireoide. Que culminou, bem plutonianamente, numa extirpação cirúrgica (embora do nódulo apenas). Decididamente, não acho que isso seja uma coincidência…
Um caso de síndrome do pânico?
–Atendi ontem a uma pessoa do sexo masculino com Sol em Câncer, Ascendente em Câncer, Lua em Câncer, na XII. Foi-me enviada depois de se tratar com psiquiatras e neurologistas, porque treme tanto para assinar um cheque diante de alguém que pensou estar com a Síndrome do Pânico. Isso “entra” na Astrologia Médica, como verificar?
ANA TERESA OCAMPO – Tracei o mapa para dar uma pesquisada. Acho que podemos considerar uma conjunção aberta envolvendo a Lua, Mercúrio, Ascendente e o Sol, todos em Câncer (não esquecendo que a Lua é o regente do mapa). E Saturno está no Meio do Céu. Todos esses fatores já carregam o tom do mapa de uma insegurança básica para a autoexpressão e para um recorte incisivo da personalidade. Para piorar um pouco, Marte está conjunto a Netuno, o que também dilui a força de ação e impulso dele. Plutão, por outro lado, faz parte de um outro stellium com Nodo Sul, Júpiter e Urano.
A conjunção fechada de Plutão com o Nodo poderia apontar para um problema de ordem genética, envolvendo de alguma forma o sistema nervoso central (quando se usa a técnica do mapa do Nodo Lunar Sul isso poderia ser aventado), o que poderia levá-lo a tremores por problemas no cerebelo, por exemplo. Mas o que me parece o maior entrave no caso dele é essa insegurança básica de ser e se expor espontaneamente (Câncer), especialmente reforçado por um Saturno angular cobrando acertos e assertivas no plano social (Meio do Céu). Plutão e Vênus são os regentes do eixo parental (IV e X), mas não estão carregados com aspectos dinâmicos.
Durante algum tempo discutiram-se em uma lista de Astrologia alguns casos de síndrome do pânico. Lembro que chamava a atenção, em quase todos os mapas, as ênfases de Plutão e Saturno, mas o que você descreve do rapaz não parece próximo dos sintomas dessa síndrome, que são mais intensos (sensação de morte iminente, sudorese profusa, fobias intensas, desfalecimento e recorrências sem uma suposta causa externa desencadeante).
O caso está mais no plano funcional, ou seja, não são propriamente manifestações orgânicas, mas, com tanta ênfase canceriana, um desequilíbrio mais fundamental na forma de inserir-se e de responder às demandas sociais.
Sistema nervoso central e Netuno
–Poderiam falar um pouco mais sobre o sistema nervoso central e sobre a relação de Netuno com os anestésicos?
ANA TERESA OCAMPO – Antes dos anestésicos, os cirurgiões costumavam administrar álcool (Netuno) para provocar embriaguez nos pacientes e, portanto, algum grau de anestesia para a cirurgia. Diga-se de passagem, era um método pouco eficiente, porque a primeira descarga de adrenalina provocada pela dor curava qualquer bebedeira instantaneamente.
O Sistema Nervoso Central é um painel de controle completo, tanto do estado vegetativo quanto motor voluntário. Os anestésicos não alteram o Sistema Nervoso Central como um todo, eles bloqueiam os receptores sensoriais centrais de dor, mas não impedem que estes estímulos sejam levados ao Sistema Nervoso Central pelas vias aferentes (ele “engana”, por assim dizer, os comandos centrais, mascarando a compreensão do estímulo).
O sistema simpático, bem como o parassimpático, são ambos pertencentes ao sistema vegetativo; ambos regem os movimentos viscerais involuntários do organismo, porém com movimentos opostos: onde um sistema ativa a ação de uma glândula, o outro sistema faz as funções inibitórias dessa glândula. Ambos os sistemas têm funções de estimulação e inibição, em órgãos diferentes, mas constituem um eixo que funciona articuladamente.
–O sistema nervoso central entra em repouso durante o sono? A relação sono x vigília pode ser comparada à relação Netuno x Mercúrio?
ANA TERESA OCAMPO – Todo o período do sono e de produção dos sonhos é, geralmente, relacionado ao âmbito de Netuno. Mas o sono é uma função essencial para a manutenção da vida, tão essencial quanto o contato com a realidade desperta. O sistema nervoso central não para nunca de funcionar e está totalmente ativado durante o sono.
Há uma doença raríssima e genética (um tipo de parassonia) que produz insônia permanente (o eletroencefalograma não registra mais sinais relativos a sono) e que leva à morte em poucos meses. Da mesma forma, lesões graves no hemisfério direito do cérebro (normalmente associado às funções de intuição, imaginação, fantasia) são mais letais que o mesmo tipo de lesões no hemisfério esquerdo (lógico e racional), donde se depreende que funções como o sono, sonhos, intuição e capacidade imaginativa são mais importantes para a manutenção da vida orgânica do que a nossa ciência exclusivamente racional costuma perceber.
Não devemos confundir “atividade do sistema nervoso central” com percepção consciente. Esta é uma das funções do sistema nervoso central, mas também as funções vegetativas, involuntárias, são comandadas por ele. Quando dizemos que alguém está com “morte cerebral”, por exemplo, não estamos dizendo que está em coma (suposta perda da percepção consciente), mas sim que o cérebro não tem mais capacidade de comandar a vida vegetativa orgânica, que é mantida exclusivamente por aparelhos externos; uma vez que estes sejam desligados, todas as funções orgânicas cessam, e sobrevém a morte física.
Práticas como meditação e relaxamento visam à diminuição da intensidade mental dos pensamentos e à lentificação dos estímulos elétricos motores (mais relaxamento muscular, melhor respiração, mais tranquilidade mental), o que contribui para um funcionamento menos estressante do sistema nervoso central, mas com diminuição específica de funções e comandos. Somente iogues de longo tempo são reputados como capazes de diminuir, através de prática meditativa, as funções vegetativas do organismo, como batimento cardíaco, peristalse digestiva e funções glandulares.
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